Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
DIRETO DO ESGOTO – A mentira tem perna curta, já a calúnia rasteja
sebosamente sobre o próprio excremento. A primeira, com o tempo, cai devido ao
seu passo claudicante; já a segunda, desde o princípio, fede, é asquerosa e
impregna em tudo e em todos com seu toque putrefaz e, por isso, dá nojo em
qualquer alma minimamente decente. Como dá.
NO CAMINHO HÁ CAMINHO – Um amigo desportista contava-me duma
experiência que ele havia realizado num fim de semana desses. Dizia-me ele que
havia decido a serra da Esperança de bicicleta; chegando até a praça do pedágio
e retornou pedalando para seu porto seguro em Guarapuava. Dessa experiência,
confidenciou-me que aprendeu duas preciosas lições - se assim podemos chamar.
A primeira: subir a serra é mais
fácil que descê-la, como na vida é muito mais fácil ascender em dignidade do
que afundar em fealdades.
Explico-me: parece fácil descer
aos patamares mais baixos e rasteiros da existência, mas não é tão simples
quanto imaginamos. Na verdade, a decadência exige de nós um grande esforço para
nos autodestruir, pois, há muitos elementos em nós que resistem à degradação -
por mais incrível que isso possa parecer - similar ao vento que sopra contra
nossa face na descida duma serra.
Agora, quando decidimos ascender,
o trem é outro, haja vista que, para tanto, é imprescindível a tal da
constância; de modo similar a subida duma serra com uma bicicleta com pedaladas
lentas, fortes e constantes.
Resumindo: o perseverar é apenas
difícil aparentemente, haja vista que, com o tempo, ele nos fortalece pra
caramba, tornando a jornada mais leve de modo similar ao cultivo das virtudes
cardinais.
Agora a segunda lição: quando nos
livramos do ritmo maquinal que nos é imposto pelos automóveis - e demais
bugigangas tecnológicas - tornamo-nos
capazes de sentir a imensidão de tudo que está em nossa volta e, consequentemente,
começamos a reconhecer com um realismo brutal a nossa pequenez frente à
realidade.
Ora, ficamos tão, tão habituamos
com o artificialismo da vida moderna que passamos a medir a nossa importância
através duma régua inumana e irreal que tolhe o nosso senso de realidade.
Enfim, não digo que para recobrar
o referido senso, um passeio de bicicleta pelas rotas que frequentemente
percorremos de carro, resolva; mas, confesso: já seria um bom começo. Um belo
começo.
POUCO IMPORTA – Há muitas almas sebosas, aqui e acolá, que gostam
de gastar boa parte de seu precioso tempo com toda ordem de futilidades
(im)possíveis e (in)imagináveis. E detalhe: quando o assunto é frivolidade a
capacidade humana é tão dilatada quanto às fronteiras do universo conhecido.
Fazer o quê? É nesse passo que a
humanidade segue em sua jornada pela crosta do planetinha azul.
Doravante, é mais que
compreensível que, vez por outra, desperdicemos nosso escasso tempo com
bobagens. Aliás, quem não faz isso, não é mesmo? O que fica difícil de entender
é que façamos dos nossos disparates de cada dia o critério ordenador máximo de
mensuração e valoração do uso que fazemos do nosso tempo, principalmente quando
as sandices passam a tomar o lugar dos momentos que, substantivamente, deveriam
estar sendo dedicados noutra atividade, como o trabalho e os estudos.
Atividades essas que não deveriam incluir, de modo algum, os trelelês bocós
mediados por um aparelho celular, como muitas vezes acontece.
Enfim, dum jeito ou doutro, para
uma sebosa alma online, toda essa conversa é de pouca valia para sua vidinha
offline, haja vista que seu desleixo para com o uso do tempo apenas revela o
quão medíocre é sua existência vivida agrilhoada num punhado de
insignificâncias forjadas num wi-fi.
UMA IMAGEM É QUASE TUDO – Uma imagem vale mais que mil palavras.
Assim reza o dito popular. Porém, para que as mil palavras contidas numa imagem
possam ser devidamente decodificadas é necessário que saibamos lê-las nas ditas
cujas das imagens. Por essas e outras que Roland Barthes dizia, de maneira
lacônica, que no século XXI analfabeto não seriam tão somente aqueles que não
souberem ler e escrever, mas também, todo aquele que não saber desemaranhar
adequadamente uma imagem.
DOIS TENTOS – Antigamente ou, como diria meu pai, no meu tempo
quando uma visita chegava numa casa era costume desligar o televisor. E, assim
o era, por uma questão de educação.
Se a televisão estava liga,
assistia-se o que ela estava comunicando. Se estivéssemos tomando chimarrão e
conversando, então a atenção deveria estar na prosa e ponto final.
Bem, assim éramos educados
naquele tempo. Hoje, infelizmente, a conversa é outra.
Atualmente, pouco importa quem
chegue aos lares; a televisão, o rádio, o computador, os celulares, enfim, seja
o que for; os ditos cujos continuarão ligados como se a presença física da
pessoa não tivesse a mínima importância ou, como se aquilo que está sendo
noticiado pela mídia não devesse receber dos presentes a atenção devidamente
apropriada.
Dum jeito ou de outro, tornou-se
um hábito, cultivado desde o ambiente doméstico, que não há nada de errado em
estar conversando enquanto outro esteja falando, esteja ele presente física
(visita) ou virtualmente (televisor), como muito bem nos aponta o finado
professor Pierluigi Piazzi.
Na sociedade atual o dito que
afirmava que enquanto um fala o outro cala e escuta não faz mais o menor
sentido, tamanha a falta de senso das proporções que impera entre nós.
Resumindo o entrevero: somos mal
educados desde o berço para centrarmos nossa vida na mais torpe egolatria.
Habituamo-nos a falar o tempo todo sem dar a devida atenção a qualquer um e
achamos esse barbarismo a coisa mais normal do mundo.
Pior! Qualquer um que ouse dizer
que isso é grotesco passa a ser visto como um ser anormal, haja vista que a
petulância cretina tornou-se a régua de medida da educação modernosa que não se
cansa de parir cidadãos podres de mimados. Cidadãos que, devido a esse mimo,
imaginam-se detentores duma infusa pseudo-criticidade tão abjeta quanto inculta;
a cara escarrada da educação recebida por esses tipos desde o berço.
É ASSIM MESMO – Quando uma pessoinha procura chamar a atenção de
todos, das formas mais disparatadas possíveis, nos momentos mais inapropriados,
você pode ter certeza de que, tal indivíduo, não passa, na melhor das
hipóteses, dum poço de presunçosa nulidade.
Encurtando o eito: gente desse
naipe não passa duma criatura de caráter disforme, tão vazia e tão desprovida
de personalidade que, por uma torpe necessidade existencial, tem de inventar
toda espécie de firulas pra disfarçar sua indelével condição anódina de ser. A
realidade de sua condição é demasiadamente feia para ser, num derradeiro ato de
dignidade, afrontada por ela mesma.
A ÚLTIMA PALAVRA – Não desejo ter razão em nada, muito menos ser o
detentor da última palavra numa conversação. Pra mim tudo isso me parece uma
grande perda de tempo; pura vaidade mal disfarçada entre egos inchados. O que
almejo, dentro das minhas muitas limitações é procurar conhecer a verdade e, se
possível for, no ato de conhecê-la, conhecer-me e tornar-me algo melhor.
(*)
Professor, cronista e bebedor de café.
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