Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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O LODO FÉTIDO DO FUNDO DA ALMA ÉTICA


Escrevinhação n. 956, redigida em 17 de julho de 2012, Santa Maria Madalena Postel, de Santa Generosa, de Bartolomeu de Las Casas e de Santo Aleixo.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Alfred de Musset, em sua obra “A confissão de um filho do século”, afirma que há um perigo terrível em saber o que é possível, porque o espírito vai sempre mais longe. É difícil medir o horizonte do possível da mesma forma que não é fácil fazer escolhas acertadas em nossa vida.

As incertezas nos visitam e nos acompanham dia após dia em nossa caminhada por esse vale de lágrimas. Interiormente, cada qual se vê acompanhado de suas cruzes. Alguns as desdenham, outros as abraçam e logo as largam. Outros as abraçam e as jogam várias vezes ao dia, todos os dias. Mesmo que elas sejam leves, nós, por nossa deixa, conseguimos ser levianos e francos.

Porém, isso não é motivo para esmorecer. É apenas um dado da realidade e, em nós, a perseverança deve ser maior que nossa vileza. Ninguém se converte definitivamente, como nos ensina o frei Inácio Larrañaga. Mesmo ferido mortalmente, o homem velho, revestido de pecado, continuará a nos acompanhar até a sepultura. Por isso que cada dia de nossa vida é um dia de luta e essa é a razão que levou o filósofo Jackson Figueiredo a declarar que essa vida é um momento único para nos aperfeiçoarmos.

Gostemos ou contrariemos, não devemos nos ver como uma peça de cerâmica frágil e delicada como apregoa toda ordem de psicologismos. Nosso coração, e bem como nossa alma, são de pedra, como nos lembra o evangelista São João e Santo Agostinho e, por isso mesmo, devem ser talhados com a rigidez disciplinar de um bom cinzel guiado pela mão firme da Verdade.

Neste sentido, há momentos em que Aquele que É permite que absurdos aconteçam em nossa vida para que lutemos contra o homem velho, contra a covardia moral que nos leva muitas das vezes a virar as costas a tudo quanto é sagrado das maneiras mais dissimuladas possíveis.

Para nos esquivarmos dos golpes da Verdade posamos de bons-moços fazendo aquele tipinho politicamente-correto que é da paz, que não quer saber de conflitos com o mundo, com as hostes das trevas e muito menos consigo mesmo. É mais confortável fechar os olhos para as máculas que infectam nossa alma que enfrentá-las. É mais cômodo e tranqüilo fingirmos que somos bons do que nos esforçarmos através da dura estrada que nos leva ao Bem.

E o pior de tudo é que nós gostamos disso. Sim! Houve um tempo em que se acreditava que a verdade deveria ser sempre dita doa a quem doer. Entretanto, hoje, ela pode apenas ser proclamada se não ferir nem magoar ninguém e, deste modo, nosso coração, o centro pulsante de nosso ser, fica embrutecido pelo nosso amor desmedido a nós mesmos que se esquiva da Verdade com toda ordem de mentiras ao mesmo tempo em que se destrói neste círculo auto-idolátrico. 

Por fim, o que mais acabrunha a alma é o fato de idolatramos a mentira ao ponto de chamarmos o cinismo de ética e o engodo moral de dignidade.


Pax et bonum
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