Escrevinhação n. 1089, redigida em 24 de janeiro de 2014, dia de São Francisco de Sales.
Por Dartagnan da Silva Zanela
Não é conto de fadas! Mesmo assim, iniciemos o causo nestes termos: era uma vez um rapazinho todo intoxicado com aquela velha patacoada comuna, dissimulada em trocentos tons de cinza relativista. Politicamente-corretíssimo! O orgulho mimoso de seus mentores.
Esse espécime caricato tinha um desafeto inconfesso. Era um velho. Funcionário público aposentado, carola, de vida rotineira, caridoso do seu modo, gostava de jogar dominó e doutras estripulias.
Andava meio arquejado pelas ruas, devido o peso dos anos. Muitas das vezes era visto dedilhando o seu rosário, outras tantas, tomando umas pinguinhas e jogando conversa fiada no bar do Sucuri.
Ele detestava o velhote! Não porque o infeliz tivesse feito algum mal para ele. Não é disso que se trata! É porque o senhor representava tudo o que havia de mais reacionário no mundo, conforme seus doutos ídolos de barro haviam lhe ensinado na escola cidadã que freqüentava.
Ele via o semblante enrugado e logo vinha à sua mente todos os ensinamentos iluminados dos seus professores.
Seu sonho era poder esculachar com ele. Isso mesmo! Esculachar! Em público, de preferência! Mas não havia, até então, encontrado a ocasião apropriada para tão elevada empreitada ética.
O tempo passou, o desejo ficou, e eis que o dia chegou! Lá estava o homem do rosário, e das pingas, sentado num banco da praça do bairro.
O garoto decidiu-se! Firmou o passo rumo a ele e foi. Cumprimentou-o com os modos dum íncubo e disse-lhe, decoradinho, o cacoete que havia aprendido: “o que me espanta, meu senhor, é o tamanho da tua hipocrisia! Como pode um homem tão devasso, tão mau, rezar tanto e imaginar-se bom. Como pode?”
O senhor, na sua simplicidade, mirou as tíbias vistas do rapaz e disse-lhe: “eu também não sei meu jovem. Eu também não sei. Mas peço a Deus que me ajude a deixar de ser um homem tão mau. Sozinho sei que não sou capaz. Mas que Ele me livre de ser uma pessoa tão boa e justa como você.
“O que o senhor quer dizer com isso?”, Retrucou o rapagão de maneira tão assustada quanto ríspida.
“Nada que você já não saiba, mas recusa-se a reconhecer”.
De imediato, o rapaz calou-se. Não sabia o que dizer. Sentou-se ao lado do velhote que lhe ofereceu um trago após ter-lhe apontado o caminho para tão obvia verdade.
Pax et bonum
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