Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
Em algumas ocasiões, devido as
minhas malfadadas escrevinhações, uma e outra pessoa gentilmente me pergunta
por que vivo tão indignado com isso e aquilo, ou me parabenizam por essa ou
aquela manifestação indignada. Porém, todavia e, entretanto, quem disse que sou
um caipora indignado? Não sou e nem estou indignado com nada não. De jeito
maneira.
Na verdade, pra ser bem sincero,
fico fulo da vida com café frio e por causa de cerveja quente. Fora isso, sou
um caboclo bem sossegado.
Então como explicar o tom pra lá
de amargo de minhas linhas mal escritas? Bem, meu azedume é apenas uma questão
de estilo, digo, de falta de estilo. Coisa de bicho do mato, de um caipira
provocador que acha bonito ser feio. Só isso.
Mandando a real, rio muito quando
escrevo sobre as desventuras humanas e, obviamente, sobre minha flagrante
impotência diante dela. Isso sem falar que não espero que meus ditos mal ditos
sejam prontamente acatados por fulano ou sicrano. Reconheço e aceito estoicamente
minha insignificância.
Dou-me por satisfeito se,
modestamente, e se possível for, poder dividir, com aqueles que gentilmente me
leem aquilo que me inquieta e, desse modo, aliviar minha alma.
De mais a mais, meu caro Watson,
esse papo de indignação é coisa de cidatonto crítico pra lá de fingido que,
aliás, faz-me rir pacas.
Não existe na face da terra – ao
menos nas terras brazucas – sentimento mais artificial e artificioso do que
essa tal de indignação que, literalmente, é apenas um beicinho feito por quem
espera que os outros façam algo que nem ele mesmo tem coragem e capacidade de
fazer e, por isso mesmo, bate o pezinho, e dá seu gritinho de "cidadão de
passeata" pra tentar disfarçar o seu fiasco existencial.
No fundo, bem no fundo, toda e
qualquer manifestação de indignação pública de apelação publicitária,
politicamente correta, não passa duma forma de covardia nada original e
pouquíssimo convincente.
Enfim, sem mais delongas, quero
apenas dizer de modo pouco adocicado que não sou um cidadão indignado não e
que, diga-se de passagem, tenho pavor de gente que faz da dita da indignação o
mastro de suas furibundas bandeiras éticas, políticas e ideológicas.
No final das contas, como havia
dito no princípio, sou apenas um palhaço sem graça que nas horas vadias se
ocupa, entre outras coisas, de brincar de juntar uma palavra aqui com outra
acolá pra ver se elas ecoam de alguma forma no deserto da realidade.
(*) Professor, cronista
e bebedor de café.
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