Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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NÃO FAZ PARTE

Exigir da alma indolente
Que viva de maneira razoável
Para trabalhar de forma descente
É, para ela, uma ofensa imperdoável.

Surta e fica bravo
Indignado com tal pedido
Ficando mortalmente ofendido
Com a mera possibilidade desse fato.

Ser prestativo não é seu intento
A dignidade não integra o seu vocabulário.
E bondade, somente se for fingimento

Porque o indolente cumpre o seu horário
Gosta, e muito, do seu bom salário.
Mas trabalhar não faz parte do seu itinerário.

Dartagnan da Silva Zanela

Litaniae de Sacratissimo Corde Iesu

O BREJO RUBRO

A vaca está indo pro brejo
Para o brejo da revolução
Que destrói a paisagem que vejo
E corrompe tudo até o chão.

Para o brejo a vaca está indo
No atoleiro o país se encontra
E por isso os loucos estão rindo
Da obra que aos lúcidos assombra.

Os comunas infernais estão no poder
E dele não querem, de modo algum, sair
Porque eles sabem que está por nascer

Aqueles que estão dispostos a destruir
O delírio totalitário por eles edificado
Desde os rincões até o Paço do Planalto.

Dartagnan da Silva Zanela
em 23 de junho de 2014.

OBSERVAÇÕES FUTEBOLÍSTICAS, OU QUASE

Por Dartagnan da Silva Zanela


A Copa é um espetáculo que agrada o gosto de muitos. Não é o meu caso. Desde pequeno, o futebol, paixão nacional, nunca teve lugar no bojo de minhas simpatias. Confesso: não sei o que é sofrer pelo desempenho dum time ou ficar agoniado com uma partida da seleção.

Tal desafeto não tem nenhuma justificação filosófica, muito menos uma motivação política. Apenas, lamentavelmente, o desporto que tanto empolga meus patrícios nem de longe me cativa. Entretanto, mesmo assim, penso que alguns acontecimentos que foram encenados nesta edição da Copa do Mundo merecem ser objeto de reflexão.

O primeiro é a multidão nas arquibancadas cantando furiosamente o hino nacional. Multidão e jogadores que continuaram cantando o hino mesmo após o término da execução instrumental dum fragmento do mesmo. Aquilo ecoava no estádio e nos átrios dos corações. Vi, pela telinha, esses momentos e confesso: meus olhos marejaram em lágrimas e minha garganta engasgou.

Lembro-me que, quando menino, minha professora sempre ovacionava a forma reverente como os jogadores de outras nações cantavam o hino de suas respectivas pátrias. Lembro-me da imagem dos cidadãos de outras repúblicas, em outras Copas, cantando a canção primeira de suas respectivas nações. Vê-los e ouvi-los dava-me sete tipos de medo. Ambas as imagens impactavam as janelas de minha alma tanto pela beleza como pela força. Hoje, vejo a mesma imagem sendo apresentada por meus concidadãos, fazendo meu coração, pela primeira vez, desejar calçar uma chuteira.

A segunda imagem é a da vaia contra a senhora que indignamente ocupa a presidência da república brasileira. Movido por elas, o senhor Luiz Inácio, ex-presidente, Lula da Silva, esbravejou contra aqueles que, segundo ele, seriam os membros da “zelite” que não aprova a popular [des]governança de sua legenda e demais asseclas. Uma vergonha para todo o Brasil, segundo ele.

Na verdade, a atitude raivosa e contra republicana desse senhor é que é uma vergonha. De mais a mais, não é a primeira vez que a senhora presidente é vaiada em público. Seja num estádio de futebol, numa reunião com prefeitos, numa feira ou mesmo num evento organizado pela CUT, a senhora presidente e demais grandes lideranças do partido dos trabalhadores estão sendo sistematicamente vaiados por todos. Apenas não o são em ambientes fechados com um público cuidadosamente selecionado. Por quê? É claro que eles sempre irão dizer que é por causa da “zelite”, porém, eles sabem que a desaprovação vem de todos os setores da sociedade brasileira e por isso, nervosinhos estão.

A presidente, o politburo esquerdista e toda a elite (graúda e miúda) pró-petista sabem deste a eleição passada, que eles não mais estão com a bola toda e que sua imagem está desgastada barbaridade. Eles sabem que em 2010 receberam 55.752.092 votos e que, somando os votos sufragados ao tucano com os brancos, nulos e abstenções, lhes foram negados 79.852.353.

De lá pra cá muitas águas rolaram e as vaias, seja na copa ou fora dela, são um sinal. Um augusto sinal. O povo brasileiro, dum modo geral, aprendeu a ter reverência pelo cargo da presidência, que representa uma das instituições de nossa democracia, sem confundi-lo com aqueles que, muitíssimas vezes, o insultam com sua presença nele.

Já a atual ocupante desse, juntamente com os seus partidários/militantes, imaginam que as instituições democráticas apenas o são se eles estiverem à frente delas revelando assim, sem o menor pudor, sua peçonha totalitária para todos os que realmente não tiverem receio de ver.

Por fim, tais fatos, de modo algum, selam o resultado desse ano eleitoral. Há inúmeras outras variáveis que devem ser levadas em consideração, sei disso. Porém, há algo de diferente no ar. Há algo no olhar e bem como no coração dos brasileiros que, de modo algum está agradando a elite petista e a chusma fisiológica que desgoverna nossa desorientada república e isso, meu caro Watson, é uma fragrância diferente que se faz presente nos ares de nossa pátria que pode nos trazer alguma inspiração.

Pax et bonum
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Escrevinhação n. 1126, redigida no dia 14 de junho de 2014, solenidade do nascimento de São João Batista.

ENTRE MISTÉRIOS OBSCUROS E LUMINOSOS


Por Dartagnan da Silva Zanela


Quem deseja conquistar o poder, primeiramente, peleja para reescrever a história de acordo com o tom e ritmo que lhe seja mais apropriado para a execução de seu plano de assalto.

Consegue-se, com muito lavoro, impregnar o imaginário societal com determinadas imagens e jargões que são popularizados através do sistema de ensino, publicações jornalísticas e produções artísticas, televisivas e cinematográficas. Tal impregnação comumente é chamada por muitos de história oficial. De nossa parte, prefiro referir-me a essa prática como construção duma história convencional.

Ora, uma coisa é você querer, com sinceridade, investigar as escaramuças que deram forma a tessitura de nossa sociedade. Outra coisa é repetir um amontoado de jargões e cacoetes mentais sobre as mesmas. Repetição essa que mui bem encobre a inconfessa preguiça cognitiva dos repetidores.

Quando agimos dessa forma, inevitavelmente reduzimo-nos a reles marionetes nas mãos daqueles que colocaram esses slogans para circular. Porém, quando adotamos a primeira postura, tornamo-nos, literalmente, uma criatura que destoa do ritmo confuso que embala a massa crítica que, criticamente, não se cansa de repetir as mesmas patacoadas politicamente corretíssimas. E fazem isso acreditando que estão destoando da forma oficiosa de ver a vida e interpretar os fatos.

Os exemplos dessa lamentável situação são muitos. Porém, atenhamo-nos à apenas um, para ilustrar. É presente na história convencional o cacoete que afirma ter sido o Papa Pio XII um assecla de Adolf Hitler. Afirmação essa repetida com aquela candura doutoral típica dos ignorantes presunçosos.

Ora, o referido Sumo Pontífice era tão alinhado com o Nazismo que foi o coautor da Encíclica MIT BRENNENDER SORGE (Com profunda preocupação), do Papa Pio XI, que condena o Nacional-socialismo. E mais! O Cardeal Eugenio Pacelli foi o idealizador e articulador da estratégia que, secretamente, em 1937, permitiu que a referida encíclica chegasse ao território alemão e fosse lida, simultaneamente, nos púlpitos de onze mil Igrejas germânicas. Foi Papa XII quem salvou milhares de judeus e perseguidos políticos das garras do terceiro Reich ocultando-os no Vaticano e Conventos de Roma. Também foi o organizador de inúmeros planos de fuga para esses.

Por conta disso, foi elaborado pelos Nazistas um plano para sequestrar Pio XII, porém, felizmente, isso nunca veio a ser concretizado. Entretanto, imaginando que isso poderia ocorrer, ele tinha pronta uma carta de renúncia ao pontificado. Ou seja: se sequestrado fosse, não era mais o papa e não poderia ser utilizado como objeto de barganha.

Aliás, durante muito tempo, na Santa Sé, Pio XII realizou, secretamente, inúmeras orações de exorcismo por Hitler, pois, como ele mesmo afirmava: o olhar daquele homem não era apenas o olhar dum homem.

Enfim, levando todos esses fatos em consideração não se tem como continuar crendo que Eugenio Pacelli teria sido o “papa de Hitler”. A não ser que se tenha algum interesse escuso para se defender tal engodo.

Por isso, aqueles que amam, francamente, a mestra da vida, sabem que ela, a história, quando devidamente estuda, sempre nos surpreende e nos instiga a atirar nossos esquemas mentais ideologicamente chulos no lixo. Porém, seus pseudo-amantes se contentam em apenas “ficar” com ela, superficialmente, repetindo aqueles velhos e surrados bordões aprendidos num livro didático ou no correr de sua [de]formação, continuada ou não.

Pax et bonum
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Escrevinhação n. 1125, redigida em 17 de junho de 2014, dia de São Rainério de Pisa.

O MENTIROSO

A mentira pernas curtas tem
Mas são tantas... pra mais de cem...
Ela tropica e vai em frente
Fazendo pouco caso de toda gente
Muito mais do trabalhador inocente
Que imagina, candidamente,
Haver em seu filho indecente,
O mentiroso, uma alma descente...
Mas não! Infelizmente,
Ele é apenas um vulgar indolente.

por Dartagnan da Silva Zanela,
em 16 de junho de 2014.

NOTAS DUM DIÁRIO QUE JAMAIS FOI ESCRITO


Por Dartagnan da Silva Zanela


1. 
Há uma passagem duma obra da lavra de Joaquim Nabuco onde o mesmo nos diz: “Vede como é grande a bondade do Cristo, — as sobras de um coração gasto pelos desejos lhe parecem mais dignas ainda e sua aceitação do que a alvura de uma vida irrepreensível. Para isso, porém, foi preciso que o horror de si mesmo irrompesse das profundezas do ser, tal uma lava de arrependimento, transformando nodoas e impurezas em chama ou em fogo... Esses vulcões do coração alcançam uma grandeza incomparável nas Vidas dos Santos; dominam dali as vidas tranquilas que correm mansamente dentro dos vales que se poderiam denominar o vergel de Deus. Já hoje não aparecem desses arrependimentos ardentes. Arrastamos farrapos de alma”.

E assim vivemos hoje, muito mais do que ontem. Somos esfarrapadas almas. Cansadas. Envelhecidas e insistimos em fingir mocidade como se a meninice perene fosse uma excelsa qualidade.

Imaginamos que a plenitude que um ser humano pode realizar seria uma vidinha similar as que nos são apresentadas pelas midiáticas imagens. E como esse é todo o nosso horizonte, não somos mais capazes de conceber a magnanimidade dum santo; tornamo-nos incapazes de vislumbrar o que é um coração inundado de amor como o são os daqueles que viveram intensamente cada palavra do Evangelho do Senhor que nada mais é que Seu coração aberto e transposto em imprecisas palavras humanas, tamanha Sua bondade para conosco. Tamanha é nossa ingratidão para com Ele.

2. 
Millôr Fernandes defendia que todo cidadão tem direito, irrevogável, ao foda-se. Tal direito pode e deve ser exercido por qualquer um quando a ocasião assim exigir.

Vale lembrar que não é necessário o uso, específico, da expressão foda-se para fazer valer esse fundamental direito. Pode ser um vá se ferrar, ou um vai tomar no toba, dane-se, ou simplesmente uma vaia (curta ou comprida).

Pouco importa qual o instrumento verbal que você utilize para fazer valer seu direito. O que não podemos, não mesmo, é permitir que qualquer patrulha ideológica mimada, ou panelinha militante alienadamente crítica, queira melindrar o cidadão fazendo carinhas feias, beicinhos, dando pitinhos e petiz politicamente corretos e magoados.

Enfim, vaie quem você quiser e quem não gostar, foda-se.

Pax et bonum
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Escrevinhação n. 1124, redigida em 17 de junho de 2014, dia de São Rainério de Pisa.

[mp3] ATENÇÃO


Comentário radiofônico proferido no dia 05 de junho de 2014 na Cultura AM.

MUITO ALÉM DO HORIZONTE

Escrevinhação n. 1122, redigida no dia 11 de junho de 2014, dia de São Barnabé.

Por Dartagnan da Silva Zanela


As nuvens nublaram o céu. O horizonte está brusco e torna nosso semblante plúmbeo sobre nossos olhos que marejam e transbordam diante do que veem feito os córregos, riachos e rios que dançam pelas cicatrizes do solo.

As nuvens nublam o céu e nos lembram que não somos tão autossuficientes como cremos ser. No dia a dia, com nossa face banhada pelas luzes da normalidade, imaginamos que nosso caminhar é independente, senhor de si. Porém, quando as nuvens nos miram, sem sorrir ou gracejar, somos pegos de assalto. Não tanto pelo derramar de sua torrente, mas pela nossa fragilidade tão bem disfarçada pelas fantasias cotidianas.

Na verdade, nosso horizonte fica nublado com muito pouco. Não carece muito. Pouca é a nossa real independência. Parco é nosso poderio. Sim, imaginamo-nos insuperáveis e, em certos momentos, somos lembrados que somos apenas aquilo que somos: reles mortais.

E se as nuvens enegrecem o azul da abobada celeste, é para nos lavar das ilusões que tão profundamente veem-se impregnadas em nossa alma e, deste modo, voltemos a agir e a viver como uma comunidade de almas imortais que procuram com sua fraqueza auxiliar e socorrer a fraqueza dos outros e não mais como uma chusma impessoal de modernos cidadãos embrutecidos pela artificialidade das nossas rotineiras relações.

Brusco ficou o céu, mas não por crueldade. Não. A face carrancuda das nuvens apenas fez as escamas de nossos olhos caírem, levando-nos a dar às miudezas do dia a dia a importância que elas realmente merecem. Em momentos, como o atual, temos a oportunidade ímpar de recobrarmos o senso das proporções, a muito perdido pelo nosso egolatrismo.

Johann Goethe afirmava que as únicas ideias que merecem ser levadas a sério são as dos náufragos. Apenas elas são dignas de nossa atenção porque continuam a habitar o nosso coração quando tudo o mais está a desmoronar.

Sim, a vida, com todos os seus problemas e dificuldades, tragédias e regalos é um momento único para nos desfazermos de tudo o que é secundário para ficarmos apenas com aquilo que é fundamental e digno de estar presente conosco frente à eternidade.

De fato, tudo que passa a ser mensurado pela própria brevidade dos momentos vividos acaba tendo uma importância que não lhe é devida. Entretanto, quando passamos a mensurar os mesmos acontecimentos à luz da eternidade da alma humana frente à brevidade de nossa caminhada por esse vale de lágrimas, compreendemos, mesmo que apenas por alguns instantes, que a vida, para ser humana, deve ser iluminada por luzes que estão além da fugacidade cotidiana.

Enfim, tudo depende da medida que utilizamos para mensurar os nossos passos.

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[mp3] AS EXIGÊNCIAS DO AMOR


Comentário radiofônico proferido no dia 04 de junho de 2014 na Cultura AM.

APENAS UMA REFLEXÃO...

“É bastante insignificante ser popular ou impopular. Para todo membro do clero, o seu primeiro interesse deveria ser o de ser popular aos olhos de Deus e não aos olhos do mundo de hoje ou dos poderosos. Jesus alertou: ‘Ai de vós, quando vos louvarem os homens.’ Popularidade é algo falso… Os grandes santos da Igreja, como, por exemplo, Thomas More e João Fisher, rejeitaram a popularidade… aqueles que hoje em dia estão preocupados com a popularidade dos meios de comunicação e a opinião pública… serão lembrados como covardes e não como heróis da Fé.”
(Dom Athanasius Schneider)

PÁGINAS DUM AMARELADO DIÁRIO – parte III

Escrevinhação n. 1121, redigida no dia 03 de junho de 2014, dia de São Carlos Lwanga e companheiros mártires de Uganda e de Santo Ovídio.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1.
É curioso o estranhamento manifesto por muitas almas, ditas cristãs, que ficam mui espantadas quanto alguém afirma que não devemos ser econômicos quando o assunto é oração.

Aliás, ficam mui indignadas por verem senhoras e senhores piedosos que ousam, inclusive, viver a devoção do Santo Rosário e serem capazes de rezar, num único dia, mil Ave Marias. Presumem ser  muito cultas e ilustradas para praticar algo, segundo elas, tão dispendioso assim. Tão cultas quanto católicas. Ou deviria dizer, tão caóticas quanto curtas?

Gostaria de apenas lembrar que nós, em nossa mesquinhez diária, não somos a medida da grandeza da cristandade nem mesmo um farol de orientação para ela. Todavia, a Sagrada Escritura o é e essa nos orienta para que oremos sem cessar (1 Tesalonissenses V; 17). Sem cessar.

A vida dos Santos, que viveram intensamente o Santo Evangelho e procuraram conformar seu coração ao coração de Nosso Senhor, também nos aponta para essa direção. É o caso, por exemplo, do Santo Padre Pio de Pietrelcina, que partiu para Jerusalém Celeste em 23 de setembro de 1968. Esse santo homem, enquanto esteve a caminhar por esse vale de lágrimas, rezava cinco Rosários por dia (15 terços diários).

Aliás, você sabe quem foi o Padre Pio de Pietrelcina? E também acha que rezar diariamente o Santo Terço é coisa de carola, desnecessária? Você, por acaso, é daqueles que sentem-se saciados com apenas uma Ave Maria diária e/ou uma prece espontânea? Entendo. E mesmo assim você se considera uma pessoa tão católica quanto o Padre Pio e tão culta quanto Santa Edith Stein? Tô sabendo. Ou, como diria minha pequena: Ah! intindi!

2.
Muitas são as causas da corrupção. Muitas mesmo. Por isso considero uma baita conversa pra boi dormir toda e qualquer campanha pela ética na política. Definitivamente, não vejo como se pode querer atacar e resolver um problema concreto apenas gritando palavras de ordem ocas em misto com a prática indecorosa do denuncismo vazio, tão oportunistas quanto ineficazes.

Das inúmeras causas que fomentam a corrupção moral – que antecede e dá sustentação a corrupção política – destacaria, como uma das principais, a nossa falta de generosidade. Sim, somos um povo faceiro, divertido, mas pouco generoso. Por exemplo: criticamos a pseudo-generosidade Estatal na forma de programas sociais. Programas esses que, no fundo, não passam de uma forma descarada de se fazer corte com o chapel alheio. Porém, poucos são os que, anônima e desprendidamente, são capazes de estender a mão ao próximo por amor a ele.

Até fazemos, de vez enquanto, alguma doação. Não para uma pessoa, mas sim, para uma e outra instituição caritativa. E o fazemos tendo em vista não o bem inerente ao ato, mas sim, a possibilidade de podermos obter um abatimento em nosso Imposto de Renda.

Pois é. E por esse trilho segue o andor de nossa falta de generosidade.

E por que agimos assim? Porque cremos que tudo o que temos e somos é mérito único e exclusivo nosso. Porque é nosso direito e pronto. Em nenhum momento nos ocorre que todo aquele que tem alguma posição vantajosa na sociedade, merecida ou não, automaticamente tem alguma obrigação moral para com aqueles que padecem algum tipo de infortúnio.

E como a regra geral no Brasil é fazermo-nos de Pilatos, de vez enquanto, colocamo-nos a marchar pelas ruas em protestos furibundos para fingir indignação ao mesmo tempo em que as raposas felpudas, de todas as pelagens, fingem ser generosas para com os desvalidos que, por sua deixa, fingem gratidão.

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SILÊNCIO E CANJA DE GALINHA

Escrevinhação n. 1120, redigida no dia 03 de junho de 2014, dia de São Carlos Lwanga e companheiros mártires de Uganda e de Santo Ovídio.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Não sou uma pessoa de muita prosa. Tal afirmação, vinda dum sujeito que vive do uso da palavra, escrevinhada e falada, pode até parecer estranha, mas não é não. Estranho, pra falar a verdade, é a compulsiva necessidade que muitas pessoas têm de falar o tempo todo sobre qualquer coisa duma maneira qualquer.

Sim, conversar é bom. Porém, para que o assuntar seja proveitoso é interessante que se tenha, primeiramente, algo que mereça ser objeto duma conversação. Caso contrário, uma boa dose de silêncio e recolhimento não faz mal pra ninguém. Pelo contrário! É uma prática de salutar importância. Prática desdenhada pela sociedade atual.

Em regra, imaginamos que todas as sociedades em todas as eras, em todas as esferas, eram tomadas por elementos tagarelantes, tal qual testemunhamos hoje, em nossa época. E, de fato, é um sério problema de imaginação não sermos capazes de conceber que os seres humanos, ao contrário dos que hoje vivem feito zumbis, vejam com bons olhos a imersão prolongada numa atmosfera silenciosa.

Tal afirmação, de modo algum, deve ser entendida como uma postura de desdém para com os outros. Não mesmo. É uma atitude de respeito para com os iguais e, consequentemente, para conosco mesmo. Falar por falar é uma prática viciosa tão danosa como comer por comer ou beijar por beijar.

Como tudo que existe, o sentido do falar não está na fala em si, da mesma forma que o sentido do comer não está no ato de comer. Diga-se o mesmo do beijo. O sentido da existência de qualquer ato ou objeto está para além dele e não nele. Comemos para mantermo-nos nutridos e sentirmos prazer. Beijamos para demonstrar carinho e afeição e apenas deveríamos falar algo se realmente tivéssemos alguma coisa que realmente merecesse a atenção de alguém. Se não o temos, calar não é sinal de indelicadeza, mas sim, uma gentil deferência.

Mas não. Falamos sem parar o tempo todo e em qualquer tempo sem ao menos ponderarmos sobre o que estamos dizendo e, principalmente, sobre o efeito dessas palavras sobre nós mesmos.

Tudo o que falamos, de maneira ponderada ou não, acaba por moldar nossa personalidade,  nosso ser, haja vista que essas imponderadas palavras tornam-se todo o conteúdo de nossa alma que amesquinha-se no mesmo ritmo de nossas conversas vazias.

Enfim, nessas horas lembro-me do exemplo de São Serafim de Sarov que viveu cinquenta e um anos em reclusão, seis desses cumprindo um voto de estrito silêncio e apenas depois disso passou a aconselhar, com parcimônia, todos aqueles que o procuravam. Nós, por nossa deixa, não somos nem mesmo capazes de desligar nosso celular para, quem sabe, reencontrar a paz e a serenidade que a tanto jogamos no lixo sem a menor cerimônia. Fazer o que?

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[mp3] QUEM PODERÁ NOS DEFENDER?


Comentário proferido no dia 02 de junho de 2014 na Cultura AM.

FRAGMENTOS DUM DIÁRIO – parte II

Escrevinhação n. 1119, redigida no dia 31 de maio de 2014, dia de São Raimundo Nonato.

Por Dartagnan da Silva Zanela

1. 
As palavras, em nossa sociedade, pouco dizem. Pra falar a verdade, praticamente, nada dizem. Não que elas não tenham lá o seu valor. Longe de mim afirmar algo assim!

A pouca valia se encontra ou naqueles que a utilizam para dizer algo, sem saber o que dizem; ou nos indivíduos que fingem ouvir o que está sendo dito; ou em ambas as partes que se jubilam por estarem imersos em sua própria loucura, sem estar cônscios disso. Demência frutificada duma fingida impostura que, de certo modo, tornou-se a segunda pele destes indivíduos.

São tantas as camadas de fingimento que são superpostas às palavras ditas e escritas que estão a circular que fica realmente difícil saber se realmente há alguém que esteja, de fato, disposto a encarar a verdade. Qualquer verdade.

Se as palavras transpirassem sinceridade, a verdade se apresentaria sem cerimônias. Porém, pobres letras, se vêem mal trajadas com os andrajos do fingimento histriônico e, por isso, acabam por refletir apenas a torpeza e a miséria das sebosas almas que não sabem dispor delas.

2.
A liberdade é uma ânfora. Cara e frágil. Na maioria das vezes as pessoas que usufruem dela desconhecem o seu real valor e quão delicada a mesma é.

E por estarem imbuídos dessa ignorância, voluntária ou não, cinicamente desprezam o seu valor. Pior! Confundem-na com a tirania e, em muitíssimos casos, trocam-na por essa, como se ambas fossem a mesma coisa. Nos piores casos, projeta-se na segunda a imagem das virtudes que apenas são possíveis quando vivemos na esfera de ação que nos é delimitada pela primeira.

Tendo isso em vista, compreende-se porque o brasileiro, dum modo geral, não sabe o que é a liberdade, não dá a menor importância a sua preciosidade e está disposto a trocá-la por qualquer ninharia desde que ele possa sentir-se bem por alguns momentos apenas. Ponto.

Enfim, por essas e outras que a soma de vários umbigos não faz uma nação. Por essas e outras que um amontoado de egoísmos reunidos não tem a dignidade dum solitário indivíduo que faz da liberdade o seu quinhão.

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