Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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NÃO ME VENHA COM FIRULA – parte II

Escrevinhação n.º 757, redigida em 05 de maio de 2009, dia de Santo Ângelo, quarta semana da Páscoa.

Por Dartagnan da Silva Zanela

"A hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude."(François de La Rochefoucauld)
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É impressionante como a palavra “dever” assusta muitas pessoas. Basta que a mesma seja enunciada, mesmo que de maneira tímida, que mais do que depressa aparece uma voz dizendo que isso é um absurdo, é autoritário, é o fim do mundo, que é isso ou aquilo. Porém, o que acaba sendo esquecido nessas ocasiões é justamente que o cumprimento de um dever é sinônimo de responsabilidade que, por sua deixa, é um pré-requisito para um indivíduo se reconhecer como uma pessoa madura e, ser maduro é um elemento essencial para podermos viver de maneira livre.

Ensinar isso é à base da formação de uma pessoa que venha a se tornar digna, prestativa e boa, como diria Goethe. Uma pessoa que não é capaz de assumir deveres para consigo mesma tornando-se responsável por sua vida jamais poderá ser uma pessoa capaz de viver em sociedade de uma maneira humanamente apropriada, pois, em regra, a vida em sociedade exige de nós, seres humanos, uma cota de deveres que devem ser assumidos com responsabilidade.

É dever de um pai e de uma mãe zelar pela integridade de seu filho e primar pela sua formação enquanto pessoa, do mesmo modo que é dever de um filho honrar os seus pais cumprindo com os deveres que lhe são auferidos que vão desde a realização das tarefas domésticas mais simples até, e principalmente, ao bom desempenho escolar.

Aliás, se fôssemos sintetizar os deveres humanos, nós poderíamos resumi-los em apenas dois: resignação à vontade do Criador e caridade para com os nossos semelhantes, como nos ensina Alexandre Pope. Orientando o segundo de acordo com os parâmetros do primeiro e meditando sobre o primeiro a luz dos frutos das ações advindas do cumprimento do segundo.

Dito isso, sejamos francos e sem muita frescura intelectual, sem aquela encheção de lingüiça: toda pessoa que realmente vive a plenitude dos ensinamentos religiosos é uma pessoa que necessariamente prefere servir o próximo a ser servida. Toda pessoa que realmente compreende o que significa moldar sua vida a partir dos ensinamentos religiosos é uma pessoa que sente alegria frente à plena realização de seu dever.

Todavia, o que temos em nossa sociedade nos dias hodiernos? Primeiro que o dever estrito de cumprir a vontade Daquele que É foi praticamente abolido do vocabulário politicamente-correto haja vista que a mera lembrança de um elemento tão simples que é uma parte fundamental da estrutura da realidade pode ofender as pessoas que acreditam que sua fantasia intelectual é mais importante que a própria realidade e, por isso, para não ofendê-las em sua ignorância fingida devemos, enquanto pessoas, insultar a Deus e excluir esse ensinamento de nosso vocábulo pedagógico.

Bem, a conseqüência mais evidente que há nesta impostura é que se não mais é ensinado que a Vontade do Criador é superior a vontade de todas as criaturas somadas, as criaturas passam a imaginar que a sua vontade é superior a dos demais por ele passar a crer que possui uma compreensão mais clara da vida e do mundo, mesmo que essa sua “compreensão” não passe da imagem disforme de sua incompreensão geral de tudo e de sua incapacidade de não assumir e realizar os deveres mais elementares para consigo mesmo.

Ensinar uma pessoa a agir assim, negando a possibilidade de transcender de seu estado infantil para a vida adulta e condená-la a um ciclo vicioso de uma perene, ou no mínimo prolongada, adolescência onde tudo que acontece com o indivíduo é culpa de todos, menos dele. Onde o fato dele não ser tudo aquilo que gostaria de ser não se explica porque ele não foi capaz ou porque não se esforçou o quanto necessitava, mas sim, porque ninguém o ajudou da maneira como desejava que o ajudassem. Pior! Apenas o prejudicaram. Dá pra perceber o quanto isso é malicioso? Dá para notar que chamar isso de educação é algo diabólico?

Ora, quando você não está apresentando parâmetros objetivos a uma criança para que ela compreenda que todo ato humano gera frutos proporcionais a realização deste ato, está-se ensinando isso. Quando você trata Aquele que É como apenas um elemento ficcional, quando se afirma que a coisa mais digna que um ser humano deve fazer é reivindicar o que ele acha que seja bom pra ele e não cumpri com os seus deveres para consigo e para com o próximo, está ensinando isso mesmo meu caro.

Bem, se estou equivocado em minhas considerações, então me diga quais são os seus deveres como pessoa humana e quais deles você cumpre? Quais? Que chato não é. Lembremos que todo dever humano, ao contrário dos gritos e choramingos dos direitos, não é apreendido através de palavras vazias de significados, mas apenas através de gestos e atos que signifiquem aquilo que é essencialmente humano e pleno de vida, mesmo sem palavras. Não basta falarmos do que é digno de um ser humano. É fundamental que sejamos realmente aquilo que falamos para não sermos apenas mais um hipócrita entre tantos.

E tenho dito.

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