Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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PARA ARROLAR O ROLO


Por Dartagnan da Silva Zanela


DA BREVIDADE DO NADA - Santo Agostinho nos ensina que a vida nada mais é do que uma breve passagem dum infinito, do qual saímos, para outro infinito, para o qual rumamos. Dum infinito ao outro apegamo-nos de maneira irascível, muitas vezes, a bens finitos que, comparados à eternidade, nada são. E não é com uma frequência menor que trocamos o eterno pela brevidade dum nada qualquer.

AS VÍBORAS NOSSAS DE CADA DIA – Santo Antônio de Pádua (também e primeiramente de Lisboa) era um homem que sabiamente construía translúcidas imagens para, através de seus piedosos sermões, ilustrar as obscurecidas almas que, naqueles idos, iam ouvi-lo pregar e bem como ilumina, até hoje, a alma dos distantes leitores de seus escritos, como nós.

Num desses sermões, ele nos diz: “Quando te sorriem a prosperidade mundana e os prazeres, não te deixes encantar; não te apegue a eles; brandamente entram em nós, mas quando os temos dentro de nós, nos mordem como víboras”.

E assim são nossos projetos pessoais. E assim são nossos sonhos e desejos mundanos. Imaginamos poder encontrar a felicidade neles, desprezando a vontade de Deus e, sem percebermos, somos corroídos pelos mesmos por serem incapazes de nos realizar como pessoas. Afundamos cegamente nessa tosca busca pela felicidade onde ela não habita e nem encontra morada.

CONCILIAR É PRECISO – Há em nosso país uma grande tradição política que nos orgulha. É a tradição conciliatória. Também há outra tradição política em nosso país. Essa, porém, nos envergonha. É a tradição conciliatória. A primeira foi erguida sob os alicerces da virtude e do senso de responsabilidade. A segunda foi construída com base no oportunismo vil de grupelhos sem caráter. Infelizmente, a segunda abunda em nossas terras atualmente e, a primeira, ao que tudo indica, morreu à míngua, já faz algum tempo.

UM RETRATO ENVELHECIDO – O que me assusta não é a safadeza e a leviandade que muitos nutrem no trato da coisa pública. Não mesmo. O que me impressiona é o amoralismo sociopático que impera entre aqueles que deveriam ter um mínimo de sentimento de honra e um razoável senso de responsabilidade para tratar daquilo que se convencionou chamar de bem público que, ao que tudo indica, aos olhos desses biltres, parece ser apenas o bem de quem colocar a mão primeiro.

NÃO HÁ SOLIDEZ - Todo aquele que, de fato, estuda a história de nosso país, quase que de maneira inescapável acaba chegando à mesma conclusão que, certa feita, chegou o historiador Capistrano de Abreu que afirmava que a história do Brasil dá a ideia de que o país seria similar a uma casa edificada na areia. Ou seja: não há solidez que se sustente por essas plagas.

PARA SERMOS ÚTEIS - Todos nós, uma vez ou outra, nos preocupamos com os rumos do Brasil e, inclusive, ficamos inquietos por imaginarmos que não estamos fazendo tudo o que acreditamos que deveríamos fazer para sermos cidadãos ativos e úteis à nação para não nos tornarmos passivos e inúteis, alienados dos problemas que assolam esses tristes trópicos. Se assim estivermos a nos sentir, lá vai a diga, cáustica e certeira, do grande amigo de Eça de Queiroz, o escritor Ortigão Ramalho. Dizia ele, em suas farpas, que: “O modo mais eficaz de seres útil à tua pátria é educares o teu filho”.

Pois é, se mais pessoas preocupassem-se em cumprir com os seus deveres paternais, cujos meios estão ao alcance de suas mãos, provavelmente poderíamos dar uma face menos doentia para a sociedade brasileira. Mas não! Renunciamos ou delegamos a terceiros nosso dever primeiro para nos ocuparmos de simulacros que nos dão uma hipotética sensação de grandeza cívica e moral. Simulacro esse que, mal e porcamente, oculta nossa impotência voluntária num misto com nossa omissão cretina.

Enfim, queremos muitas vezes mudar o mundo sem estarmos dispostos a dedicarmo-nos a nossos filhos, pois, para muitos, a ficção duma cidadania hiperbólica é mais atraente que o cumprimento abnegado dum amoroso dever anônimo e silencioso.

NÃO LAMENTAR – A bússola moral da classe falante brasileira nunca foi das melhores, porém, agora, nem a velha gambiarra de orientação é utilizada. Apenas isso já é mais do que suficiente para explicar a leviandade de muitas opiniões partilhadas pelos néscios diplomados. Era sobre isso que, penso eu, referia-se Silvio Romero quando afirmava que o brasileiro é um ser desequilibrado e ferido, agarrado a uma tábua de salvação que as marés do momento lhe colocam nas mãos.

UMA DIGA SEMPRE ATUAL - Apenas procure fazer o bem sem ver a quem e, se possível for, sem dizer a ninguém.

O QUE IMPORTA - Pouco importa se a pessoa é parcial ou imparcial. Isso é frescura de idiota recalcado metido a sabidão. O que importa, realmente, é que a pessoa seja verdadeira.


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