Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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SILÊNCIO E CANJA DE GALINHA

Escrevinhação n. 1120, redigida no dia 03 de junho de 2014, dia de São Carlos Lwanga e companheiros mártires de Uganda e de Santo Ovídio.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Não sou uma pessoa de muita prosa. Tal afirmação, vinda dum sujeito que vive do uso da palavra, escrevinhada e falada, pode até parecer estranha, mas não é não. Estranho, pra falar a verdade, é a compulsiva necessidade que muitas pessoas têm de falar o tempo todo sobre qualquer coisa duma maneira qualquer.

Sim, conversar é bom. Porém, para que o assuntar seja proveitoso é interessante que se tenha, primeiramente, algo que mereça ser objeto duma conversação. Caso contrário, uma boa dose de silêncio e recolhimento não faz mal pra ninguém. Pelo contrário! É uma prática de salutar importância. Prática desdenhada pela sociedade atual.

Em regra, imaginamos que todas as sociedades em todas as eras, em todas as esferas, eram tomadas por elementos tagarelantes, tal qual testemunhamos hoje, em nossa época. E, de fato, é um sério problema de imaginação não sermos capazes de conceber que os seres humanos, ao contrário dos que hoje vivem feito zumbis, vejam com bons olhos a imersão prolongada numa atmosfera silenciosa.

Tal afirmação, de modo algum, deve ser entendida como uma postura de desdém para com os outros. Não mesmo. É uma atitude de respeito para com os iguais e, consequentemente, para conosco mesmo. Falar por falar é uma prática viciosa tão danosa como comer por comer ou beijar por beijar.

Como tudo que existe, o sentido do falar não está na fala em si, da mesma forma que o sentido do comer não está no ato de comer. Diga-se o mesmo do beijo. O sentido da existência de qualquer ato ou objeto está para além dele e não nele. Comemos para mantermo-nos nutridos e sentirmos prazer. Beijamos para demonstrar carinho e afeição e apenas deveríamos falar algo se realmente tivéssemos alguma coisa que realmente merecesse a atenção de alguém. Se não o temos, calar não é sinal de indelicadeza, mas sim, uma gentil deferência.

Mas não. Falamos sem parar o tempo todo e em qualquer tempo sem ao menos ponderarmos sobre o que estamos dizendo e, principalmente, sobre o efeito dessas palavras sobre nós mesmos.

Tudo o que falamos, de maneira ponderada ou não, acaba por moldar nossa personalidade,  nosso ser, haja vista que essas imponderadas palavras tornam-se todo o conteúdo de nossa alma que amesquinha-se no mesmo ritmo de nossas conversas vazias.

Enfim, nessas horas lembro-me do exemplo de São Serafim de Sarov que viveu cinquenta e um anos em reclusão, seis desses cumprindo um voto de estrito silêncio e apenas depois disso passou a aconselhar, com parcimônia, todos aqueles que o procuravam. Nós, por nossa deixa, não somos nem mesmo capazes de desligar nosso celular para, quem sabe, reencontrar a paz e a serenidade que a tanto jogamos no lixo sem a menor cerimônia. Fazer o que?

Pax et bonum
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