Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

Pesquisar este blog

A PEDRA DESDENHADA PELOS CONSTRUTORES – parte II

Escrevinhação n. 818, redigida em 30 de março de 2010, dia de São João Clímaco.

Por Dartagnan da Silva Zanela

“Quanto mais o homem se dedica à sabedoria, tanto mais participa da verdadeira felicidade”.
(São Tomás de Aquino)

- - - - - - - + - - - - - - -

O fim supremo da existência humana é o bem da inteligência. Assim nos ensina São Tomás de Aquino em sua SUMA CONTRA GENTILES e deste modo todos nós na modernidade deveríamos agir. Para esse bem deveríamos tender nossa vida. Entretanto, o que vemos a nossa volta? O que vemos diante das meninas de nossos olhos e presente em nosso ser? Sinceramente, realmente procuramos os bens que melhor realizam a nossa inteligência e nos movem para uma vida legitimamente espiritual?

O objeto primeiro da inteligência é a Verdade que é fonte de todas as verdades e esta fonte é Aquele que É e não nós com nossos pensamentos (críticos ou não-críticos). Por essa razão que lemos no Evangelho segundo São João que Nosso Senhor disse que (XVIII; 37): “Nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade”. Simplificando: o bem supremo da inteligência humana está na procura pela Verdade e não na conjeturarão de idéias fundadas unicamente em nosso ego inflado de vaidade e soberba. É na procura pela verdade que, gradativamente, nos tornamos quem nós devemos ser e não mais aquele que imaginamos ser ou que a sociedade gostaria que nos tornemos.

O exercício desta faculdade, a inteligência, não consiste na elucubração de idéias, mesmo que estas sejam as mais originais possíveis, mas sim, em nossa capacidade de volitivamente nos render e esforçarmo-nos em permitir que a Verdade a molde. Captá-la e permitir que Ela nos molde de acordo com a sua grandeza. Agindo assim, inevitavelmente acabamos por ampliar o nosso horizonte de compreensão e de realização. Ora, entendemos as laudas de um romance de Balzac, por exemplo, não porque nós modificamos o sentido das palavras utilizadas pelo autor, mas sim, porque nos tornamos capazes de compreender o que ele nos escreve e de visualizar o que nos está sendo apresentando.

Agir de modo contrário é negar, literalmente, a inteligência. Quando nos negamos a aceitar a presença da verdade em nossa vida, estamos permitindo que o erro impere em nosso coração. Quando não aceitamos que a presença da Verdade nos eleve e nos engrandeça, estamos permitindo que o auto-engano nos separe da realidade e, deste modo, permitimos que sejamos diminuídos em nossa humanidade.

Por essa razão, a vida interior é uma forma elevada de conversa íntima que cada um tem consigo mesmo, desde que se encontre só, mesmo no tumulto das ruas de uma grande cidade, conforme nos ensina Garrigou-Lagrange.

Para se cultivar a procura pela Verdade é de fundamental importância que sejamos capazes de render todas as nossas faculdades à realidade de uma maneira que possamos vê-la tal qual ela é e não do modo como desejamos que ela seja. Mas, para tanto, devemos ser capazes de manter essa elevada conversa conosco mesmo, de sermos capazes de dilatar o nosso ser para que ele possa captar as mais elevadas dimensões do Ser. Ou, ao menos, nos aproximarmos delas.

Procurando seriamente a Verdade e o Bem através desta conversa íntima, Garrigou-Lagrange nos diz que ela: “[...] tende a tornar-se conversa com Deus, e pouco a pouco, em vez de procurar a si mesmo em tudo, em vez de tender de modo mais ou menos consciente a fazer de si o centro de tudo, o homem tende a buscar Deus em tudo, e a substituir o egoísmo pelo amor de Deus e das almas n’Ele”.

E como é difícil vencermos essa tendência que nos sufoca interiormente, que nos desvia deste diálogo. Aliás, como é fácil nos entregarmos ao desfrute do auto-engano simplesmente por preferirmos o deleite de nossas idéias ao invés aceitarmos passivamente a realidade e a verdade que se faz revelar nela.

Ora, quando pedimos a Deus na oração Dominical que seja feita a Tua Vontade assim na terra como no Céu, estamos pedindo justamente para Aquele que É para que a Verdade transforme a nossa vida nos libertando do erro, dos enganos e dos auto-enganos que turvam a nossa inteligência. Essa é a pedra angular que devemos procurar para erguer o arco que nos permitirá caminhar para a compreensão de quem nós realmente somos e de quem devemos verdadeiramente ser.

Do contrário, podemos continuar a sustentar nossa vida em um amontoado de erros que nos permitem fingir uma dignidade que não temos e de sermos detentores de uma saber que não cultivamos. Podemos continuar a ser uma poça d'água que imagina ser uma fonte de água límpida ou mergulhar na Fonte d’água Viva.

Pax et bonum
Site: http://dartagnanzanela.k6.com.br
Blog: http://zanela.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário