Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
(i)
Já ouvi conhecidos meus
referirem-se ao google como senso o grande oráculo da pós-modernidade, como já
li artigos que indicam que o referido buscador seria, em nossos dias, uma
espécie de divindade que tudo sabe e tudo vê; todavia, penso de maneira
diversa. A meu ver, o tal do google seria tão só e simplesmente o ópio da
imbecilidade hodierna.
Não que a ferramenta seja de todo
ruim, não mesmo. Como dizem os tongos, ela é uma baita mão na roda pra quem
sabe utilizá-la, tal qual a antiga enciclopédia britânica nos meus analógicos tempos
de guri.
O problema é que, para muitas almas
– algumas distraídas, outras maliciosas – o google é o critério último de
veracidade, o primeiro degrau da sapiência, o suprassumo da eloquência e, por
isso mesmo, o narcótico primeiro da mais que perfeita imbecilidade individual e
coletiva. Ponto.
(ii)
Se o hábito de ler fosse algo
realmente importante, se ele fosse de fato valorado entre nós, jamais teríamos
Lula, Dilma e outras tantas nulidades alçadas à posição duma autoridade.
(iii)
No frigir dos ovos, em nossa
sociedade, os diplomas não passam dum símbolo de distinção social e dum
distintivo de mútuo reconhecimento corporativo. Só isso.
(iv)
Duas décadas passadas, uma tia
minha, hoje professora aposentada, disse-me quando ingressei no magistério que
antigamente, numa sala de aula, havia dois, três alunos que perturbavam e o
restante que lá estava realmente queria estudar e que, naquele momento, as
coisas haviam se invertido.
Bem, hoje, fico cá com os meus
botões a perguntar-me o que minha tia diria se colocasse seus pés numa sala de
aula. O que será que ela me diria? Melhor nem saber.
Mas é bom dizermos algo. Quando uma
coisa muda radicalmente de substância ela deixa de ser o que era e dá um salto
qualitativo, tornando-se outra coisa. Uma nova coisa. Bem, é o que vemos hoje
em muitíssimas salas de aula do Ensino Médio e Fundamental em nosso triste
país.
Elas se transubstanciaram em algo
mui estranho e, mesmo assim, todos insistem em dizer que isso que hoje temos
são salas de aula e o que ocorre nelas seria algo próximo do que um dia foi
chamado de educação.
Ora, quando as pessoas acham normal
um aluno agredir um professor, quando doutos dizem que isso seria apenas uma
forma do infante se expressar, quando os sujeitos encaram o desdém pueril
manifesto pelos mancebos pela figura do professor como algo natural, quando
consideramos aceitável e compreensível que uma pessoa fique onze anos em uma
instituição de ensino e sai dela tal qual um analfabeto funcional, quando não
vemos nada de errado no fomento sorrateiro da ignorância soberba e da desídia
moral é porque nós já não sabemos pra que servia e para que realmente serve a
tal da sala de aula.
(*) Professor, cronista e
bebedor de café.
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