Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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PALAVRAS BORRADAS NUM PAPEL VELHO

Escrevinhação n. 1073, redigida entre os dias 04 de dezembro de 2013, dia de São João Damasceno, e 05 de dezembro de 2013, dia de São Geraldo, de São Martinho de Dume e de São Frutuoso.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. O conhecimento não é algo que simplesmente adentra a alma e se instala em qualquer cantinho que se ajeitar. Não mesmo. Ele é muito educado. Refinado. Apenas achega-se nos ranchos em que é convidado afetuosamente, porém, sem fricotes. O conhecimento percebe de longe os olhares fingidos e maliciosos que apenas acenam para ele com segundas intenções sem desejar, de fato, acolhe-lo. E, por essas e outras que, ultimamente, este gentil senhor anda sem garrida pelo ermo, pois, para toda direção que volve suas vistas, apenas encontra vileza e superficialidade. E não há nada neste mundo que esse distinto senhor, o conhecimento, mais repugne do que isso.

2. Meu nono Artêmio certa feita havia me dito, da maneira lacônica que lhe é característico, que um homem deve ser honesto, trabalhador e honrar a sua palavra. Ponto. O resto é canalhice. Lição simples que todo homem deve esforçar-se em cumprir virilmente e que os canalhas, de todos os naipes, desprezam sem a menor cerimônia. Um bom exemplo para reconhecer-se a têmpera do caráter dum homem é ver como ele honra seus débitos. Deve? Paga. Se não tem com que pagar, renegocia e paga. Porém, se ele enrolar, inventar mil e uma histórias pra protelar e não pagar o que deve, abandone! Ele não é um homem no sentido artêmico da palavra. É um piá  que não teve tempo, nem interesse, de aprender o que é o tal do respeito que caracteriza um homem. E é mais do que provável que ele não irá aprender.

3. Ensina-nos o Papa Francisco, sua Carta Encíclica LUMEN FIDEI, que: “A luz do amor, própria da fé, pode iluminar as perguntas do nosso tempo acerca da verdade. Muitas vezes, hoje, a verdade é reduzida a autenticidade subjetiva do indivíduo, válida apenas para a vida individual. Uma verdade comum mete-nos medo, porque a identificamos […] com a imposição intransigente dos totalitarismos; mas, se ela é a verdade do amor, se é a verdade que se mostra no encontro pessoal com Outro e com os outros, então fica livre da reclusão no indivíduo e pode fazer parte do bem comum. Sendo a verdade de um amor, não é verdade que se impõe pela violência, não é verdade que esmaga o indivíduo; nascendo do amor pode chegar ao coração, ao centro pessoal de cada homem; daqui resulta claramente que a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro. O crente não é arrogante; pelo contrário, a verdade torna-o humilde, sabendo que, mais do que possuirmo-la nós, é ela que nos abraça e possui. Longe de nos endurecer, a segurança da fé põe-nos a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos”. Pois é, o grande problema é que o mundo não quer diálogo com nada que ouse convidá-lo a sair de sua verdadezinha mundana e subjetiva. O mundo é cego e surdo para a Verdade e, por isso, vê-se incapacitado para o diálogo.

4. Noutra passagem da Carta Encíclica LUMEN FIDEI, o Papa Francisco afirma que: “[...] enquanto unida à verdade do amor, a luz da fé não é alheia ao mundo material, porque o amor vive-se sempre com corpo e alma; a luz da fé é luz encarnada, que dimana da vida luminosa de Jesus. A fé ilumina também a matéria, confia na sua ordem, sabe que nela se abre um caminho cada vez mais amplo de harmonia e compreensão. Deste modo, o olhar da ciência tira benefício da fé: esta convida o cientista a permanecer aberto à realidade, em toda a sua riqueza inesgotável. A fé desperta o sentido crítico, enquanto impede a pesquisa de se deter, satisfeita, nas suas fórmulas, e ajuda-a a compreender que a natureza sempre as ultrapassa. Convidando a maravilhar-se diante do mistério da criação, a fé alarga os horizontes da razão para iluminar melhor o mundo que se abre aos estudos da ciência”. Ora, sem uma boa dose de espanto, de deslumbre diante do mistério da criação e de sua imensidão frente a nossa pequenez e diante do mistério de nossa existência, é tolice, palavrório oco ficar repetindo aquela frasezinha manjada de que isso ou aquilo é comprovado cientificamente. A sabedoria começa com o espanto. A estultice com a repetição de esquemas e fórmulas prontas.

5. Certa feita um amigo (tradutor por ofício, muçulmano por confissão) contou-me que havia morado numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul. Era período eleitoral e o que havia chamado sua atenção era o fato de que os comícios eram comedidos. E mais! Os candidatos apresentavam promessas razoáveis. Ele foi comentar isso com o dono da uma mercearia de sua rua e este lhe explicou donde vinha toda aquela civilidade. Segundo o comerciante, houve um pleito onde um candidato prometeu mundos e fundos e, após ter sido consagrado nas urnas, sua gestão revelou-se uma legítima casa da mãe Joana. Resultado: o povo saiu às ruas, foi até a Prefeitura, tomou o bonitão e seu secretariado e levou-os para a praça; em seguida foram à Câmara, trouxeram os vereadores para o mesmo local e lhes deram uma bela duma sova. Meu amigo então perguntou: “e a polícia, o que fez?” Encontrava-se no local para garantir que seria apenas uma sova bem dada. Pronto. Depois disso, segundo o dono da venda, o povo passou a ser respeitado.

Pax et bonum
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