Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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MENTALIDADE RADICALMENTE CHIQUE

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

Já reparou o quanto que gente chique, metida a sabida e crente de que é esclarecida pra caramba - gente que vive muito bem protegida num condomínio fechado ou num bairro bem cotado - ama de paixão a bandidagem, principalmente os mais violentos e os desprovidos de qualquer escrúpulo? É de arrepiar o tamanho da paixão [fingida] manifesta por essa turma. É horripilante o quão grande é a dissimulação de superioridade moral exibida por essa gente artificiosa.

Na dúvida, para esse pessoal, o bandido sempre tem razão, sempre, porque, para essa esquerda radicalmente chique, o meliante está, ao seu modo, apenas manifestando-se contra o tal do sistema burguês com suas leis excludentes e blablablá.

Ele, aos seus olhos ilustrados, não é um criminoso; é apenas alguém que está bravamente lutando contra as injustiças que o mundo lhes impôs. Todos, creio eu, já ouviram aqui ou acolá uma cantilena similar a essa.

E é claro que esses revoltadinhos caviar falam bem bravinhos contra o tal sistema capitalista em suas “reuniões de bons mocinhos”, mas, em hipótese alguma cogitam a possibilidade de abdicar do seu estilo pequeno burguês de ser.

Para qualquer cabeça de pudim que vê o circo pegar fogo à distância é fácil dizer esse tipo de sandice, ou qualquer trambolho que tenha como pano de fundo esse tipo de mentalidade distorcida que, saibam eles ou não, é fruto dos rabiscos canhestros das obras de senhores como Eric Hobsbawm, Herbert Marcuse, Ernesto Laclau, Frantz Fanon e tutti quanti que, direta e indiretamente, oferecem formas “diferentes” de ver a realidade, que apresentam estratégias novas para conquistar o poder e, de quebra, pra levar a sociedade para a bancarrota através do elogio da bandidagem e do lumpemproletariado.

Parênteses: Sei que bem provavelmente a turma radical chique não tenha lido diretamente nem mesmo uma página das obras desses senhores. Isso, pouco importa. O que de fato interessa é que toda essa gente pensa, percebe e sente a realidade a partir dos elementos estruturantes advindos de obras dessa lavra, elementos esses disseminados em nossa cultura por pessoas (de)formadas - direta ou indiretamente - pelas ditas cujas. E lembre-se: os vivos, gostemos ou não, são governados por filósofos mortos. Quanto mais eles são ignorados, mais poder eles tem. Fecha parênteses.

Enfim, com esse tipo de mentalidade e com uma vidinha vivida distante do olho do furacão é fácil achar que traficantes e demais tranqueiras similares sejam uma espécie de herói incompreendido pelo sistema opressor e demais sequazes reacionários, tão fácil quanto ler as aventuras de Harry Potter e, para algumas almas mais ousadinhas, algo tão excitante quanto ler cinquenta tons de qualquer coisa.

Resumindo o resumo do entrevero: falar que um monstro é uma criatura fofinha é fácil quando estamos longe, bem longe do dito cujo; outra coisa bem diferente é nutrir o mesmo afeto tendo ele como seu vizinho. É aí, meu caro, que a porca torce o rabo. E como torce.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.

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