Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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DIÁRIO DE BORDO: DATA ESTRELAR INCERTA - 008

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

DIRETO DO ESGOTO – A mentira tem perna curta, já a calúnia rasteja sebosamente sobre o próprio excremento. A primeira, com o tempo, cai devido ao seu passo claudicante; já a segunda, desde o princípio, fede, é asquerosa e impregna em tudo e em todos com seu toque putrefaz e, por isso, dá nojo em qualquer alma minimamente decente. Como dá.

NO CAMINHO HÁ CAMINHO – Um amigo desportista contava-me duma experiência que ele havia realizado num fim de semana desses. Dizia-me ele que havia decido a serra da Esperança de bicicleta; chegando até a praça do pedágio e retornou pedalando para seu porto seguro em Guarapuava. Dessa experiência, confidenciou-me que aprendeu duas preciosas lições - se assim podemos chamar.

A primeira: subir a serra é mais fácil que descê-la, como na vida é muito mais fácil ascender em dignidade do que afundar em fealdades.

Explico-me: parece fácil descer aos patamares mais baixos e rasteiros da existência, mas não é tão simples quanto imaginamos. Na verdade, a decadência exige de nós um grande esforço para nos autodestruir, pois, há muitos elementos em nós que resistem à degradação - por mais incrível que isso possa parecer - similar ao vento que sopra contra nossa face na descida duma serra.

Agora, quando decidimos ascender, o trem é outro, haja vista que, para tanto, é imprescindível a tal da constância; de modo similar a subida duma serra com uma bicicleta com pedaladas lentas, fortes e constantes.

Resumindo: o perseverar é apenas difícil aparentemente, haja vista que, com o tempo, ele nos fortalece pra caramba, tornando a jornada mais leve de modo similar ao cultivo das virtudes cardinais.

Agora a segunda lição: quando nos livramos do ritmo maquinal que nos é imposto pelos automóveis - e demais bugigangas tecnológicas -  tornamo-nos capazes de sentir a imensidão de tudo que está em nossa volta e, consequentemente, começamos a reconhecer com um realismo brutal a nossa pequenez frente à realidade.

Ora, ficamos tão, tão habituamos com o artificialismo da vida moderna que passamos a medir a nossa importância através duma régua inumana e irreal que tolhe o nosso senso de realidade.

Enfim, não digo que para recobrar o referido senso, um passeio de bicicleta pelas rotas que frequentemente percorremos de carro, resolva; mas, confesso: já seria um bom começo. Um belo começo.

POUCO IMPORTA – Há muitas almas sebosas, aqui e acolá, que gostam de gastar boa parte de seu precioso tempo com toda ordem de futilidades (im)possíveis e (in)imagináveis. E detalhe: quando o assunto é frivolidade a capacidade humana é tão dilatada quanto às fronteiras do universo conhecido.

Fazer o quê? É nesse passo que a humanidade segue em sua jornada pela crosta do planetinha azul.

Doravante, é mais que compreensível que, vez por outra, desperdicemos nosso escasso tempo com bobagens. Aliás, quem não faz isso, não é mesmo? O que fica difícil de entender é que façamos dos nossos disparates de cada dia o critério ordenador máximo de mensuração e valoração do uso que fazemos do nosso tempo, principalmente quando as sandices passam a tomar o lugar dos momentos que, substantivamente, deveriam estar sendo dedicados noutra atividade, como o trabalho e os estudos. Atividades essas que não deveriam incluir, de modo algum, os trelelês bocós mediados por um aparelho celular, como muitas vezes acontece.

Enfim, dum jeito ou doutro, para uma sebosa alma online, toda essa conversa é de pouca valia para sua vidinha offline, haja vista que seu desleixo para com o uso do tempo apenas revela o quão medíocre é sua existência vivida agrilhoada num punhado de insignificâncias forjadas num wi-fi.

UMA IMAGEM É QUASE TUDO – Uma imagem vale mais que mil palavras. Assim reza o dito popular. Porém, para que as mil palavras contidas numa imagem possam ser devidamente decodificadas é necessário que saibamos lê-las nas ditas cujas das imagens. Por essas e outras que Roland Barthes dizia, de maneira lacônica, que no século XXI analfabeto não seriam tão somente aqueles que não souberem ler e escrever, mas também, todo aquele que não saber desemaranhar adequadamente uma imagem.

DOIS TENTOS – Antigamente ou, como diria meu pai, no meu tempo quando uma visita chegava numa casa era costume desligar o televisor. E, assim o era, por uma questão de educação.

Se a televisão estava liga, assistia-se o que ela estava comunicando. Se estivéssemos tomando chimarrão e conversando, então a atenção deveria estar na prosa e ponto final.

Bem, assim éramos educados naquele tempo. Hoje, infelizmente, a conversa é outra.

Atualmente, pouco importa quem chegue aos lares; a televisão, o rádio, o computador, os celulares, enfim, seja o que for; os ditos cujos continuarão ligados como se a presença física da pessoa não tivesse a mínima importância ou, como se aquilo que está sendo noticiado pela mídia não devesse receber dos presentes a atenção devidamente apropriada.

Dum jeito ou de outro, tornou-se um hábito, cultivado desde o ambiente doméstico, que não há nada de errado em estar conversando enquanto outro esteja falando, esteja ele presente física (visita) ou virtualmente (televisor), como muito bem nos aponta o finado professor Pierluigi Piazzi.

Na sociedade atual o dito que afirmava que enquanto um fala o outro cala e escuta não faz mais o menor sentido, tamanha a falta de senso das proporções que impera entre nós.

Resumindo o entrevero: somos mal educados desde o berço para centrarmos nossa vida na mais torpe egolatria. Habituamo-nos a falar o tempo todo sem dar a devida atenção a qualquer um e achamos esse barbarismo a coisa mais normal do mundo.

Pior! Qualquer um que ouse dizer que isso é grotesco passa a ser visto como um ser anormal, haja vista que a petulância cretina tornou-se a régua de medida da educação modernosa que não se cansa de parir cidadãos podres de mimados. Cidadãos que, devido a esse mimo, imaginam-se detentores duma infusa pseudo-criticidade tão abjeta quanto inculta; a cara escarrada da educação recebida por esses tipos desde o berço.

É ASSIM MESMO – Quando uma pessoinha procura chamar a atenção de todos, das formas mais disparatadas possíveis, nos momentos mais inapropriados, você pode ter certeza de que, tal indivíduo, não passa, na melhor das hipóteses, dum poço de presunçosa nulidade.

Encurtando o eito: gente desse naipe não passa duma criatura de caráter disforme, tão vazia e tão desprovida de personalidade que, por uma torpe necessidade existencial, tem de inventar toda espécie de firulas pra disfarçar sua indelével condição anódina de ser. A realidade de sua condição é demasiadamente feia para ser, num derradeiro ato de dignidade, afrontada por ela mesma.

A ÚLTIMA PALAVRA – Não desejo ter razão em nada, muito menos ser o detentor da última palavra numa conversação. Pra mim tudo isso me parece uma grande perda de tempo; pura vaidade mal disfarçada entre egos inchados. O que almejo, dentro das minhas muitas limitações é procurar conhecer a verdade e, se possível for, no ato de conhecê-la, conhecer-me e tornar-me algo melhor.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.

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