Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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APENAS UM PUNHADINHO DE REFLEXÕES


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

TODO IDIOTA QUE SE PREZE almeja tão somente a tal da originalidade. Ver e compreender a vida como ela é não lhe interessa. Nem um pouco.

(ii)
O SILÊNCIO DO AMANHECER da sexta-feira santa, revela, aos nossos ouvidos, toda a futilidade da nossa vida, a superficialidade da nossa personalidade, toda a debilidade e fraqueza do nosso caráter.

(iii)
UM DOS GRANDES PROBLEMAS inerentes a mentalidade politicamente correta é que, seus adeptos, creem, candidamente, que não há nada em suas alminhas, supostamente impolutas, que deva ser redimido por Deus. Nadinha. E isso gera uma terrível distorção na percepção da realidade junto com uma infeliz deformação do caráter.

(iv)
A IGREJA NÃO É CIRCO E a Santa Missa não é um espetáculo para ser permeada por salvas de palmas, piadinhas e causos. Lembremo-nos, sempre, que na Santa Missa estamos diante do sacrifício da cruz, de Nosso Senhor, feito por nós; não é teatrinho, nem jogral, nem show de auditório pra ficarmos batendo palminha e rindo de piadinhas.

(v)
ENSINA-NOS JOHANN SEBASTIAN BACH que: “a meta e propósito da música é a glória de Deus e o refrigério da alma. Se algo não leva isso em consideração, não é verdadeira música, mas apenas gritaria e agitação diabólica.”

(vi)
ANTES DE QUERERMOS EDUCAR alguém é imprescindível que, com a mesma gana, procuremos educar a nós mesmos. Antes de criticarmos algo, ou alguém, é necessário que, com a mesma intensidade, critiquemo-nos; principalmente que coloquemos no crivo da crítica as observações que pretendemos fazer sobre algo ou alguém.

(vii)
TÃO RARO É O SILÊNCIO NA VIDA moderna quando é escasso a disposição - na sociedade contemporânea - para ouvir o que uma pessoa tem a dizer e, mesmo assim, em meio a tanto ruído e desatenção, tem muita gente que acredita poder orar, dialogar com Deus, por meio da inquietação reinante e na total ausência da serenidade que apenas pode ser ofertada pelo calar da voz humana.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.

AMOR PRÓPRIO NÃO É AMOR A DEUS


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

QUANTO, EM 2004, MEL GIBSON lançou o filme “A Paixão de Cristo”, acabou sendo alvo de inúmeros ataques amorosamente raivosos perpetrados por alminhas que não conseguiam admitir o vislumbre duma película que procurasse mostrar a paixão de Nosso Senhor tal qual os santos evangelhos nos relatam. Para o mundo modernoso, com seu bom-mocismo artificioso, isso era e é algo inadmissível.

Após o lançamento, o Papa São João Paulo II e o Cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa Emérito Bento XVI, disseram, respectivamente, “foi assim” e “trocaria todas as minhas homilias e meus escritos sobre a paixão de Nosso Senhor por algumas cenas do filme”. Porém, a mídia lacradora, politicamente corretíssima, viu apenas a sua pequenez orgulhosa ferida e, por isso, indignou-se com a existência do filme ao invés de tentar refletir sobre o sentido escatológico apresentado pelos santos evangelhos retratados na obra cinematográfica.

Aliás, não seria nem preciso dizer, mas o digo, que a indignação, rasa por sua própria natureza, é a própria negação do exercício da inteligência e a afirmação da infantilismo magoado. Dito isso, vamos em frente.

Essa atitude pequena, ainda hoje, muito mais do que naquela não tão distante ocasião, continua fazendo-se presente no coração da sociedade contemporânea que confunde o amor próprio, todo lambuzado num emplasto de autopiedade, comiseração, hedonismo e narcisismo, com o amor que nos foi e nos é ensinado do alto do madeiro da cruz.

Reparem que toda vez que as alminhas embebidas até os gorgomilos nessa mentalidade, quando são lembradas de sua ridícula condição humana – que é a condição de todos nós – mais do que depressa, já saem indignadas e, é claro, acusando todos aqueles que ousam lembrar o óbvio ululante de serem hipócritas e tralalá.

Indagam, inclusive, no mesmo tom, sobre o suposto cristianismo dessas vozes que destoam das suas.

O que – perguntam – Jesus diria a respeito de Fulano e Beltrano se ele estivesse vivo? Pois é. E, perguntam isso, imaginando ser as almas mais cândidas da face da terra sem, obviamente, flagrar-se da ridícula soberba inerente a essa atitude.

Bem, talvez, imagino eu, a resposta mais contundente a esse tipo de indagação maliciosa teria sido dada pelo próprio Mel Gibson que, por ocasião do lançamento de seu filme, em 2004, foi indagado nesse tom pela imprensa chique e lacradora e ele, por sua deixa, respondeu, mais ou menos assim: quem disse que Ele está morto? Ele ressuscitou e está vivo. Ele está vivo e, infelizmente, eu, provavelmente, sou o primeiro na fila dos responsáveis pela sua crucificação.

Somos os primeiros da fila. Todos nós. Ele foi morto por nossa causa. Qualquer pecador miserável, como esse que vos escrevinha, tem a obrigação de saber disso e, dentro de minhas limitações, procuro não me esquecer dessa gritante obviedade.

Porém, quando o assunto vaza para a tangente das alminhas criticamente críticas a conversa se torna bem outra, pois, ao que tudo indica, essas acreditam que Deus reprova apenas aqueles que discordam delas e de seus delírios politicamente corretos, delírios esses que defendem tudo o que é bonzinho perante os olhares midiáticos, relativistas e hedonistas do mundo contemporâneo, tamanho é seu amor próprio; tão grande é a idolatria que reina em torno da pequenez de suas paixões.

Sobre esse ponto, permitam-me chamar a atenção para algumas poucas palavras de C. S. Lewis que, em seu livro OS QUATRO AMORES, nos diz que: “Todo amor humano, em seu apogeu, possui a tendência de reivindicar uma autoridade divina. Sua voz tende a soar como se fosse a vontade do próprio Deus. Ela nos diz para não contar o custo, exige de nós um compromisso total, tenta superar todas as outras reivindicações e insinua que todo ato feito sinceramente ‘por causa do amor’ é portanto legal e meritório”.

Note-se bem o que o pai da Crônicas de Nárnia está a nos dizer. Não são poucos os que confundem a palavra amor com uma simples justificativa para as suas ações.

Quando amamos como Cristo nos ensinou a amar, necessariamente batemos em nosso peito, tal qual o publicano, pedindo perdão por nossas inúmeras culpas e oferecendo nossas dores para Ele. Agora, quando amamos da forma como o mundo nos dita, atiramos todas as nossas culpas e dores nas paletas daqueles que escolhemos para ser o responsável por nossas desventuras pessoais e, fazendo isso, imaginamos ser uma nova versão, atualizada e fashion, do Cristo.

Resumindo o entrevero: prova de blasfêmia maior não há que confundir o sensibilíssimo amor próprio com o amor a Deus e ao irmão.

Doravante, tais observações nos fazem lembrar duma passagem duma das peças de William Shakespeare. Rei Lear, no caso.

As três filhas do Rei – Goneril, Regan e Cordélia – expressam, cada uma a seu modo e de acordo com a magnitude de seus corações, a gratidão que tinham para com seu pai. As duas primeiras encheram a bola do velho, bajulando-o sem a menor cerimônia. Já a terceira, Cordélia, disse-lhe que o respeitava como uma filha deve respeitar seu pai, sem nada pôr, sem nada tirar. 

Aí ferrou tudo. Pobre rei. Estava tão tomado de amor próprio que acabou por condenar e deserdar justamente aquela que realmente o amava e, assim o fez, porque o pobre homem não conseguia compreender que não há amor, nem liberdade, onde não é permitida a majestade da verdade. O rei, em sua loucura, em seu apego a sua autoimagem, foi incapaz de refletir sobre sua humana condição e é nisso que consiste todo o aspecto trágico dessa peça shakespeariana.

Tragédia essa mui semelhante, em termos simbólicos, a passagem dos evangelhos que refere-se ao jovem rico (São Matheus XIX:16-30; são Marcos X:17-31 e São Lucas XVIII:18-30). Passagem a qual todos conhecemos muito bem.

Quando ele, o jovem rico, pergunta ao Cristo, o que deveria fazer para ganhar o reino dos Céus, Nosso Senhor disse: “Venda tudo o que tens e dá aos pobres”. O jovem tinha demais e era apegado demais ao que tinha, mas ele era rico de quê? O que era a sua riqueza?

Vejam só a sutileza do Supremo Pedagogo. Ele poderia mandar o jovem pegar tudo o que tinha e, simplesmente, distribuir aos pobres. Mas não. Ele mandou que o rapaz, primeiro, vendesse tudo, para depois, e somente depois disso, desse tudo aos pobres.

Ora, quando vamos vender qualquer coisa que seja nossa temos de fazer uma avaliação do valor daquilo que possuímos, não é mesmo? Pois é, quando Nosso Senhor sugere que o jovem fizesse isso ele foi obrigado a se autoavaliar, a refletir sobre o seu real valor e, possivelmente, acabou vendo que não valia tanto quanto imaginava valer, de modo similar ao caso do Rei Lear.

Nós, de nossa parte, também somos como as duas personagens, o jovem rico e o rei shakespeariano. Amamos muito aquilo que está em nosso coração, o nosso tesouro (Matheus VI: 21) e, tomados por nossa vaidade, imaginamos que sejam as coisas mais preciosas de todos os mundos, porque nunca paramos para avaliar o seu real valor e, quando somos convidados a fazê-lo, entristecemos ou revoltamo-nos com a possibilidade de termos de contar para nós mesmos a verdade sobre nós. Somos obrigados a encarar de frente a miudeza do nosso amor próprio que tanto idolatramos.

Por fim, penso que a paixão de Nosso Senhor é profundamente didática quanto a isso, pois segue a mesma senda indicada pelos dois exemplos anteriores.

Explico-me e termino: se, ao vermos os sofrimentos do Verbo divino que se fez carne, nos flagramos do tamanho de nossa pequenez é porque, bem provavelmente, estamos aprendendo e crescendo em verdade no nosso peregrinar por esse vale de lágrimas.

Agora, se ao sermos apresentados à paixão, imaginarmos que nossas humanas dores são como as de Jesus e, por isso, cremos que somos uma espécie de “novo cristo das multidões” é porque, bem provavelmente, estaríamos em meio e junto à multidão que escarneceu Dele no caminho ao monte Calvário ou fazendo coro com os críticos, criticamente críticos que, após verem o filme de Mel Gibson, foram e são apenas capazes de enxergar o que, em seu entendimento, seria apenas e tão só um desnecessário espetáculo sadomasoquista.

Provavelmente, tais almas não entendam que o cristianismo, enquanto uma dádiva de Nosso Senhor, existe para nos auxiliar em nossas debilidades espirituais, para nos salvar de nós mesmos, do mundo e do demônio; não entendem e, talvez, não queiram entender, que o cristianismo não é um discurso bem arranjado, agradável aos nossos ouvidos mundanamente sensíveis, para justificar nossas fraquezas demasiadamente humanas que tanto amamos.

Por fim e por isso que o fardo de Nosso Senhor é suave e, o nosso, sem Ele, tão pesado.

Agora chega. Hora do café. Preto e com um cadinho de açúcar.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.

INSENSÍVEL! FASCISTA! TAXIDERMISTA!


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

O ESCRITOR IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO tinha - não sei se ainda tem - o hábito de andar de lotação, sempre acompanhado de uma cadernetinha no bolso, para tomar nota das conversações que ouvia em seus passeios sem rumo ou direção.

Num desses passeios ele ouviu um diálogo entre duas senhoras que era mais ou menos assim:

- Beltrana, qual é o certo: problemas ou “pobremas”?

- Ocê não sabe? Mas você já é tonga mesmo em Fulana! Eu vou te explicar. É bem simples: “pobremas” são aqueles que a gente tem que resolver em casa, no dia a dia, e problemas são aqueles da matemática.

Convenhamos: essa conversação anônima é tão divertida quanto ilustrativa para refletirmos sobre um fenômeno, cada vez mais frequente na vida contemporânea, e fartamente documentado nas redes sociais e fora delas, que é o desdém manifesto pela realidade que as palavras indicam em favor da carga emotiva, imediata e superficial, que elas podem despertar em nós.

Quando isso ocorre, ao invés do indivíduo procurar, zelosamente, reconstituir diante dos seus olhos a realidade que as palavras comunicam, dentro de um determinado contexto, ele acaba por apenas visualizar a projeção de uma gama de sentimentos confusos, epidérmicos e irascíveis que ocupavam algum lugar, sabe Deus onde, no íntimo do sujeito e que, num estalar de dedos, são ativados pela dita cuja duma palavra, esvaziada de seu conteúdo. Palavra que, ao ser ouvida, é rapidamente preenchida por um turbilhão de paixões desordenadas.

Imagino que todos nós já devemos ter passado por isso, da mesma forma que, todos nós, ao sentirmos isso, procuramos desarmar nosso espírito repelindo de nosso íntimo esse tufão descontrolado para recobrarmos a razão e, assim, retornarmos para as coisas mesmas, devolvendo a devida voz às palavras e calando, por hora, nossa impensada, emotiva e superficial reação.

Pelo fato dessa arapuca ser extremamente corriqueira na sociedade midiática atual, que ela acaba sendo utilizada sistematicamente por inúmeros grupos ideologicamente constituídos para nos induzir a tomarmos atitudes que não correspondem, necessariamente, aos nossos anseios e a defender teses, facções e ideias que, em princípio, repugnamos. E faz-se isso tudo sem saber claramente o que se está fazendo.

Isso se deve ao uso indiscriminado dessas palavras-gatilho, que despertam emoções superficiais e silenciam realidades ululantes, levando o indivíduo a reagir feito um autômato que, ao ouvir ou ler certas palavras. De modo similar, não igual, a uma hipnose.

Um bom exemplo disso seja o termo direitos humanos. Isso mesmo. Uma coisa é a realidade que ele, originariamente, evoca. Outra, bem diferente, é o uso tático da referida expressão dentro duma estratégia maior que, em princípio, não seria cabível, mas que, com o tempo, com o agregar de várias camadas emotivas, passa a ser visto como sinônimo disso, devido à repetição contínua, conforme a máxima de Goebbels.

O politicamente correto, dum modo geral, é assim.

Aliás, tomemos o uso da expressão “direitos humanos”, usada como uma palavra-gatilho, associada à questão do aborto. Tal palavra, aborto, é dura e fria, mas pode ser suavizada para distanciar nossos olhos da realidade comunicada por ela.

Ao invés de aborto passa-se a referir-se a essa prática como “antecipação terapêutica do parto”. Ao invés de falar-se em direito ao aborto diz-se “direito de decidir” e, finalmente, em “direitos reprodutivos da mulher”. Um direito fundamental.

Resumindo: alguns podem até se opor a prática do aborto, do assassinato dum inocente sem direito a defesa e destituído de sua humanidade, mas quem iria manifestar-se, sem sentir algum desconforto, contra um direito fundamental? Sutil, não é mesmo? Maquiavelicamente sutil.

De mais a mais, na sociedade atual temos uma gama bem significativa dessas confusões que são geradas pela instrumentalização, maliciosa em muitíssimos casos, da ideia em si dos direitos fundamentais, que passa a ser utilizada para vestir as ideias mais disparatadas possíveis e pensáveis e, quando tais ideias são desnudadas, a resposta é automática: nossa! Você é contra os direitos humanos?! Seu fascista, taxidermista, cronista... bem, aí a criatividade dos insultos deixo a cargo daqueles que desejarem utilizá-los. Não se sinta melindrado em dizê-los contra esse caipira escrevinhante. É um direito que lhe assiste e não serei eu que irei negá-lo.

Parêntese. Fascista, homofóbico e demais expressões do gênero, tão fartamente utilizadas pela galerinha do “ódio do bem”, tem, obviamente, um significado muito claro e historicamente constituído, todavia, da forma leviana como são utilizadas no contexto atual, acabam sendo apenas mais uma palavra-gatilho usada como arma política. Fecha parêntese.

Sem mais delongas e chateações, pois já está praticamente na hora do meu cafezinho, o que torna o uso difuso desses termos, maliciosamente instrumentalizados, uma coisa tragicômica é que as pessoas que vivem com eles entre o amoroso ranger de seus dentes, acreditam, sinceramente, que por o fazerem, são pessoas sumamente criticas (outra palavra-gatilho), o que lhes permite colocar-se acima do bem e do mal e, por isso, sem o menor peso na consciência [crítica] sentem-se mui confortáveis para emitir julgamentos formados na base de dois pesos e duas medidas sem flagrarem-se, por um momento que seja, do absurdo reinante que se faz presente em suas almas.

Vale lembrar que a linguagem, ao seu modo, pode limitar ou dilatar a nossa percepção da realidade. Bem, nesses casos, das palavras-gatilho, acaba-se limitando drasticamente, ao mesmo tempo em que dá a sensação confusa e infusa de estar ampliando criticamente a sua consciência criticamente crítica.

E, por isso, digo, mais uma vez: o “X” da questão não são os direitos humanos ou os assim nominados “direitos dos manos”, mas sim, a percepção que temos da realidade que está subjacente às palavras que, por malícias ideológicas mil, não geram problemas, nem “pobremas”, mas sim, uma confusão dos diabos similar a uma cama de gato infernal que não contribui em nada para salvaguarda dos direitos fundamentais.

Enfim, por essas e outras que, penso eu, devemos, como Nelson Rodrigues, pedir sempre a Deus que nos livre de ser uma pessoa inteligente, criticamente inteligente. Deus nos livre e guarde desse trem medonho.

Agora chega! Tá na hora do meu café.

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Obs.: para melhor compreender os fundamentos das tonguices que povoam minha cumbuca, e que se fizeram refletir em nessas turvas linhas, sugiro as seguintes leituras: A CORRUPÇÃO DA INTELIGÊNCIA, de Flávio Gordon; DIREITO, LEGISLAÇÃO E LIBERDADE [três volumes] de F. Hayek; A VERDADEIRA FACE DO DIREITO ALTERNATIVO, de Gilberto Carvalho de Oliveira; MENTIRAM (E MUITO) PARA MIM, de Flávio Quintela; A MENTE ESQUERDISTA - AS CAUSAS PSICOLÓGICAS DA LOUCURA POLÍTICA, de Lyle Rossiter; INTELECTUAIS E SOCIEDADE, de Thomas Sowell; CONFLITOS DE VISÕES do mesmo autor; BANDIDOLATRIA E DEMOCÍDIO, de Diego Pessi e Leonardo Giardin de Souza; A NOVA ERA E A REVOLUÇÃO CULTURAL, de Olavo de Carvalho; PONEROLOGIA, de Andrew Lobaczewski; PODER GLOBAL E RELIGIÃO UNIVERSAL, do Monsenhor Claudio Sanahuja. Bem, de início e por hora é isso. Divirtam-se.

(*) Apenas um caipira bebedor de café. 

DIREITOS HUMANOS VS. DIREITOS DOS MANOS


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)


SOU UM CARA MUITO SOSSEGADO. Sou mesmo. Na verdade sou cínico pra caramba. Isso mesmo. Um petulante bem desavergonhado.

Poucas coisas me tiram do sério. Praticamente ignoro tudo que considero irrelevante e, só pra constar, sou condescendente com pouquíssimas coisas nessa vida.

Dentre as coisas que me causam asco e, por isso, me tiram do sério, está a imagem das pessoas supostamente descentes que usam politicamente a morte de alguém e, por participarem duma patifaria dessa monta, julgam-se ou, ao menos, imaginam-se acima do bem e do mal.

Bem, pra falar a verdade, sim, esse tipo de gente me causa asco, mas não as levo a sério não. Gente que age assim, desse modo vil, não merece um segundo da seriedade dum sem vergonha como eu. Não mesmo.

(ii)

TODO AQUELE QUE FAZ CARREIRA defendendo criminosos como se esses fossem vítimas inermes da sociedade, do Estado e do caramba à quatro, deve lembrar-se do dito popular que, sabiamente, adverte-nos que, muitas vezes, nós acabamos por criar a cobra que, um dia, irá nos morder e, cedo ou tarde, morderá.

(iii)

QUER, REALMENTE, DIMINUIR A CRIMINALIDADE em nosso triste país? Então, ao invés de encarcerar uma vítima da sociedade, acolha-a e entregue em suas mãos um exemplar do livro "Pedagogia do oprimido" do famigerado Paulo Freire. Isso mesmo! Ao ler esse troço medonho ele, o meliante, irá desenvolver a sua criticidade a tal ponto que, num ato mágico, digo, num ato de tomada de consciência, deixará de ser a vítima da sociedade que ele nunca foi para se tornar a vítima que os intelectuais canhotos e tortos dizem que ele supostamente é.

(iv)

UMA COISA SÃO OS DIREITOS HUMANOS enquanto um patamar civilizacional conquistado através dos séculos; outra, bem diferente, é a instrumentalização da ideia de direitos humanos (nesse caso, direito dos manos, se preferirem) transformando-a, em alguns casos, em uma arma retórica para atacar inimigos políticos/ideológicos e, noutras situações, usando-a como um cavalo de Troia para destruir, de dentro para fora, os alicerces civilizacionais da sociedade Cristã ocidental.

Reparem - aliás, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso já reparou - que toda vez que os direitos humanos são usados como uma espécie de borduna para desqualificar as forças policiais; ou como um tipo de tacape para desumanizar adversários políticos, que são rotulados de modo infame e injusto; ou como um escudo ideológico para dar guarida a criminosos violentos, cruéis e impiedosos, tratando-os como se fossem uma espécie de vítima inerme da sociedade afirmando, entre outras coisas, que eles fizeram o que fizeram, e que fazem o que fazem, porque supostamente não tiveram escolha nem oportunidade; ou para defender ditadores sanguinários e diabólicos, fazendo uso dos mais variados subterfúgios retóricos para dizer que eles são, como dizem, símbolos de resistência ao tal do imperialismo; enfim, nesses casos, e em todos os outros que sejam similares, o que está em pauta não é a validade dos Direitos Humanos. Não. Não. E, mais uma vez, não.

O que está em xeque nesses casos todos é a legitimidade da instrumentalização vil dos direitos humanos que é feita pelos mais variados matizes políticos, advindos do marxismo cultural, que subvertem o sentido originário dos direitos fundamentais para melhor defender uma agenda ideológica totalitária que avilta sorrateiramente tudo e todos; não, obviamente, para proteger e resguardar a integridade daqueles valores que nos caracteriza como humanos.

Resumindo o entrevero: não sermos capazes de perceber a diferença substancial que há entre os Direitos Humanos e os tais direitos dos manos é uma deformidade cognitiva fruto de uma grande desatenção para o cerne da questão ou apenas um pútrido fruto da mais pura malícia ideológica engajada.

Por fim, creio eu que não há meio termo para essa questão não. Não mesmo.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.

TODOS OS CAMINHOS LEVAM PARA ALGUM LUGAR





Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

Na sociedade atual temos presente um verdadeiro rebanho de vacas sagradas. Intocáveis. Coisinhas que são tidas como se fossem bens apolíneos, cuja preciosidade supostamente seria auto evidente aos olhos de qualquer um.

Uma dessas vacas sacras, que integra esse modernoso rebanho, é a ideia de diversidade. Isso mesmo. A própria.

Ao chamar atenção para esse trem não estou, como alguns podem concluir de imediato e sem pestanejar, que advogo em favor duma atitude arbitrária com relação às culturas que se apresentam de modo diametralmente diferentes da nossa (como se o que, hoje, chamamos de nossa cultura valesse alguma coisa).

Na verdade, por combater a, como direi, ideologia da diversidade cultural, pessoalmente defendo uma atitude razoável frente à multiplicidade de manifestações culturais.

Explico-me. O critério que fundamenta toda essa onda, empolgante, de multiculturalismo que toma conta do sistema educacional, da grande mídia e tutti quanti, é um relativismo cultural rasteiro que trata tudo o que o ser humano faz e fez como sendo coisas do mesmo valor, importância e conteúdo.

Digo isso porque o relativismo, enquanto ferramenta para análise, de fato, é muitíssimo útil, porém, a conversa torna-se bem outra quando se adota isso como um instrumento para normatizar o valor que será atribuído para os bens cultuais que irão integrar o panorama de (de)formação de toda uma geração.

Quando o valor dos bens culturais é relativizado de modo absoluto acabamos, de cara, tendo os seguintes complicadores:

Primeiramente, por um vício cronocêntrico, acaba sendo dando uma ênfase maior aos bens culturais produzidos mais recentemente em detrimento dos mais antigos que, de cara, nos dá um cenário falseado onde se tem uma baita perda de profundidade.

Em segundo lugar, quando o valor de tudo passa a ser nivelado, perde-se de vista a possibilidade de se construir qualquer critério objetivo de avaliação da realidade e reduz-se a importância de tudo ao gosto subjetivo dos indivíduos ou aos padrões indicados de modo arbitrário por um ou outro grupinho tão engajado quanto barulhento.

Com a supressão da construção de critérios objetivos para avaliar o valor das produções culturais, o que temos não é a edificação dum reino de liberdade plena e total. Muito pelo contrário. Quando perdemos de vista a importância duma tradição (aliás, toda cultura é isso) e não mais procuramos o bom senso e a objetividade mínima para a formulação de nossos juízos, o que acabamos por construir, sem nos darmos conta, é o império da arbitrariedade de determinados padrões culturais que contam com o rumoroso apoio de grupos instrumentalizados, com o financiamento de grandes potentados e, obviamente, com as bênçãos das potestades estatais e da intelectualidade criticamente crítica.

Quando isso ocorre, a cultura, enquanto segunda pele do ser humano, acaba sendo reduzida a uma reles mercadoria que deve ser trocada conforme o modismo ditado pelos detentores dos meios de difusão de informações e, na ausência dum fundo universal e milenar de tradições culturais em que os indivíduos possam alimentar a sua alma - e, assim, contar com instrumentos para defender-se dessas arbitrariedades do momento - termina-se reduzindo todos os indivíduos, ao menos uma boa parte desses, a condição de autômatos que, por consumirem vanguardas e modismos, chancelados pela mídia e pelo sistema educacional, imaginam que são livres, emancipados e, é claro, críticos, quando, na verdade, encontram-se reduzidos a mais abjeta escravidão mental.

Enfim, todos os caminhos podem nos levar pra algum lugar quando sabemos para onde devemos ir. Agora, quando tudo passa a ser ditado pelo relativismo cultural, passamos a seguir o rumo do “tanto faz” e, em casos como esse todo e qualquer caminho acabará invariavelmente nos levando a lugar nenhum.

Chega. Findamos por aqui para degustar mais uma boa xícara de café. Recomendamos o mesmo pro cê.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.

[podcast] QUE CULTURA É ESSA?

O CONVERSA QUIXOTESCA é um podcast ocasional de Dartagnan da Silva Zanela, sem a menor periodicidade, publicado sem edição alguma em nosso blog onde apresentamos, sem nenhuma pretensão e de maneira sucinta, nosso ponto de vista caipira sobre os mais variados assuntos.


 

NOTAS SOBRE A TAL “CURTURA” ENCURTADA



Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

SE CONHECEMOS MAIS PERSONAGENS de programas televisivos e celebridades midiáticas que autores da grande literatura universal, e suas respectivas obras, queiramos ou não admitir, temos diante de nós um problema do cacete que compromete de maneira significativa a integridade de nossa inteligência, a profundidade de nossa imaginação e, é claro, a solidez da nossa personalidade.

(ii)

NA SOCIEDADE ATUAL É mais ou menos assim: chama-se de entretenimento bocó aquilo que não cai nas graças da estreiteza do nosso gosto estragado e considera-se cultura o entretenimento bocó que gostamos pacas. É ou não é assim?

Nesse quadro, ao que parece, não cogita-se, nem de longe, a possibilidade de a tal da cultura existir para nos auxiliar a tornarmo-nos pessoas mais dignas, prestativas e boas. É o que parece.

E, ao que tudo indica, a única perspectiva que paira no horizonte cultural contemporâneo é a precisão de termos a mão uma grande fartura de atividades e bugigangas sem sentido que ocupem plenamente nossas horas vazias para, desse modo, continuarmos vivendo uma vidinha oca esvaziada de sentido, sem propósito e inconsequente.

Por fim, não basta dizermos que não é assim que a banda toca. Bater o pezinho não resolve. É impreterível que procuremos outras bandas que toquem algo que, de fato, destoe dessa pasmaceira hedonista e materialista que reina entre nós e em nós.

É isso. Só isso. Ponto.

(iii)

O REINO DE DEUS NÃO CONSISTE na realização de uma ideologia político zarolha, nem na implantação dum governo supostamente ético que se declara o único capaz de emancipar os frascos e comprimidos.

Aliás, esse tipo de esperança, confusa e mundana, está fadada a terminar, cedo ou tarde, num mar de lama fétida e ignóbil. 

Bem, o nosso amado Brasil aí está para não nos deixar mentindo sozinho, não é mesmo?

Por isso, não esqueçamos, se possível for e se assim o desejar, que o reino do Senhor não é um reino de poder, nem de fartura, muito menos um reino de probidade ética aqui nesse mundo porque aqui, nesse mundo, o que temos é um vale de lágrimas, não um mar de rosas, nem a construção dum mundo melhor possível.

O reino de Deus é o reino da Verdade o qual começa, necessariamente, em nosso coração, quando decidimos aceitar a palavra Daquele que é o Caminho, a Verdade e a vida. Começa aqui, em nosso peito, e realiza-se na eternidade através dos ecos de nossos atos e palavras, ditos e feitos que foram deixados aqui nesse mundo. Ponto.

Tudo o mais que procure tergiversar disso não é de Deus e, não precisamos ser muito espertos, safos ou sábios pra saber donde essas tranqueiras vem, não é mesmo?

(iv)

UMA COISA QUE, AO MEU VER, parece simples, mas que é insanamente desdenhada no sistema educacional brasileiro, e bem como por grandessíssima parte da sociedade, é o problema da tal da cultura que é tratada fundamentalmente por um viés relativista e que, por isso, acaba mutilando o seu poder pedagógico.

Sim, tudo o que o ser humano faz é cultura e representa o modo de ser e a maneira de viver de um povo e/ou de uma época; porém, a ênfase que é dada para certos modos de ser não é, nem de longe, algo que seja edificante para os indivíduos, como a valorização de determinadas maneiras de viver não auxilia, em nada, as pessoas a tornarem-se mais dignas, prestativas e boas.

Ignorar esse tipo de perversão, fazer pouco caso dos seus efeitos danosos na formação dos indivíduos, e, ainda por cima, querer discutir os rumos da educação em nosso país é praticamente o mesmo que ficar fazendo buracos na água. Aliás, uma água suja pra cacete.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.

[podcast] LULA E AS ESQUERDAS SEM NORTE

O CONVERSA QUIXOTESCA é um podcast ocasional, sem a menor periodicidade, publicado sem edição alguma em nosso blog onde apresentamos, sem nenhuma pretensão e de maneira sucinta, nosso ponto de vista caipira sobre os mais variados assuntos.

 

ENTRE CRENÇAS E CRENDICES FURADAS


Por Dartagnan da Silva Zanela

Todos têm lá suas convicções. Todos. Nem que seja a convicção de que nesse fim de semana iremos tomar todas e mais algumas.

Enfim, todos temos princípios, ou algo próximo disso, que nos orientam em nossos passos e, pelo gracejo feito sem muito jeito no início dessa missiva, fica mais que evidente que o “X” da questão não é se somos convictos de algo, mas sim, sabermos se somos nós que possuímos esse troço ou se é ele que nos possui.

As crenças e crendices acabam, dum modo geral, gostemos ou não, dando forma ao nosso caráter. Crendices e crenças essas que habitam o nosso imaginário que, por sua deixa, são absorvidas de modo irrefletido por cada um de nós através da programação televisiva, por meio de filmes, seriados, através do sistema educacional, pela leitura de obras literárias, resumindo o entrevero, elas chegam até nós por meio de tudo aquilo que, de uma maneira ou de outra, dialoga com o nosso mundo interior, com nosso mundo simbólico, seja na idade pueril ou na maturidade.

Bem, até aí, não há problema algum, pois é assim mesmo que a banda toca. Desde tenra idade vamos naturalmente absorvendo uma gama sem fim de valores, ideias, conceitos e modelos de conduta e, de modo indireto, essas coisinhas passam a integrar o nosso patrimônio íntimo, nos auxiliando na tomada de decisões, em nossas escolhas, sejam elas de grande ou pequeno vulto.

O que, ao que me parece, torna-se mui esquisito é o fato de muitos de nós nunca se propor a examinar, serena e seriamente, essas coisas que ocupam o nosso universo interior, coisas essas que foram semeadas em nossa alma sem nosso consentimento e que, mesmo assim, acabamos por chama-las de nossas ideias, nossos valores e, é claro, nossas convicções e opiniões.

Com essa observação não estou querendo dizer que devemos fazer aquela chatice de realizar uma reflexão crítica de nossas ideias críticas para ficarmos mais críticos ainda. Não! Deus me livre e guarde duma coisa dessas!

Aliás, abramos um breve parêntese: quando utilizamos sem a menor cerimônia a palavra crítico para qualificar tudo o que fazemos e, principalmente, para justificar tudo o que deixamos de fazer, estamos caindo no mais vil auto-engano que pode existir. E, assim o é, porque a partir do momento que afirmamos que somos críticos e que tudo o que iremos fazer também o é, o que estamos querendo dizer, no fundo, é que nós estamos acima do bem e do mal, de qualquer julgamento, que não somos tongos como os demais mortais alienados que estão a peregrinar por esse vale de lágrimas. Enfim, quando nos declararmos críticos, imaginamos ser pessoinhas especiais, mui especiais, ao mesmo tempo em que nos fechamos, de modo similar ao Smeagol, na mais abjeta alienação. Fecha parêntese.

Voltemos então para a encrenca. A questão não é sabermos, num primeiro momento, se os valores e ideias que dizemos serem nossos, são bons ou ruins. Esse já seria outro estágio. O que sugerimos é que procuremos saber se isso que dizemos ser tão nosso, de fato, o é.

Para tanto, indicamos um exercício bem simples, mas que, como tudo o que é simples, para ser eficaz, deve ser feito com uma profunda sinceridade.

É assim: primeiro pense em alguma ideia ou valor que você considera ser seu, todo seu, somente seu. Sei lá, pense naquilo que você pensa a respeito do aborto, ideologia de gênero, comunismo, neoliberalismo, Lula, Bolsonaro, ou qualquer outra coisa desse naipe.

Pensou? Muito bem. Bom garoto. Agora se pergunte o seguinte: (i) esse trambolho que dizemos ser nosso, todinho nosso, quando o adquirimos? (ii) Através do que, ou de quem, nós tivemos acesso a essa ideia ou opinião? (iii) Como, de que maneira esse trem chegou até nossos miolos?

Pois é meu caro Barnabé! Quando mais complexa e ramificada for a resposta, quanto maior for o número de referências que apresentarmos a nós mesmos para indicar donde veio isso que chamamos de nosso, mais, de fato, isso nos pertence porque nós realmente sabemos o que é, de onde veio e como chegou até nós. Simples assim.

Agora, repito, agora, quanto mais superficial for a nossa resposta a essas simplórias perguntinhas, menos isso nos pertence, mesmo que insistamos, batendo o pezinho, dizendo o contrário, pelo simples fato de que não sabemos claramente do que estamos falando, nem de onde isso veio e como isso acabou chegando até nossa moringa.

Sim, eu sei que iremos dizer que pensamos essa ou aquela coisa “genial” com nossa própria cumbuca e por conta própria, mas, o que é incrível nessas mentes demiúrgicas e autossuficientes é que esse trem supostamente pensado em primeira mão por elas é, em regra, igualzinho a tudo o que é dito e pensado por todo mundo e, inclusive, que é repetido e martelado sem parar pela famigerada grande mídia.

Pois é, pois é, pois é. Eis aí toda a vacuidade daquilo que chamam aqui e acolá de criticidade. Apenas um conjunto de palavras vazias, de crenças e crendices furibundas, bravejadas por almas ocas imersas em multidões que imaginam que sua frivolidade seja alguma espécie de distinção ética ou algo próximo disso.

Fim. Hora do café.

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UM JOVEM ENTRE DOIS LIVROS



Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

Uma vez ou outra, um e outro jovem - às vezes nem tão jovem assim - acaba vindo até mim para, acreditem, pedir alguma espécie de orientação existencial pra esse caipira desorientado. Tadinhos deles. Tadinhos mesmo. Eles, definitivamente, não sabem o que fazem.

Mas, fazer o que, não é mesmo? Já que o pedido é feito, com o reluzir do desespero em torno das meninas dos zóios, creio que devemos procurar, dentro de nossas limitações, socorrer e acolher quem procura um candeeiro para alumiar o seu peregrinar por esse mundão de Deus.

Quando esses jovens me procuram, eles sempre pedem a indicação de um livro que os auxilie a matutar e, consequentemente, compreender melhor os seus dilemas. Uns são bem cabeludos. Outros, nem tanto. Mas todos, sem exceção, dilemas dignos de atenção.

Em regra, chegam sempre meio acanhados, de mansinho, sem saber por onde começar. Ouço-os atentamente e, após eles tentarem falar sobre o que estão procurando, pergunto, na lata e sem piscar: você está com uma crise de fé? E, melancolicamente, eles sempre respondem: “Sim. É isso mesmo professor”.

Após isso, em muitos casos, acaba emergindo no rosto deles certa confiança que os leva a desabafar e a fazer uma penca de perguntas. Algumas, de fato, muito boas. Outras tantas acabam sendo apenas o reflexo duma profunda desorientação gerada pelo cenário contemporâneo. Cenário esse tomado por um rasteiro hedonismo em misto com um materialismo vulgar que, de maneira indesejável, acaba enchendo a cabeça de qualquer um com um monte de minhocas.

Tal cenário, ao seu modo, é fomentado pelas instituições de ensino com sua criticidade oca, pela grande mídia com sua vulgaridade progressista e por aqueles que se apresentam como autoridades espirituais, ou como algo similar a isso, com suas lições de moral esvaziadas de sentido e profundidade.

Bem, mas essas pontas soltas ficam para outra ocasião, quem sabe para outra escrevinhação. O que vem ao caso, nesses turvos traços, é o pedido, quase desesperado, por uma leitura que nos ajude a sair da cova da desesperança modernosa. Um livro que, de fato, seja capaz de nos falar algo ao coração. Algo que valha. Livros esses que, sem grandes pretensões, aqui partilho se, por ventura, estamos também tomados, em algum nível, pela corrosão advinda das dúvidas existenciais geradas por uma possível crise de fé, de modo similar à vivida pelos jovens que algumas vezes me procuram.

O primeiro, que sempre recomendo, é da pena de C. S. Lewis. “CRISTIANISMO PURO E SIMPLES” é o nome da obra. Nesta encontramos uma série de conferências radiofônicas que foram proferidas pelo autor na rádio BBC de Londres durante a Segunda Guerra Mundial. Conferências cujas palavras nos guiam, serenamente, das sobras do vazio até a luz que nos é apresentada por Cristo, o Verbo divino encarnado.

Lembro-me até hoje que, um desses jovens, tempos depois, voltou até mim dizendo que gostou muito do livro, que a leitura o ajudou pra caramba e que, segundo ele: “o que foi mais legal professor é que a gente realmente entende o que o autor está dizendo”.

Batata! É isso mesmo.

O segundo é um psicólogo judeu. Victor Emil Frankl é seu nome. Homem esse que amargou alguns anos no campo de concentração de Auschwitz e, da experiência extrema que ele viveu, brotou, do seu tinteiro, uma extensa obra, mas nada foi tão profundo e sincero quanto o livro “EM BUSCA DE SENTIDO”.

Nesse, o referido autor, nos lembra o óbvio ululante. De que um homem que não tem um “por que viver” acaba não suportando nenhum “como se vive”.

Sobre esse livro, certa feita, uma jovem, que estava lendo-o, confidenciou-me: “Nossa! Esse livro faz a gente ver a vida com outros olhos”.

De fato, é bem desse jeito.

Enfim, poderíamos aqui tecer um punhadinho de comentários sobre essas duas obras e a respeito da vida dos dois autores, mas, penso eu, creio que não seria apropriado nesse momento.

Também poderia colocar junto com esses dois títulos mais um punhado de obras, porém, fazer isso, me pareceria algo inapropriado. Além de contraproducente seria apenas uma forma vil de me ametidar. E não é essa a intenção.

O propósito é ajudar quem deseja ser ajudado. Mostrar uma, duas lamparinas para quem procura um pouco de luz para encontrar o seu rumo num bom prumo. Só isso. Ponto.

Ah! E não se esqueça: toda leitura fica muito melhor e mais profícua quando acompanhada dum lápis, dum bloco de notas e duma boa xícara de café.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.