Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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UMA QUESTÃO SORUMBÁTICA


Escrevinhação n. 944, redigido em 30 de abril de 2012,
dia de São José Benedito Cotolengo e de São Pio V.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Existem certos insultos que perderam o seu poder. Falar que a mãe está vendendo cerveja a deizão e demais dizeres deste calão não mais afetam, de fato, a brasílica alma. Aliás, quando afetam, pode ter certeza que é pura afetação. Teatrinho barato para impressionar os olhares circundantes para posar de bom-moço ofendidinho.

Todavia, se você quer mesmo ver um brasileiro sinceramente irritado, de preferência os portadores daquele troço chamado diploma, mande-o ler, digo, sugira a leitura de um livro, principalmente se ele está opinando sobre um assunto que ele nunca estudou, mas insiste em palestrar sobre. Dependendo do elemento, este é capaz de entregar-se às lágrimas, porque ler, neste país, de um modo geral, não é um ato integrante da vida humana, não mesmo. É um fardo similar ao de Sísifo.

Aqui, ler é uma esquisitice de gente que, como se diz, quer se aparecer. Não passa pela cabeça dos bem (de)formados, e devidamente diplomados, que mais importante que opinar vagamente sobre todo e qualquer assunto, é conhecer. Para tanto, antes de qualquer coisa, é de fundamental importância calar, silenciar nosso íntimo e ouvir através de nossas vistas o que os livros têm a nos dizer. Entretanto, quem realmente quer aprender? Quem? Não responda.

Agora, se perguntarmos quantos querem apresentar as suas “opiniões” sobre isso ou aquilo, a lista não acaba mais. Somos carentes, ridiculamente mimados, com a alma minguada de substância humana. Somos cópias caricaturais dos personagens da obra “Recordações do escrivão Isaías Caminha” de Lima Barreto. Todos ocos, fingidos e dissimulados, a ostentar uma imagem tão risível quanto nossa real condição.

Por essas e outras que os insultos tradicionais perderam a sua eficácia. A baixeza dificilmente ofende-se com o que se assemelha a ela. Todavia, não há dúvida alguma de que o vulgo há de ofender-se com a virtude e tudo mais que simbolize a grandeza. Por isso, para acabar com uma conversa, basta sugerir ao seu interlocutor a leitura de um livro (ou mais) sobre o assunto em discussão que ele, provavelmente, irá baixar os olhos e entregar os betes.

No entanto, para tal, é imprescindível que tenhamos lido alguns livros. Aliás, é de basilar importância que cultivemos a arte de ler da mesma forma que cultivamos todas as outras futilidades que preenchem os nossos dias. Bem, é justamente aí que a porca torce o rabo. Quem, realmente, nesta terra de tchutchucas e mensalões, quer viver uma vida que seja mais que o simulacro, que a fantasia ególatra onde, civicamente, celebramos o nosso fracasso existencial que tanto subiu à nossa cabeça e inflamou nossa alma? Eis aí uma questão sorumbaticamente deixada em aberto.

Pax et bonum
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