Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
(i)
Não queira, jamais, fiar os seus
estudos no intento de ser entendido pelos ignorantes, principalmente por
aqueles néscios que vivem da pose postiça de sabichão engajado.
Estude para conhecer a verdade e
compreender a realidade. Se os estultos não compreenderem o que você faz e não
entenderem o que você diz, não te apoquente não, porque não existe conhecimento
da verdade quando esperamos candidamente que os sonsos nos compreendam.
Resumindo: não há procura pela
verdade que não seja acompanhada pela incompreensão da manada presunçosamente
[des]informada. Não mesmo.
(ii)
Deveríamos, penso eu, iniciar o
nosso dia com a apresentação – para nós mesmos – duma intenção que deverá ser
realizada o findar do dia. Proposito firmado, dia iniciado.
Quando chegar a hora crepuscular,
com a mesma inclinação, deveríamos, pensou eu, realizar um exame de consciência
e verificar em que medida realizamos o proposito firmado e, além dele, o que
mais realizamos no anonimato silente de nosso cotidiano para, desse modo,
constatar em que medida a agitação do dia a dia nos afetou e nos distanciou de
nós mesmos.
(iii)
Uma pessoa que coloca sempre
diante de seus olhos os seus desejos e quereres como se fossem um direito
pétreo são geralmente almas incapazes de, no seu dia a dia, perguntarem-se
quais seriam os seus deveres para com seus próximos e, muito menos, em que
medida elas deveriam estar esforçando-se para realizá-los.
(iv)
Sempre quando um bocó diplomado e
metido a sabidão diz que você tem ideias simplórias, que você pensa de maneira
deveras simplista, não é porque você seja um tonto, não mesmo. Bem
provavelmente ele diz isso porque o caipora está simplesmente bravinho porque
você ousou discordar diametralmente dele e que, por isso mesmo, ele foi pego
com as calças nas mãos e não sabe como respondê-lo dum modo realmente
inteligente e apropriado sem perder a pose afetada de "sinhô dotô".
(v)
Toda essa galerinha que dá show
na forma de manifestação de cidadanite exigindo respeito, tolerância e todinho
sabor morango, confunde com grande frequência a tal da tolerância com um tipo
de culto profano de todos os seus desejos e, o dito cujo do respeito, com uma
espécie de veneração egolátrica.
(vi)
Quando alguém diz, como Simone de
Beauvoir, que nada deve nos definir, nem nos sujeitar e que isso seria a
própria substância da liberdade, sem querer querendo, essa criaturinha está
confessando o quão profundo é o poço egolátrico que há em sua alminha.
Resumindo: a criaturinha acaba
apresentando como cume da liberdade e, consequentemente, da maturidade humana,
uma pose similar a de uma criança mimada que diz, batendo o pesinho, que ela
não vai comer legumes porque ninguém vai definir o que ela irá comer e nem
sujeitá-la a arrumar o seu quarto porque ela é uma pessoinha livre,
independente, engajada e blábláblá.
Isso é triste. Sei disso. Mas é
mais ou menos assim que a banda da cidadanite toca em nosso macambúzio país.
(*) Professor, cronista
e bebedor de café.
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