Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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BOMBORDO E ESTIBORDO

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

Quando contamos uma mentira e, passado algum tempo, passamos a crer que ela é a mais pura verdade, isso é uma esquizofrenia, como nos ensina Juan Alfredo César Müller. Agora, quando repetimos uma mentira contada por outrem como se fosse verdade, ignorando as inúmeras advertências e evidências de sua falsidade, isso é idiotice.

Um bom exemplo disso é quando caboclos incautos começam a parlar sobre questões políticas que versam sobre o pedigree ideológico desse ou daquele partido, principalmente quando o dito cujo, sendo um partido de esquerda, metido até a goela em escândalos de corrupção.

É engraçado, mas, na cabeça de muitos, ser de esquerda é sinônimo de algum tipo de purismo moralista, de idealismo ético, similar ao mito do bom-selvagem de Michel de Montaigne e Jean Jacques Rousseau. Não são poucos os que ignoram que existem canalhas tanto de direita como de esquerda, como diziam Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro.

Resumindo: a filiação a essa ou aquela agremiação ideológica vermelha, na cabeça de muitos seria algo similar a uma espécie de unção beatífica que tornam o caipora uma espécie de sujeito que estaria acima do bem e do mal como, aliás, esse mesmo tipo de gente vê a si mesma.

No entender delas, quanto mais à esquerda estiver uma facção política, mais boazinha seriam as figurinhas que o integram.

E não adianta apontar para o óbvio ululante porque pra gente assim o mundo não chega até as suas vistas sem a prévia deformação que é imposta por sua viseira ideológica.

Para essa gente, atrasado são todos os outros regimes e doutrinas políticas; o socialismo não, esse é o progresso. O progresso do fracasso.

O modo de raciocínio dessa turma é bastante peculiar. Seria mais ou menos assim: eles primeiro comparam as realidades tristes presentes nas sociedades ocidentais com as propostas utópicas defendidas por sua ideologia totalitária. Bem, qualquer mente distraída pode acabar caindo nesse truque barato de inversão das categorias da substância com a da paixão. Truque esse que seria algo similar a você comparar as suas virtudes hipotéticas com os vícios patentes de um desafeto seu. É óbvio que, numa comparação feita nesses termos, você parecerá perante os outros muito mais fofo que o seu adversário, da mesma forma que muitos continuam vendo no socialismo como algo lindo e maravilhoso por avalia-lo sempre a partir de suas promessas utópicas, nunca a partir da realidade de seus resultados historicamente obtidos.

(Um bom exemplo desse tipo de delírio é o livro “O socialismo hoje” de Peter Singer. Existem muitíssimos outros delírios livrescos similares, mas fiquemos, por hora, apenas com esse).

Para quebrar tal encanto bastaria que passássemos a comparar realidade com realidade e ideal com ideal e aí, meu caro Watson, os mais de cento e dez milhões de inocentes assassinados, as dinastias sanguinárias e tiranias totalitárias fantasiadas de “democracia popular”, os expurgos, os gulag’s e campos de reeducação (campos de concentração) viriam à tona quebrariam todo o encanto desse vil canto das sereias barbudas.

Bem, mesmo assim, as alminhas criticamente críticas podem insistir nessa cantilena tosca e dizer que o comunismo nunca existiu, que os regimes políticos que existiram e existem foram e são apenas deturpações daquilo que comunismo/socialismo um dia será, porque, para eles, o socialismo é necessariamente superior ao capitalismo e blábláblá.

Em tais declarações o que se constata é uma pueril, mas eficiente, inversão das categorias da ação e do tempo. Troando por miúdos, matutemos a seguinte hipótese: os caiporas fundam um partido socialista, inspiram-se na tradição marxista, dizem que lutam por essa patacoada toda, fazem um montão de bobagens a partir de uma agenda inspirada nesse tipo de tranqueira, afundam a economia de uma sociedade inteira, invertem os valores morais, instrumentalizam as instituições, ferram com tudo e, ao final, dizem que isso não é responsabilidade deles, que não é fruto do marxismo e, de quebra, juram de pés juntos que apenas será obra deles quando tudo for perfeitinho.

E tem mais! Para tanto, isso apenas seria possível se eles tiverem a possibilidade de ter mais e mais poder concentrado em suas mãos para a sociedade poder ficar totalmente a sua mercê para, desse modo, poder ser moldada a imagem e semelhança de seus delírios utópicos. É isso? É. Trocando por dorso, é bem isso mesmo.

Por isso sou franco em dizer que quando ouço alguém dizer que não existe esquerda em nosso país e em lugar nenhum, tal declaração não me espanta, nem me causa espécie; porque um indivíduo que diz uma bobagem dessa, normalmente não é capaz de pensar a partir da realidade e nem possui um mínimo conhecimento histórico (apesar de crer ter um profundo conhecimento desse gênero por ter decorado meia dúzia de palavras de ordem).

Gente assim, faz isso a partir de um punhado de cacoetes mentais ou de algumas definições de dicionário que acabam tomando o lugar da realidade em sua perturbada cabecinha que imagina que à direita estão os malvados e à esquerda os mocinhos e ponto final, feito um conto de fadas parido por uma mente bipolar psicopática que imagina que dialética seja confrontar duas palavras vazias que são repetidas [histericamente] por cabeças ocas.

Enfim, existem outras nuanças que merecem a nossa atenção sobre essa questão que, noutra ocasião, quem sabe, possamos escrevinhar; porém, por hora é isso que temos a dizer, haja vista que lidar com esse tipo de confusão mental sempre acaba nos expondo a um elevado grau de insalubridade e isso, como todos sabem, não faz bem pra saúde não.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.

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