Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte XVI

Escrevinhação n. 801, redigida em 29 de dezembro de 2009, dia de São Tomas Becker e da Sagrada Família.

Por Dartagnan da Silva Zanela

"A fé abre a porta ao conhecimento. A incredulidade a fecha."
(Sto. Agostinho)
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A mensagem de Nosso Senhor é uma Boa Nova de alegria e, por essa razão simples, luminosa. Por ser uma mensagem de Luz em um mundo encoberto pelo torpor das sombras dos tentáculos das trevas e de seus vassalos, tal anuncio faz-se doloroso e somente a partir das inomináveis dores vividas pelo Verbo Divino Encarnado, que se manifesta para nós o esplendor de sua glória. Isso! Os mistérios Gloriosos do Santo Rosário que em meio a sorrisos róseos e lágrimas de sangue Aquele que É nos apresenta toda a luz altiva de sua glória celestial.

O primeiro destes cinco mistérios é a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo XX, 1-18). Só de meditar sobre essa passagem da Sacra Escritura os átrios abrigados em meu peito palpitam em um ritmo não habitual. E se assim meu coração se porta, não é por frescura mundana não. É porque o Verbo que se fez carne está manifestando plenamente a Sua glória para o mundo.

O Cristo fora sepultado em um sepulcro novo, virginal. Bem, Nosso Senhor veio ao mundo através de um ventre virgem, imaculado. Mais do que natural que Ele ressuscite dos mortos em um útero virginal que é o sepulcro onde seu corpo havia sido colocado. Ele nasceu em uma gruta, em uma modesta manjedoura, e quando lá estava, uma estrela radiante projetou a sua luz sobre ele anunciando seu nascimento. De modo similar, quando Ele ressuscita dos mortos, um raio de luz empurra a pedra que vedava a entrada de sua cripta (Mt XXVIII, 2-3). Outro detalhe: três foram as testemunhas que de longe vieram para honrar o nascimento de Nosso Senhor, três foram as mulheres que lá estavam para honrá-lo e testemunharam que seu corpo não mais estava no local onde havia sido sepultado (Mc XVI, 1; Lc XXIV, 10).

A pedra removida, penso, é a pedra da idolatria, da vaidade, do orgulho, dos pecados que estão impregnados em nossa alma que são removidos com a ressurreição do Filho do Homem. Para nascermos de novo, para renascermos em Cristo, temos que permitir a remoção da pedra que jaz na porta do sepulcro de nossa alma, que nos impede de ver a luz que vem do Céu. Para removermos esses obstáculos simbolizados pela pedra precisamos agir de maneira sincera para frente à Verdade, sermos sinceros para com Deus.

Ser sincero para com Aquele que É não é fingirmos, dissimularmos aquele bom-mocismo politicamente-correto que aceita como “verdadeiro” todas as esquisitices que nos são apresentadas pela sociedade hodierna. Aceitar o engodo como verdade para não desagradar os outros é somente covardia. Ser sincero para com o Logos Divino é admitirmos, primeiramente, que somos fruto da Vontade Celeste e não o contrário porque Ele é Aquele que estrutura a realidade, Ele é a inteligência que está por trás de tudo que é inteligível e misterioso e não nós e nossa débil condição e pífios desejos. Ser sincero perante o Altíssimo é reconhecer quem realmente somos e aceitar que o Logos Encarnado nos transforme em algo que realmente seja elevado.

No Evangelho de São João (XX, 2), este nos diz que as mulheres logo após a visão que tiveram correram para anunciar o que havia ocorrido dizendo: “Retiraram do sepulcro o Senhor e não sabemos onde o puseram”. Assim o disseram para Simão Pedro (o bom ouvinte que se tornou pedra) e para o discípulo amado (o agraciado por Deus), que saíram correndo em direção do sepulcro e daí em diante, o Evangelista não mais se refere ao nome do discípulo que estava junto com São Pedro. Por quê? Será que assim procedeu apenas por um uso refinado da linguagem? Creio que não, ainda mais em si tratando da Sagrada Escritura inspirado por Deus.

O discípulo não nominado é você, sou eu, somos todos nós, que estamos diante do sepulcro de nosso coração, mas não tivemos a coragem e a ousadia de entrar para testemunhar, mesmo tendo chegado primeiro. Mas São Pedro, a pedra sobre a qual se edifica o Corpo Místico de Cristo, a Santa Madre Igreja, chega junto de nós adentra, e dá testemunho para nós desta Glória, desta via de iluminação da alma humana. Agora, cabe a cada um dar o passo seguinte: adentrar em nosso coração e testemunhar vivamente a Verdade. Para tanto, devemos ouvir os ensinamentos que nos são trazidos por aquela que é Mãe e Mestra (mater et magistra), pelos exemplos vivos e pela obra dos Santos e Santas para que nasça em nós a necessária coragem de tornarmo-nos testemunhas de Cristo, testemunhas vivas da Verdade.

Ou então, podemos abdicar de ser testemunhas do Logos Divino Encarnado e nos reduzir a condição dos guardas que estavam junto ao Santo Sepulcro (Mt XXVIII, 4): paralisados, tremendo, mortos de espanto. Ele está em nosso coração e nós, por escolha (im)própria, muitas das vezes, preferimos ficar fora de si, para não termos de olhar para Ele, a Verdade, face a Face, para não saber quem nós de fato somos e quem deveríamos realmente ser.

E quando nos deparamos com a Luz que vem do Céu, com o sinal que anuncia o seu retorno da mansão dos mortos, ficamos mortos de espanto. O espanto, como nos ensina o filósofo grego Aristóteles, é a pedra angular para aprendermos e amadurecermos desde que, nossa alma esteja tencionada pelo desejo de conhecer a Verdade. Quando abdicamos de conhecê-la e quanto Esta se revela para nossas vistas, o que temos? Simplesmente um idiota, espantado, por descobrir que o mundo é maior que as suas reles preocupações. Paralisado, por descobrir a enormidade de sua impotência substancial.

Mais do que naqueles tempos, a Verdade está entregue nas mãos dos pecadores para ser julgada, condenada, flagelada, crucificada e sepultada em nosso coração. Os pecadores somos nós, obviamente, e todos os dias estamos sendo convidados a testemunhar a ressurreição do Cristo. No dia à dia, muitas das vezes, lá estamos nós, agindo tal qual Herodes, Caifás, Pôncio Pilatos e como os guardas. Mas também, temos a oportunidade de adentrar o sepulcro que jaz em nosso coração e, testemunhando o que lá ocorreu, renascermos verdadeiramente com a verdade que se revela sobre nós através da Verdade, que é Cristo.

Ou podemos aceitar nos perder entre livros estúpidos, entre os conselhos de douto-ignaros, palpiteiros de plantão, ou entregando-nos às ideologias materialistas, hedonistas, niilistas totalitárias, que apresentam as mesmas loucuras com palavras diversas como uma pseudo-salvação para o mundo. Em fim, podemos afirmar que o mundo e nossa escravidão confessa a ele, ou nos afirmar em Cristo, que É a Verdade e, por isso mesmo, nos liberta.
Pax et bonum
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MENSAGEM DE NATAL, DE SANTO NATAL

Escrevinhação n. 800, redigida em 23 de dezembro de 2009, dia de São João Câncio.

Por Dartagnan da Silva Zanela

"A vida da vida mortal é a esperança da vida imortal."
(Sto. Agostinho)
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O homem é aquilo que está em seu centro ontológico. Somos, através de nossos passos, gestos, palavras, pensamentos e conflitos (internos e externos), a irradiação do que habita em nosso centro vital. Visualizamos com grande clareza a imagem impostada no centro de nossa alma em uma época como esta: o Santo Natal.

Nesta época do ano, o tempo todo se fala do Natal, sobre os preparativos para essa festa, mas em que medida, digo, de que forma nos preparamos e comemoramos essa Santa data? Eis aí uma pergunta simples e impertinente que deverá ser respondida unicamente por você no silêncio de sua alma, em uma visitação discreta ao centro do seu ser e verificar o que está sendo festejado intimamente com o nome de Natal e constatar com as meninas de seus olhos se realmente, esse jubilar, é um festejo Santo.

O mundo moderno, a todo o momento, labuta para mais e mais fragmentar a nossa alma e nos tirar do centro natural que é o Logos Divino, visto que, é apenas Ele que nos liberta dos tentáculos mundanos que tanto trabalham em prol de nossa escravidão. Não é por menos que justamente em datas Santas como essa que essas terrificantes forças intensificam a sua atuação para desviar a nossa atenção daquilo que realmente é central e que deve ser celebrado por nós no vigésimo quinto dia de dezembro: o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Logos Divino Encarnado, o nosso Redentor.

O brilho da Luz que brilha e que nos guia por essa noite de plúmbeos ares é a alegria que não pode ser esquecida e que deve ser lembrada e vivida no correr de todas as alvoradas e crepúsculos de nossa vida, pois é essa Luz, que deve ocupar o centro, tornando-nos pessoas homogêneas e integras sendo guiados pela Boa Nova que se anuncia a partir de Belém.

Assim, creio eu, o Natal é Santo e é feliz porque renova em nós aquele desejo de nos fazermos infantes para entrar no Reino do Céu e o ano vindouro fazer-se abençoado por aceitarmos que através dos átrios de nosso coração o Reino seja proclamado ao mundo e vivido diariamente através de nossos pensamentos, palavras, gestos e conflitos internos e externos.

Esse é o centro a ser cultivado por nós. É isso que devemos celebrar em nosso coração, mesmo que o mundo esforce-se em nos afastar da Luz que nos faz ver quem nós somos e, como a um farol salvífico, nos aponta o caminho a ser seguido para tornarmo-nos a pessoa que devemos ser.

Pax et bonum
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FELIZ NATAL!

MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte XV

Escrevinhação n. 799, Redigida em 21 de dezembro de 2009, dia de São Pedro Canísio.

Por Dartagnan da Silva Zanela

“As almas! As almas! Se alguém soubesse o preço que custam”.
(Padre Pio)

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Não é em uma única ocasião em que temos de ouvir uma e outra pessoa afirmar, com ares de indignação, que não entendem porque nós, Cristãos, representamos a imagem de Nosso Senhor Crucificado. Esses indivíduos viam e vêem em tal gesto um sinal de certa impiedade ou de falta de amor no coração. Ora, faz-me rir tais ponderações. Digo isso, pois tais incompreensões advindas do coração dos homens modernos frente ao quinto mistério doloroso, a crucificação de Nosso Senhor (Jo XIX, 16-22), nos revela uma triste imagem do que nos tornamos nos dias hodiernos.

Em outra ocasião, tivemos a oportunidade de partilhar algumas reflexões sobre esse doloroso mistério em nossa escrevinhação REFLETINDO SOBRE UM DOS MUITOS MISTÉRIOS (disponível em nosso site). Mas, como os ensinamentos Sacros são infinitos e nossa capacidade de compreensão diminuta, Eles estão sempre nos ensinando algo a mais, algo que antes havia escapado à nossa parva compreensão.

Dito isso, vamos em frente. A crucificação é o grande sinal do amor de Deus por todos nós. Mas, que tipo de amor é esse? Aliás, quando lemos na Boa Nova a palavra amor ela corresponde a mesma realidade humana que designamos com essa palavra? Provavelmente o que Deus está nos comunicando através da Santa Escritura não é o mesmo que o mundo quer nos persuadir a aceitar como sendo a forma mais elevada de amor. Ora, o amor pode ser erótico, carnal, ou ser um sentimento de afeto, de “querer bem” de modo virtuoso, ou então um gesto de doação, de sacrifício. Não precisamos nem dizer que o primeiro tipo é o que se faz imperar no mundo moderno e o segundo e o terceiro que se fazem praticamente incompreensíveis nos dias atuais.

Na sua primeira acepção, podemos dizer que o amor está centrado primeiramente em nossa pessoa, na satisfação de nossas pulsões mais primárias, onde a “alegria” se realiza em nossa alma quando os gritos ululantes de nossa carne são saciados, quando os clamores do mundo fazem eco em nossos átrios. Trocando em miúdos: o mundo estará bem se eu satisfizer todos os “meus desejos”. Caso contrário, que tudo caia ladeira abaixo. Ou seja: nada mais, nada menos que uma manifestação egocêntrica dissimulada das mais variadas maneiras.

Porém, o amor de Cruz é totalmente distinto do amor mundano e da carne. O amor de Cruz tem o seu centro em Deus, na Vontade Daquele que É, mesmo que a nossa carne diga o contrário, mesmo que o mundo clame pelo fracasso de nosso gesto com insultos e provocações. Esse é o amor Evangélico, esse é o amor que Nosso Senhor nos conclama a vivenciar através de seu sacrifício no alto do monte Calvário.

E podemos ir um pouco mais longe, se o amigo leitor nos permitir. O amor mundano e carnal nos faz fraco, frágeis. Para resumir o enrolo, nos reduz a mais obtusa idiotice, pois acabamos por reduzir toda imensidão da Criação à pequenez de nosso ego, à insignificância de nossos desejos umbilicais. Todavia, como o mundo é imensuravelmente maior do que nosso umbigo, toda vez que este não se encaixa e não satisfaz o nosso centro carnal, nos entregamos à auto-vitimização fingida e hipócrita. Não é por menos que atualmente cada vez mais aumenta o número de pessoas biologicamente adultas que são psicológica e moralmente como crianças mimadas.

Porém, o amor doação, o amor sacrifício, nos faz grande. Ele dilata as fronteiras de nossa percepção da realidade e, consequentemente, amplia nossa consciência sobre a vida e sobre o seu sentido. O amor sacrifício nos torna maior do que nosso ego e do que nosso umbigo porque aceitamos que a Vontade Divina se realize, permitindo que o Criador infunda em nós aquilo que nos torna mais nós mesmos do que aparentemente somos. Esse amor que nos é ensinado pelo Cristo nos torna fortes quando estamos fracos e nos move a perceber o quanto somos fracos quando nos sentimos fortes (2Cor XII, 7-8), porque esse amor nos dá a verdadeira medida da realidade que, literalmente, é desdenhada pelas vistas de nosso coração quando temos como centro da vida os nossos pequenos e pífios quereres.

Quando procedemos assim, acabamos por tirar o Logos de centro de nossa vida e colocando o que há de mais rasteiro em nós como se isso fosse o centro da criação. Não é à toa que a maioria das pessoas são incapazes de compreender a vida de um Santo, uma vida de sacrifício da própria vontade em nome da realização da Vontade Divina. A situação é tão tragicômica que, em nossa mediocridade ideologica e tecnicamente auto-justificada, doentiamente imaginamos que todas as pessoas são semelhantes a nós ao mesmo tempo em que somos incapazes de perceber toda essa baixeza que habita e se realiza em nós. Simplificando: insultamos os outros daquilo que nós somos.

Doravante, se prestarmos atenção à Cruz, perceberemos algo muito simples: ela liga os quatro pontos cardeais (as quatro virtudes cardinais – prudência, justiça, fortaleza e temperança), ela liga os quatro planos da existência (o finito e temporal ao infinito e eterno) tendo em seu centro o Logos Encarnado. Sacrifica-se no centro da cruz a humanidade de Cristo para o esplendor de sua Divindade; sacrifica-se em seu centro a vontade humana para realização majestosa da Vontade Divina; imola-se nas traves cruzadas no alto do monte Gólgota, das cabeças “pensantes” deste mundo a prepotência que impera no coração humano para que verdadeiramente humano o nosso coração se torne.

Por essa razão Nosso Senhor nos diz para que tomemos a nossa Cruz e o sigamos (Lc IX, 23-25; Mt XXIII, 24; Mc VIII, 34). Sem tomarmos a cruz não teremos a redenção, pois ainda estaríamos muitíssimo apegados aos nossos desejos e ao mundo. Não temos como seguir o Messias se não abdicarmos de nossa pequenez, não temos como renascer em Cristo como um novo homem se não sacrificamos o velho, não podemos falar que realmente somos convertidos se ainda ocultamos nos vestíbulos de nosso coração a abominável torpeza que permitimos, que aceitamos, imperar em nossa vida.

Contemple na imagem da cruz tudo aquilo que Deus fez por nós e que nós, do alto de nossa mediocridade, olhamos com desdém para ocultar a nossa incapacidade de amar nossos semelhantes como Ele nos amou, para dissimular nossa incapacidade voluntária de aceitar que nascemos para ser mais do que atualmente somos, mais do que nossos desejos anseiam que sejamos, mas que Ele, através do sacrifício da Cruz espera que sejamos. Que sejamos maiores do que os nossos olhos são capazes de ver e compreender.

[continua]

Pax et bonum.
Feliz Natal e um abençoado 2010 para todos.
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AOS FORMANDOS DE 2009 DO COLÉGIO ESTADUAL PROFESSORA ISABEL F. SIQUEIRA

Escrevinhação n. 798, redigida em 15 de dezembro de 2009, dia de Santa Virgínia Centurione Bracelli e de Santa Nina.

Por Dartagnan da Silva Zanela

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Boa noite. Podemos muitas das vezes pecar por falta de clareza devido ao uso breve e sucinto que fazemos das palavras. Porém para não incorrer na indelicadeza de abusar do paciente ouvido de vocês, correrei esse risco para, neste momento, proferir uma última lição professoral, uma sutil exortação, para esses jovens que aqui estão.

Para tanto, recordo aqui as palavras de um grande professor, Confúcio, que dizia a seus discípulos que um filho não deve dar a seus pais nenhuma outra preocupação além da doença. As enfermidades na maioria das vezes são imprevisíveis, outras tantas inevitáveis. Quanto ao restante das situações que vivemos dependem apenas de uma manifestação volitiva, de uma escolha deliberada de nossa vontade. E aí, eu vos pergunto jovens: foi apenas esse tipo de preocupação que vocês deram para os seus pais, para aqueles que abnegadamente vos amam? E para nós, professores, seus pais intelectuais, que tipo de preocupação vocês promoveram? Vocês pararam para pensar nas inquietações que vocês fomentaram em nossas almas? Provavelmente não.

Por isso mesmo lembro-vos disso que deveria ser algo que nunca poderia se esquecido (Exo. XX, 12): honora patrem tuum et matrem tuam, o quarto mandamento, honrar teu pai e tua mãe. Sei que este é um momento de júbilo, de festa. É uma formatura e, por isso, é mais do que natural que seus pais sintam-se felizes ao vê-los aqui. Porém, se me permitem, eu lhes pergunto: com que pensamentos, palavras e atos vocês procuraram honrar os seus pais? Com que atitudes vocês procuraram honrar a nós, seus professores? Fica difícil precisar uma resposta se realmente formos sinceros.

Mas sejamos, ao menos, conosco mesmo, em nosso íntimo e reflitamos sobre o real valor deste momento em nossa vida e quanto, realmente, o merecemos, o quanto lutamos para sermos merecedores de estar aqui.

Por fim, se lhes digo essas palavras duras, é porque nós, professores, amamos vocês e desejamos, do âmago de nosso coração, que vocês cresçam em verdade e em espírito e tornem-se, como diria Goethe, dignos, prestativos e bons e não repitam nos dias que estão por vir os mesmos erros que vocês, muitas das vezes, insistentemente repetiram a fio nos anos escolares.

Paz e bem para todos e o que fizerem, a partir deste momento, o façam para merecer. Sem pressa, mas sem perder tempo.

Obrigado.

Pax et bonum
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MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte XIV

Escrevinhação n. 797, redigida em 14 de dezembro de 2009, dia de São João da Cruz e de Santo Esperidião.

Por Dartagnan da Silva Zanela

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São Pedro de Alcântara em seu TRATADO DE LA ORACIÓN Y MEDITACIÓN, nos apresenta preciosas orientações para nos auxiliar em nossa vida interior e, dentre essas instruções, ele nos chama a atenção para alguns temas que devem se fazer presente em nossas meditações diárias sobre os ensinamentos Sacros e, um dos temas basilares, apresentados em seu tratado, são as dores de Nosso Senhor para que tenhamos uma medida real do que é dor e assim mensuremos o quão suave são as dores que afligem a nossa carne, o nosso ego e a nossa alma.

Dos cinco mistérios dolorosos, na missiva de hoje, procuraremos dedicar à tensão de nossa pena digital ao quarto, que é a subida dolorosa ao Calvário (Lc XXIII, 26-32). O próprio enunciado deste mistério nos chama a atenção para uma verdade auto-evidente e, por essa mesma razão, tão desdenhada por nós que vivemos no ciclo moderno.

O Cristo está retornando para o Pai. Para tanto, ele está subindo para um monte, o monte dos crânios, para ser imolado, para ser sacrificado por ímpios como eu e você.

Ora, o caminho para a Verdade nunca é um caminho breve e muito menos suave. Ele é duro e para podermos realmente permitir a realização do esplendor da Verdade em nosso coração e em nossa vida, temos de estar dispostos a realizar o sacrifício necessário que, fundamentalmente, não deve ser feito para o mundo, mas para as alturas, acima dos crânios, acima das intenções e pensamentos turvos que populam as cabeças das pessoas que tem sua alma absorvida e tolhida pelos males do mundo, males estes que nos são advertidos por São João em sua primeira epistola (II, 12-17).

E para elevar o nosso olhar e nosso sacrifício acima daquilo que habita os crânios deste mundo, temos que nos dispor a subir o monte para sacrificar nossa vontade, para entregarmos o nosso ser aos pés da Verdade. Tal prática pode, e penso eu que deve iniciar-se com pequenas verdades e mesmo com elas, já sentimos o peso da farsa que estava sobre nós e em nós e o quão salutar é termos as feridas e a face lavada com as águas caudalosas da liberdade (Jo VIII, 32) que nos é ofertada pela Logos Encarnado.

E é claro que procedendo dessa forma os problemas com o mundo não acabarão. Pelo contrário, apenas começarão. Porém, com uma diferença: eles não mais lhe afetarão como antes, porque a Verdade nos fortalece, porque Ela nos revela quem realmente nós somos e quem necessariamente demos ser. Quando aceitamos isso, pessoalmente, literalmente não vemos mais as vozes do mundo como uma autoridade, mas apenas como excremento, como refugo e é isso que a autoridade das forças do mundo é diante do Logos Encarnado, diante da majestade da Verdade, como nos ensina São Paulo (Fil. III, 8).

E assim o Cristo sobe ao Calvário, para ser imolado. Silencioso e altivo, mesmo sendo o tempo todo acompanhado de uma turba ignóbil que o insultava, que o provocava para ver se conseguiam assim incitar Nele uma manifestação de fúria, de revolta ou de indignação. Mas não. Lá estava Ele, impávido e firme como um rochedo esplêndido. E detalhe: Ele poderia ter reduzido a todos a subnitrato de pó de coliformes fecais, mas não o fez.

Nós, por nossa deixa, não apenas nos indignamos e nos revoltamos com facilidade como também ensinamos e reverenciamos isso como se tal prática fosse a sublimidade da alma humana. Enfrentar a multidão mundana colocando-a no seu devido lugar, a insignificância, é o que o Cristo espera que façamos em nossa vida, para merecermos beber da fonte de água viva. E o que ensinamos hoje como primor de cidadanite? Seja revoltado, seja indignado e assim deixe que as tensões do mundo dominem o seu olhar para que você se sinta dia após dia menor e mais e mais impotente diante dos desafios da existência e das exigências da liberdade que apenas pode ser adquirida pela aceitação da Verdade.

Doravante, o que mais o mundo moderno faz com a alma humana é reduzi-la a um nível de total fragilidade, chegando a raia de não mais sermos capazes de enfrentar os mais insignificantes problemas de nossa vida sem termos de recorrer a uma "otoridade" advinda das potestades estatais ou das multidões ululantes. Por não sermos capazes de nos auto-afirmar como pessoas, carecemos da confirmação externa de nossos atos e pensamentos. Por não mais nutrirmos a tensão espiritual, interior, em nosso horizonte, acabamos por permitir que as tensões mundanas, exteriores, nos moldem. Para averiguar isso, basta que volva as vistas para a insegurança que se faz presente nas ações das pessoas na sociedade moderna, na nossa maneira de encarar a vida onde confiamos mais no consenso que grita suas dissimulações de verdade do que na própria Verdade.

Penso que, por essa razão, Nosso Senhor diz, para as mulheres que estavam chorando, as seguintes palavras (Lc XXIII, 28): "Filhas de Jerusalém, não choreis por mim. Chorai por vós e por vossos filhos". Bem, Jerusalém significa temor de Deus, temor íntegro e perfeito. As filhas de Jerusalém e seus filhos somos nós que choramos diante dos absurdos do mundo moderno, de nossos absurdos pessoais, e apenas somos capazes de ficar a lamentar, a choramingar pitangas, a prantear nossa desídia espiritual, nos negando a carregar a nossa cruz e a seguir o nosso calvário para nos libertar das compulsões deste mundo que tanto trabalha para que desdenhemos e esqueçamos do Testamento que nos foi legado.

Mas não nos esqueçamos. Lembremos sempre que a Jerusalém Celeste habita o âmago de nosso coração e que, infelizmente, é pouco visitada por nós. O temor de Deus é a aceitação da Verdade, pura e simples. Negar a Verdade é um claro sinal de ignorância voluntária, nutridos por nosso orgulho, por nosso desejo de sermos maiores e mais “piedosos” que a Verdade. É o mesmo que reunirmos dois conjuntos de dois objetos e afirmarmos que os dois conjuntos, juntos, não são quatro objetos, que tal resultado seria apenas uma arbitrariedade. Meu caro, Deus não é arbitrário, Ele é real. Arbitrária são as nossas escolhas, os nossos desvios, a nossa vida fingida de suposta superioridade mantida com títulos e "honras" vulgares.

Subir o calvário, interiormente, é recuperar a integridade e a perfeição que perdemos no correr de nossas escolhas, de nossos pecados. É sacrificar o nosso orgulho e a nossa vaidade que inundam a nossa cabeça, procurando caminhar par além dela, seguindo o que nos é ensinado pelo silencioso exemplo Dele, do Logos Encarnado. Caso contrário continue a cercar a Jerusalém de seu coração, destruindo-a e com ela, você mesmo, o seu eu real, porque você foi incapaz de compreender que as forças sombrias da farsa na podem contra aquele que de maneira abnegada carrega a sua Cruz para chegar acima das cabeças ocas do mundo.

Em fim, o Calvário é para todos, mas a subida é sua.

Pax et bonum
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Programa Ave Maria, 10 de dezembro de 2009

O Programa Ave Maria é o Programa radiofônico da Paróquia Nossa Senhora de Belém e vai ao ar de segunda à sexta das 18h00 às 18h15. Nas quintas a apresentação do mesmo é feita por Dartagnan da Silva Zanela.

MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte XIII

Escrevinhação n. 796, redigida em 08 de dezembro de 2009, dia da Imaculada Conceição de Maria, 31ª. semana do Tempo Comum.

Por Dartagnan da Silva Zanela

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Quando voltamos nossas vistas para o mundo a nossa volta e vemos a barbárie que impera entre nós, pouca coragem nos resta (para não dizer nenhuma) para voltarmos nossos olhos para o mundo interior de nossa alma e perceber que as águas turvas que inundam a sociedade são apenas um reflexo simiesco das águas pútridas que banham nosso ser. E, para meditarmos sobre essa covardia espiritual que impera em nós e na Cristandade, há um mistério do Santo Rosário que ilumina-nos muito bem no que toca esse ponto. É o terceiro mistério doloroso (Mt XXVII, 27-31): a coroa de espinhos.

Nosso Senhor é levado ao palácio do governador e rodeado por toda uma guarnição. Um Homem todo martirizado pela violenta tortura que lhe fora imposta quando estava preso a uma coluna carecia de ser rodeado por uma corja de olhos medonhos, de uma roda de escarnecedores? Não, mas mesmo assim, de modo similar, continuamos a tratar a Verdade quando ela se revela aos nossos olhos dia após dia. Basta que algo verdadeiro fira nossa alma como se fosse um golpe de um dardo, salvífico, que mais do que depressa tratamos de nos juntar com nossos pares para silenciar ou com o desprezo, ou com a injúria, aquele que revela-nos a verdade, em especial, a verdade sobre a nossa baixeza geral.

Quando o Cristo flagelado se encontrou cercado representa o nosso cerco cotidiano e covarde diante da Verdade, pois a Verdade exige de nós uma profunda transformação, uma mudança de rumo em nossa vida, para melhor ou para pior. Não há possibilidade de nos manter indiferente frente a Ela. Ou aceitamos que a verdade nos molde de acordo com a sua retidão, ou nos esconder atrás das mentiras mais sórdidas e dos enganos e auto-enganos mais mesquinhos para podermos nos manter do mesmo jeitinho medíocre e cretino de sempre agindo tais quais os soldados descritos nesta cena Bíblica.

Eles despem o Filho do Homem, para humilhá-lo, do mesmo modo que nós adoramos achincalhar aqueles que se esforçam pelo caminho que nos foi ensinado pelo Verbo Encarnado. Adoramos insultar as pessoas devotas atribuindo-lhes apelidos pejorativos no intuito imaginário e doentio de, com essas afronta, estar desnudando-os de sua suposta hipocrisia sem perceber que a única hipocrisia reinante é a do nosso sorriso amarelado e escarnecedor, similar ao dos soldados romanos que zombavam de Nosso Senhor.

Ah! É claro! A coroa de espinhos. Uma colocada sobre a sua cabeça e outra na cana de sua mão direita. Essa coroação, simbolicamente, representa, ao menos para esse indigno escrevinhador, o anúncio do caminho a ser seguido pela Santa Madre Igreja, pelo Corpo Místico de Cristo. Se formos estudar com seriedade e sinceridade a história da Igreja de Cristo, a história de todos aqueles que moldaram a sua vida de acordo com os preceitos evangélicos, iremos perceber com clareza que o mundo sempre reservou para os Cristãos um coroar de espinhos de intolerância e de escárnio. Em especial na atualidade onde, mais do que nunca, a Igreja se vê invadida e vilipendiada por espinhos, por pessoas e doutrinas que são a antítese dos ensinamentos de Nosso Senhor, minando a sua cabeça.

As doutrinas do mundo e seus valores como o hedonistas, materialistas, niilistas e tutti quanti, são a coroa de espinhos que guiam os nossos corações a negar Nosso Senhor e Sua Palavra e que tornam a destra, o braço do justo, um membro agrilhoado, preso aos espinhos do mundo para retardar a realização da justiça em nossa alma. Os espinhos do mundo cercam a razão (a cabeça) para que dia a dia nos entreguemos mais e mais aos nossos instintos e assim não mais saibamos como agir de acordo com os desígnios do logos iluminado pela fé.

Isso mesmo. E nesse momento, creio eu, torna-se visível aos olhos de quem realmente deseja ver que o palácio é nossa alma, o governador covarde é nossa escolha de vida que, diante da verdade, lava suas mãos. Quanto aos soldados romanos, esses representam os nossos vícios morais e intelectuais que, embalados na bossa de nossa pusilanimidade, cerca a verdade com enxovalhos mil para melhor afirmar nosso simulacro de realiza fingida.

Sim, não nos achamos senhores de nossa vida, de nossos desejos, de nossas opiniões? Não agimos como se fôssemos soberanos? Bem, se assim o somos, onde se encontram os nossos domínios? Onde está o nosso poder? Somos tão medíocres que nos ufanamos de nossa impotência existencial, de nossa incapacidade de nos auto-conhecermos e realmente fazer algo de significativo com os míseros dias que compõem isso que chamamos de nossa vida tal qual Pilatos e Caifás.

Por fim, poderíamos perguntar: em que as zombarias dos soldados diminuíram a Majestade do Verbo Encarnado, em que o nosso espinhoso desprezo pela Verdade afeta a sua Realidade? Em absolutamente nada. A Verdade É o que É mesmo que todos digam o contrário e nós, somos o que somos, mesmo que imaginemos o contrário. Por isso, creio que esta seria uma oportunidade singular de retirarmos a coroa de espinhos que presenteamos o Cristo diariamente em nosso coração para que Ele derrame em nosso ser ao menos uma gota de sua sapiência para assim clarear nossa vista em nossa jornada por esse vale de sombras que é a sociedade contemporânea e com Sua mão direita auxiliar-nos a tornar o nosso caráter reto e justo de fato, não apenas de nome.

Detalhe: o mundo torce para que você não tome essa decisão, que você continue sendo um senhor dum mundinho umbilical de soberania fingida.

Pax et bonum
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A UNIVERSALIDADE DO FRATERNAL ARDIL

Escrevinhação n. 795, redigida em 07 de dezembro de 2009, dia de Santo Ambrósio e de Santa Maria Josefa Rossello, 31ª. semana do Tempo Comum.

Por Dartagnan da Silva Zanela

“Deus é servido apenas quando é servido de acordo com a Sua vontade”. (Padre Pio)

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Muitas são as mentiras elegantemente ditas e repetidas de maneira politicamente correta em nossa sociedade. Dentre todos os pacovas que se disseminaram no correr do ciclo moderno um dos mais letais para toda a Cristandade é justamente a idéia de fraternidade universal. Num primeiro momento, o amigo leitor pode estar sentindo-se um tanto que surpreso com essas primeiras palavras escritas por esse mísero escrevinhador, porém, vamos tentar responder, inicialmente, a uma pequena perguntinha: de onde surgiu essa idéia? Quando que essa história de "fraternidade universal" passou a ser entoada aos quatro ventos?

Seria um ledo engano pensar que foi com Nosso Senhor Jesus Cristo, visto que, como Ele mesmo nos ensina, Ele veio ao mundo para trazer a espada (Mt X, 34), que a Sua pessoa seria um sinal de controvérsia no mundo (Lc II, 34-35). De mais a mais, o Cristianismo não é, em si, a religião da tolerância, mas sim, da intolerância, conforme nos ensina o Cardeal Pie em seu sermão proferido na Catedral de Chartres em 1841. Sei que tal afirmação soa de uma forma politicamente incorreta, todavia, nosso compromisso ao escrever não é com a agradabilidade das palavras, mas si, com a Verdade revelada por Nosso Senhor. Se lembrarmos dos idos em que Nosso Senhor veio ao mundo, perceberemos que não era o Cristo que defendia a tolerância com toda e qualquer forma de crença, mas sim, o Império Romano que, por sua deixa, nos primeiros séculos, tolerava tudo, menos os seguidores de Jesus Cristo que acabaram tendo suas vidas ceifadas e morrendo como mártires.

Tudo bem, mas quanto à fraternidade universal? Essa idéia emerge juntamente com a modernidade, com os ideais iluministas revolucionários a partir do século XVIII e o interessante é que juntamente com esse ideal vem toda ordem de perseguição e difamação ao Cristianismo. Desde a revolução francesa até os idos contemporâneos tornou-se cada vez mais corriqueiro vermos as verdades religiosas reveladas por Deus serem colocadas em um segundo plano em nome de qualquer novidade, de qualquer veleidade que almeja se colocar em um patamar acima da Divindade transgredindo assim, de modo evidente, o primeiro mandamento do Senhor em nome de uma suposta fraternidade entre os povos em torno de qualquer novidade ou idéia genial.

Não é à toa que tal idéia, a de "fraternidade universal", foi uma das criações mais assassinas de todo história da humanidade. Não? Então vejamos apenas alguns pequenos dados de matemática macabra. Somente o Socialismo (em suas mais variadas facetas), no correr de pouco mais de setenta anos, ceifou aproximadamente 250.000.000 de vidas humanas inocentes (de suas próprias fronteiras, em tempos de paz). Tudo isso em nome da fraternidade universal, é claro. Porém, o que eles nunca diziam é que nem todos poderiam merecer a "honra" de confraternizar-se com eles após o momento que os "fraternais revolucionários" tomassem o poder. E não foram poucas as almas cristãs que foram brutalmente assassinadas em nome deste ideal moderno de irmandade comum. E que pena que essa triste e dura verdade seja sufocada entre nós pelos senhores da mestra da vida.

Doravante, o engraçado nesse colóquio todo de fraternidade é que o Cristianismo tem de fazer todas as concessões a tudo que o mundo, imerso em seu orgulho e vaidade, imagina ser bom. E tem mais! Que aqueles que estão entregues e a serviço das potestades das trevas é compreensível que desejem atacar as Verdades reveladas por Deus de maneira tão sórdida, entretanto, nós, Cristãos, de um modo geral e irrestrito não podemos nos dar ao desfrute de cometer um sacrilégio desta monta. Todavia, ao que parece, muitas vezes, acabamos por fazê-lo. Trocando por miúdos: para não desagradar a opinião pública mundana, preferimos trair o Cristo a sermos desprezados pelo mundo.

Não estamos dizendo que se deve perseguir quem não é Cristão, mas sim, que não devemos nos negar a lutar a boa luta, a luta em nome da Verdade e de sua propagação e que devemos procurar nos irmanar com todos aqueles que desejam servir a Nosso Senhor. De mais a mais, não há possibilidade de nos confraternizarmos com abortista, com um hedonista, com um marxista, com os materialistas de toda monta, com os ateístas militantes, com satanistas (500 milhões auto-declarados, atualmente, fora os dissimulados) sem negarmos Nosso Senhor.

E, conforme nos ensina o finado Papa Paulo VI em sua Declaração DIGNITATIS HUMANAE, que todo homem está obrigado a procurar a verdade, principalmente a que diz respeito às questões Divinas e depois de conhecê-las, praticá-las, pois é grande pecado conhecer o bem e não praticá-lo, como nos ensina Bernardo de Claraval em seu sermão sobre o conhecimento e a ignorância. Tudo isso com um sincero respeito pelas demais tradições verdadeiras que são, por sua deixa, lampejos Daquela Verdade que ilumina o mundo, como nos ensina o finado Papa João Paulo II em seu livro "Cruzando o limiar da esperança" e o próprio Catecismo da Igreja Católica Apostólica Romana.

Por fim, se formos apenas refletir sobre a idéia, em si, de uma irmandade global, veremos o quanto que ela é um descalabro de fingimento e hipocrisia. Não conseguimos muitas das vezes nem mesmo viver de modo fraterno entre nossos familiares, vizinhos, colegas de trabalho, desvalidos que pedem nosso auxílio (e negamos) e acreditamos que seja possível edificar uma ordem fraternal global através de organizações infinitamente mais poderosas que todos nós? Aliás, como é possível amarmos a humanidade sem amarmos os seres humanos que estão próximos de nós? E mais! Como desejar uma fraternidade dita universal que não tenha o Verbo encarnado, a Verdade, como Pedra Angular?

Não, não mesmo. Dessa estou fora. E você?

Pax et bonum
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Programa Ave Maria, 03 de dezembro de 2009

O Programa Ave Maria é o Programa radiofônico da Paróquia Nossa Senhora de Belém e vai ao ar de segunda à sexta das 18h00 às 18h15. Nas quintas a apresentação do mesmo é feita por Dartagnan da Silva Zanela.

MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte XII

Escrevinhação n. 794, redigida em 01 de dezembro de 2009, dia de Santo Elígio e da Bem-Aventurada Maria Clementina Anuarite Nengapeta, dia de todos os Santos.

Por Dartagnan da Silva Zanela

”Seja perseverante nas orações e nas santas leituras”.
(Santo Padre Pio de Pietrelcina)

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Segundo mistério doloroso: flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo atado à uma coluna (Mt XXVII, 11-26). Provavelmente, o mistério que mais ilumina a pequenez de nossa alma, que melhor alumia os recôncavos de nosso ser e denuncia para nossas vistas todas as máculas que tornam o odor de nossa alma algo insuportável.

Quando partilhamos nossas pequenas reflexões sobre os mistérios do Santo Rosário não estamos a falar de um reles sentimento subjetivo que toma conta de nossos átrios a tal ponto que nos surge a necessidade de externá-los, não mesmo. Todos os mistérios que contemplamos através da recitação silenciosa do Terço é um caminho que nos foi apontado pela Santíssima Trindade para que possamos ter uma visão mais clara da realidade, da vida, do mundo e do sentido de nossa existência, de nossas potencialidades e fraquezas.

Ao nos referirmos à Nosso Senhor Jesus Cristo, estamos nos referindo a Sapiência, ao Logos Divino Encarnado. Na sua pessoa temos a manifestação da sabedoria divina através de Seus ensinamentos e da forma como Ele viveu entre nós. E esse é o ponto fundamental a ser destacado, pois, quando nos referimos aos saberes religiosos não estamos nos referindo ao um mero artigo de opinião pessoal, mas sim, a um elemento fundante e estruturante da realidade. É claro que a compreensão disso torna-se um tanto complicada para o homem moderno com sua vista tolhida pela mentalidade materialista, hedonista, relativista e cientificista reinante em nossos dias. Todavia, creio que esse mistério nos apresenta um significativo feixe de luz para as meninas de nossos olhos.

Como todos sabemos, o Cristo foi flagelado brutalmente (de acordo com os costumes da época) preso à uma coluna. Entretanto, antes disso, Nosso Senhor disse a Pilatos quanto este perguntou se Ele era rei que (Jo XVIII, 37): "Para isso eu nasci. Para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz". Ou seja: quando o Cristo é flagelado, lembremo-nos claramente que o que está sendo flagelado é a Verdade. E está sendo flagelado por escolha nossa, pois a escolha foi feita pela multidão e ao invés crerem no que seus olhos estavam testemunhando, preferiram seguir o que as vozes dos sacerdotes diziam e o que a multidão sugeria de maneira maliciosa. Com a libertação de Barabás a mentira, a dissimulação e o crime foram às escolhas feitas pela multidão.

Ora, meu caro Watson, e o que nós fazemos praticamente todo santo dia senão negar a verdade? Diuturnamente negamos pequenas, médias e, inclusive, grandes verdades, em nome de nosso conforto emocional momentâneo, não é mesmo? Ouvir e pronunciar a verdade é um exercício espiritual fundamental na vida de todo ser humano que realmente deseje seguir pela senda da procura da perfeição. E não estamos falando do pronunciar as verdades sobre os outros, mas sim, de ouvirmos as verdades sobre nós, de apontarmos as verdades sobre nossa indigna vida, sobre aquelas sutilezas que, em regra, não teríamos tanta vergonha se nosso vizinho descobri-se, mas que, choraríamos de arrependimento quando nos colocássemos desnudos diante de Deus, diante daqueles que É.

Seguir o Cristo é procurar a Verdade vivendo uma vida verdadeira nos fazendo sinceros para conosco mesmo para no correr de nossa existência poder nos auto-conhecer e assim, com o auxilio do Paráclito, endireitar nosso passo e moldar nossa vida através do molde da Verdade e não mais de acordo com a forma da iniqüidade da vida cotidiana. A verdade é uma disciplina que se aprende a luz das palavras do Evangelho, da prática da oração em Espírito e Verdade, uma via onde se procura a realização daquilo que é superior em nossa realidade inferior para que assim nossa inferioridade, gradativamente, vá se convertendo naquilo que realmente devemos ser e nos tornando auto-conscientes dessa transformação dessa realidade.

Pois é, e o que fazemos em nosso dia a dia cara pálida? Prendemos a Verdade na coluna da hipocrisia e a açoitamos com os tentos de nossa arrogância, de nossa vaidade, do orgulho que impera em nosso intelecto que, por sua deixa, transforma o nosso coração em uma nodoa de sobras e dissimulação. A começar por agora, neste momento em que você está deitando as suas vistas nestas turvas linhas onde a cada palavra lida (compreendida ou não) procuramos auto-justificações para nossa desídia espiritual e para todas as vezes que agrilhoamos o Cristo e o açoitamos em nosso coração.

Aliás, se fôssemos listar o número de mentiras que contamos sobre nós mesmos e comparássemos com uma listagem de verdades que francamente conhecemos e reconhecemos sobre nossa vida, mais do que depressa compreenderíamos a gravidade de nossa impostura, rapidamente aprenderíamos o quão profundo é esse mistério e o quão doloroso ele se revela em nós.

Devido aos engodos da vida moderna acabamos por adotar como critérios de "verdade" a opinião dos pares, das massas, dos estupidamente ilustrados e doutamente ignorantes e nos esquecemos que a única medida de verdade que existe é a Realidade que nos é revelada primeiramente pela centelha divina que habita em nós e pela ação discreta e eficaz do Espírito Santo em nossa vida.

Apenas a título de ilustração, lembro aqui aquela velha e tosca afirmação de que as laudas da Sagrada Escritura são contraditórias. Espere aí doutor Fausto, por um acaso a contradição que você vê nas Páginas Santas não seriam simplesmente um reles reflexos de sua alma contraditória imersa em uma vida postiça do que algo inerente as suas Palavras inspiradas? Será que esses indivíduos nunca se perguntaram por que pessoas como Santo Agostinho, São Boaventura, São Tomás de Aquino, Santo Afonso de Ligório e tutti quanti nunca chegaram a uma conclusão tão estulta como essa?

É que essas almas Santas, ao contrário de nós, se recusaram à açoitar o Cristo em seus corações e permitiram que a Verdade os molda-se. Essas Santas almas, diferentes deste que vos escreve e de você, não flagelaram a Verdade, mas sim, sofreram com Ela e com sua mãe Maria, exemplo de vida humilde dedicada à realização pela da Verdadeira Vontade.

A escolha é sua. O açoite é seu.

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