Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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A Reforma Ortográfica — um Acinte à Sensatez (I)


Por Carlos Nougué

Deixada à deriva, sem gramática, como querem muitos linguistas que, porém, defendem sua tese sem nenhuma deriva gramatical, a língua seria como a realidade-rio de Heráclito: seria puro fluxo, a ponto de não se poder falar duas vezes a mesma língua...

Ora, tal anseio, compartilhado de certa forma por híbridos de linguistas e gramáticos, não passa de fato do mais puro heraclitismo, ou seja, de uma negação da estabilidade do real. Mais simplesmente, é uma pura negação do óbvio: a gramática é parte intrínseca da linguagem; é o dique ou comporta sem a qual a língua-rio de fato fluiria e fluiria sem permanência alguma. Uma prova? A mais chã: que pai, que mãe, se dotados ao menos do ínfimo senso natural de cuidado e educação da prole, não corrigirão seu filho se ele disser algo errado? Se o pequeno disser, por exemplo, “zinza” em vez de “cinza”, hão de calar-se os pais e deleitar-se com mais essa novidade de uma permanente deriva linguística?

É tal a obtusidade daquela posição “científica”, está a tal ponto obnubilado o intelecto de seus proponentes, que estes nem conseguem ver que com tal língua-rio sem gramática nem sequer se poderia propor sua absurdidade — simplesmente porque nem sequer haveria a linguagem. Bem sei que retrucarão: “Mas as línguas mudam constantemente...” E quem o nega? Um rio de tanto bater numa comporta acaba por abrir-lhe fendas e traspassá-la com mais ou menos ímpeto. Com mais ímpeto quando há apenas fiapos de civilização e a gramática natural da língua acompanha tal tenuidade: essa é a razão por que as línguas indígenas ou tribais tendiam (e tendem) incessantemente à entropia. Com menos ímpeto quando há verdadeira civilização universal (ou tendente à universalidade) e a gramática da língua se alça de componente natural a arte: era o caso da Cristandade do século XIII e sua língua científica e altamente normatizada, o latim. (Aliás, a decadência civilizacional representada pelo fim da Cristandade não poderia ficar sem efeito na língua, que, adornada o mais das vezes de beletrismo, de ordinário já não alcançaria mais que um brilho de ouropel.). [continue lendo]

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