Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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A LÍNGUA BIPARTIDA DA EDUCAÇÃO


Escrevinhação n. 956, redigida em 17 de julho de 2012, Santa Maria Madalena Postel, de Santa Generosa, de Bartolomeu de Las Casas e de Santo Aleixo.

Por Dartagnan da Silva Zanela


O café esfria enquanto escrevo. Já o problema que minha pena desenha, não. Problema este presente em meio às fraturas do contraditório tecido do real que, muitas das vezes, não percebemos. E, quando o intuímos, rapidamente, o desenhamos devido à dispersão alienante de nosso cotidiano.

Aos quatro ventos os hálitos midiáticos e estatais proclamam em alto e bom tom a importância basilar da educação e afirmam que o professor é um sujeito de magna importância e que este deveria ser sumamente respeitado. Junto com esse discurso, temos também o da valorização da profissão professoral. Todos já vimos propagandas sobre isso. Todos nós conhecemos razoavelmente bem esse filme.

Ao mesmo tempo em que ouvimos isso, testemunhamos o esvaziamento da autoridade do professor. Sim, todos declaram cínica e abertamente que a autoridade em sala de aula é o professor, que as decisões tomadas por este, em sua seara, são soberanas, porém, no frio chão da realidade a situação é bem outra.

Muitos educadores, é um fato, sentem-se melindrados diante de toda a estrutura burocrática que formata a educação nos dias hodiernos como se estivessem pisando em ovos de um serpentário ignóbil. Sentem-se receosos em relação a tudo e a todos, pois temem que o seu veredicto seja questionado, que sua pessoa seja enquadrada como um meliante perigoso que gasta sua soturna existência para prejudicar o educando e excluí-lo da sociedade.

Resumindo a opereta: ao mesmo tempo em que se declara, publicitariamente, que o professor é o alicerce indispensável de tudo, a sociedade, como um todo (com inexpressivas exceções), trata-o como o suspeito número um de um crime fictício.

Todos se sentem autorizados a questionar um professor em sua decisão quando esta difere da vã vontade do mimado cidadão infante e/ou contraria as expectativas dos genitores que crêem, piamente, que seu pimpolho é um prodígio em potencial que apenas não manifestou todos os seus dotes porque os malvados professores não querem reconhecer as luzes angelicais do inocente púbere.

Sim, há professores e Professores. Sei disso. Como também sei que há médicos e Médicos, advogados e Advogados, que há bons e maus profissionais em todas as searas, porém, todos sabem, e fingem não saber, que a educação é a única seara onde o profissional tem sua autoridade mitigada e descaracterizada e que, em muitíssimos casos, isso é aplaudido e promovido por educadores que, infelizmente, preocupam-se muito mais em posar de bons-moços do que realmente carregar o fardo do educar que, na maioria das vezes, exige o anúncio de verdades duras. Por isso, bom-mocismo, meu caro, não combina, de jeito algum, com esse chamamento que é o educar.

Pax et bonum
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