Escrevinhação n. 836, redigida em 15 de junho de 2010, dia de São Vito e da Bem-aventurada Albertina Berkenbrock.
Por Dartagnan da Silva Zanela
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Confesso que para uma pessoa que não é um grande apreciador deste desporto, o futebol, fica um tanto que difícil escrever algo a respeito do mesmo e, provavelmente, por isso mesmo torna-se desafiador a nossa alma meditar sobre esse assunto. Não sobre ele em si mesmo, mas principalmente sobre o que esse desporto, que move multidões, pode suscitar em nossa alma a respeito da realidade vivida por todos nós. Penso eu que muito mais interessante que criticar a Copa do Mundo e o espetáculo encenado pelos apreciadores desta, ou sobre as tramóias que podem estar sendo tramadas longe das vistas dos reles mortais seria pensarmos a Copa como uma alegoria interpretativa de nossa realidade. Da realidade da alma humana.
Podemos pensar a Copa do Mundo, meu caro, como um retrato de nossa alma. As seleções que estão disputando esta são os vícios e as virtudes que estão, a todo o momento, se digladiando em nosso ser. Muitas vezes as disputas são homéricas. Outras vezes dá zebra e o time mais fraco, virtuoso ou vicioso, ganha a disputa nos últimos instantes da prorrogação ou mesmo na cobrança dos pênaltis. O problema aqui, neste caso seria em sabermos o seguinte: para quem nós estamos torcendo?
Se a nossa alma é Copa do Espírito, a torcida é a nossa faculdade volitiva que motiva os jogadores a vencer. Obviamente que as tendências que formam as tensões que existem em nosso ser são as mais variadas possíveis. Estas dependem do temperamento de cada um e da circunstância histórica e social em que nascemos. Entretanto, em cada um de nós há uma grande torcida organizada chamada vontade sendo um dos fatores decisórios que poderá determinar o resultado dessa luta que é deflagrada em nós todo santo dia.
Por sua deixa, os técnicos representam a nossa imaginação. Esta faculdade de nossa alma é responsável por apresentar para nossa alma os cenários possíveis de serem realizados e vividos por nós. Nada está para ação sem antes estar para a imaginação. Tudo o que realizamos antes projetamos em nossa imaginação que se alimenta das imagens que nos são apresentadas pela memória (a equipe técnica, neste caso). O problema aqui, que penso ser bastante evidente, é sabermos que tipo de imagens nossa equipe técnica tem fornecido ao nosso técnico para que ele construa os cenários possíveis onde os times viciosos e virtuosos irão jogar. Trocando por miúdos: quanto mais imagens virtuosas projetam-se em nossa alma, maior a possibilidade de êxito de uma vida desta monta. Quanto maior a quantidade de figuras viciosas introjetadas em nosso ser, maior será a probabilidade do boi ir com a corda pra o brejo da perdição.
E temos o juiz. Este, naturalmente será a nossa consciência moral. Aquele que mediará à disputa entre as seleções que se enfrentam no âmago de nosso ser. Naturalmente, as mesmas tensões que condicionaram a Copa de nossa vida até aqui, também irão amoldar o arbítrio de nosso juiz interior. Todas essas tensões que tanto influenciam essa disputa, por sua vez, advêm do mundo exterior. Esses fatores externos nada mais seriam que o fruto de nossas escolas livremente realizadas em nossos dias e que, lentamente, passam a fazer parte de nossa vida interior e, como um preço destas, a ser um dos fatores que norteiam toda a disputa.
Por fim, o Troféu! O que é o Caneco na Copa do Espírito? É simplesmente a nossa Salvação ou nossa danação eterna. Isso mesmo meu caro. Temos a impressão que sempre teremos Copas do mundo, mas essa teve um começo e terá um fim neste mundo, do mesmo modo que nossa alma imortal que está apenas de passagem por esse vale de lágrimas. Ficamos tão distraídos com o espetáculo do mundo que nos esquecemos do propósito da vida e, no final, quando as competições deflagradas em nossa alma findarem e forem seladas por uma lápide teremos o resultado frutificado da atenção dada aos nossos vícios e virtudes morais e espirituais.
E o pior de tudo, meu caro, que nessa Copa não há repescagem e muito menos reedição.
Pax et bonum
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