Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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LOBATO E O ARCANJO MIGUEL

Escrevinhação n. 1033, redigida no dia 13 de agosto de 2013, dia de Santo Hipólito e de São Ponciano.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Há uma belíssima crônica da lavra de Érico Veríssimo a respeito de ninguém menos que Monteiro Lobato. Nesta, vemos um gênio das letras rendendo uma homenagem póstuma a um dos grandes mestres da esgrima intelectual.

O texto é uma delícia! Inicialmente descreve a chegada de Lobato ao Céu e este, quando diante de São Paulo, o promotor celestial de seu julgamento, cansado da viagem, acende um cigarro com as labaredas duma estrela e eis que inicia-se o julgamento. Acusam-no de muitas coisas, mas, principalmente, de nunca ter tido paciência com a toleima humana, de ter satirizado o povo brasileiro e ele, de sua parte, confirma a veracidade de tais considerações e justificava dizendo que isso tudo era necessário para despertar os brasileiros e acrescentava dizendo que se arrependia por não ter começado tal empreitada mais cedo, pois morrera sem obter o êxito almejado.

Porém, o momento mais interessante é quando Monteiro pede a Deus, se ainda houvesse em sua algibeira, um milagre para o Brasil. E qual milagre seria? O milagre do bom senso. Sim, meu caro Pedrinho, o bom senso fez as malas e, ao que tudo indica, tirou férias perpétuas de nosso país faz algum tempo. Tornou-se quase uma regra sacrossanta, nestas terras, a afetação de superioridade, com toda aquela posse socialmente responsável em misto com aquele insuportável palavrório politicamente-correto.

Sim, passaram-se os anos e a sociedade brasileira continua, garbosamente, deitada em berço esplêndido, a babar sobre sua inépcia voluntária, responsabilizando sempre os outros por tudo para, cinicamente, fingir que nossa mediocridade seja alguma forma decantada de qualidade varonil. Tanto é assim que, hoje, muito mais que em qualquer época, confunde-se afetação e bom-mocismo com educação e dignidade. Com certeza, se estivesse entre nós, o taturana bufaria mil raios e trovões com suas letras e, com toda certeza, seria taxado de bufo intolerante, ou com alcunhas similares. Aliás, como muitos abutres já o fazem sobre seu jazigo.

Sim, não há dúvidas de que a advertência de José de Alencar é procedente, quando este nos aconselha dizendo que “dos animais selvagens o mais perigoso é o caluniador e dos domésticos o adulador”. Infelizmente, tais feras abundam nestas plagas. Esgueiram-se pelos becos e vielas, reais e virtuais, a fartarem-se no exercício daquilo que lhes é de sua natureza, esparramando-se faceiros para todos os lados com seus lábios a exalar o ar putrefaz de suas entranhas carcomidas.

Provavelmente, o autor de Urupês não economizaria as farpas se estivesse a escrevinhar, hoje, entre nós. Não mediria palavras para nos fazer despertar deste estado de estupor que hoje impera. Aliás, como afirmou o próprio Veríssimo, precisaríamos que Deus mandasse Lobatos às pencas para realização de tão ingrata tarefa. Para falar a verdade, não sei se merecemos tamanha benção.

Pax et bonum
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