Por
Dartagnan da Silva Zanela
ARTIFICIAL E ARTIFICIOSO - Tudo é uma questão de atenção e de percepção.
Muitas vezes, por força de hábitos cognitivos viciosos, acabamos por julgar
tudo que está a nossa volta a partir duma única e miserável chave
interpretativa, querendo o tempo todo diminuir a complexidade da realidade para
melhor enquadrá-la em nosso mundinho disforme.
Por
exemplo: se um sujeito intenta interpretar a realidade a partir duma chave
cognitiva como a tal “luta de classes”, ou qualquer uma de suas variáveis, ele
estará, com muita facilidade e deformidade, criando um simulacro ao mesmo tempo
em que imagina estar desvendando um fosso de mistérios insondáveis que os reles
mortais seriam incapazes de vislumbrar. Tadinho.
Na
verdade, é muito mais provável que seja uma fossa de enganos e engodos fecais
do que outra coisa. E, tudo isso, parido por uma teimosia ideológica que não
apenas deforma a compreensão humana, mas também, distorce as relações entre os
indivíduos para que essas se tornem tão artificiais quanto são artificiosas às
pessoas que assim procedem.
LISONJA AO MÉRITO - Desde a antiguidade
os grandes sábios nutrem um grande desdém pelas honrarias. Nosso Senhor, o
Verbo divino encarnado, fazia o mesmo e nos convidava a procedermos como Ele.
Não
que o reconhecimento público não seja uma dádiva. Não é isso. O problema é quem
representa o dito público. Dum modo geral, não são excelências, apesar de toda
a deferência que lhes é facultada.
Excelências,
ontem, dum modo geral, não o eram; e hoje, dum modo especial, não o são, haja
vista que não mais se sabe a diferença substancial que há entre a respeitável
admiração e a mais abjeta bajulação. Pra falar a verdade, apenas essa última de
maneira rasteira se cultiva. A primeira, não se se sabe mais o que é.
A INDIGNIDADE E SUA MAJESTADE - Quando
não temos mais coragem de dizer que algo seja bom ou ruim é porque, por
excessivo respeito humano, perdemos a deferência devida à verdade, à beleza e à
bondade.
Quando
não mais sabemos a diferença que há entre o bem e o mal, entre o que bom e o
que é ruim, é porque nossa alma já se encontra totalmente corrompida pela
relativização da verdade, da beleza e da bondade, colocando qualquer delírio
humano no patamar da mais excelsa dignidade.
SER SAFO É COISA DE MANÉ - Por hábito,
por maus hábitos, tornamo-nos maliciosos e, consequentemente, safos. Ou seja:
acabamos ficando por cima da carne seca.
Entretanto,
com o tempo, por força da comodidade gerada pela malandragem, nossos hábitos
maliciosos tornam-se menos habilidosos e, inevitavelmente, alguém mais safo nos
dá um migue.
Por
isso, vale lembrar que os bons hábitos, por sua natureza, apenas se aprimoram
na mesma medida que nos aperfeiçoam simplesmente porque não tem em vista um
ganho fácil, mas sim uma realização durável.
Por
essas e outras que querer ser safo, é coisa de Mané. Sacou?
APRENDER É PARA OS FORTES - Sejamos
curtos e grossos: aprender, como nos ensina tanto o livro do Eclesiastes e o
filósofo Friedrich Nietzsche, é uma atividade dolorosa.
Todo
aquele que vive com aquela lengalenga de que aprender é uma coisa lúdica e
prazerosa é porque nunca aprendeu, nem ensinou nada.
Aprender
qualquer coisa dá trabalho. Muitas vezes é algo fatigante e, o pior de tudo, é
que com frequência nos enganamos no intento de acertar.
Mas
é assim mesmo, não se preocupe. Quem nunca caiu e se ralou é porque nunca
tentou caminhar sozinho. E o mundo está cheio de gente que gosta de fazer pose
de bom caminhante sem saber dar um passo firme. E, é claro, evite esse tipo de
gente. Principalmente, não seja um deles.
É O QUE TEMOS - Ocupe-se. Ocupe seu
tempo com atividades que o dignifique e que lhe proporcione ganhos humanos.
Ocupe-se para não desperdiçar esse precioso dom, que é o tempo. Ocupe-se para
não cair na fatigante roda do arrependimento pelo que não foi feito, dos
constantes embaraços que geram tantas e tantas desculpas esfarrapadas para
justificar o injustificável. Enfim, ganhe tempo usando o tempo que se tem.
FIAT LUX - Poderia falar muitas coisas
a respeito das mais variadas manifestações de anti-teísmo militante que
infectam os ares hodiernos. Poderia, mas estou sem disposição. É a velha
preguiça me puxando pelos garrões.
No
momento, contento-me apenas em citar as palavras de Herald Bloom, que nos diz:
“a religião não é o ópio do povo, é a poesia da humanidade”. Entendeu? Se não,
tente e, pode crer, algo de bom, belo e verdadeiro germinará em sua alma.
COM QUANTOS PAUS SE FAZ UMA CANOA - Laurentino
Gomes, em coluna recente, lembra-nos de um óbvio ululante: a história é escrita
a partir de documentos, não a partir de suposições.
Sim,
os documentos limitam o que podemos afirmar sobre os fatos, porque, felizmente
ou não, é o que nos restou deles. São os indícios que nos restaram duma
realidade vivida e que, dentro de determinadas circunscrições, nos ajudam a
reconstituir os dramas humanos pretéritos e a compreender seus ecos que ainda
se fazem presentes.
Não
respeitar essa fronteira inerente ao fazer historiográfico é uma clara
demonstração de desamor pela História. Ignorar as limitações do campo a ser
conhecido é desprezar o objeto que dizemos “querer” conhecer. E é justamente
isso que muitos dos supostos amantes da Mestra da vida fazem. Muitos,
inclusive, são supostos ensinadores dela.
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