Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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FRAGMENTOS DUM DIÁRIO AMARELADO

Escrevinhação n. 1118, redigida no dia 28 de maio de 2014, Santa Maria Ana de Paredes.

Por Dartagnan da Silva Zanela



1. 
Atenção exige suspensão. Suspensão de tudo mais que estejamos fazendo para que possamos nos permitir ser absorvido pelo objeto de nossa atenção num dado momento. Caso contrário, ficamos divididos e, ao final da sucessão dos minutos, fragmentados.

Quando estamos, por exemplo, com a pessoa amada, essa exige de nós toda nossa atenção. Se não procedemos desse modo, não apenas perdemos aquele precioso momento, mas também a amada.

Quando o assunto é aprendizagem de algo, o entrevero não é diverso. A verdade é uma dama muito recatada e ciumenta. Se não nos oferecemos por inteiro a ela, a Verdade não apenas nos dispensa como nos deixa sob os cuidados de suas distantes primas: as meias-verdades (que são mentiras inteiras), os enganos e auto-enganos (sempre travestidos com toda ordem de convicções furadas).

Enfim, nos esforcemos para que cada momento seja por inteiro, porque um momento pela metade é momento nenhum. E momento nenhum, por definição, nada pode nos oferecer além do vazio que semeamos nele com nossa desdenhosa desatenção.

2. 
Em quem votar? Por que votar? Por que devo votar? Por que não votar? Independente das respostas que possam ser apresentadas a essas perguntas, levando ou não em consideração toda aquela parafernália teórica que possa ser apresentada para demonstrar a importância do voto num sistema democrático, no final das contas quem irá decidir e arcar com as inevitáveis consequências do voto sufragado ou anulado é o eleitor.

E que isso seja feito sem nenhum drama. Muito menos com pose de coitadinho. Viver é isso mesmo. Às vezes, estoicamente, nos abstemos de todas as ilusões, noutras tantas, lavoramos por algo que cremos ser justo e desejável e, nalguns momentos, apenas lamentamos nossa momentânea adesão a uma ou outra possibilidade de ação.

Enfim, democracia é isso mesmo. Ela permite a todos reconhecer sua força por ser a maioria, mas, por uma impossibilidade ontológica, não permite que essa maioria exerça o poder. Ele, nestas terras, necessariamente, é sempre delegado a apenas uma meia dúzia de maliciosos estultos.

Sou pessimista? Não. Nem um pouco. Realista? Às vezes. Mas, nesse momento, resguardo-me apenas a minha dose diária de sarcasmo que me foi recomendado por um socrático médico para expurgar de mim o tolo primordial que tanto insiste falar em meu nome e que agora, lhe digo: cale-se.

Pax et bonum
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BOLETIM RÁDIOVOX - TALES DE CARVALHO

[mp3] A ARTE DE ESTUDAR



Comentário radiofônico proferido no dia 27 de maio de 2014 na Cultura AM.

FRAGMENTOS DOUTRO DIÁRIO

Escrevinhação n. 1117, redigida no dia 26 de maio de 2014, dia de São Felipe Néri.

Por Dartagnan da Silva Zanela

1. 
Há, nos dias atuais, o desenrolar duma grande batalha moral. O problema é que, justamente, a parte mais interessada no desfecho desse conflito encontra-se apática, desinformada, acuada e pretende continuar nesta condição por tempo indeterminado.

Dia após dia, nossos legisladores, investidos do estratégico papel de agentes de mudança social, juntamente com uma plêiade doutros profissionais que se prestam a esse depravado papel, estão criando e cimentando regras que tratam o ser humano como um objeto de porcelana sob a áurea justificativa de estar garantido a liberdade de todos.

Por isso, ouso indagar, cá com meus botões: será que não ocorreu a essas iluminadas mentes que o efeito dessas leis protetivas, em longo médio e longo prazo, será justamente o inverso do que elas prometem realizar? Quanto mais leis protetivas são instituídas, maior se torna o poder do Estado sobre a sociedade ao mesmo tempo em que se diminui o poder das instituições intermediárias entre ambas.

Trocando por miúdos: não haverá mais, em médio prazo, o intermédio, entre o indivíduo e Estado, da família, da religião e tutti quanti. Restará apenas o indivíduo à mercê do Estado. E quando isso realizar-se plenamente ficará, no ar, a velha pergunta: e agora... Quem poderá nos defender? Ninguém. Nem mesmo o Chapolin Colorado.

2.
  Muitos podem ser os indicadores para avaliarmos o quão civilizada é [ou não é] uma sociedade. Desses muitos, atinemos nossa atenção para apenas dois: (i) a forma como os indivíduos comportam-se numa biblioteca e (ii) os modos das pessoas na audiência duma apresentação ou mesmo duma preleção.

Numa e noutra requer-se basicamente uma postura: silêncio. Se lhe for desinteressante a fala ou os livros, esses podem ser objeto do interesse doutros. Por isso, uma postura taciturna é de bom alvitre.

Sei que o dito acima é óbvio, mas o óbvio muitas das vezes deve ser lembrado. Biblioteca é um local de estudo, por isso, a honorabilidade desse espaço exige dos seus frequentadores um respeitoso silêncio. Um anfiteatro, instalado ou improvisado, é um local para audiência passiva que pode ser seguida da inferência de perguntas sobre o objeto da prelação realizada e, por isso mesmo, faz-se necessário um decoroso silêncio.

Qualquer manifestação fora disso não passará de barbárie indisfarçada. Ou, se preferirem: falta de educação mesmo.

Pax et bonum
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[mp3] TENHAMOS PACIÊNCIA


Comentário radiofônico proferido no dia 26 de maio de 2014 na Cultura AM.

COISA DE GENTE AMORNADA

Escrevinhação n. 1116, redigida no dia 23 de abril de 2014, dia de São Julião e São João Batista de Rossi.

Por Dartagnan da Silva Zanela



Tenho um sincero horror a todo e qualquer tipo de catolicão. Esse tipo de católico, segundo Agripino Grieco, é aquele que quando morre fica muito impressionado por descobrir que Deus existe.

Muitos são os sinais que evidenciam o quão catolicão são certos católicos. Todavia, me restringirei, nesta parva missiva, a apenas um: a aversão insincera para com devoções da récita do Santo Rosário.

Como todo catolicão, essas figuras olham com um desdém olímpico para essa mariana devoção, declarando que não entendem como muitos podem ficar repetindo uma mesma prece por tanto tempo. Eles creem que estão muito acima disso e que, por essa razão, lhes bastaria uma mera jaculação, “bem feita”, que já seria superior a, por exemplo, mil Ave Marias recitadas sem zelo, segundo eles.

Ora, carambolas, perguntaria a essas cândidas alminhas o seguinte: há algum santo que se santificou com essa ideiazinha de vidinha espiritualzinha de mísera oraçãozinha que eles advogam? Outra coisa: desde que foi revelado para São Domingos de Gusmão há algum santo que recriminou a fiel récita do Rosário? Aliás, por que a Virgem Santíssima, em todas as suas aparições, pede tão insistentemente a récita justamente dessa oração?

Pois é, vai ver que a Virgem Santíssima e todos os santos se esqueceram de ouvir os sapientes conselhos dessa gente tão obscuramente iluminada. Aliás, contrariando esses sabichões diplomados, a Virgem Santíssima, em suas aparições em Montechiari, Itália, com o título de Nossa Senhora da Rosa Mística, chorou e pediu aos fiéis: oração, sacrifício e penitência para salvar o mundo, conforme revelado no dia 24 de outubro de 1984, ao padre Gobbi. Ela pediu mil Ave Marias.

Pois é, porque será que Nossa Senhora não deu e não dá ouvidos aos catolicãos ilustrados? Imagino eu que ela deva ter lá as suas razões.

Os ilustrados catolicãos nunca pararam pra pensar que o fato deles resistirem tanto à prática dessa devoção, por considerarem repetitiva, acaba entregando-os, desarmados, à repetição mecânica de todas as idéias e cacoetes que nos são repetidos e infundidos diuturnamente através da televisão e demais meios de comunicação, estejamos cientes ou não disso.

Por fim, será que os catolicãos pararam alguma vez para pensar nisso? Sei não, mas confesso: acho, sinceramente, que deviam fazê-lo e rever, urgentemente, a sua falta de convicção e excessiva preguiça espiritual para aquecer devidamente sua morna fé.

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[mp3] COM SÃO JOÃO DA CRUZ

FRAGMENTOS DUM DIÁRIO

Escrevinhação n. 1115, redigida no dia 20 de abril de 2014, dia de São Bernardino de Sena e de Santo Arcângelo Tadini.

Por Dartagnan da Silva Zanela

1. 
Certa feita, um gentil amigo havia me dito que quando ele via uma pessoa agindo de modo espalhafatoso, tentado chamar a atenção nos momentos e lugares mais inconvenientes possíveis, de certo modo, sentia piedade dela.

Segundo ele, somente almas desprovidas de dignidade, dum mínimo de razoabilidade são capazes de agir desse modo. Por não reconhecerem, dentro de si, junto ao silêncio primário que há no coração, algo de minimamente decente, preferem sair de si e escancaram gargalhadas e gritos de dissimulada felicidade para não tornar tão evidente a mediocridade que se faz reinante em seu íntimo. 

E o que é pior! Não são poucas as almas que se encontram em tamanho estado de decrepitude. Sejam nas ruas ou corredores, em transportes públicos ou nos ecos distantes que tem seu nascedouro nalgum espaço privado, não são poucas as gargantas que gritam desvairadas e riem-se de tudo para mal disfarçar o seu desespero. Por isso, penso como meu dileto amigo: tenhamos paciência. Paciência, porque essas almas se entregaram ao ridículo para não ter de encarar a realidade de sua decadente condição e isso, em si, já é uma triste condenação.

2.
Ler. Tomar nota. Reler. Reler as linhas da lavra do autor e bem como os rabiscos por nós sulcados nas margens da lavoura de palavras. Silenciar e, mais uma vez, fiar o arar da vista junto ao solo da leitura para, com o autor, colher bons frutos ao mesmo tempo em que se semeia um vivaz roçado em nosso coração. Isso é estudar.

Como a arte do plantar, o estudo exige do indivíduo uma razoável paciência e zelo. Não se cultiva o solo se não sabemos respeitar o tempo de amadurecimento das plantas. Uma horta se perde se não fiamos o sacho, atentamente, para livrar as hortaliças das ervas daninha.

O mesmo pode-se afirmar com relação ao estudo. Ler, meditar, tomar notas, reler, silenciar, narrar para si (mentalmente e por escrito) e refletir sobre o que foi lido. Podemos dizer que esses são os rudimentos elementares do bom cultivo do solo d’alma humana.

3.
John Adams certa feita afirmou que a Constituição dos Estados Unidos da América seria apenas apropriada para uma sociedade que fosse firmemente calcada em sólidos princípios morais e religiosos. Doutra forma, a referida constituição seria apenas letra morta.

Com o perdão da palavra, podemos ir mais longe. Somente uma sociedade fundada em sólidos princípios religiosos e morais é apta para viver sob um regime democrático. Fora disso, o que se tem é um solo fértil para a eclosão duma torpe oclocracia que, cedo ou tarde descamba numa tirania. E se tarda, não é por mérito das massas desarrazoadas, mas sim, por causa da astuta malícia das oligarquias que bem aprenderam utilizar o regime, democrático invertebrado e anêmico, em seu proveito.

Por fim, John Adams sabia o que estava dizendo e nós, atualmente, no Brasil, definitivamente não sabemos o que estamos fazendo.

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[mp3] SOLIDÃO NECESSÁRIA

O PROBLEMA É SIMPLES, POR ISSO...

Escrevinhação n. 1114, redigida no dia 19 de maio de 2014, dia de São Celestino V e de Santo Ivo.

Por Dartagnan da Silva Zanela


São os detalhes que fazem a diferença. São os pequenos cuidados que formam a grandeza. Eis aí uma verdade simples que toda pessoa razoável não desdenha, porque são eles, os detalhes, que moldam nossa maneira de agir e, consequentemente, de ser.

Poderíamos apontar uma gama imensa de exemplos para fiar esse poncho verbal, todavia, inclinaremos nosso tear vocabular na procura duma situação cotidiana e compará-la com a de outra sociedade para vislumbrarmos o quão embaixo é o buraco de nosso falta de civilidade.

Imaginemos a seguinte cena: um sujeito sai pelos corredores dum colégio e chega à porta duma sala com várias pessoas. Tais pessoas seriam professores. Ao chegar à porta o indivíduo diz: “Viu! O Fulano de Tal...”, ou “vem cá...”, ou algo do gênero. Penso que todos nós já vivemos nessas terras Cabralinas ocorrências similares, seja num ambiente escolar ou fora dele.

Frases como: “Bom dia! Desculpem-me interromper, mas o Fulano de Tal está?” “Perdoe-me, mas você poderia me ajudar por um momento?” Ao que tudo indica, tais palavras não se fazem presentes no vocabulário usual da brasilidade. Não é assim que tratamos nossos semelhantes por aqui.

Por mais que fechemos as vistas, uma das leis não-escritas que mais fortemente impera em nossa sociedade é a canina. Isso mesmo, a lei das matilhas. Ela reza que devemos agir de maneira servil para com aqueles que são mais poderosos e de modo brutal e covarde para com aqueles que são mais fracos. Com os que estão em igualdade de condição, com dissimulada formalidade.

Por isso, quando vemos, pra cima e para baixo, essa firula de cidadania pra cá, de cidadão acolá, o trem fica muito esquisito. Ora bolas, como falar em cidadania numa sociedade onde não sabemos nem mesmo respeitar uns aos outros nas situações mais banais do dia a dia? Como imaginar que um dia haverá relativa retidão com o que é público numa sociedade que turva a ordem moral que poderia dar sustentação a retidão referida?

Não sabemos conviver uns com os outros, essa é uma verdade pura e simples. E o Estado brasileiro é o primeiro a prestar um grande desserviço para a [des]civilização geral da nação. Essa, uma mera obviedade.

Sei que não gostamos que comparem nossa sociedade com outras. Tal impostura, em si, já demonstra um apego orgulhoso a baixeza e uma incapacidade de crescer e aprender com a visão do que seja dignificante e bom. Mesmo assim, cometamos essa infâmia e perguntemo-nos, como será que cidadãos de países como EUA, Inglaterra ou Japão agem em situações similares às descritas? Como? Sim, já sei: não comentaremos. Sei que para os padrões de nossa moralidade brasiliana é humilhante por demais reconhecer que há pessoas, e mesmo sociedades inteiras, melhores do que nós. Quem o diga reconhecer que existam criaturas mais educadas.

Resumindo o entrevero: vivemos numa sociedade em que não se sabe falar bom dia, mas que, se crê, candidamente, no excelso poder da palavra cidadania, cuja evocação nos elevará da barbárie que [depre]civicamente estamos edificando nos mais mínimos detalhes, dia após dia.

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QUASE CEM ANOS

Redigida no dia 13 de maio de 2014, dia da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima.

Por Dartagnan da Silva Zanela


O dito popular, repetido pelas mães aos seus filhos travessos, que afirma que cabeça parada é oficina do capeta deve ser acrescido duma vírgula e dum ponto: cabeças mal ocupadas também o são, porém, ao quadrado.

Digo isso, pois considero curioso o fato de que mais e mais vemos almas, gentis ou não, desperdiçando seu precioso tempo livre com as ocupações mais estapafúrdias. Tempo esse que acaba fluindo remanso abaixo no vale da automutilação gratuita.

Não são poucas as horas, estrebuchado num sofá, diante da televisão. Outras tantas tropicando pelas redes sociais e, algumas mais, vagando, sem eira nem beira, deleitando-se com vídeos e sites no mínimo banais (para não recorrer ao uso de nenhum outro adjetivo).

Se formos francos, reconheceremos que em nosso dia a dia temos a nossa disposição uma significativa porção de tempo que, literalmente, apenas utilizamos para nos degradar gradativamente, feito sapo numa panela d’água sendo esquentada lentamente.

Por essas e outras que nossas mães tinham toda razão quando nos advertiam. E, por esse mesmo motivo, São Bento, em sua pia regra, orientava a todos os seus filhos espirituais para que firmassem seu passo em três colunas básicas: rezar, estudar e trabalhar para manter o corpo e a alma ocupados de maneira sadia e vigilante contra os sutis assédios do inimigo.

Infelizmente, não está em voga tal observância. O que está em alta, de fato, entre nós, é o auto-regramento sem regra alguma além de nossos momentâneos desejos.

Trabalha-se por que é necessário pagar nossos débitos e cultivar nossas extravagâncias, se possível for. Estuda-se para atender uma demanda legal e mercadológica. Reza-se, o mínimo possível, para garantir, como direi, um leviano desencargo de consciência. Um Pater Noster e uma Ave Maria por dia e pronto. Dever comprido.

Ora, as três atividades apontadas perderam totalmente seu edificante sentido frente à vida banal por nós vivida nos dias atuais. Tamanho é o materialismo/relativista reinante que vemos o trabalho, o estudo e a oração como meras práticas sociais que tem por vistas atender tão somente uma reles função externa ao nosso ser.

Por essas e outras que fico muitas das vezes, cá com meus botões, pensando, nas mensagens marianas, em especial, na que foi proferida em Fátima, Portugal, no começo da centúria passada. A Virgem Santíssima pediu a todos nós para arrependermo-nos de nossos pecados, convertermo-nos, entregarmo-nos a penitência e rezarmos, diariamente, o Santo rosário. Pelo visto, tal pedido não foi acatado por muitíssimos corações, da mesma forma que ignoramos a relevância do velho conselho de nossas mães, haja vista que a ímpia regra geral, para muitos, é regra nenhuma.

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DESCAMBANDO PELA LADEIRA

Escrevinhação n. 1112, redigida no dia 06 de abril de 2014, dia de São Lúcio, de Santa Benedita e de Santo André Kim e 102 Companheiros.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Crianças, como todo e qualquer ser humano, amam serem ouvidas. O que elas mais querem não é um celular de última geração, ou uma bicicleta nova, ou qualquer bugiganga eletrônica de última geração. O que elas mais querem mesmo é atenção.

Quando vejo pequeninos numa sala de aula falando até pelos cotovelos, vejo um ser humano cioso por ser ouvido. Como ele não recebe a merecida e afetuosa atenção na intimidade do lar, procura-a, digo, clama por ela num lugar e num momento inapropriado para furtá-la a qualquer custo.

A verdade é tão dura quanto triste. Os homens modernos têm muito tempo, avulso, para suas preciosas telenovelas, para suas imperdíveis conversas fiadas, para seus passeios pelas redes sociais e, em muitos casos, para suas reuniões regadas com toda ordem de desregramentos, porém, é demasiado ocupado, atarantando, para sentar-se ao lado do seu curuminzinho e perguntar-lhe: “e aí filhão, como foram suas aulas hoje? O que a sua professora lhe ensinou? O que você está inventado?” Ou qualquer pergunta do gênero.

Sentar-se e fazer o que muitas das vezes nos esquecemos: demonstrar o quanto realmente nos importamos com ele, com o universo dele.

Um gesto simples que, além de ter os óbvios reflexos afetivos, também contribui para o desenvolvimento cognitivo do infante. Detalhe: não é necessário ser douto em matéria de educação para fazer isso. Basta querer ouvir com sincero interesse o que o miúdo tem a dizer.

Esse diminuto gesto fomentará no íntimo da criança um fecundo sentimento de confiança que o instigará a silenciar-se onde e quando convém silenciar pra ter pauta na prosa que terá, mais tarde, com aquele que está cioso para ouvi-lo. Tal empenho o levará a exercitar a sua capacidade de concentração que, consequentemente, ampliará o seu poder de atenção, dilatará a sua memória e, principalmente, irá aprimorar a sua capacidade de expressão.

Porém, para que isso ocorra, efetivamente, é necessária uma relação sincera da parte do adulto para com o infante. O fingimento nosso de cada dia não serve.

Enfim, tal prática auxiliará a lapidar uma inclinação natural do ser humano à generosidade. Sim, toda vez que a criança estiver indo para casa, com toda certeza estará imaginando-se contanto o que deseja noticiar das mais variadas formas possíveis. Imaginará as suas possíveis reações ao ouvir o que ela está ansiosa por lhe contar porque ela tem certeza que você deseja realmente ouvi-la.

Mas, infelizmente, também temos em nosso íntimo uma inclinação a mesquinharia que nos move a interessarmo-nos muito mais por nosso umbilical universo. Infelizmente, gostemos ou não, na maioria das vezes, reforçamos essa inclinação nos mancebos com o nosso indisfarçável desinteresse por eles.

Não é à toa que, hoje, raríssimos jovens prestem a devida atenção no que os mais velhos têm a lhes dizer. No fundo, eles aprenderam a ser mal-educados imitando o nosso compulsivo mau exemplo. Reproduzindo nosso desprezível modo de ser.

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NOTINHAS E RABISCOS

Escrevinhação n. 1109, redigida no dia 17 de abril de 2014, dia de Santa Catarina Tekakwitha e da Beata Maria Ana de Jesus.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1.
Diz o brocardo popular que o peixe morre pela boca. Não apenas ele. A democracia também. Principalmente ela.

Não sei se vocês sabem, mas tiranos, tiraninhos e tiranetes são criaturinhas muito frágeis. Tem o caráter de papelão e a dignidade de porcelana. Qualquer coisinha que lhes contrarie os brios os deixam muito pra baixo. Ficam tão macambúzios que chaga a dar dó. Tadinhos!

E eles não deixam por menos! Todo aquele que ousa discordar de seus rompantes, delírios e fricotes, cedo ou tarde, sentirá o peso de sua batuta. E é claro que eles não fazem isso diretamente, cara a cara porque, no fundo, tem medo, muito medo. Medo de que todos conheçam a sua verdadeira face. Por isso agem sorrateiramente pelas sombras recorrendo a toda ordem de subterfúgio para fisgar a liberdade de expressão pela boca e gelar a democracia com a censura sínica e dissimulada.

2.
É interessante como o vocábulo VAGABUNDO é utilizado. Não digo que tal espécime não exista. Pelo contrário! Infelizmente abundam nessas terras adornadas com araucárias. Porém, em regra, nessas plagas o termo é utilizado justamente por aqueles que são a viva encarnação dessa degradada humana condição.

E assim agem, xingando os outros do que eles mesmos são, para melhor dissimular a lassidão que lhes é inerente. Já alguns o fazem para disfarçar o seu servilismo patético aos donos do poder e, outros tantos, rotulam outrem de vadio pelos dois motivos.

Enfim, dum jeito ou doutro, essas criaturas assim procedem para macaquearem uma dignidade que não lhes pertence, fingem uma altivez que sua covardia lhes impossibilita realizar porque no fundo, os sujeitos que tanto querem posar uma exemplar disposição laboral não passam de desqualificados morais que não suportam o reflexo que vêem toda manhã no espelho. Por isso partem para baixeza e depredam a imagem de todos aqueles que não são como eles.

Por fim, se lhes faz bem, sintam-se à vontade para insultar-me. Todavia, isso não vai resolver o problema fundamental. Felizmente ou não, o vagabundo não sou eu, nem a mãe. Os vagabundos são vocês.

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