Escrevinhação n. 892, redigido em 07 de junho de 2011, dia de Santo Antônio Maria Gianelli.
Por Dartagnan da Silva Zanela
O filosofar é uma atividade inevitável e quem afirma abominar tal empreitada, sem o saber já se encontra a trilhar pelas vias abertas junto aos umbrais de Delfos, porém, pela mais vil e estúpida das vias abertas a par deste augusto templo.
Sim, negar-se a conhecer-se a si mesmo é um legítimo atestado de estultice orgulhosa cultivada em meio aos campos da vaidade e nada mais. Entretanto, a idolatria do filosofar também é algo temeroso. Aliás, idolatria essa que se faz reinante nos hodiernos dias.
Uma coisa, meu caro Horácio, é o filosofar, outra bem distinta é o culto desmedido feito à palavra filosofia e desta disciplina mal formatada que leva esse nome e que ocupa um significativo espaço dentro do sistema educacional. Como todo idolatrar, este acaba por confundir a representação com o representado, atribuindo a esse uma força desmedida que acaba por, retroativamente, exercer uma influência hipnótica no indivíduo e, neste caso, auto-hipnótica, submergindo a alma desarmada em uma atmosfera de auto-engano que pode, muitas das vezes, levar o sujeito a um estado de demência.
Os dois caminhos apontados são possibilidades humanamente possíveis de serem trilhadas, porém, ambas são vias que distanciam o indivíduo da plena realização de sua humanidade. Sim, nascemos dotados de faculdades e de dons, porém, todos esses dons e faculdades são potências da alma que não foram realizadas plenamente e que só o serão por um ato volitivo apropriadamente cultivado.
Por um ato volitivo, muitas das vezes, podemos nos afastar significativamente da plenitude de nossa humanidade, não é mesmo? E o mais interessante nisso tudo é que tanto a negação do filosofar como a idolatria deste, são feitos sob o julgo de que tais atitudes seriam o supra-sumo da sabedoria. No primeiro caso temos o desdém, e mesmo a cegueira, da tensão que há em nossa alma, tensão entre a procura pela plenitude e a aceitação orgulhosa da mediocridade. Já no segundo, impera a vaidade nascida do culto da imagem do caminho idolatrado, mas que não é seguido devido a uma cavalar dose de covardia advinda de uma desmedida porção de auto-piedade.
Tanto num como no outro, temos realidades humanamente concretas ciosas por serem refletidas e transformadas em algo que seja muito mais que uma casca putrefaz de humanidade degradada pelo medo à verdade que se esconde atrás de seu amor à vacuidade por suas tolas opiniões sobre si e sobre tudo. Há muito mais em nosso íntimo do que costumamos ver e não vemos por tanto prestar atenção em nossas palavras vazias e nas imagens toscas que compramos de um mundo sem sentido que quer nos arrastar para sua fétida cova com ele. Muito mais mesmo.
Pax et bonum
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