Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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QUE SIGA O CORTEJO

Redigida no dia 12 de agosto de 2014, dia de Santa Joana Francisca de Chantal, do Beato Amadeu da Silva e de Santa Beatriz. Décima nona semana do Tempo Comum.

Por Dartagnan da Silva Zanela

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Quando era mais moço, havia lido com muito gosto o livro “Sociedade sem Escolas” de Ivan Ilich. Com o tempo, outros livros de sua lavra acabaram caindo em minhas mãos para o deleite de meus olhos, porém, considero a obra apontada uma leitura fundamental para todo aquele que realmente se preocupa com a educação, com a formação das gerações mais tenras, de nós mesmos, e não apenas com questões de ordem corporativa ou, como ocorre em muitos casos, porque pega bem, hoje em dia, falar da importância da educação.

Se nós consideramos a educação uma prioridade, imagino que seja de bom tom que nos indaguemos sobre o estado em que se encontra a nossa. Se proclamamos aos quatro ventos que é de fundamental importância o cultivo duma boa formação humanística creio que seja mais do que apropriado nos perguntarmos a quantas anda a nossa formação, ou deformação.

De fato, não temos como negar que sempre quando somos indagados sobre esse quesito, invariavelmente, lembramos o quanto que o povo, sempre o povo, brasileiro é inculto, o quanto que ele encontra-se aferrado em produções culturais de duvidoso valor. Pois bem, mas e nós, quais bens cultivamos em nossa alma? Sejamos francos: acusa-se o povo brasileiro de ser destituído de cultura para melhor justificarmos não apenas a nossa carência desse bem, mas também, e principalmente, o nosso desdém e desamor por tudo que seja mais elevado que nosso deseducado gosto.

É claro que a indústria cultural tem lá sua cota de responsabilidade, ninguém nega isso. Entretanto, ninguém é obrigado a ouvir, assistir ou ler algo que seja vulgar. Se o fazemos em nosso tempo livre e nos agradamos com isso, é porque a vulgaridade apreciada nesses momentos diz muito mais a nosso respeito do que podemos suspeitar, ou que nos recusemos a admitir.

De mais a mais, muitas dessas almas fragmentadas, partidas em muitíssimos cacos, estão tão destruídas, desumanizadas, que, para elas, a possibilidade de saírem desse lodo existencial e aprenderem que há uma diferença substancial entre um bem cultural e um reles entretenimento massificado é, no mínimo, mórbida.

Definitivamente, podemos pouco contra essa onda que assola nossa época. Não dispomos de meios para reverter esse quadro degradante. Todavia, podemos enrijecer nossa vontade e, com parcimônia, corrigirmos os males que dia após dia são impingidos em nossa alma por essa mentira sistematicamente organizada a partir dum relativismo cultural irresponsável.

Tal enrijecimento não ira, infelizmente, fazer cessar os ataques que sofremos diariamente por parte da grande mídia, da mídia miúda, do sistema educacional, dos círculos sociais, não mesmo. Porém, tal fortalecimento irá nos ajudar a resistir e, quem sabe, atrair outras pessoas que estejam imersas na muvuca cultural reinante.

Então devemos começar a nos matar estudando? Não. Não faz o menor sentido. Aliás, não sou muito bom nisso, mas, se for-me permitido, deixe-me dar um palpite: comece lentamente, como num processo de condicionamento físico. Procure, todo santo dia, fazer a leitura dum soneto. De preferência de Camões, Bogage ou Gregório de Matos. Mas apenas um por dia. O mesmo três vezes ao dia, murmurado (ou em voz alta, se possível). Com o passar de duas a três semanas, você irá notar que o seu vocabulário terá mudado. Que a forma de você construir as suas frases também e, inclusive, o modo como você se expressa verbalmente.

Também selecione algumas músicas para ouvi-las muitas vezes ao dia, especialmente naqueles momentos em que estamos no meio do fervo do vai e vem diário. Algo que realmente fuja ao vulgo cotidiano como, por exemplo, JESU, REX ADMIRABILIS de Giovanni Pierluigi da Palestrina, ou JESUS, ALEGRIA DOS HOMENS de Johann Sebastian Bach. Em pouco tempo, sem perceber, da mesma forma que ficamos cantarolando as anti-músicas que polulam em nossa sociedade, estaremos cantarolando essas melodias que irão integrar a nossa personalidade, dando um novo ritmo a nossa vida.

E não apenas isso! Visualize, uma vez ao dia, a imagem duma grande obra de arte. Veja fotos duma catedral gótica, duma escultura renascentista, duma pintura barroca para, deste modo, elevar sua percepção do belo.

Sem mais delongas, tanto os sonetos, as músicas e as pinturas, podem ser encontradas graciosamente na internet e baixadas em seu celular. Veja só: um objeto que em muitíssimos casos tem sido um instrumento de bestialização pode converter-se numa eficiente ferramenta para auxiliar-nos em nossa educação. Se assim desejamos, é claro. Caso contrário, que siga o cortejo.

Pax et bonum
Blog: http://zanela.blogspot.com
e-mail: dartagnanzanela@gmail.com

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