Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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A PEDRA DESDENHADA PELOS CONSTRUTORES – parte III

Escrevinhação n. 819, redigida em 03 de abril de 2010, dia de São Luís Scrosoppi, São Ricardo Bachedine e São Xisto I.

Por Dartagnan da Silva Zanela

“Vive de tal modo que tua vida seja uma oração. Canta a Deus com a boca, salmodia com as obras”.
(Sto. Agostinho)

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Para aprender qualquer coisa é indispensável que façamo-nos pequenos. Se nos portamos de modo contrário, acabamos por bloquear o nosso entendimento com a nossa vã presunção. O aprendizado de qualquer coisa pode ser comparado com a passagem de uma pessoa, que está presa em uma caverna, por uma pequena cavidade para poder contemplar a luz do dia e libertar-se das paredes maciças que o impediam de sentir em sua face o calor vivificante da luz do sol. Se nos inflamos com nosso orgulho e vaidade, não temos como passar da ignorância para o conhecimento, pois imaginamos que sabemos aquilo que nunca realmente vimos.

Ora, nos tornamos pequenos na medida em que cultivamos as virtudes da humildade e da paciência. Conforme exercitamos essas, vamos eliminando as imagens que obstruem a aceitação da verdade para que essa possa em nós cultivar o conhecimento que advém de sua presença. Essas imagens que habitam em nós e que impedem a semeadora do saber em nosso íntimo são nossas opiniões e paixões. Quem ama as suas opiniões e norteia as suas ações de acordo com as suas paixões vê-se impossibilitado de poder aprender a verdade e de permitir que ela o transforme na ampliação de seu entendimento. Tal problema decorre justamente porque a alma tende muito mais a si mesma do que à verdade.

Tal situação pode ser muito bem comparada com a de um médico que se preocupa muito mais em avaliar a saúde de seu paciente a partir da visão que ele tem de sua própria saúde. Que doença estará sendo tratada em um simulacro desses? Confusão similar ocorre quando estamos nos dispondo a aprender qualquer coisa, por mais insignificante que seja, se não nos tornamos pequeninos, se não dos dispomos a tornarmo-nos humildes e pacientes.

Por essa razão que Nosso Senhor disse que é dos pequeninos o Reino do Céu. Fazendo-nos diminutos nos tornamos capazes de aprender as pequenas verdades e grandes verdades. E quanto mais nos permitimos a entrega à pequenez, maior nos tornamos interiormente. Aparentemente o uso deste jogo de palavras parece estranho, mas não é. Se nos inflamos de orgulho e vaidade, nosso entendimento fica inchado, impedindo que nossa inteligência possa dilatar os seus átrios para a grandeza do real. Nossa alma torna-se pequena diante deste inchaço. Todavia, quando murchamos essa bola de futilidades e, humildemente, nos curvamos diante da realidade que se apresenta e com paciência e resignação permitimos que o conhecimento aprendido não apenas seja assimilado por nós, mas passe a fazer parte de nosso ser. Assim crescemos em verdade e em entendimento.

O que é mais interessante nisso tudo é que justamente as pessoas que se fazem pequenas e que realizam sempre os mais elevados feitos e as que mais se engrandecem são justamente as que vazias e turvas se tornam com o passar dos anos. Aliás, basta uma olhadela em nossa volta e em nosso íntimo para compreendermos isso.

Por essa razão que São Tomas de Aquino nos ensina que “o fim é o primeiro na ordem da intenção e último na ordem da execução”. Se não temos primeiramente o cultivo na alma humana da intenção de aprender dificilmente seremos capazes de realizar em nosso íntimo a execução do aprendizado. Se não somos capazes de nos dispor a amar, nunca seremos capazes de realmente amar. Se não cultivamos em nosso ser a intenção de amar e conhecer a Deus, dificilmente seremos abençoados com a Luz que advém destas duas intenções.

Por fim, podemos até dissimular que somos grandes, dignos e ilustrados. Aliás, em uma sociedade de dissimulados como a brasileira, isso não é muito difícil. Mas o fingimento de tais qualidades, por conveniente que parece aos nossos olhos, jamais substituirá a luz da realidade que insistimos em negar em nome de nosso amor próprio, em nome de nosso amor pelos frutos de nossa vaidade.

Pax et bonum
Site: http://dartagnanzanela.k6.com.br
Blog: http://zanela.blogspot.com

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