Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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A (DEPRE)CÍVICA DIGNIDADE


Escrevinhação n. 967, redigida em 25 de setembro de 2012, dia de Santa Aurélia e Santa Neomísia, Santo Alberto, São Firmino e São Cléofas.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Há certas leviandades em nossa sociedade que, confesso, fazem-me rir. Uma é esse trololó moralista que versa sobre a compra e venda de votos. Que vender o voto é uma indignidade, todo mundo sabe, inclusive aquele que vende e principalmente aquele que compra. Provavelmente, o que ambos não saibam, e que não fazem a menor questão de saber, é o que vem a ser a tal da dignidade, essa joia rara em nossa sociedade. E, falando-se disso, quem neste país realmente almeja essa refinada ambrosia, a dignidade, para adornar sua alma? Quem, de fato, lhe dá valor?

De mais a mais, como havia dito, o que rouba minha atenção não é essa prática mesquinha e putrefaz. O que realmente me deixa intrigado é a leviandade das vozes que se levantam contra essa prática. Vozes essas que chegam a ter gozos dionisíacos por posarem de bons-moços para serem aplaudidas, vistas como figuras exemplares. Sim, esses elementos não dizem isso, mas, no fundo, desejam muito que suas alminhas carcomidas sejam cultuadas como heróis (depre)cívicos.

Isso mesmo! Não sou nem um pouco esperançoso com relação a esses tipos de manifestações públicas de compostura ferida frente à corrupção. Para ser franco, tudo isso, aos meus cáusticos olhos, não passa de pura afetação.

Hum! Já vi tudo. Ficou bravinho. Mas deixe esse fel de lado e beba comigo deste cálice. Veja, no correr de toda história das lutas pelo poder, algumas elegantes outras permeadas por peias intestinas, sempre forjaram-se acordos entre grupelhos das mais variadas matizes e bandeiras. Tribos essas que firmaram suas alianças por meio de trocas de vantagens, bens ou favores. Nas polis gregas, em Roma, ou com os nobres guerreiros medievais, nas cortes europeias da renascença ou mesmo em nosso país (tanto ontem como hoje), forças se reúnem para lutar contra inimigos em comum. Ou seja: alianças eram e são firmadas com as mais variadas moedas de troca. Apoio se conquista com a oferta de “oportunidades” e, tudo isso, sempre é feito em nome do bem comum, é claro.

O engraçado nisso tudo é que todos aqueles que têm certa imagem ou um relativo status na sociedade podem negociar o seu apoio a este ou aquele biltre que se candidata para ocupar um cargo público, todavia, se um infeliz que não têm renome e que se encontra reduzido a uma condição de  miserável insignificância desejar fazer o mesmo, negociar (vender) o seu apoio a um infame qualquer, aí temos um crime, uma conspiração contra as colunas desta decrépita república.

Trocando por miúdos: o sentimento justiceiro que tanto inflama as vistas dos moralistas de plantão, utiliza-se de dois pesos e duas medidas como a maioria em nossa pérfida sociedade. Por isso, que todas essas poses de bons-moços não me convencem de jeito algum.

Por essas e outras, que junto minha voz com a de Stanislaw Ponte Preta, que dizia que ou “instaure-se a moralidade, ou nos locupletemos todos”. Que a regra seja uma para todos e que, com isso, sejamos capazes de criar nos espelhos de nossos lares ao menos um vago e pálido reflexo da tal vergonha na cara para que, quem sabe, podermos lançar, mesmo que timidamente, a bases de um vívido espírito público.

Pax et bonum
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