Escrevinhação n. 1022, redigida entre os dias 15 de julho de 2013, dia de São Boaventura de Bagnoregio, de Santa Julita e São Ciro (Igreja Ortodoxa), e de São Vladimir de Kiev.
Por Dartagnan da Silva Zanela
O espetáculo é cansativo e delirante ao mesmo tempo. A peça toda que está em cartaz, já a longa data, neste mofado teatro chamado Brasil, chega a ser patética. Dum lado temos um personagem disforme, de olhar baixo, expressão oblíqua, que é feito de otário um dia sim e noutro também, principalmente quando ele imagina que está interpretando o tal sujeito histórico, ativo e crítico. Fala até pelos cotovelos, mas ninguém o ouve, nem mesmo ele.
Do outro lado, temos o seu antagonista, ou quase isso. São as otoridades. Também são disformes e desprovidas de caráter. Apresentam-se na encenação muito bem asseados, com formosa aparência que encanta as almas mais desavisadas. Tem por esporte, gerar intrigas de bastidores e coisas do gênero nos mais variados tons. E também falam muito. Demais! Porém, todos fingem ouvi-lo com muita deferência, inclusive eles.
Num dado momento, os primeiros gritam palavras de ordem que, em geral, foram insufladas por agentes de influência dos segundos. Fazem aquele carnaval, com direito a carro de som e tudo em sua apresentação circense de cidadanite de ocasião. Nesta prelação coletiva, todos se esforçam em dar aquela impressão de que se importam, realmente, com os rumos da nação. O que não contam é que, a nação, para eles, não ultrapassa os limites de sua carteira.
E a opereta continua! No ato subseqüente temos as humanitárias e abnegadas otoridades. Após o entoar dos clamores populares, eis que eles se apresentam para salvar a todos com suas emergenciais medidas. Estes, com seus olhares mimosos (olhares estes que se esquivam da mira de qualquer um que ouse ver o que há para além das janelas de suas almas), esforçam-se, e muito, como nunca se viu antes na história deste país, em dizer que eles pretendem ouvir, atenciosamente, todas as solicitações das ruas (e dos bueiros também).
O enredo é o fingimento total e irrestrito. E os devaneios não ficam por menos. Nesta, eles são elevados à categoria de reforma política salvadora enquanto, por de traz das cortinas, no fundo das fétidas coxias, estão os senhores do espetáculo, dirigindo toda a tragédia bufa que toma conta de nosso país, onde todas as competências certificam a podridão; onde todos os temperamentos se dão bem em meio à devassidão.
Quanto aos diálogos da peça, ninguém os lê, nem mesmo os (depre)cívicos artistas. Vai tudo de improviso e, mesmo assim, com tudo dentro do que fora previsto e escrito pelo roteirista. Roteiro este de fácil leitura e compreensão, mas que, para infelicidade inteira da nação e alegria geral do espetáculo, continua sendo desdenhado pelas marionetes que hoje estão a bailar no palco da arena política brasileira que, neste teatrinho chinfrim, são os pseudo-protagonistas.
Pax et bonum
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