Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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MEROS RESPINGOS DE TINTA

Escrevinhação n. 1037, redigida entre os dias 22 de agosto de 2013, dia de São Filipe Benício e da Virgem Maria Rainha, e 26 de agosto de 2013, dia de São Zeferino.

Por Dartagnan da Silva Zanela

1. A companhia dum analfabeto nato, duma pessoa ágrafa, é muitíssimo mais edificante que a dum analfabeto diplomado, independente do grau de seu rolinho de papel sujo. Este tipo presunçoso, que tanto abunda nestas plagas, conhece as letras, mas não lhes dá o devido valor, desdenha o seu cultivo e, por isso mesmo, não as ama.

2. Palavras! Houve um tempo em que acreditei em palavras humanas. Houve um tempo em que acreditei nas promessas humanas dum mundo melhor possível. Tolo eu era. Esse era o tempo da idade das bestiais utopias rubras. Eram os dias das estultices juvenis, tempo esse em que acreditamo-nos senhores do futuro sem ao menos termos lutado pelo presente a partir da conquista do que nos fora legado pelo passado. Época em que almejamos corrigir o mundo sem ao menos ter tentado nos corrigir. Tempo sombrio esse que, graças ao bom Deus, passou, mas que, em muitas almas, continua a fazer-se presente com as mesmas palavras ocas e vazias dos tempos das estultices pueris.

3. A realidade presente em uma palavra não é desvendada através das páginas dum dicionário, mas sim, por meio das laudas dos atos e gestos humanos. Quando as letras encontram-se perdidas flutuando nos ares pútridos de lábios cínicos os gestos destroem todo o sentido originário que há na palavra dita pela alma sebosa. Ora, não é raro vermos esses seres carcomidos em sua soberba falarem que amam ao mesmo tempo em que seus gestos revelam o total desprezo pelo ser amado. É freqüente testemunharmos gestos de magistral ingratidão em contraste aberrante com a palavra gratidão, mesmo que essa seja dita com todos os tons melosos e entonações chorosas imagináveis. E, num contraste destes, não há como falar em valores, visto que, neste cenário, eles também foram desdenhados, para não dizer excluídos.

4. O posar de coitado é um sinal clarividente de deficiência de caráter. Não me refiro as desvalidos, obviamente. Aliás, estes se recusam a fazer-se de coitados e, na verdade, dão-nos preciosas lições de grandeza através da maneira corajosa com que eles enfrentam os descaminhos da vida. Refiro-me sim àqueles tipinhos que, de fato, a vida lhes sorriu, e muito, mas que se imaginam merecedores de muito mais e, por isso, veem-se como vítimas injustiçadas do destino. Que dó! Nada constroem porque não ganham tanto quanto acham que mereçam. Em fim, sempre se sentem muito acima do que a vida lhes oferta porque nunca estiveram à altura duma vida humana digna deste nome. No fundo, esse tipo de gente não passa dum Raskolnikov piorado.

5. Às vezes fico cá com meus botões a indagar sobre os limites que separam a cegueira estulta da estupidez cinicamente dissimilada. Muitas vezes testemunho certos fatos que, confesso, varam de longe qualquer explicação minimamente razoável. Não consigo crer que certos indivíduos não sejam capazes de ver e compreender a gravidade, e mesmo a crueldade, de seus atos. Muitos fatos não podem ser explicados como sendo uma amostragem de estultice pura e simples. É canalhice da brava! Não podemos nos esquecer jamais que o pior biltre é aquele que se faz de coitadinho, chorando rios de lágrimas [de crocodilo]. E assim ele atua para melhor galgar as simpatias de novos, ou velhos, otários que se compadeçam com sua vileza disfarçada sob uma pútrida túnica duma enjoativa melancolia. Sim senhor! Há muitos desta fauna neste mundo, mas a quantidade de trouxas é bem maior para garantir a perpetuação da dita espécie parasitária.

Pax et bonum
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