Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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ENTRE A MAJESTADE E A INFÂMIA

Escrevinhação n. 1060, redigida entre os dias 27 de outubro de 2013, dia de São Vicente, de Santa Sabina e Santa Cristeta e de São Gonçalo de Lagos, e 28 de outubro de 2013, dia de São Simão e de São Judas Tadeu.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. Lembro-me que, quando criança, imaginava que todos os problemas poderiam ser resolvidos de supetão. Rapidinho. Ledo e delicioso engano da tenra idade a muito vivida. Alguns explicam essa impaciência dos pueris idos devido ao pouco tempo vivido que serve-nos de parâmetro de comparação para mensurar o deleite e a angústia dos momentos ou, como diriam os antigos, simplesmente pelo fato de termos mais futuro que passado o presente torna-se apertado e, por isso, tornamo-nos impacientes com relação a chegada das primaveras que estão por florir. Lembrar dos beicinhos e das birras é algo saudoso e ao mesmo tempo engraçado quando os rastros que ficaram para trás são muitos e a linha de chegada já pode ser vista pelos olhos da alma. Porém, o que é patético pra caramba é vermos jovens e adultos agirem de modo infantilmente brutal depredando tudo que estiver diante de suas vistas encapuzadas e acreditar que tal gesto é duma maturidade tão excelsa quanto incompreendida por aqueles que riem e sorriem de sua infância a muito vivida ao invés de vivê-la tardiamente como um cívico delinquente. Trocando por miúdos: crianças impacientes fazem-nos rir; adultos infantis impacientam qualquer um.

2. Outra passagem da vida de Dom Pedro II que merece destaque imperial em meio à atmosfera republicana reinante é a seguinte: o soldo do Paço Imperial era de apenas oitocentos contos de réis. Uma importância pequena para os padrões da época. Pequena mesmo. Com esses parcos recursos ele cobria não apenas os seus gastos de sua disciplina e austera vida, mas ainda realizava inúmeras doações para instituições beneficentes e, com grande freqüência, concedia bolsas de estudo para todos aqueles que demonstravam talento e interesse. Bolsas concedidas através de recursos próprios, não do erário público. Doações vindas de seu bolso, não de emendas ao orçamento e demais usos e abusos típicos de nossa república. Pois é, Pedro II fazia caridade com o que tinha em sua algibeira imperial e o fazia de maneira discreta. Hoje não são poucas as otoridades que se ufanam com pose de bons-moços fazendo pseudo-caridade com o chapéu alheio. Com o nosso suado dinheirinho que nos é expropriado através de impostos. Porém, pergunto: nós seriamos capazes de gestos tão magnânimos como estes de Dom Pedro II? Imagino que o silêncio responde bem a essa pergunta, não é mesmo?

3. Imersos na banalidade cotidiana, confundimos o exercício de nossa consciência moral com o implicante apontar de nosso dedo mediano para as peculiaridades da vida alheia, para as agruras da vida de um modo geral, para os defeitos congênitos do sistema, do Estado e do tal do CAPETAlismo. Tais atitudes, de modo algum, sinalizam a plena e crítica atividade da dita consciência. Pelo contrário! Denota apenas o quanto ela encontra-se dormente, anestesiada, devido aos excessos de nossos vícios rotineiros. De mais a mais, a quem interessar possa, um bom indicador de sua atividade é nos sentimos, as vezes, brutalmente humilhados no silêncio da intimidade de nossa alma. Mesmo que ninguém conheça a falta cometida por nós, acusamo-nos no meio de nosso deserto interior por nos sentirmos responsáveis não apenas pelo ato gerido por nossas mãos, mas pelo que foi parido por esse ato que tanto nos envergonha. E isso é um ótimo sinal porque apenas a humilhação interior, essa benção divina, nos liberta e nos protege da bestialização auto-bajulatória.

4. Banhamo-nos, alimentamo-nos, vestimo-nos, provemos e repousamos todo santo dia. As necessidades materiais da vida e a manutenção da integridade de nosso corpo sugam uma boa porção de tempo. Porém, quanto tempo nós procuramos banhar nossa alma nas caudalosas águas que advém das Sagradas páginas da Bíblia? Quantas vezes procuramos o maná de suas letras? Vestimo-nos com suas impressas túnicas ou preferimos a nudez verbal mundana? Procuramos a Providência através dos ensinamentos que nos foram providenciados? Procuramos o necessário repouso para nossa alma em meio às páginas da Sagrada Escritura? Já sei, já sei. Não temos tempo para esse tipo de coisa. O mundo e a carne chegaram primeiro e nos assaltaram de tal forma que não mais temos tempo para nada que não vá atender os ditames diretos e indiretos da carne e do mundo, não é mesmo?

5. Coloquemos a galhofa a serviço da justiça, para que ela reencontre a verdade que hoje encontra-se tão vexada diante dos escandalosos gritos das farsas orquestradas e das mentiras manifestas que maldosamente calam sua delicada voz. Por isso, galhofa amiga minha, faça os justos e inocentes rirem destas nefandas damas, mesmo que elas fiquem coradinhas de raiva. Faça as almas ordeiras rirem para poderem abrir seus corações aos gritos da verdade sufocada e, deste modo, colocar no seu devido lugar todas as hostes de almas sebosas, seja através dos traços versados ou por meio das linhas em prosa.

Pax et bonum
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