Escrevinhação n. 841, redigido em 15 de julho de 2010, dia de São Boaventura, São Vlademir de Kiev e do Bem-aventurado Inácio Azevedo e Companheiros.
Por Dartagnan da Silva Zanela
“Não se fixe voluntariamente naquilo que o inimigo da alma lhe apresenta”.
(Sto. Padre Pio)
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Se existe uma instituição que é atacada por todos os flancos é a família. Abordar e ponderar sobre todos estes ataques seria uma tarefa irrealizável em tão sucinta missiva. Entretanto, cremos que seja apropriado tecermos nestas parcas linhas algumas pequenas e simplórias considerações sobre a família e, deste modo, projetar algumas luzes, mesmo que diminutas, sobre os riscos que a alma humana corre com os ataques sórdidos que minam essa basilar configuração simbólica da alma humana.
Isso mesmo! Um dos elementos fundamentais que se perdeu do horizonte humano com o advento da modernidade foi a compreensão simbólica da realidade. Esquecemo-nos que toda criação é uma escritura codificada do Criador, inclusive a família. Ora, se todo artista deixa a sua marca na feitura de sua obra por que haveria o Grande Artífice de não deixar os Seus sinais em sua criação?
Neste sentido, a imagem da família é um símbolo que nos religa a realidades espirituais que, em si mesmas, nos são fugidias. Mas, o que a imagem da família nos ensina sobre nós, sobre nossa alma? O que a imagem de nossa família, nos ensina sobre a nossa alma imortal? Ao ver a família humana, com as suas virtudes e vícios, estamos vendo a imagem refletida de nossa alma, porém, o que vemos nela? Esse é o “x” da questão.
Muitas são as expressões da família nas mais variadas culturas, porém todas, necessariamente, têm uma tríade basilar que é a figura paterna, a imagem materna e a prole advinda da união destes. Bem, esse é o núcleo central que espelha a alma humana e, neste sentido, o símbolo não é um elemento arbitrário, mas sim, uma matriz de interpretações como nos ensina Suzanne Lange, em seu livro FILOSOFIA EM NOVA CHAVE. Ainda, segundo Frederico Gonzales, em seu livro SIMBOLISMO E ARTE, o símbolo “[...] reflete autenticamente o que expressa, requisito sem o qual seria impossível qualquer relação ou comunicação. Deve-se ter em mente que, por tomar uma forma, constitui uma estrutura na torrente do não-enunciado, na vida larval e caótica do vir a ser”.
Talhando nossas vistas por essa vereda, podemos indagar o que a figura paterna e materna representam, respectivamente. A primeira simboliza a razão e as virtudes morais como a prudência, a justiça e a temperança. O pai é aquele que representa a autoridade solene, a firmeza e o ordenamento. A mãe, por sua deixa, é um claro espelho da vontade e das virtudes teologais como a fé, a esperança e a caridade. É ela, a mãe, quem representa o consolo, a benevolência que nos conforta quando estamos temerosos e feridos.
Vislumbrando essa dimensão simbólica da realidade compreendemos porque São Paulo (1Coríntios XI; 2-3) ensina-nos que a mulher deve se submeter-se ao seu marido. A vontade deve submeter-se a razão, e a razão submeter-se ao Logos Divino e imitar o Logos Divino encarnado. Por esse mesmíssimo motivo, que o mesmo Justo nos diz que o homem deve amar a sua mulher como Cristo nos ama (Efésios V; 25), porque sem o amor a razão não dispõe de meios para iluminar a vontade. Aliás, a submissão da vontade à razão só se justifica através do amor. Qualquer outra via seria uma negação da própria razão e, conseqüentemente, uma vil abolição da humana vontade, que também é um dom divinal que nos é facultado.
Quanto à prole, o que são nesta ordem simbólica? São as paixões. Desordenados, caóticos e em boa parte do tempo se encontram em conflito um com o outro, engalfinhando-se um com o outro pelas querelas mais pífias e tolas imagináveis. Por essa razão que os infantes devem ser submetidos à autoridade da vontade (mãe) guiados pela soberania da razão (pai).
A configuração da família, deste modo, apresenta ao indivíduo uma imagem simbólica da alma e, através desta, têm-se uma ferramenta pela qual vislumbramos os umbrais que deverão ordenar nossa vida interior para que, desta maneira, possamos reproduzir no âmago de nosso ser, uma sã ordenação. Ou seja: orientar a nossa vontade à luz da razão para que assim possamos dominar nossas paixões, aprimorando-nos, lapidando-nos, tornando sublimes as faculdades que habitam potencialmente o nosso ser.
Bem, estando esse dito claro, compreendemos porque toda tentativa de ataque a família é um ataque direto a própria estrutura da alma humana. Se o símbolo nos auxilia na compreensão da realidade, todas as tentativas de minar as bases desse símbolo natural, que é a família humana, não passam de subterfúgios ignóbeis, entre tantos outros, que tem apenas um único objetivo: afastar o ser humano da dimensão real da existência, afundando-nos em uma perspectiva atomística e subjetivista, atolada em suas paixões indomadas, escravizando nosso caráter a elas.
É isso que significa uma família desestruturada. Essa é a tradução da vida de um pai, de uma mãe, que não se sacrificam na realização de sua vocação. Esse é o problema de uma sociedade onde os infantes não mais podem ser devidamente corrigidos pelas mãos de seus tutores naturais. Todas as infâmias auferidas contra a família não passam de um reflexo assustador do estado em que se encontra a alma do homem contemporâneo.
Pax et bonum
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