Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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A MULTIDÃO QUE NÃO SE CALA

Escrevinhação n. 1061, redigida no dia 29 de outubro de 2013, dia de São Narciso, de Santa Ermelinda e da Beata Chiara Luce Badano.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Silêncio, solidão e santidade. Eis aí três pedras fundamentais para dignificação da alma humana. Sem elas, lamentavelmente, o edifício do caráter desmorona, cedo ou tarde. Não é pessimismo, nem fatalismo. É realismo puro e simples.

Explico-me: o silêncio é essencial para a manutenção de nossa vida interior. Silêncio esse que é diariamente vilipendiado pela barulhenta e caótica sociedade moderna. Pior! Acostumamo-nos com a presença inquietante da balburdia da sociedade em nosso coração, esquecendo-nos do silêncio que tanto nos auxilia no cultivo dum diálogo interior e bem como na audiência dos conselhos de nossa consciência individual.

Sim, exteriormente, a agitação dá aquela sensação epidérmica de liberdade e auto-afirmação, entretanto, ela escraviza nosso interior por instigar-nos a estarmos o tempo todo ou a falar algo sem razão, ou a ouvir qualquer coisa sem sentido para preencher o vazio que passou a habitar o âmago de nosso ser.

Cabe lembrar que o silêncio, como nos ensina o Tristão de Athayde, não é sinônimo de privação do uso da palavra. No fundo, o silêncio é a substância dela, o seu sentido mais profundo. Por isso, uma sociedade como a nossa, onde se cultiva histrionicamente o falar pelo falar, o que inexiste é o tal do diálogo. Em seu lugar temos o velho verbalismo oco, alucinado, onde tudo torna-se assunto para nunca ser devidamente conhecido. 

A todo o momento a vida moderna nos convida a distanciarmo-nos de qualquer atividade que nos leve a centrarmo-nos e é por isso que ficar só assusta-nos tanto. Todavia, da mesma forma que o silêncio, a solidão também é um dom precioso, pois nos liberta das multidões que salivam suas presas para nos devorar lentamente e transformar-nos em mais uma célula muda/tagarelante de seu corpo anódino, como nos ensina Nietzsche.

A solidão nos liberta da força voraz dos círculos de escarnecedores que abundam em todas as plagas, disfarçados com os mais variados e simpáticos epítetos. A solidão revela-nos, de mãos dadas com o silêncio, a real condição humana. Esse gentil casal faz-nos companhia nesta jornada de aceitação do velho mandamento inscrito nos umbrais do templo do oráculo de Delfos que nos recomenda conhecermo-nos. A conhecer esse sujeito que imaginamos conhecer tão bem, mas que, no fundo, não passa de um ilustre desconhecido.

Por fim, esse casal pode gestar em nossa alma o excelso valor que a carne rejeita, o mundo despreza, o demônio escarnece e somente a Graça concede. Esse valor é a Santidade que nos foi revelada pelo Verbo Divino no madeiro da Santa Cruz, no silêncio do Calvário, na dolorosa solidão dos cravos atravessados em sua carne e que semeou no coração duma multidão silenciosa e solitária de santos que, com suas vidas exemplares, nos convidam a caminhar na direção da divina verdade que habita o nosso ser e que hoje é tão silenciada e flagelada pela multidão que não ouve e não cala para conhecê-La e conhecer-se.

Pax et bonum
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