Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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O Testamento de Bento XVI


Por Padre Paulo Ricardo

Em sua última audiência pública, o Papa Bento XVI se despediu dos fiéis e deu a todos uma grande lição de fé católica. Trata-se de uma fé muito específica e rara nos dias de hoje: uma fé que professa a presença e a ação de Deus na história da Igreja.

Todos deveríamos saber disto, mas nem sempre nos damos conta: a Igreja não é somente um sujeito da fé; a Igreja é também objeto de fé. Ou seja, a Igreja não somente crê, mas ela deve ser crida.

Bento XVI tem consciência de que a Igreja é portadora de um mistério divino. Como a lua, ela é reflexo de Cristo "luz dos povos". Por isto, nos convida a uma visão de fé:

"Deus guia a sua Igreja, ele sempre a sustenta, também e sobretudo, nos momentos difíceis. Não percamos nunca esta visão de fé, que é a única visão verdadeira do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vós, haja sempre a alegre certeza que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com o seu amor".

Estas foram as suas últimas palavras. Poderíamos dizer: este foi o seu testamento. Nada poderia ser mais marcadamente católico, pois nós católicos, ao contrário dos protestantes, cremos que o organismo visível da Igreja não é uma "invenção" humana, mas o Corpo do Cristo ressuscitado que continua vivo na história. [continue lendo]

Yoani Sánchez, insultada: "Ojalá en Cuba se pudiera hacer lo mismo"


PARA DESENVENENAR A ALMA


Escrevinhação n. 993, redigida em 25 de fevereiro de 2013, dia de Santa Valburga e de São Tarásio.

Por Dartagnan da Silva Zanela


O futuro está nas mãos dos jovens. Sim, podemos afirmar isso com toda aquela lengalenga populista que insufla nos tenros corações desejos ululantes de mudar o mundo ou, simplesmente, lembrar o óbvio: nossa geração irá perecer e eles envelhecer, queiramos ou não.

Com esse espírito, o Beato João Paulo II, em sua primeira visita ao Brasil, pronunciou-se, numa dada ocasião, aos jovens brasileiros. Wojtyla tomou como ponto de partida as seguintes palavras da Sagrada Escritura (Isaías LVI; 1): “Cumpri o dever, praticai a justiça”. Estas palavras, penso eu, devem tocar os corações de todas as gerações, porque nos acostumamos a apenas recitar opiniões como um boneco de ventríloquo e, na verdade, urge que aprendamos a ser testemunhas fiéis de nossos compromissos firmados com Aquele que é o caminho, a verdade e a vida. E, se formos sinceros, reconheceremos que falhamos neste quesito.

Neste sentido, lembra-nos o predecessor de Bento XVI que a justiça apenas se faz verdadeira se baseada no sujeito humano, incluindo o reconhecimento de sua dimensão transcendente, que é a imagem e semelhança de Deus. Toda vez que imortalidade da alma é desdenhada, o ser humano vê-se reduzido a um reles instrumento.

Por essa razão, Karol, o homem que se tornou Papa, nos lembra que “um jovem cristão deixa de ser jovem, e há muito não é cristão, quando se deixa seduzir por doutrinas ou ideologias que pregam o ódio e a violência”. Ideologias estas que fomentam e destroem as liberdades humanas fundamentais. Ideologias que facilmente injetam no coração dos mancebos a ideia de que os fins justificam os meios. Ideologias que os exaltam como pessoas únicas em seus desejos, ao mesmo tempo em que os atiram à alienação aliciante duma multidão massificada crendo candidamente que estão fazendo algo bom e justo.

Penso que um bom exemplo disso é a forma como alguns jovens, com suas almas carcomidas pela ideologia marxista reinante nestas plagas, trataram a blogueira cubana Yoani Sánchez, com toda ordem de vitupérios. Qual a razão? Ela escreve e fala contra a ditadura da dinastia Rubro-castrista que impera no Caribe a mais de meio século e que eles, jovens obscurecidos pela ideologia que os instrumentaliza, idolatram.

Por essas e outras que acredito que as advertências de Karol Wojtyla, que sentiu na pele o que significa viver num país onde tudo e todos são instrumentalizados em nome de um projeto de poder totalitário, são muitíssimo apropriadas para refletirmos sobre os rumos que estão sendo apresentados aos jovens que, dum jeito ou doutro, são o futuro de nossa envergonhada nação.

Por fim, naquela saudosa ocasião, João Paulo II indagou aos jovens: Para onde pretende ir juventude brasileira? A nobreza ou a indignidade de nosso futuro está prenhe na resposta que for dada a essa pergunta. Resposta essa que, queiramos ou não, já está sendo tecida através de atitudes mesquinhas como a que foi apontada em meio a essas linhas.

Pax et bonum
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Roda Viva | Yoani Sánchez | 25/02/2013

“Quero um ensino de qualidade, não quero cota”


Leo Daniele

Sou contra as cotas. Por que eu deveria ser privilegiada se eu tenho a mesma capacidade que meu colega?“, declarou Tawany Gabriela de Oliveira, 16 anos, estudante da Escola Estadual Hiroshima (*).

Defender as cotas raciais equivale a considerar negros e pardos como “pessoas que sem privilégios não chegam a lugar algum”. É o que fazem os defensores das cotas. Ora, isso é racismo!

Em 2005, a 7a Vara da Justiça Federal deu ganho de causa a um jovem que tinha sido preterido no curso de engenharia química da UFPr, por causa do sistema de cotas universitárias. Ele tinha obtido 611,3 pontos, enquanto o melhor cotista tinha apenas 489,3.

Não se trata apenas de ser ou não uma injustiça ‒ e o é ‒ mas também de baixar a qualidade do ensino e assim prejudicar o País, e os futuros usuários.

Já que se fala tanto em função social, qual o efeito social da disseminação desses diplomados na sociedade, simpáticos mas despreparados? Será benéfico para o desenvolvimento do País? E para eles mesmos?

Imaginemos uma Faculdade de Medicina. O exame de admissão deveria ser bastante rigoroso e justo, pois seria uma maneira de melhorar a segurança e o tratamento das doenças, e diminuir espantosos erros médicos.

Se alguém desejasse aumentar o tamanho da escola, não deveria, irresponsavelmente, diluir o rigor dos exames de admissão, mas melhorar os cursos de preparação, próxima e remota. Se fosse feito isso, mais alunos seriam aprovados no exame de ingresso, sem ser preciso apelar para cotas. [continue lendo]

A Reforma Ortográfica — um Acinte à Sensatez (I)


Por Carlos Nougué

Deixada à deriva, sem gramática, como querem muitos linguistas que, porém, defendem sua tese sem nenhuma deriva gramatical, a língua seria como a realidade-rio de Heráclito: seria puro fluxo, a ponto de não se poder falar duas vezes a mesma língua...

Ora, tal anseio, compartilhado de certa forma por híbridos de linguistas e gramáticos, não passa de fato do mais puro heraclitismo, ou seja, de uma negação da estabilidade do real. Mais simplesmente, é uma pura negação do óbvio: a gramática é parte intrínseca da linguagem; é o dique ou comporta sem a qual a língua-rio de fato fluiria e fluiria sem permanência alguma. Uma prova? A mais chã: que pai, que mãe, se dotados ao menos do ínfimo senso natural de cuidado e educação da prole, não corrigirão seu filho se ele disser algo errado? Se o pequeno disser, por exemplo, “zinza” em vez de “cinza”, hão de calar-se os pais e deleitar-se com mais essa novidade de uma permanente deriva linguística?

É tal a obtusidade daquela posição “científica”, está a tal ponto obnubilado o intelecto de seus proponentes, que estes nem conseguem ver que com tal língua-rio sem gramática nem sequer se poderia propor sua absurdidade — simplesmente porque nem sequer haveria a linguagem. Bem sei que retrucarão: “Mas as línguas mudam constantemente...” E quem o nega? Um rio de tanto bater numa comporta acaba por abrir-lhe fendas e traspassá-la com mais ou menos ímpeto. Com mais ímpeto quando há apenas fiapos de civilização e a gramática natural da língua acompanha tal tenuidade: essa é a razão por que as línguas indígenas ou tribais tendiam (e tendem) incessantemente à entropia. Com menos ímpeto quando há verdadeira civilização universal (ou tendente à universalidade) e a gramática da língua se alça de componente natural a arte: era o caso da Cristandade do século XIII e sua língua científica e altamente normatizada, o latim. (Aliás, a decadência civilizacional representada pelo fim da Cristandade não poderia ficar sem efeito na língua, que, adornada o mais das vezes de beletrismo, de ordinário já não alcançaria mais que um brilho de ouropel.). [continue lendo]

Armados e desarmados


Por Olavo de Carvalho

O Homeland Security está distribuindo às escolas, igrejas, clubes e outras instituições um vídeo em que ensina como reagir a um invasor armado de pistola, rifle ou metralhadora. Receita número um: saia correndo. Número dois: esconda-se debaixo da mesa. Número três: ataque o sujeito com uma tesoura, um hidrante, um cortador de papéis, um grampeador ou algum outro instrumento mortífero em estoque no almoxarifado. E assim por diante . (Não é gozação minha. Veja emhttp://www.youtube.com/watch?v=5VcSwejU2D0).       

A hipótese de manter um guarda armado ou de permitir que funcionários habilitados portem armas não é nem mesmo mencionada. É exorcizada. Há lugares, é claro, onde o exorcismo não funciona: a comissão de educadores da cidade de Newtown, aquela onde duas dezenas de crianças morreram assassinadas por um atirador alucinado, já declarou que vai seguir a sugestão da National Rifle Association e não as lições sapientíssimas do Homeland Security.

Para sua própria proteção, é claro, o Homeland Security apela ao remédio exatamente inverso daquele que recomenda aos outros. Alegando, vejam só, "defesa pessoal", o departamento acaba de comprar sete mil fuzis AR-15 – aquele mesmo que o governo quer tomar dos cidadãos – e dois bilhões, sim, dois bilhões de balas hollow point, daquelas que espalham estilhaços no corpo da vítima. Essa munição é proibida para uso militar pela Convenção de Genebra, só podendo ser usada, portanto, contra a população civil. O inferno não está cheio só de boas intenções. [continue lendo]

COM BENTO NA BARCA DE PEDRO


Escrevinhação n. 992, redigida em 18 de fevereiro de 2013, dia de Beato Jorge Kaszyra.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Bento XVI, em 24 de abril de 2005, pronunciou a homilia inicial de seu Pontificado. Na mesma data, em 387, Santo Agostinho recebeu o batismo. Dois grandes acontecimentos para cristandade de todos os séculos. Quanto à renúncia do primeiro, nada tenho a dizer. Entretanto, sobre a pessoa de Joseph Ratzinger, profundo conhecedor da obra do filho de Santa Mônica, permitam-me algumas palavras.

De sua obra, enquanto teólogo e como sucessor de São Pedro, devemos destacar três pontos que, penso eu, o mundo ainda não engoliu e demorará algum tempo para digerir.  O primeiro versa sobre a urgente necessidade de sermos não apenas católicos no sentimento, mas na fé. Ser católico não é um adjetivo. É substantivo. Substancialidade essa que, devido ao subjetivismo e ao sentimentalismo que infectam os ares modernos, foi sendo esquecida e que, por sua deixa, esvaziou a mensagem vivificante de Cristo e a missão da Igreja no coração de muitas almas incautas.

Segundo: a luta contra o relativismo moral. Em sua primeira Encíclica, a DEUS CARITAS EST, e bem como nas homilias, pronunciamentos, discursos e livros de sua lavra, ele enfatizou o quanto que essa pestilência corrói ardilosamente os alicerces da civilização. Como bom professor, insistiu incansavelmente no ensino desta lição que urge ser aprendida por todos, principalmente por aqueles que se encontram incumbidos de instruir as gerações mais tenras.

Terceiro: lembrar ao mundo que acima das leis humanas e dos planos pessoais estão as Leis divinas e a vontade de Deus. Três lições simples que foram esquecidas e que nos esforçamos muitíssimo em fazer ouvidos loucos para não ousar aprender este trio de obviedades.

Não há nada que mais ofenda os ouvidos politicamente-corretos que ouvir uma voz que clame no meio do deserto midiático a necessidade de deixarmos a soberba para aprendermos, de fato, o que é a Santa Madre Igreja. Os críticos Dela não são poucos, maior ainda o número daqueles que imaginam conhecê-la. Pior! Poucos conhecem minimamente os seus ensinamentos. Para ser franco, nunca conheci um único crítico de Ratzinger que tivesse tido a decência de ter lido, ao menos, uma de suas obras. É que para estes tipinhos a “sabedoria” é confusamente infusa, o que lhes dispensa o árduo trabalho de estudar.

Quanto ao relativismo moral, e o consequente multiculturalismo, sejamos francos, são armas sorrateiras para minar a moral cristã. Tudo é respeitado, menos o Cristianismo. Bento XVI sabia claramente disso, por isso procurou travar o bom combate contra essa besta que ama fazer pose de bom-moço e, por essa razão, o mundo e seus sequazes o odiavam visceralmente. Bento, de fato, era e é uma pedra nos sapatos desta ordem luciferina que se faz imperar no mundo materialista hodierno.

Não é por menos que num mundo onde ninguém, praticamente, é capaz de falar com seriedade as verdades que desagradam as massas e a opinião publicada, numa sociedade onde a única meta respeitável é a realização hedonística de nossos quereres, é mais do que previsível que um homem da envergadura de Bento XVI seja apedrejado vilmente por alminhas tão boazinhas e tolerantes.

Quanto a renuncia: uma vitória. Sim, uma vitória da humildade do Santo Padre sobre a soberba reinante deste mundo, um triunfo sobre o orgulho que tanto incha nossos corações. Uma vitória tão incompreendida pelas almas sebosas quanto à solitária cicuta bebida por Sócrates e a cruz abraçada por Nosso Senhor.

Pax et bonum
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Esculhambação


Por Ferreira Gullar

A tragédia de Santa Maria impactou o país pela quantidade de mortes que ocasionou mas também pelo que significa no quadro da realidade brasileira: a denúncia da irresponsabilidade que tomou conta do país.

Que, no Brasil de hoje, as leis, as normas sociais estão aí apenas para constar, a gente já sabia. Mas foi preciso, desgraçadamente, que o incêndio da boate Kiss resultasse na morte de quase 240 pessoas --na sua maioria jovens universitários-- para que as autoridades se mancassem e se sentissem obrigadas a fazer o que mais as desagrada: fazer cumprir as leis e, pior ainda, punir quem as desrespeita. Na verdade, querem ser todos bonzinhos, especialmente consigo mesmos.

A tragédia de Santa Maria tornou de repente inviável essa cômoda atitude. A postura usual dos governantes e das autoridades é a de não admitir os seus próprios erros, atribuindo-os a injúrias ou mentiras inventadas pela imprensa.

Mas, desta vez, diante de centenas de cadáveres amontoados na rua e dos parentes soluçando em desespero, o que fazer? Dizer que se tratava de uma invenção da mídia não podiam. Tiveram, eles próprios, que mentir.

O prefeito de Santa Maria não sabia nada do que se passava naquela boate.

Já o comandante do Corpo de Bombeiros da cidade afirmou, com firmeza, que, legalmente, bastava uma única porta numa casa de shows onde se divertiam mais de mil pessoas, embora a lotação legal fosse de apenas 650 frequentadores. Os extintores de incêndio não funcionavam, como ficou provado pela perícia, mas ele alegou que estavam em perfeito estado e, se não funcionaram, teria sido pela imperícia de quem tentou manejá-los.

Noutras palavras, embora o Corpo de Bombeiros tenha permitido que a boate funcionasse sem obedecer a quaisquer exigências legais, nenhuma culpa tem pelo que ali ocorreu. [continue lendo]

Cardeal Francis Arinze sobre a "dança litúrgica"

A imbecilidade, segundo ela própria


Por Olavo de Carvalho

A queda do nível de consciência geral  é chamada de "imbecilização", quando a mera redução do número de gênios seria, mais apropriadamente,um "empobrecimento".

Faz dezessete anos que publiquei O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras, onde ilustrava com toda sorte de exemplos o desmantelamento da cultura superior no Brasil e sondava as causas de tão deprimente estado de coisas. Desde então, à medida que o fenômeno  alcançava dimensões maiores e mais alarmantes, não cessei de acrescentar a essa obra, em artigos e conferências, inúmeras atualizações, esclarecimentos e novas análises.

Ao longo de todo esse período, não veio, da mídia ou do establishment universitário, nenhum sinal de que alguém ali desejasse discutir seriamente o problema ou reconhecer, ao menos, que um cidadão desperto havia soado o alarma.

Ao contrário: tudo fizeram para ocultar a presença do mensageiro e dar por inexistente o mal que ele apontava, do qual eles próprios, por suas ações e omissões, eram os sintomas mais salientes.

Chegaram ao cúmulo de, não podendo ignorar de todo as obras essenciais que eu recolocava em circulação com extensas introduções, notas e comentários, noticiá-las sem mencionar o nome do preparador, como se os textos abandonados no fundo do baú da desmemória nacional tivessem saltado dali por suas próprias forças, sem nenhuma ajuda minha.

Inaugurado quando da minha edição dos Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux em 1998, o "Consenso Nacional da Vaca Amarela", como o chamei na ocasião, continua em pleno vigor, como se vê por dois exemplos recentes.

Na Folha de S. Paulo, um sr. Michel Laub faz ponderações sobre a Dialética Erística de Schopenhauer, usando a edição comentada que dela publiquei pela Topbooks em 1998 e esmerando-se em suprimir o meu nome ao ponto de atribuir ao filósofo alemão o título editorial "Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão", como se fosse do texto original e não dos meus comentários.

Em recente edição da Carta Capital o sr. Mino Carta deplora o que ele chama de "imbecilização coletiva", no tom de quem soa um alerta pioneiro e fingindo ignorar que esse termo, há muito tempo, já deixou de ser uma expressão genérica para se tornar alusão a um dos livros mais lidos das últimas décadas.

Talvez eu devesse estar contente de que, mesmo sem menção ao tremendo esforço que fiz para revelá-lo, o fenômeno mesmo se tornasse por fim objeto de alguma atenção. Mas o sr. Carta só toca no problema com a finalidade de encobrir suas causas, lançar as culpas sobre os bodes expiatórios de sempre e bloquear, enfim, toda possibilidade da discussão séria pela qual venho clamando desde 1996. [continue lendo]

Jean Borella, nossa verdadeira identidade (legendado - em 5 partes)

A LUTA DO PAPA


Por Carlos Ramalhete

A surpreendente renúncia anunciada de Bento XVI, como se poderia prever, suscitou toda sorte de comentário absurdo. De especulações sobre o motivo – que o próprio Papa declarou ser sua saúde – a delírios que só fazem expor a ignorância de quem os profere, vimos de tudo. Cabe, assim, apontar as circunstâncias da guerra interna da Igreja, para que se possa perceber com mais clareza a dureza do múnus pontifical.

Nos anos 60, imediatamente antes da revolução de costumes que varreu o Ocidente, os bispos da Igreja se reuniram em um concílio, dito Concílio Vaticano II. Um grupo de bispos oriundos do Norte europeu (especialmente Alemanha, Holanda, Bélgica e Áustria), soberbamente organizados, virou de pernas para o ar a organização do concílio, desprezando os documentos preparatórios e conseguindo aprovar – contra a oposição liderada, entre outros, pelo arcebispo de Diamantina (MG), dom Geraldo Sigaud – documentos finais um pouco confusos, que poderiam propiciar a pessoas mal-intencionadas uma leitura heterodoxa.

E foi o que aconteceu. Durante o pontificado de Paulo VI (1963-1978), o “espírito do Concílio” foi usado como desculpa para negar, dos púlpitos, não só o que a Igreja sempre pregara, mas até mesmo os próprios textos conciliares. Paulo VI chegou a afirmar que a Igreja parecia estar em processo de autodemolição. No Brasil, a Teologia da Libertação esvaziou as igrejas e levou à fundação do PT.

Conferências episcopais inteiras estão em cisma material, desobedecendo abertamente às ordens papais. Nesses territórios, mesmo os bons clérigos se veem forçados a ceder à heterodoxia e desobedecer ao Papa, sob pena de ostracismo. Em algumas, como a austríaca, a situação é gravíssima. Em outras, como a CNBB brasileira, é apenas grave. Para que se tenha uma noção do nível da desobediência daqui, basta mostrar que, pela legislação canônica, é proibido aos padres usar roupas comuns (como as dos leigos) em vez da batina, e leigos não podem distribuir a Eucaristia nas missas dominicais. [continue lendo]

A Farsa da aprovação de 80% de LULA

PARA LIMPAR OS OLHOS


Escrevinhação n. 991, redigida em 08 de fevereiro de 2013, dia de São Jerônimo Emiliano e de Santa Josefina Bakhita.

Por Dartagnan da Silva Zanela


O Viagra fez mais pela humanidade do que duzentos anos de marxismo. Essa afirmação, feita pelo filósofo Luiz Felipe Pondé, tem lá seus ares jocosos, porém, se suspendermos as nuanças de seu humor cáustico, e refletirmos sobre as razões que o levaram a essa constatação, o gargalhar calar-se-á para dar lugar a um sisudo silêncio.

Se calcarmos nossos cotovelos sobre a mesa e fiarmo-nos a calcular o número de vidas ceifadas em nome da revolução rubra, veremos claramente que essa ideologia que arvora para si a candura duma pia imagem de preocupação para com os pobres é, na verdade, a ideologia mais assassina que já foi parida em toda a história. Isso mesmo! Se estudarmos com a devida atenção as ações inspiradas e orquestradas por ela, notaremos que, em nome do tal mundo novo possível, genocídio pouco é bobagem. Aliás, como nos ensina o professor J. S. Rummel, democídios, visto que, eram as populações governadas por esses regimes, que propagandeavam protegê-las, as suas principais vítimas.

Mais de cem e dez milhões de vidas foram ceifadas pelos regimes marxistas no correr de pouco mais de setenta anos. Vidas que diziam ansiar por libertar dos grilhões que as oprimiam, mas que, apenas os trocou por correntes mais pesadas.

Quando lemos “O livro negro do comunismo”, organizado por Stéphane Courtois, o que nos chama a atenção não é apenas o número, mas também, a forma cruel e sádica que o extermínio era realizado. Torturas, testemunhos falsos assinados à força, infanticídio, perseguições religiosas e extermínios lentos utilizando-se a arma da fome, conforme as palavras de Stalin.

Outra nota que os “comissários da verdade” não gostam de ouvir, são os campos de concentração marxistas que antecederam os campos nacional-socialistas alemães e que continuaram suas lides mesmo após o término da Segunda Guerra Mundial. Sobre este ponto, a leitura “d’O arquipélago Gulag” de A. Soljenítsin e “Torturado por amor a Cristo” de R. Wurmbrand é obrigatória. Estes livros são testemunhos vivos deste pesadelo que muitos se recusam a reconhecer porque crêem que a história os absolverá de seu silêncio frente a esses crimes de lesa-humanidade. Aliás, inúmeras foram as condenações auferidas aos crimes perpetrados pelos comunistas, porém, esse assunto no Brasil é ignorado.

E o que dizer do tráfico internacional de drogas e do crime organizado? A atuação das FARC e sua ligação com inúmeros partidos políticos da América Latina é algo que salta a vista, porém, muitos preferem desdenhar o fato ao invés de investigá-lo.  Livros como “O eixo do mal Latino-Americano” de Heitor de Paola, “La máfia de Havana” de Luis Grave de Peralta Morell e “Red Cocaine - Drugging the Americas and the West”, de Joseph D. Douglass são leituras que nos fazem arregalar as vistas.

É por essas e outras que o Viagra merece tanto crédito. Ele tem o mérito de ter trazido uma potência e a intimidade de uma alegria que até então estavam perdidas para muitos. Já o marxismo, com sua promessa de desenvolver todas as potencialidades da humanidade, conseguiu apenas hipertrofiar os delírios de onipotência de seus partidários que se encastelam junto a um Estado deificado.

Para os fiéis e simpatizantes deste credo, tudo o que eles desconhecem, e não querem conhecer, não existe, mesmo que os fatos ensangüentados batam à porta de sua alma. Estou sabendo. Porém, nada nos impede de conhecer com nossos próprios olhos a verdade silenciada sem termos de usar as viseiras ideológicas que eles tanto idolatram.

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Especial: Renúncia de Bento XVI - Vortex

O AVESSO DAS PALAVRAS


Escrevinhação n. 990, redigida em 02 de fevereiro de 2013, dia da Apresentação do Senhor, de Nossa Senhora de Belém e da Bem-aventurada Maria Domenica Mantovani.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Quanto mais uma palavra é utilizada, mais epidérmico torna-se seu significado. Sua única serventia é encobrir, mal e porcamente, a turva alma de seu repetidor. De mais a mais, como bem nos ensina o filósofo Tarcísio Padilha, em seu livro “Filosofia, Ideologia e realidade Brasileira”, quando se fala muito em liberdade, democracia, ética, amor, respeito, educação, etc., desconfiemos! Provavelmente, os valores representados por elas estão sendo distorcidos ou mesmo, como ocorre em muitos casos, sorrateiramente eliminados.

Em regra, essas palavras são repetidas a exaustão não porque o sujeito acredite piamente no que elas representam, mas sim, porque ao aderir ao coro da vanguarda papagaiesca ele sente-se uma pessoa, como direi: muito legal, superior a todos por, supostamente, respeitar as diferenças, menos aquelas que não se enquadrem em seu imaginário distorcido, que não ascendam aos píncaros da (in)compreensão de seu intelecto amortecido pelo uso excessivo de expressões não significativas que pouco, ou nada, dizem a respeito da realidade, mas que externam, sutilmente, o universo subjetivo de sua alma carcomida pelo rancor.

Penso que este fenômeno tem uma relação umbilical com o hedonismo crescente da sociedade atual e que, por sua deixa, colabora de modo profícuo com a expansão do relativismo moral. Aliás, eis aí um ponto que merece ser meditado à luz do que fora exposto acima. Uma alma embebida no néctar hedonista coloca a necessidade de satisfazer sua ânsia por prazer como valor primeiro, invertendo, de modo sórdido, a ordem axiológica, como bem nos ensina Miguel Reale em sua obra “Filosofia do Direito”. Ora, eleger a busca pelo prazer como causa final da existência é um poderoso elemento desagregador da personalidade. Basta, para perceber esse óbvio ululante, apenas uma pequena dose de sinceridade.

Doravante, tão rápido quanto um corisco, estes escudam-se com aquele relativismo moral chinfrim, para o qual, todos os valores são relativos e toleráveis, desde que a sua forma de viver e interpretar a vida seja aceita de maneira absoluta por todos, sem hesitação. Resumindo: tolera-se tudo, menos o que os contraria.

Essa é a ditadura do relativismo, a apologia duma moral autônoma e egocêntrica, como nos lembra o Papa Bento XVI, que anseia por edificar uma visão redutivista do ser humano através dum sorrateiro uso de expressões ambíguas para melhor dissimular as reais intenções que estão, melindrosamente, por traz de todo esse bom-mocismo forçado. Bom-mocismo que despreza o bem ao mesmo tempo em que diz representá-lo. No fundo, é isso que se encontra no fundo desta alcova rasa.

Esse trem é tão ridículo que chega a dar vergonha do compadre. Sei disso. Porém, não nos preocupemos, porque o grotesco também está sendo relativizado para que ninguém se sinta mal diante da verdade revelada pelos fatos.

Pax et bonum
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É proibido proibir?


Por João Pereira Coutinho

É um dos vícios do mundo moderno: a crença patética de que tudo é possível, tudo é permissível. Ou, como diziam os filhos do maio de 68, é proibido proibir.

Um caso ilustra esse vício com arrepiante precisão: as "barrigas de aluguel".

Li a excelente matéria de Patrícia Campos Mello publicada nesta Folha no domingo. E entendo a pergunta que anima o negócio: se um casal não pode ter filhos por infertilidade da mulher, por que não contratar os serviços de uma "mãe de aluguel", que terá o seu óvulo fecundado pelo espermatozoide do pai adotivo?

Na Índia, a pergunta virou turismo: só na cidade de Anand, conta a jornalista, nasce uma criança a cada três dias para "exportação". Os "clientes" costumam ser americanos, britânicos, japoneses, canadenses. Mas também há brasileiros na lista de espera. Que dizer do cortejo?

Começo pelas questões éticas básicas: será que um filho deve ser comprado (US$ 20 mil na Índia) como se compra uma mala Louis Vuitton ou um par de sapatos Manolo Blahnik?

E será legítimo, ó consciências progressistas, transformar as pobres do mundo em incubadoras dos filhos dos ricos? [continue lendo]

A Igreja Católica e a escravidão


Por Ricardo da Costa

Vivemos em uma época conturbada. Qualquer coisa afirmada levianamente ganha auréola de verdade. O deputado Jean Wyllys (PSol-RJ), por exemplo, se valeu de um trecho de uma mensagem do Papa Bento XVI para uma série de afirmações bombásticas. O Papa defendera a “estrutura natural do matrimônio” – a união entre um homem e uma mulher – e disse que sua equiparação a outras formas radicalmente diversas de união constituía uma “ofensa contra a verdade da pessoa humana e uma ferida grave infligida à justiça e à paz”. Parafraseando o Papa, o deputado escreveu no Twitter que “ferida grave infligida à justiça e à paz foi a escravidão de negros africanos apoiada pela Igreja Católica”. Jean Wyllys não está só. Essa é uma das acusações costumeiras que costumam ser feitas à Igreja. Ela teria, segundo seus detratores, apoiado o sistema escravocrata, especialmente o ocorrido na África entre os séculos 16 e 19. Mas a verdade é exatamente o contrário disso.

O Cristianismo herdou do Antigo Testamento prescrições atenuantes no que dizia respeito à escravidão. Com a ascensão social e política da Igreja na Idade Média, a pressão a favor dos pobres, das mulheres e dos escravos tornou-se maior. Por exemplo, uma lei do século 6.º (sob influência da Igreja) afirmava que nenhum escravo poderia ser preso caso estivesse em um altar católico. Na Alta Idade Média (séculos 5.º ao 10.º), o catolicismo pressionou as sociedades cristãs a considerarem a escravidão algo ultrajante aos seres humanos, já que, pela fé em Jesus Cristo, todos são filhos de Deus. [continue lendo]

Espírito e personalidade


Por Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 31 de janeiro de 2013  

O espírito é aquilo que só chega a nós pelo pensamento, mas que o pensamento, por si, não pode nem criar nem alcançar. O espírito é a verdade do pensado, a qual, por definição, está para além do pensamento, mesmo nos casos em que este cria o seu próprio objeto. 

Quando, por exemplo, criamos mentalmente um triângulo, este já traz em si todas as suas propriedades geométricas que o pensamento, nesse instante, ainda ignora por completo; e quando ele as tiver descoberto uma a uma, ao longo do tempo, terá de confessar que estavam no triângulo em modo simultâneo antes que ele as apreendesse. E mesmo quando ele apreende uma só, apreende algo que está no triângulo e não nele próprio.

Não há, na esfera do mental, nenhuma diferença entre pensar o falso e pensar o verdadeiro. O pensamento só se torna veraz quando toca algo que está para além dele, algo que não se reduz de maneira alguma ao ato de pensar e nem ao pensamento pensado. Esse algo é o que chamamos "verdade". Como se vê no exemplo do triângulo, a verdade está para além do pensamento até mesmo quando o objeto deste é criado pelo próprio pensamento: o pensamento não domina e não cria a veracidade nem mesmo dos objetos puramente pensados. A verdade só aparece para além de uma fronteira que o pensamento enxerga mas não transpõe. A verdade é o reino do espírito. [continue lendo]