Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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Programa Ave Maria, 26 de novembro de 2009

O Programa Ave Maria é o Programa radiofônico da Paróquia Nossa Senhora de Belém e vai ao ar de segunda à sexta das 18h00 às 18h15. Nas quintas a apresentação do mesmo é feita por Dartagnan da Silva Zanela.

Programa Ave Maria, 12 de novembro de 2009

O Programa Ave Maria é o Programa radiofônico da Paróquia Nossa Senhora de Belém e vai ao ar de segunda à sexta das 18h00 às 18h15. Nas quintas a apresentação do mesmo é feita por Dartagnan da Silva Zanela.

MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte XI

Escrevinhação n. 793, redigida em 24 de novembro de 2009, dia de Santo André Dung-Lac e companheiros.


Por Dartagnan da Silva Zanela

"A insensatez é sem dúvida irmã da malvadeza".
(Sófocles)

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Mistérios Dolorosos. Primeiro mistério: A agonia mortal de Nosso Senhor Jesus Cristo no horto das Oliveiras (Mt XXVI, 36-56). Ao dedilhar o Terço, que ensinamentos nos vêm à alma no que se refere a esse mistério? De que modo as águas desse mistério nos lava as chagas de nossas dúvidas que emanam em nosso caminhar por esse vale de lágrimas? Como sempre, muito mais do que esse reles missivista é capaz de escrevinhar.

Para começo de prosa, devemos, penso eu, refletirmos quanto ao significado da dor. Por que sofremos? Por que muitas vezes nossa alma se vê tomada pela agonia? A resposta é simples: para que sejamos fortalecidos. Tão só e simplesmente isso. Aquele que É, em Sua infinita misericórdia, sabe claramente qual é a tempera de nossa alma e, por sua deixa, sabe perfeitamente qual a medida de prova que deve ser auferida a ela na forja da existência para aprimorá-la.

A forja da alma é a dor. A dor física, psíquica e moral. Toda vez que nos vemos diante de um sofrimento, estamos sendo convidados pelo Logos a sermos maior do que nós somos para assim, podermos nos tornar mais dignos de nossa condição.

Não é por menos que nos sentimos profundamente envergonhados e medíocres quando nos encontramos diante de pessoas que padecem de alguma grande dor e, mesmo assim, a aceitam e a enfrentam com uma força e com uma dignidade incomuns. Ora, quem nunca teve essa experiência? Por essa razão, penso eu, é de fundamental importância que visitemos os enfermos e aqueles que padecem, por duas razões: para lhes fazer companhia e da força diante do fardo que elas tem de carregar e, principalmente, para tomarmos consciência de nossa fraqueza, de nossa miséria, de nossa mediocridade debilitante.

Doravante, meditando devidamente sobre esse mistério doloroso, flagramos nossa pequenez insignificante diante da Majestade Divina. A agonia enfrentada por Nosso Senhor, o Logos encarnado, no horto das Oliveiras, também chamado de Getsêmani, é algo que nenhum ser humano comum poderia enfrentar, que nenhuma pessoa teria forças para suportar. Porém, o Logos Encarnando enfrentou, aceitou e suportou, demonstrando-nos através de seu exemplo que todo sofrimento é pequeno para aqueles que aceitam que seja feita a Vontade de Deus em sua vida.

E neste ponto que temos alguns ensinos que julgamos ser de grande relevância para edificação de nossa alma, de nosso pequeno ser. Primeiramente, quanto ao fato desta agonia ter ocorrido em um horto de oliveiras (lugar onde Jesus passava longas horas em silêncio e oração), no horto de Getsêmani, que significa simplesmente prensa de azeite. Ora, existe agonia maior para as olivas do que ser prensada? E existe uma outra forma de se obter azeite além dessa?

De mais a mais, como nos ensina a Sacra Escritura, é necessário que o Filho do Homem passe por isso para que o ungüento que cura as almas pecadoras fosse forjado pelas mãos dos pecadores. Cristo é a oliveira a ser prensada de maneira dolorosa e violenta para assim nos apresentar o caminho, a Verdade que nos curará de nossas chagas para podermos chegar a Vida.

Para tanto, temos de aceitar o receituário que nos é prescrito pelo Médico das almas, receita essa dita aos Seus discípulos enquanto Ele estava rezando. Ele havia dito para que eles vigiassem com Ele. E como todo paciente, eles não foram capazes de obedecer as prescrições de seu Médico: eles dormiram.

E esse pedido feito por Nosso Senhor é feito para todos nós, para que sejamos vigilantes, para que nos esforcemos a todo momento para nos manter atentos diante Dele, diante das agonias e sofrimentos que nos são apresentados no correr de nossa vida. E o interessante que ele convidou o bom ouvinte da Palavra que se fez Rocha (Simão Pedro) os dois filhos de Zebedeu (que em hebraico quer dizer Presente de Deus), Aquele que suplantou (Tiago) e o Agraciado por Deus (João).

Não basta que sejamos agraciados por Deus e que suplantemos o mal que há em nossa alma sendo bons ouvintes da Palavra, fazendo-nos fortes como uma rocha diante das tormentas. É necessário que sejamos vigilantes, pois, como nos ensina Nosso Senhor (Mt XXVI, 41): "Vigiai e orai para não entrardes em tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca".

Nos dias de hoje, a maior tentação que nós, Cristãos, temos de enfrentar e que, por isso, devemos ficar muitíssimo atentos, é o que o Padre Paulo Ricardo e o finado Padre Leo chamam de Cristão light. Mas o que é esse ser estranho, o tal do Cristão light? É o Cristão que não aceita enfrentar as contradições que são inerentes a aceitação do Caminho, da Verdade e da Vida, é o Cristão que não quer ser contrariado pelo mundo, que quer se proclamar seguidor do Cristo ao mesmo tempo que aceita tudo aquilo que está presente na sociedade moderna que nega o Cristo.

Não se pode, de modo algum, viver mergulhado nas mentiras modernas e aceitar a Verdade revelado pelo Verbo Encarnado. Aceitar o Verbo é aceitar a agonia da certeza de ser apedrejado e insultado pela horda mundana que ontem e hoje renega e insulta a Verdade.

E essa é a grande tentação que bate à porta de nossa alma, um convite sutil e cínico do encardido príncipe das trevas para que sejamos tolerantes com tudo aquilo que é intolerável, um convite sedutor e malicioso para que neguemos o Cristo, gradativamente, em partes, mutilando nossa alma, aleijando-a de sua tensão espiritual natural para o encontro com a Verdade sobre a vida e sobre nós. Por isso, sejamos fortes, peçamos a Santíssima Trindade que nos cubra com a virtude da fortaleza para que possamos suportar a agonia das incertezas de nossos dias e oremos para não cair em tentação de cair nesta maldita armadilha que se apresenta em todos os cantos da sociedade nos dias hodiernos.

Mas quais seriam essas arapucas sinistras que nos são armadas pelo encardido para nos afastar da Vereda da Verdade? Bem, infelizmente, não são poucas. Não podemos nos esquecer que ele é o mestre da mentira e está semeando-as entre nós desde o começo dos tempos e a maior mentira contada por ele, obviamente, foi a primeira (Gen III, 4-5): "Vós não morrereis! Mas Deus sabe que no dia em que comerdes, abrir-se-vos-ão os olhos e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal".

Veja só, cara pálida, não é essa a mentira que a sociedade moderna vem nos vendendo à séculos das mais variadas maneiras? Não essa a mentira que nos é contada incessantemente pela sociedade atual através de todos os meios imagináveis?

Por isso ore, metide sobre a Palavra de Deus e seja vigilante, para não cair em tentação, ou para livrar-se dela.

Pax et bonum
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MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte X

Escrevinhação 792, redigido em 17 de novembro de 2009, dia de Santa Izabel da Hungria e São Roque Gonzáles.

Por Dartagnan da Silva Zanela

"A misericórdia de Deus será sempre maior que a tua ingratidão".(Santo Padre Pio de Pietrelcina)

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Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até a consumação”. (Jo XIII, 1) Eis o quinto mistério luminoso, a instituição da Eucaristia. O que podemos escrever sobre esse mistério? Tamanha é a profusão de ensinos de luz que esse mistério engendra em nossa alma que fica difícil focar as vistas de nosso coração em apenas um dos feixes de luz que emana de sua letra Viva.


Todavia, há um luzir central nesse mistério que dá unidade ao seu brilho divinal, que é o amor. Essa abençoada palavra, presente neste mistério, não tem o mesmo significado da palavra “amor” que é repetida excessivamente por nossos lábios, pelas laudas da imprensa e pelos sinais de rádio e televisão. Mas o que significa exatamente o amor que se faz raiar nesta pequena passagem do Santo Evangelho?


Obviamente que não é essa compreensão sentimental barata que temos em nossa sociedade hodierna e muito menos aquela visão meramente racionalista-psicológica. Vale lembrar que ambas estão profundamente incrustadas em nosso imaginário formando um grande obstáculo na compreensão e assimilação do amor que nos foi ensinado pelo Cristo. Por essa razão que F. Schuon afirmava em seus escritos que tanto o sentimentalismo como o racionalismo eram dois dos grandes males do ciclo moderno. Mas, o porquê disso?


Ora, o amor como o Cristo nos ensinou não é o sacrifício. Amar, fundamentalmente, significa sacrificarmos a nossa individualidade em nome da Verdade, significa sacrificarmos nossos impulsos em nome da Vontade de Deus, significa abrirmos mão de nosso desejo de aderir à pulsão das multidões para aderirmos ao Corpo Místico de Cristo. O Cristão não é chamado, como nos ensina C. S. Lewis, nem ao individualismo e muito menos ao coletivismo, mas sim, para entregar a sua vida ao Cristo. Entregar nossa vida por Ele como Ele entregou-se por nós.


Entregar a vida ao Cristo, no contexto que estamos tratando nessa parva missiva, é nos entregarmos sinceramente para a Verdade que revela a verdade sobre nós. Significa abdicarmos de nossa vaidade, de nosso orgulho, de nossa leviandade, de nossa desídia, enfim, significa permitirmos que à Verdade que Ela nos plasme de acordo com a perfeição Celeste e não de acordo com as tentações terrenas.


É obvio que falar em perfeição espiritual no mundo contemporâneo tornou-se quase que blasfemo. Mas tal inibição nada mais é do que um estratagema do ignóbil inimigo decaído e de seus pares. Quando o Cristo passou do mundo para o Pai, Ele estava e está nos apresentando o caminho aberto por Ele através de Suas palavras ditas em Verdade para que possamos atingir a Vida.


Almejar a perfeição nessa vida é almejar a realização do Reino de Deus em nossos corações para assim podermos ascender ao Pai e, esse caminho, nos é apresentado pelo Sacrifício Pascal.


E vejam como o encardido, o senhor da mentira, é ardiloso. Vocês não acham por demais curioso que todas as perspectivas de vidas possíveis apontadas pela sociedade moderna, para a realização do ser humano em sua dignidade, são todas meramente contingentes, todas unicamente encerradas em uma perspectiva temporal, material e finita? Já repararam que é isso que é ensinado para as gerações de mancebos atuais? Esquecendo e mesmo desdenhado o memória do Sacrifício Pascal nós, gradativamente, vamos fechando nossa vista para a inteireza da realidade. Isso mesmo. Se Deus é a estrutura da realidade, como nos ensina Schuon, se ele é o motor primeiro de todas as coisas, como nos ensina Aristóteles e São Tomás de Aquino, como podemos pensar, explicar e agir na realidade desprezando a Sua existência e ação em nossa vida?


Sua ação é misteriosa, sim, mas um mistério que ilumina a nossa vida e nos inspira a nos torna mais perfeitos como o foram e o são todos os Santos e Santas. Todavia, na modernidade, trocamos esse mistério que inspira e ilumina pelos mistérios sombrios das ideologias revolucionárias que, ao contrário do Cristo, não se sacrificam a si mesmas pela redenção de todos, mas sim, sacrificam a todos, inocentes ou não, em nome da visão utópica doentia de homens embebidos em sua própria soberba. Todos querem mudar o mundo, mas poucos são o que aceitam ser mudados pelo Cristo.


Não são poucas as ocasiões em que nos queixamos que os outros não fizeram tudo o que acreditamos que eles deveriam ter feito por nós, entretanto, curiosamente o que nós exigimos que os outros façam por nós, nem mesmo a gente, na maioria dos casos, é capaz de fazer pela nossa própria pessoa. E aí ficamos lamentando a falta de amor no mundo e que as pessoas a nossa volta não nos amam como deveriam nos amar. E você, cara pálida, ama as pessoas (não o mundo) como o Cristo nos ama? Você realmente sacrifica parte de seu mundinho umbilical em nome do bem daquele que está à sua frente? Não? E, provavelmente, quando fazemos algo similar a isso, esperamos que a pessoa que foi alvo de nossa generosidade nos retribua para assim podermos sentir o engrandecimento de nosso já bem inchado ego.


E essa é a verdade que a Verdade deste mistério nos revela sobre nós e que nos convida a enxergar para podermos realmente remover todos os obstáculos que existem em nossa alma, em nossa vida, para o Pão da Vida poder nutrir-nos com a sua Luz e em sua Verdade.


Pax et bonum


MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte IX

Escrevinhação n. 791, redigida em 10 de novembro de 2009, dia de São Leão Magno e Santo André Avelino.

Por Dartagnan da Silva Zanela

"A alma cristã deve fugir dos aplausos dos homens". (Santo Padre Pio de Pietrelcina)

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A Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo no Monte Tabor (Lc IX, 35). O quarto mistério luminoso. No alto do referido monte Cristo transfigura a sua forma humana em esplendor divino para São Pedro, São Tiago e São João. E, neste momento, surge em meio à luz a figura dos Profetas Moisés e Elias a conversar com Nosso Senhor sobre o que haveria de ocorrer com Ele. Dito isso, vamos diretamente a primeira questão que nos ocorre: por que num monte? Essa transfiguração não poderia ter ocorrido em uma planície ou em um vale? Por que em um monte? Na simbologia tradicional, as montanhas e montes são sempre apresentados como a morada da Divindade. Vale lembrar que o Cristo, passava muitos momentos junto de montes. Os mais especiais, destes, quando ele pronunciou o seu grande Sermão, o Sermão da Montanha, quando ele sofreu a transfiguração e quando ele foi Crucificado.


E mais, Tabor, ou HAR TAVOR, significa simplesmente monte da transfiguração. Ora, cada um de nós é chamado a transfigurar a sua vida da mediocridade cotidiana para a santidade. Para tanto, é fundamental que procuremos ascender, elevar a nossa vida para a altura dos montes, para melhor vermos a nossa pequenez diante da perfeição da criação e da sublimidade esplendorosa do Criador que Se faz manifesto em tudo e em todos e nós, por ignorância não somos capaz de ver e compreender.

Doravante, a Sua transfiguração dá-se junto de dois profetas: o “retirado das águas e que dá a luz” e “Javé é o meu Deus”. Esse é o significado respectivo dos nomes de Moisés e Elias. Ou seja, o Cristo manifesta a Sua face divina entre esses dois justos, simbolizando claramente que Ele é Aquele que reafirma que Javé é nosso Deus e que Ele, o Cristo, é quem nos dará a luz por ser a fonte da Luz (Lc IX, 29).


Mergulhando mais um pouco nas profundezas das palavras da Sacra Escritura, vemos na transfiguração de Nosso Senhor a própria imagem da Santíssima Trindade. Ele é o Filho de Deus e, como fora dita acima, Elias significa Javé é meu Deus, ou seja, representação de Deus Pai. Quanto a Moisés, Aquele que foi retirado das águas e dá a luz. Bem, o Espírito de Deus, no princípio, pairava sobre as águas (Gen I, 2), não é mesmo? Mesmo em meio as trevas o Espírito Santo pairava sobre as água até que Deus diz: “Faça-se a luz” (Gen I, 3). E foi no rio Jordão, junto as suas águas que o Espírito Santo manifestou-se sobre Ele (Mt III, 17).


Em continuidade, lembramos que Ele manifestou-se não diante de toda uma multidão e nem mesmo diante de todos os apóstolos, mas apenas diante dos três que havíamos citado linhas acima. E, por essa razão, indagamos, por que eles? Bem, um caminho possível para clareamento de nosso entendimento, é o significado do nome dos três apóstolos em questão. Creio eu que, deste modo, poderemos ter uma visão mais clara do caminho que é-nos apresentado neste mistério, caminho esse que devemos singrar para podermos nos fazer merecedor da Divina Luz.


Bem, os apóstolos eram a Rocha (Pedro), Deus é bondoso (João) e o que Suplantou e venceu (Tiago). Interessante nisso tudo é que Pedro, antes de ser Rocha era Simão, o Zelote. Simão quer dizer simplesmente “aquele que ouve” e Zelote, “zeloso”. Ou seja, Deus apresenta o esplendor de sua imagem para aqueles que deixaram de ser, digamos assim, molengas espiritualmente, e colocam-se para ouvir zelosamente a Sua Palavra para tornarem-se fortes como uma rocha e assim poder aceitar os desígnios da Bondade de Deus e, deste modo, suplantar e vencer as trevas do pecado que habitam em nós e, muitas das vezes, reinam em nosso coração.


Por essas e outras que Santo Agostinho nos ensina, através de seus passos, que ele havia procurado Deus em todos os cantos do mundo, nos lugares mais altos e nos recônditos mais discretos e foi justamente nos átrios de seu coração que ele O encontrou e é no alto deste monte que devemos procurar a Sua luz. É no centro de nosso ser que devemos procurar Aquele que é o centro da Vida.


E é justamente isso que a voz que vem das alturas nos diz (Lc IX, 35): "Este é o meu filho, o meu eleito. Ouvi-o". Entretanto, o que nos chama a atenção, ao menos a atenção desse indigno missivista, é que antes destas palavras serem ditas os três apóstolos que se faziam presentes, eles foram tomados por um grande sentimento de medo (Lc IX, 34). O que isso quer dizer? O que isso tem a nos dizer? Simples: "O temor de Deus é princípio de Sabedoria" (PRO I, 7). “Toda a sabedoria é temor do Senhor e em toda sabedoria está a prática da lei” (Sri XIX, 20). Ora, temer a verdade é aceita-la prontamente. Verdade aprendida é verdade obedecida como nos ensina Platão. Temer a Deus é desejar sinceramente que a Sua vontade impere sobre a nossa, é desejar que a Luz da Verdade nos liberte das trevas das opiniões, das aparências e das sobras presentes no mundo e em nossa alma. Porém, como nos ensina o Santo Padre Pio de Pietrelcina, "O impulso de permanecer em paz eternamente é bom e santo, mas é preciso modificá-lo com a completa resignação à Vontade Divina", por que não é Deus e seus ensinos que devem ser mudados por nós, mas nossa pessoa, nosso ser, por Ele.


De mais a mais, todo aquele que erra teme a correção porque toma por medida de sua vida a Verdade. Aqueles que vivem no erro (e mesmo o amam) odeiam a Verdade porque tomam como medida da existência a sua própria ignorância da realidade. Infelizmente, uma alma tão fora de seu centro assim o é: imersa em seus devaneios, em suas ilusões, em sua pseudo-medida de si e de mundo, medida essa que é adorada e idolatrada como se fosse "a verdade", mas que, no fundo, não passa de uma expressão desesperada de uma mente agonizante em sua própria soberba que ama todas as novidades que lhe são apresentadas como se elas fossem uma espécie de panacéia para os seus males e esquecem-se o quanto que os problemas da vida são simples e o quanto que os seus remédios são antigos e perenes.


Para tanto, basta voltarmos nossas vistas para o monte que há no âmago de nosso ser, deixar de moleza para com nossa desídia espiritual e subi-lo para assim reencontrarmos o centro de nossa vida, junto Àquele que é o Sol irradiante da Vida para que possamos transfigurar a nossa vida turva em uma existência justa.


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MORRER PARA VIVER

Por Dartagnan da Silva Zanela

A morte é um dos temas fundamentais para se compreender o sentido da vida. Todos os homens que dedicaram a sua vida à filosofia, à procura sincera e abnegada pela Sabedoria, em grossos traços, nos ensinam que a morte é o atestado de conclusão da obra humana que será apresentada diante da Eternidade. Ou seja: existir é simplesmente um preparar-se para a vida e a morte apenas a consumação dos preparativos feitos durante a existência para esse renascimento espiritual. Por essa razão que Platão nos ensina que a vida deve ser norteada pela procura do Sumo Bem e não pelos chulos e parvos “bens” que infectam a cabeça do homem moderno, inclusive dos filósofos de meia-pataca, que não são poucos e se fazem tão presentes e falantes no teatro de sombras e pó da sociedade hodierna.

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MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte VIII

Escrevinhação n. 790, redigida em 03 de novembro de 2009, dia de São Martinho de Porres e de São Humberto de Liège, 31ª Semana do Tempo Comum.


Por Dartagnan da Silva Zanela


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A proclamação do Reino de Deus (Mc I, 15). Eis o terceiro Mistério Luminoso do Santo Rosário ao qual, todo aquele que deseja, sinceramente, permitir que os átrios de sua alma sejam realmente clareados, deveria entregar francamente se entregar à sua meditação e assim desvendar no âmago de seu ser as luzes que lhe foram confiadas no ato de sua criação e bem como as sombras que dia à dia vão se assenhorando de sua alma devido a frugalidade de nosso olhar viciado pelas miudezas prometidas pela sociedade moderna com ares de glória, de vanglória.


"Completou-se o tempo. Chegou o reino de Deus. Convertei-vos e crede no Evangelho". Assim, com essas palavras Nosso Senhor anunciava a Boa Nova por onde os seus pés o levavam. Para refletir sobre esse Mistério, permita-nos iniciar pela última frase. Para mim, ao menos, a primeira impressão que vem à mente é de que crer no Evangelho implicaria na conversão do indivíduo. Não exatamente, não é mesmo?


Sejamos mais claros: o ato de crer é tão só um ato de confiança. Aliás, ter fé em algo ou em alguém é simplesmente ter confiança na pessoa ou no algo em questão. Quando confiamos no anuncio da Boa Nova e, principalmente, Naquele que está anunciando-a, isso significa simplesmente que nós cremos em sua realidade. Na realidade de Quem o anuncia e do que está sendo anunciado. Porém isso não basta. É preciso a conversão da alma crente no Evangelho e conversão implica uma postura muito mais profunda do que a mera confiança. Converter-se significa transformar-se. Por essa razão simples que a Santa Madre Igreja apresenta a figura dos Santos que, segundo as palavras de LEO TRESE, a vida dessas pessoas são legitimas obras de Deus sobre a terra.


Os Santos e Santas são exemplos de pessoas que permitiram que suas vidas fossem transformadas pelo Evangelho ao tal ponto que elas mesmas se tornaram uma transcrição viva da Boa Nova. Aliás, como olhar para a vida de um Santo Antão, de um São Francisco ou de um São Cura de Ars e não vermos na maneira como essas pessoas viveram as suas vidas como uma parte viva do testamento de Deus? Somente uma pessoa cega pelo seu orgulho é incapaz de perceber isso, aliás, de confiar sinceramente no que seus olhos estão vendo e que sua alma está testemunhando.


Doravante, nunca é demais lembrar que tanto o ato de crer como a conversão são atitudes interiores da alma humana. A primeira pode ser fingida, macaqueada. A segunda não, pois tal postura exige o total comprometimento do ser do indivíduo com o Ser presente na Boa Nova e é neste ponto que o bicho pega. A realidade, a Verdade, por definição, é o que É, sem rodeios ou fricotes. E se a realidade assim o É, quem o diga Aquele que É a estrutura do real.


Claro que para nós, seres humanos dos idos modernos, que vivemos diuturnamente um teatrinho, fingido, imaginamos que isso não é a norma na existência humana, em especial nesta terra de desterrados chamada Brasil onde nos acostumamos a nivelar a grandeza humana pela sua miudeza. Tal impostura é, em sim, perversa simplesmente porque nos torna incapaz de perceber a grandeza e, se nos tornamos ineptos para tal empreitada, como poderemos permitir que a Grandeza do Evangelho toque o cerne de nossa alma para que essa magnificência nos transforme em algo maior do que somos neste momento?


Por isso é tão importante cultivarmos em nós um profundo e sincero sentimento de veneração por tudo aquilo que é digno de tal sentimento. Por essa razão, creio eu, que o escritor Thomas Mann nos ensina que "Ninguém alcança o que não possui de nascença, e o que te é estranho não o podes cobiçar". Ora, Deus Pai nos criou a sua imagem e semelhança e a vinda do Logos Encarnado é um sinal auto-evidente para que todos lembrem de nossa origem, para que não nos esqueçamos do porquê fomos criados.


No fundo, a Boa Nova nada mais é do que a Primeira: nascemos para Deus e não para o mundo. Antes de nascermos fomos sonhados por Deus e não meramente largados no mundo para evoluirmos biologicamente em nossa degeneração moral presente hodiernamente.


"Que cada um fique, diante de Deus, na condição em que foi chamado" (1Cor VII, 24), conforme nos ensina Aquele que É através das palavras inspiradas escritas por São Paulo. Deus não nos chamou para a baixeza, para a degradação moral e espiritual e muito menos para trocarmos nossa salvação pelas vilezas do mundo, mas sim, para sermos a sua imagem e semelhança (Gen I, 26-27), e nos criou para dominarmos o mundo, não para nos sujeitarmos a ele. Para tanto, temos que primeiramente dominar o nosso canal de ligação com esse mundo, que é a carne, a nossa carne, dominar toda ordem de forças infra-humanas que habitam em nós para que, deste modo, o Reino de Deus impere em nosso coração. Por essa razão que tudo que impera sobre a terra e está debaixo do Sol é apenas vaidade, nada mais do que vaidade.


O Reino de Deus chega para todo Aquele que se esforça todos os dias em relembrar para que foi criado, para todo aquele que procura dedicar a sua vida vivendo em seu coração o Reino onde a Verdade impera irradiando a sua luz nas sobras do mundo, permitindo que o seu coração transfigure-se num Sol radiante à exemplo do Cristo, trazendo luz para a caverna da existência descrita pelo filósofo grego Platão onde todos encontram-se agrilhoados em suas correntes de aparências e superficialidade espiritual. E é claro que, as pessoas da Judéia agiram de modo similar às pessoas descritas na alegoria platônica, ao pedirem a crucificação do Cristo e que, por sua deixa, são semelhantes a todos aqueles que desprezam, ridicularizam e perseguem todos aqueles que procuram seguir o Caminho, a Verdade e a Vida até os dias de hoje.


Por isso completou-se o tempo. Ao afirmar isso Nosso senhor nos aponta o Caminho para tornarmo-nos completos, dignos de seguir à eternidade. Completou-se o tempo em que os ídolos tinham pelos poderes sobre nós, pois da Eternidade nos veio a Verdade que nos revela a Vida que há em nós. Há dois mil anos foi apresentada essa senda de luz e, mesmo assim, a maioria absoluta das pessoas na maioria do tempo de suas vidas continua a abraçar-se aos ídolos mundanos que apenas nos faz cair mais e mais fundo no abismo da degradação, da perdição advinda da ignorância e da leviandade.


Mas sempre há tempo para permitirmos que Ele nos complete e nos eleve à plenitude do Reino desde que, sinceramente, creiamos na Boa Nova e convertamos a nossa vida sob a Luz do Evangelho tal qual nos testemunham todas as almas Santas que permitiram que a obra de Deus se fizesse nelas. Para tanto, é fundamental, como nos ensina Santa Catarina de Senna, que aceitemos a obra primeira Daquele que É em nossas vidas, que é a verdade sobre nós, sobre nossa pessoa. Verdade essa que nos esquivamos tanto, que tanto tememos ouvir, mas que, sem a sua devida audiência não teremos como conhecer e realizar aquele que realmente devemos ser.


Enfim, queiramos ou não, o Reino está proclamado a muito, basta apenas nos lavarmos do encardume e das cracas de nosso orgulho com um bom banho de humildade e nos tornar homens por inteiro, sendo verdadeiros para conosco mesmo para sabermos realmente quem devemos ser diante da Verdade Universal.

[continua]


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MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte VII

Escrevinhação n. 789, redigida em 26 de outubro de 2009, dia de Santo Evaristo, 30ª Semana do Tempo Comum.

Por Dartagnan da Silva Zanela

"Só é possível transformar-se na medida em que já se é". (Novalis)

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Como luz é que mais a alma do homem moderno necessita, reflitamos brevemente através destas simplórias linhas sobre o segundo Mistério Luminoso do Santo Rosário, o mistério das Bodas de Canaã (Jo II; 1-12). Três dias após ter escolhido os primeiros discípulos (Jo I; 35-51), Jesus parte para Canaã, para a terra prometida. Logo no início nos chama a atenção à relação do tempo de três dias para que o Cristo abra caminho pelos seus passos para Canaã. No caso, nessa passagem se antevê a Canaã Celeste que ele apresenta a todos nós após três dias de sua Crucificação, pois, a sua vida, paixão, morte e ressurreição é o caminho para as suas Promessas.

Lá chegando a sua mãe, a Santíssima Virgem, informa-lhe que o vinho da festa findara e pede que ele tome providências e manda que os serventes façam tudo o que ele lhes mandasse fazer. Bem, o milagre das bodas de Canaã é o primeiro milagre público de Jesus Cristo e, curiosamente, na falta de uma palavra mais apropriada, é realizado pela interseção da Santíssima Virgem.

Indo mais adiante quanto ao significado desta passagem da Sacra Escritura, não podemos nos esquecer jamais que Maria é aquela que aceitou plenamente a realização da Vontade de Deus em sua vida, apresentando assim o exemplo luminoso de como devemos nos portar diante da realidade e Daquele que É o Fundamento dela.

Doravante, é incrível como que com ares desdenhosos as pessoas na sociedade moderna se referem aos ensinamentos religiosos e aos Textos Sagrados, como se elas, com seus conhecimentos chulos de almanaque estivessem ao nível de realmente terem uma compreensão superior ao que nos é revelado pelo Criador através das Sagradas Páginas que, em sua complexidade, nos revela a profundidade do sentido da vida e da existência humana.

É mais do que corriqueiro ouvirmos pessoas levianas dessa monta afirmarem que o texto Bíblico é contraditório, que Ele é falho e blá blá blá. Ora raios, mas será que essas pessoas nunca pararam para se perguntar se não é a sua leitura que é falha? Será que elas nunca pararam para pensar que não é a Bíblia que é contraditória, mas sim, a sua alma? É bem provável que não.

Pois é, mas a Santíssima Mãe de Nosso Senhor não é como nós. Ela é sumamente humilde por aceitar plenamente a Vontade Daquele que É e, por isso, intercedeu junto ao Cristo para que fizesse algo. E Ele faz e o mais interessante é que os serventes obedecem prontamente sem saber claramente quem era aquele homem. Isso mesmo! Nós hoje sabemos que Ele é o Cristo e, mesmo assim, em muitos momentos de nossa vida, o desprezamos, o desdenhamos. Porém, aqueles serventes atenderam de pronto tudo aquilo que foi pedido por aquele ilustre desconhecido.

E passado dois milênios, tendo no correr deste tempo o Seu nome repetido inúmeras vezes pelos quatro cantos do mundo, Jesus Cristo continua a ser um grande desconhecido da maioria das pessoas, principalmente daquelas que se apresentam como sendo seus conhecidos e que estão a comemorar como Ele a festa de aliança da terra prometida. Ah! E como nos falta a fé a comemorar como Ele a festa de aliança na terra prometida, por das pessoas, principalmente daquelas que se apresentam como senque se fazia presente na alma daqueles servos indicados por Maria para atender aos pedidos do Logos Encarnado.

E detalhe: Jesus, o ilustre desconhecido lhes pede para encher as seis talhas de pedra com água, talhas essas destinadas à purificação dos judeus e, depois disso, manda que eles sirvam os convidados àquela água, sendo que todos esperam que fosse servido vinho. Se formos pensar de maneira fria, com olhos mundanos, o que foi solicitado aos servos era um grande absurdo. Mas eles ouviram o Senhor e realizaram prontamente a sua vontade, bem ao contrário de nós que nos recusamos a realizar prontamente à vontade de Deus, preferindo viver uma vida de absurdos, como é a vida que levamos em nossa sociedade.

Dito isso, não percamos de nossas vistas o que foi o primeiro milagre público de Cristo: a transformação da água para purificação que estava nas talhas de pedra em vinho de salvação, a transfiguração da água de nossa vida lavada de chagas em vinho da Verdade que liberta. Se formos mais ousamos, ao menos a esse mísero missivista assim aprece, as talhas de pedra representam a Igreja, pois é sobre Pedro (sobre a pedra) que Nosso Senhor edifica o seu Corpo Místico e a água que passar por essas talhas para ser servida no banquete da terra prometida, deverá se transfigurar através da humildade, da prontidão e da fé nas instruções e ensinos Daquele ilustre desconhecido.

E Este, meus caros, é o melhor vinho. Não é mais o vinho (sangue) da primeira aliança, mas sim, o vinho da nova e eterna aliança. De mais a mais, ao contrário do critério utilizado por todos, não é o melhor que vem por primeiro, mas sim, o de menor qualidade, pois, como nos ensina o filósofo grego Platão, o primeiro na ordem do Ser é o último na ordem do conhecer. Da mesma forma que nos primórdios a humanidade não estava preparada para receber o melhor vinho, que é o Verbo Divino Encarnado, nós, de nossa parte, demoramos muitíssimo mais do que devíamos, para nos preparar para receber legitimamente a Verdade que está presente neste vinho.

Para realmente aceitarmos a Verdade que nos é revelada pelo Evangelho é imprescindível que nos transfiguremos, que permitamos que as palavras da Boa Nova nos transformem em pessoas dignas de se fazerem presentes na mesa do Banquete das almas Santas, tal qual pede São Tomas de Aquino em uma de suas belíssimas preces. Ou seja: é de basilar de importância que, gradativamente, nos permitamos ser amoldados pela vontade do Pai e não mais pela nossa para que possamos realmente nos fazer mais próximos do Ser e não mais a imagem fugidia do nosso parecer.

Muito bem, e eis que Cristo Jesus parte para Cafarnaum, para a aldeia da consolação. Após os Seus primeiros sinais, realizados na terra prometida em meio à festa da aliança (bodas), o Galileu desconhecido deixa claro para todos aqueles que realmente querem enxergar a realidade. A realidade de que o Reino não se realiza neste mundo e em meio as multidões, mas apenas naqueles que aceitam a transformação proposta por Ele. Os sinais que ali foram anunciados nos ensinam que é nossa vontade (água) que deve se ajustar a verdade, tornando-se ela (o vinho) e não o contrário, como se tornou tão corriqueiro na sociedade hodierna.

Por fim, se você deseja, sinceramente, entregar-se humilde e pacientemente à Verdade, contrariando a pulsão reinante, alegra-se, pois a Verdade é o caminho da consolação quando tudo o mais se faz cingir pelas veredas da mentira e da falsidade.

E é só.

Pax et bonum