Por Carlos Ramalhete
50 anos atrás, o grande estudioso do fenômeno religioso Mircea Eliade observou que se estava na etapa inicial de um novo tipo de “religião”, baseada no secularismo radical, sem Deus ou deuses. Religião, afinal, é isso: é a ligação, ou busca de ligação, do homem com a ordem de todas as coisas. Nossa sociedade, vendo-se como autora da ordem do mundo, criou esta forma religiosa: uma religião ateia, em que o homem é seu próprio deus.
No paganismo clássico, os deuses são homens aumentados, inclusive em seus defeitos: Mercúrio, Loki ou Exu não são companhias agradáveis, por mais que com eles seja possível negociar. Nesta nova “religião”, no entanto, o homem não é aumentado; ao contrário, suas funções fisiológicas e prazeres sensíveis tornam-se o objeto do culto. Busca-se a saciedade, não a perfeição. [continue lendo]