Escrevinhação n. 1035, redigida no dia 20 de agosto de 2013, dia de São Bernardo de Claraval.
Por Dartagnan da Silva Zanela
Ensina-nos Varnhagen, o Heródoto brasileiro, que a verdade é a alma da história e, a procura por ela deve, necessariamente, mover o olhar daquele que quer embeber-se nas suas caudalosas e misteriosas águas. Sim, sei que há todo aquele colóquio flácido de que o conhecimento da verdade, e de modo especial a histórica, é problemático. Porém, mesmo que nós não possamos contemplar a integralidade da verdade no objeto de nosso estudo, não podemos ignorar a sua existência, visto que, há uma diferença ontológica entre ela e nossa [in]capacidade de abarcá-la. Por isso, não confundamos uma com a outra.
De mais a mais, se nós não estamos procurando-a, o que desejamos? Pompas verbais para posar de sabidinho pedante ou usá-la como uma arma político-ideológica? Essas, meu caro, são as únicas possibilidades para aqueles que ignoram a verdade, relativizando sua existência, tomando como parâmetro cognitivo a precariedade de sua disposição em conhecê-la.
Em vista disso, o que há é uma questão mal colocada que antepõem critérios evocativos à noção de verdade que, por sua deixa, cria um falso problema, como nos ensina Ernest Cassirer. Neste sentido, Tucídides adverte-nos que todo aquele que empreender uma jornada pelas vielas da história deve esforçar-se em ser fiel ao testemunho das evidências que nos foram deixadas pelas sombras de antanho e, principalmente, esforçarmo-nos a dar um depoimento sincero do que estamos vendo em contraste com aquele que somos.
Resumindo o entrevero: a verdade histórica revela-se ao observador que pacientemente persevera em sua investigação, procurando ouvir os testemunhos de todos os sujeitos envolvidos na trama, conhecendo o cenário em que esta se desenrola sem desprezar os postulados a priori que habitam e moldam a percepção daquele que mira suas vistas à procura de instrução junto à mestra da vida.
Acudir esses três pontos é de fundamental importância para se cultivar no íntimo de nosso coração uma brutal sinceridade intelectual. Sinceridade esta que só pode ser edificada quando temos claro em nosso horizonte a presença radiante do olhar onisciente da verdade a nos lembrar o tempo todo, e a todo tempo, para que não caímos na tentação dos auto-enganos, do fingir saber o que nunca estudamos, de inventarmos a história para melhor atender aos nossos propósitos, sejam eles políticos, imediatos ou mesmo fúteis.
Por fim, o testemunho que nos é dado por Joaquim Nabuco através de sua obra, em especial “Um estadista do Império” e “Minha Formação”, nos revela mais do que meros retratos duma época, mas acima disso, um testemunho sincero, de um homem de estudo e de ação, que tinha no horizonte de sua jornada por esse vale de lágrimas o desejo abnegado e franco conhecer a verdade através da história.
É isso que se espera de todo aquele que faz da via de Heródoto, sua profissão.
Pax et bonum
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