Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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DIÁRIO DE BORDO: DATA ESTRELAR INCERTA - 007

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

O BURACO É MAIS EMBAIXO - A ignorância dos fatos não é suficiente para explicarmos um erro e, o conhecimento manifesto pelo agente sobre algo, é tão insuficiente quanto à ignorância para compreendermos uma atitude qualquer, seja ela estúpida ou não.

Dum jeito ou de outro, o desconhecimento ou a ciência sobre alguma coisa é apenas uma variável entre inúmeras outras que, se forem devidamente ponderadas, são menores, bem menores em importância, que o destempero do caráter manifesto pelo sujeito que comete esse ou aquele  deslize.

ENTRE LINHAS TORTAS – Uma derrota, bem como uma vitória num pleito eleitoreiro são sinais dados pela sociedade que devem ser devidamente lidos tanto pelos vencedores, como pelos perdedores e, principalmente, por todos os cidadãos de bem.

Das várias leituras que podem ser realizadas, juntamente com as inúmeras variáveis que podem e devem ser levadas em consideração, há dois pontos que não podemos ignorar.

Primeiro: a soberba cega-nos, como ela deixa-nos obtusos! E, por isso mesmo, a queda, seja ela grande ou pequena, é um ato de misericórdia para abrirmos os olhos e voltarmos a enxergar a vida com olhos mais sensatos e com a alma humildemente reclinada frente à realidade de nossos atos.

Quanto à vitória, bem, essa é um teste. E que teste! Uma séria provação para averiguarmos de que material é feita a nossa alma. Exame esse que coloca a vista de todo aquele que tiver olhos e estômago para ver, a matéria pútrida que há no abismo de nossas entranhas.

Segundo: o povo, numa democracia, gosta sim de ser cortejado. Aliás, quem não gosta? Porém, isso não significa que ele, o tal do povo, seja um bicho bobo. Não mesmo. Bobo é que pensa assim. Ele, o povo, comete lá suas estripulias, mas não é estulto não. Não mesmo. Detalhe: com frequência muita gente esquece-se desse fato e acaba pagando caro por tal esquecimento.

Enfim, de um jeito ou doutro, a vida, em sua pedagogia, sempre está disposta a nos ensinar a verdade por entre a tortuosidade dos traços de nossa existência. Sempre. Porém, infelizmente, nós preferimos muitas vezes ignorar as lições que nos são ministradas por ela e, soberbamente, acabamos por optar em continuar agindo, pensando e vivendo de maneira atravessada. Fazer o que, não é mesmo?

OUTRAS LINHAS TORTAS – O mais engraçado ao fim dum pleito eleitoral são as histórias de campanha. Muitíssimas histórias, uma mais cabeluda que a outra. Historietas essas que se fossem devidamente escritas engordariam um belo volume com crônicas e contos que, por sua deixa, serviriam como um poderoso instrumento para educar as futuras gerações, tanto de cidadãos candidatos como de cidadãos eleitores.

Com uma obra assim poderíamos aprender algo de bom com as coisas profundamente ridículas que se fazem presentes numa eleição e que, diga-se de passagem, não são poucas.

Práticas que revelam o que somos capazes de fazer em nome do tal do poder; práticas que revelam as sombras que habitam nossa alma; práticas essas que desvelam as turvas inclinações de nosso caráter que devem, necessariamente, ser devidamente admoestadas por cada um de nós em nós.

E O TEMPO NUBLOU – Lembro-me que, certa feita, havia assistido um episódio do seriado Star Trek onde o senhor Spock e o doutor Mccoy estavam presos num planeta devido a uma avaria em sua nave e, lá pelas tantas, uma besta galáctica se aproximou do módulo espacial deles e aí o tempo nublou de vez.

O vulcano, sem pestanejar, disparou alguns tiros e argumentou com o doutor Mccoy que, feito isso, a criatura iria se assustar e fugir. Ledo engano. Ledo e vaidoso engano. A fera, no frigir dos raios lasers, ficou enfurecida e investiu violentamente contra a nave e quase os matou.

Ou seja: o senhor Spock, até então, não havia compreendido que, diante de uma ameaça, uma criatura pode reagir de muitas formas e que, muitas vezes, tais reações não se enquadram em nosso raciocínio rasteiro, viciado em esquemas mentais simplórios de causas e efeitos; raciocínios que, na maioria dos casos, desconsidera as inúmeras variáveis que podem determinar um efeito que é desencadeado por uma determinada causa.

Enfim, resumindo o entrevero estrelar: todo aquele que ameaça, velada ou descaradamente, uma ou mais pessoas, todo aquele que persegue indivíduos por essa ou por aquela razão, esquece-se, com muita frequência, que os perseguidos e ameaçados também podem revidar e, cedo ou tarde, de modo circunspecto, o fazem.

APENAS UMA REFLEXÃO INDOLOR – Goethe nos ensina que devemos tratar a todos com decência e, tratar o semelhante desse modo, significa que, antes de tudo, devemos respeitar a inteligência alheia. Bem, é nesse desrespeito que reside boa parte das indecorosas imposturas de nossa sociedade.

Dum modo geral, a inteligência do povo é diuturnamente desrespeitada das mais variadas formas possíveis e, de tempos em tempos, ela é insultada de modo mais que avassalador por todas as hostes, que juram de pés juntos, serem seus fiéis benfeitores.

Pior! Com o devir dos dias, de tanto ter sua inteligência aviltada ela pode acabar degenerando na mesma medida em que é afrontada.

Enfim, não sei se é assim que a humanidade segue seu rumo, mas, com grande margem de acerto, esse é o ritmo do passo da brasilidade.

OUTRA REFLEXÃO INDOLOR – Toda e qualquer pretensão democrática, numa sociedade que não tenha uma forte inclinação aristocrática enraizada no coração dos cidadãos, está fadada a degenerar numa oclocracia.

NÃO É POR MALDADE – Volver as vistas para a cultura brasileira contemporânea e não reconhecer o estado deplorável em que a alma verde amarela se encontra não é ufanismo desvairado não. É doideira pura e simples mesmo.

Digo isso não por maldade. Não é isso não! De jeito maneira. Mas, consideremos os seguintes dados: nós, brasileiros, ficamos em 2016 no quinquagésimo oitavo lugar no ranking do PISA (numa lista de sessenta e cinco países); somos recordistas mundiais em número homicídios (são ceifadas, por ano no Brasil, mais vidas do que em toda a guerra do Iraque); somos o país onde as pessoas iniciam a vida sexual mais precocemente; estamos em primeiríssimo lugar em casos de estupros de vulneráveis; cresce significativamente nas plagas brasileiras o número de usuários de drogas lícitas e ilícitas; e, por fim, ostentamos, sem corar de vergonha, o número cada vez maior de analfabetos funcionais (in)devidamente diplomados.

Já sei, já sei: é o fim da rosca, não é mesmo? Pois é. E é por essas e outras que digo e repito, com tristeza no coração: volver os olhos para a cultura brasileira contemporânea e não reconhecer o estado decrépito em que a alma brazuca se encontra não é sinal de patriotismo não. É estupidez pura e simples. Uma prova de desamor por tudo aquilo de significativo que um dia foi produzido no finado Brasil.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.

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