Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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[pdf] DE COITADINHOS A CIDADÃOS COITADOS

DE COITADINHOS A CIDADÃOS COITADOS

DE COITADINHOS A CIDADÃOS COITADOS

Escrevinhação n. 895, redigido em 15 de junho de 2011, dia de São Vito.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Nada mais impróprio em um adulto do que a auto-piedade. Se isso é feio em um infante, numa pessoa tida como madura chega ser não apenas feio, mas ao mesmo tempo ridículo a assustador.

Reparem como essa fraqueza se alastra na sociedade contemporânea. Sem dúvida que esse mau se alastra a partir de figuras públicas como, por exemplo, o ex-presidente da república, o supremo, que ao fim de sua governança ficava choramingando que ele teria apanhado, da opinião publicada, tanto quanto nosso Senhor Jesus Cristo. Tal afirmação, exemplar, retrata claramente o ar psicótico que toma conta dessa diminuta alma que não reconhece a gentileza servil com que a mídia o tratou – blindando-o – e finge desconhecer o que o Verbo Divino encarnado suportou em silêncio por nós e por ele, diga-se de passagem.

Descendo a escala e volvendo nossos olhos no cotidiano, perceberemos que, todo santo dia, exemplos similares, quando não somos os protagonistas de tão patética cena, onde almas sebosas se fazem de coitadinho para esquivar-se de sua responsabilidade moral perante os seus atos e frente à sua vida.

Nesse lamaçal, tomado pela síndrome de coitadinho que se alastra em todo nosso sistema educacional. Aliás, como dizem os garotos, já “tá tudo dominado”. Todos, nesse teatro de plúmbeos ares, brindam e bebem sua cota de auto-piedade. Chega o fim do bimestre aí alguns se lembram de que a atividade que define o espaço escolar é o ato de estudar com vistas a lapidar o seu caráter.

Entretanto, tal lembrança não vem à tona devido a inexistência duma manifestação, mesmo que epidérmica, de um sentimento de culpa em relação ao que não foi feito. Não mesmo. Essa, quando surge, apresenta-se com todo aquele ar de vítima postiça insuportável de quem está louquinho para dar um jeitinho, à brasileira, na situação.

Diante deste cenário que, infelizmente, tornou-se corriqueiro em nosso sistema educacional, temos duas opções. Ou nadamos contra está fétida maré de auto-piedade e bom-mocismo e tomamos uma atitude que dê ao infante (ou não tão infante assim) um choque de realidade para que ele desperte de seu torpor, ou então, tomemos nossa cicuta e fiquemos choramingando pelos cantos falando, baixinho, que tudo está errado por causa do sistema, do isso e do aquilo.

Em qualquer um dos caminhos a serem seguidos, o agente será uma pessoa concreta e não um ente abstrato que facilmente torna-se o bode-expiatório de nossas responsabilidades. No primeiro, agimos como pessoas maduras e tomamos as rédeas de nossa vida. No segundo, nos vitimizamos vergonhosamente, agindo como um garotinho chorando de dó de si mesmo.

Pax et bonum
Site: http://dartagnanzanela.tk
e-mail: dartagnanzanela@gmail.com

COMENTÁRIOS RADIOFÔNICOS

Comentários proferidos por Dartagnan Zanela - nos dias 20, 21 e 22 de junho - no programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO que é transmitido pela Rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

O CULTO INDEVIDO À IGUALDADE - parte I


O CULTO INDEVIDO À IGUALDADE - parte II


O CULTO INDEVIDO À IGUALDADE - parte III

[pdf] LIBERTANDO OS ENJAULADOS ENJAULANDO-OS

LIBERTANDO OS ENJAULADOS ENJAULANDO-OS

LIBERTANDO OS ENJAULADOS ENJAULANDO-OS

Escrevinhação n. 894, redigido em 14 de junho de 2011, dia da Bem-aventurada Iolanda da Polônia.

Por Dartagnan da Silva Zanela


O amigo leitor já assistiu ao filme Enjaulados? Então não perca tempo e dê um jeito de encontrá-lo e assista. Este é um dos poucos trabalhos, se não for o único, do cineasta Andy Anderson lançado em 1998. O filme o versa sobre os dilemas enfrentados dentro sistema educacional contemporâneo que confia tolamente em uma hipotética benevolência infusa da juventude, fechando as vistas para a torpeza que toma conta de suas almas e que faz-se refletir em seus atos.

O filme em questão narra o drama de um professor substituto que se vê agrilhoado pelo sistema que faz das tripas coração para impedi-lo de transfigurar aqueles jovens monstrinhos em seres dignos, prestativos e bons. Todavia, não podia ele nem mesmo desaprovar as atitudes torpes destes, pois, segundo o entendimento da direção do colégio, dos advogados, dos pais e da Dona Norma (a pedagoga) ele estaria ferindo os direitos desses coitadinhos.

Diante disso, ele toma uma atitude extrema. Bem, você pode muito bem imaginar o que ele fez: ele os seqüestrou e os enjaulou com o objetivo de educá-los. Trocando por miúdos, o professor resolveu tomar uma atitude extrema frente a uma situação extrema. Ele amava aqueles garotos e não suportava vê-los sucumbindo em hábitos viciosos estimulados sorrateiramente por pessoas que apenas possam de boazinhas.

Em meio ao desenrolar da história é levantada a questão: não estaria o professor manipulando os alunos? Não estaria ele adestrando-os? Em resposta, são lançadas essas perguntas: e o que o sistema educacional tem feito? O que a mídia faz? O que a sociedade como um todo faz? Não há como não considerar a hipótese de que nos acovardamos moralmente e cruzamos os braços diante da destruição em massa que está sendo feita nas almas que integram essa geração e é a isso que a película em questão nos chama atenção.

Estamos diante da total degradação dos valores e, juntamente com eles, de todo o senso de proporção que dá forma a uma conduta digna e a única coisa que faz-se é lamentar, discretamente, sobre os males que assolam o que convencionou-se, em nossa hipocrisia ululante, chamar de educação, porém, quantos realmente tem coragem de dar um basta e fazer deste a sua atitude perante esse circo infernal, quantos?

Falta-nos muita fortaleza para fazer aquilo que é dever de nossa geração e nos sobram cavalares doses de pusilanimidade disfarçada sinicamente de prudência. Definitivamente, falta-nos educação tanto quanto nos sobra dissimulação.

Pax et bonum
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PRELEÇÕES RADIOFÔNICAS

Comentários proferidos por Dartagnan Zanela - nos dias 16 e 17 de junho - no programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO que é transmitido pela Rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

JESUS CRISTO É O SENHOR DO MEU CORAÇÃO


CONHECER-SE

COLÓQUIOS RADIOFÔNICOS

Comentários proferidos por Dartagnan Zanela - nos dias 13, 14 e 15 de junho - no programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO que é transmitido pela Rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

QUEM É O SENHOR?


A RAZÃO DE SERMOS E ESTARMOS...


A ALMA E O AÇO

COMENTÁRIOS RADIOFÔNICOS

Comentários proferidos por Dartagnan Zanela - nos dias 09 e 10 de junho - no programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO que é transmitido pela Rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

CRISTO É A VERDADE


SOBRE O CATECISMO

[pdf] DAS CHAGAS DA ALMA EMBEVECIDA DE SI

DAS CHAGAS DA ALMA EMBEVECIDA DE SI

DAS CHAGAS DA ALMA EMBEVECIDA DE SI

Escrevinhação n. 893, redigido em 13 de junho de 2011, dia de Santo Antônio de Pádua.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Reconhecemos com uma relativa facilidade os sintomas de uma enfermidade que aflige nossa carne como a anemia, por exemplo. Saltam as nossas vistas os sinais que denunciam essa carência em nosso organismo. Todavia, nossas vistas não são assim tão atentas para as carências que afetam a alma.

A analogia com a anemia faz-se muitíssimo apropriada. Sim, o ferro é de basilar importância para que possamos empreender nossas atividades diuturnas, do mesmo modo que a virtude da sinceridade o é para a sanidade da alma nas tarefas que empreendemos, principalmente as que se fiam pelas veredas do conhecer.

No que tange especificamente na seara do educar, com clareza visualizamos os problemas de ordem material, entretanto, além disso, o que vemos? Isso mesmo, a anemia material do sistema educacional salta à vista, mas pouca atenção volta-se para o mortiço estado que se encontra a alma do educar.

Ora, sejamos sinceros, o que realmente faz-se hoje nas Instituições de Ensino? Realmente educa-se? Não estamos aqui lançando essa indagação simplesmente por lançar, mas sim, convidando o amigo leitor a meditar seriamente sobre o que há para além desta plúmbea névoa que se coloca diante de nossas vistas e entorpece nossa visão sobre os fatos mais elementares desta vereda.

Professores, pais, alunos, não importa, todos estamos imersos neste vicioso circuito e temos que realmente nos perguntar que negócio é esse que hoje chamamos pela alcunha de escola e, sinceramente, dizer se isso realmente vem apresentando os resultados que são esperados.

Isso não é uma questão de reflexão, de acusação, de especulação e muito menos de divagações vazias, mas sim, de depuração de nossa percepção da realidade, de purificação de nossas vistas das ilusões ideológicas, políticas, pseudo-teóricas e emotivas que se sobrepõe as verdades mais patentes sobre a educação e seu atual estado. Devido a essas crostas verbais acabamos por nos distanciar cada vez mais da senda do educar.

A educação encontra-se anêmica de realismo, de clareza de propósito, de sinceridade no coração, tal qual toda a nossa sociedade hodierna e ponto. Se não gostou adoce, mas antes, considere a possibilidade da depuração.

Pax et bonum
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ALGUNS COMENTÁRIOS RADIOFÔNICOS

Comentários proferidos por Dartagnan Zanela - nos dias 06, 07 e 08 de junho - no programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO que é transmitido pela Rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

AMAR AO GOSTO DO MUNDO


ENTRE O AMOR PRÓPRIO E O AMOR À DEUS


A GRANDE MÍDIA E A VERDADE

PROGRAMA AVE MARIA, 09 de junho de 2011

O Programa Ave Maria é o Programa radiofônico da Paróquia Nossa Senhora de Belém e vai ao ar de segunda à sexta das 18h00 às 18h20. Nas quintas a apresentação do mesmo é feita por Dartagnan da Silva Zanela.


[pdf] NOTAS SOBRE A CRISE DA CIVILIZAÇÃO

NOTAS SOBRE A CRISE DA CIVILIZAÇÃO

NOTAS SOBRE A CRISE DA CIVILIZAÇÃO

Escrevinhação n. 891, redigido em 30 de maio de 2011, dia de Santa Joana D’Arc, São Fernando III e São José Marello.

Por Dartagnan da Silva Zanela.


O esforço da meditação, da procura pela compreensão, costuma remunerar generosamente aqueles que o empreendem com coragem. Assim nos ensina essa hercúlea alma que é o Pe. Leonel Franca S. J., em seu livro A Crise do Mundo Moderno (1951). Neste sentido, convidamos o amigo leitor a caminhar conosco por esta via que tem por intento meditar sobre algumas questões que julgamos fundamentais para compreensão do trágico cenário em que nos encontramos.

O mesmo padre nos chama a atenção, na obra citada, para a gravidade da situação que não tem, naturalmente, implicações meramente imediatas e ocasionais. Os problemas que hoje assolam nossa civilização são advindos do fato destes estarem fundando nossa vida em princípios e valores equivocados. São sob valores e princípios que nós temos o nortear de nossas ações. Mesmo que os desprezemos são eles que fundam não apenas nossas escolhas, mas também, dão sentido a nossa vida.

Aliás, Leonel Franca, em artigo publicado na revista A Ordem (abril/1943), tece algumas considerações sobre o próprio sentido da idéia de civilização, sobre o ser civilizado, que teria como um de seus primeiros aspectos o esforço, o trabalho para se chegar a um termo, para atingir um resultado, um horizonte que seria a visão do que entender-se-ia como plena realização do ser humano. Esse realizar-se, por sua deixa, apresenta-se aos indivíduos como um ideal do que há de mais elevado e sublime na humanidade, como um símbolo das possibilidades máximas de realização de um ser humano.

Neste sentido, se formos meditar com a necessária serenidade que a questão exige, constataremos o quão profunda é a crise que assola a nossa civilização. Não temos apenas uma troca de valores e de modelos que os representam, como tivemos em outros ciclos culturais. Temos sim uma gravíssima inversão na ordem dos valores mais elementares da vida humana.

Um traço gritante desta questão, que literalmente clama aos Céus, é a total aversão a tudo o que é superior. Esse desprezo, como já havíamos assinalado, não reflete, de modo algum, que nossa sociedade atingiu os mais elevados píncaros do desenvolvimento humanos, mas sim, que preferimos nos fechar, de modo demente, em nossos mundinhos umbilicais e nos auto-proclamar plenamente humanos, ao mesmo tempo que nos entregamos a total bestialização de nossa pessoa.

Bem, sem mais delongas, vamos à alfinetada: é nojenta a maneira como muitas personas se referem as grandes obras literárias, desprezando-as, declarando que estas nada tem a nos ensinar sobre a vida, visto que foram escritas em outra época. Isso sem falar, que nelas usa-se um vocabulário incompreensível pelos sábios homens hodiernos. Pois é, vejam só o que é a presunção de almas infectas de uma época decadente. O nosso vocabulário é raso e miserável em um nível tão ululante que não somos capazes de acessar (quem do diga compreender) as grandes obras da literatura universal e vemos nesta estultice um sinal de evolução lingüística. Que coisa.

Não nos irritemos não. Uma das crenças presentes em nossa época é que somos superiores a humanidade que nos antecedeu não porque compreendemos o que eles fizeram de melhor, mas sim, porque somos apenas capazes de usar uns brinquedinhos tecnológicos para nos entreter e nos estupidificar. Isso mesmo! Todas essas maravilhas tecnológicas, que hoje são acessíveis a boa parte da população, apesar de serem potencialmente úteis, são reduzidas a reles brinquedinhos em nossas mãos. Não? Então qual é o sentido que você dá para essas maravilhas modernas que hoje se fazem presentes em sua vida? Chato, não é mesmo? Somos capazes de mandar uma mensagem para qualquer um em poucos segundos, mas não somos capazes de entender a mensagem que nos é transmitida pela literatura universal. Putz! Que raio de superioridade é essa?

Meu amigo, céus e terras passarão e nossas palavras, a decrepitude de nossa época, junto com eles irão, caindo na lata de lixo das Eras. Porém, tudo aquilo que representa legitimamente a humanidade permanecerá, mesmo que continuemos a desprezá-los. Entretanto, o que de digno sobrará de nossa Era para contar história?

Pax et bonum
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[pdf] PROMETEU CHORA E O POVO ACHA GRAÇA

PROMETEU CHORA E O POVO ACHA GRAÇA

PROMETEU CHORA E O POVO ACHA GRAÇA

Escrevinhação n. 892, redigido em 07 de junho de 2011, dia de Santo Antônio Maria Gianelli.

Por Dartagnan da Silva Zanela


O filosofar é uma atividade inevitável e quem afirma abominar tal empreitada, sem o saber já se encontra a trilhar pelas vias abertas junto aos umbrais de Delfos, porém, pela mais vil e estúpida das vias abertas a par deste augusto templo.

Sim, negar-se a conhecer-se a si mesmo é um legítimo atestado de estultice orgulhosa cultivada em meio aos campos da vaidade e nada mais. Entretanto, a idolatria do filosofar também é algo temeroso. Aliás, idolatria essa que se faz reinante nos hodiernos dias.

Uma coisa, meu caro Horácio, é o filosofar, outra bem distinta é o culto desmedido feito à palavra filosofia e desta disciplina mal formatada que leva esse nome e que ocupa um significativo espaço dentro do sistema educacional. Como todo idolatrar, este acaba por confundir a representação com o representado, atribuindo a esse uma força desmedida que acaba por, retroativamente, exercer uma influência hipnótica no indivíduo e, neste caso, auto-hipnótica, submergindo a alma desarmada em uma atmosfera de auto-engano que pode, muitas das vezes, levar o sujeito a um estado de demência.

Os dois caminhos apontados são possibilidades humanamente possíveis de serem trilhadas, porém, ambas são vias que distanciam o indivíduo da plena realização de sua humanidade. Sim, nascemos dotados de faculdades e de dons, porém, todos esses dons e faculdades são potências da alma que não foram realizadas plenamente e que só o serão por um ato volitivo apropriadamente cultivado.

Por um ato volitivo, muitas das vezes, podemos nos afastar significativamente da plenitude de nossa humanidade, não é mesmo? E o mais interessante nisso tudo é que tanto a negação do filosofar como a idolatria deste, são feitos sob o julgo de que tais atitudes seriam o supra-sumo da sabedoria. No primeiro caso temos o desdém, e mesmo a cegueira, da tensão que há em nossa alma, tensão entre a procura pela plenitude e a aceitação orgulhosa da mediocridade. Já no segundo, impera a vaidade nascida do culto da imagem do caminho idolatrado, mas que não é seguido devido a uma cavalar dose de covardia advinda de uma desmedida porção de auto-piedade.

Tanto num como no outro, temos realidades humanamente concretas ciosas por serem refletidas e transformadas em algo que seja muito mais que uma casca putrefaz de humanidade degradada pelo medo à verdade que se esconde atrás de seu amor à vacuidade por suas tolas opiniões sobre si e sobre tudo. Há muito mais em nosso íntimo do que costumamos ver e não vemos por tanto prestar atenção em nossas palavras vazias e nas imagens toscas que compramos de um mundo sem sentido que quer nos arrastar para sua fétida cova com ele. Muito mais mesmo.

Pax et bonum
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PROGRAMA AVE MARIA, 02 de junho de 2011

O Programa Ave Maria é o Programa radiofônico da Paróquia Nossa Senhora de Belém e vai ao ar de segunda à sexta das 18h00 às 18h20. Nas quintas a apresentação do mesmo é feita por Dartagnan da Silva Zanela.



[pdf] REPENSANDO O REPETIDO E O IMPENSADO

REPENSANDO O REPETIDO E O IMPENSADO

REPENSANDO O REPETIDO E O IMPENSADO

Escrevinhação n. 890, redigido em 30 de maio de 2011, dia de Santa Joana D’Arc, São Fernando III e São José Marello.

Por Dartagnan da Silva Zanela.



Desde muito Platão nos ensina que o primeiro na ordem do conhecer é o último na ordem de Ser. Uma afirmação simples que, em sua singeleza, nos convida a mediar sobre um problema capital. Problema esse, sumamente desdenhado, que versa sobre o ser das coisas conhecidas por nós e o que realmente conhecemos destas.

É muito comum vermos pessoas, tomadas pela pestilência do relativismo, afirmarem que todas as culturas têm o mesmo valor, visto que, estas corresponderiam a um contexto humano específico que demandava uma resposta humana singular. Para reafirmar tal visão pré-concebida, as almas sebosas recorrem ao expediente das percepções que muitas pessoas podem ter de um mesmo objeto, de um mesmo fato, de um mesmo fenômeno e, a partir desta multiplicidade de percepções, ao mesmo tempo diversa e contraditória, concluem que não existe a tal da Verdade absoluta, mas apenas um amontoado de verdades relativas e ponto.

Tal expediente apenas nos apresenta uma percepção múltipla da Verdade e uma coisa é a percepção desta, outra muito distinta, é ela, a Verdade. Sim, muitas das vezes ouvimos uma infinidade de considerações sobre algo que, por sua deixa, são desbancadas com apenas uma consideração acertada sobre a realidade do ocorrido. De mais a mais, nestes casos temos um claro sintoma do subjetivismo que infecta a nossa cultura atualmente onde cultiva-se um amor psicótico pelas opiniões ao mesmo tempo que se alimenta um desdém descomunal pelos fatos da realidade que essas opiniões supostamente versam.

Quando vemos isso, mais do que depressa, nos vem à mente as palavras de Santo Agostinho, quando este nos admoesta contra os perigos do amor próprio, de seu poder em desordenar as nossas paixões e bem como de nos levar a sucumbir. Quando assim nos encontramos, tornamo-nos incapazes de conhecer a verdade e passamos a cultuar as nossas opiniões (e as que são partilhadas pelos nossos pares) como se estas fossem verdades reveladas especialmente para nós pela ignorância divinizada em nossa soberba.

Quando se afirma que todas as realidades culturais são relativas e que estas têm o seu valor em si, está-se proclamando a impossibilidade de reconhecermos valores universais, válidos para toda humanidade. Bem, isso se faz, ao mesmo tempo em que se afirma a universalidade do relativismo cultural e moral. Trocando por miúdos: toda essa lengalenga multiculturalista não passa de uma imensa patacoada auto-contraditória.

Uma coisa é reconhecemos o valor singular de cada cultura enquanto produto da experiência humana, outra muito distinta é afirmar que todas têm igual valor. Dizer isso, meu caro Watson, é um sinal ou de demência, ou de estultice, ou mesmo de canalhice intelectual pura e simples. Dizer que a Suma Teológica de São Tomás de Aquino tem o mesmo valor para humanidade que uma pajelança só é possível na cabeça de uma pessoa sem o menor senso da realidade. Afirmar que Dante, Camões e tutti quanti, tem a mesma importância que Augusto Cury, Frei Betto e Cia., é não saber qual a diferença que há entre uma taça de vinho e um copo de ki-suco sem açúcar.

Uma coisa é a ordem do ser, outra distinta é a ordem do conhecer. A primeira é imensa e nos abarca por inteiro, mesmo que não percebamos. A outra, por sua deixa, é limitada (e no caso brasileiro, mais ainda), mas pode ampliar-se na medida em que permitimos que a realidade molde nossa percepção, que ela nos comunique, ao invés de permanecermos agrilhoados ao vicioso ciclo de nossas rasas opiniões sobre nada baseado em coisa alguma.

Tal postura exige de nós o cultivo da virtude da humildade e da perseverança para que assim possamos dilatar o nosso horizonte de consciência. Claro que para tal empreitada temos que tirar de nosso horizonte o desejo irascível que temos de falar pelos cotovelos, o tempo todo, sobre os assuntos mais fúteis e tolos, para fiarmos a nossa atenção a aquilo que estará sendo integrado em nossa alma. E eis aí uma hercúlea tarefa, visto que, na maioria das vezes, o que desejamos mesmo não é conhecer, mas apenas ter um assunto para que ocupe o parvo tempo de nossas conversas, não é mesmo?

Nestes casos fica praticamente impossível falar em construção do conhecimento, em procura pelo crescimento que este pode nos propiciar. O que ocorre nestes casos é apenas uma egolatria delirante e nada mais. Algo similar àqueles “debates” que se simulam em muitos rincões deste país, onde se distribui um xérox de um capítulo de um livro, ou de um artigo, que é supostamente lido e que serve de motor para um bate-boca burlesco onde todos emitem as suas opiniões sem em nenhum momento ter procurado realmente conhecer algo que fosse além de suas pífias conclusões. E assim, meu caro, dá-se a isso o nome de educação crítica, de debate e, inclusive, de filosofia, em algumas insanas paragens.

Por fim, como havíamos dito no início desta missiva, o primeiro na ordem do conhecer é o último na ordem do ser e, no caso do Brasil, a muito não mais se sabe o que isso quer dizer devido ao desdém pelo conhecer que abre caminho da verdade.

Pax et bonum
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