Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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O VÁCUO CULTURAL

Escrevinhação n. 1055, redigida no dia 15 de outubro de 2013, dia de Santa Tereza D’Ávila.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Em sua obra “A aldeia ancestral”, Pearl S. Buck faz uma consideração que, julgo eu, é de grande pertinência. Logo no início do livro ele nos conta que em Chinatown, com grande freqüência, vinham grupos de teatro do Cantão. Porém, muitas das vezes, o empresário que as trazia, o senhor Billy Pan, findava o ano com prejuízo. Quando isso era anunciado rapidamente os negociantes cobriam o seu déficit. Qual era a razão para tamanha generosidade? A resposta a essa pergunta é o ponto central dessa missiva.

Segundo Buck, a maioria dos chineses que ali residiam não eram pessoas suficientemente educadas e não sabiam explicar bem aos seus filhos o que era a China. Não sabiam explicar, mas estavam cônscios de que os seus mancebos necessitavam duma resposta razoável as suas indagações e esse era o motivo que levava os negociadores serem tão magnânimos para com o empresário que trazia aos infantes uma visão do patrimônio de sua pátria.

Ora, qualquer coisa para poder ser compreendida razoavelmente deve, primeiramente, ser concebida, imaginativamente, como possível. Esse é o papel do teatro, da grande literatura universal, das grandes produções cinematográficas, da música e das artes plásticas. Apresentar para o indivíduo um universo de possibilidades que ele, até então, não havia concebido é fundamental para formação de seu caráter. Sem isso, perdoem-me, tudo o mais tende a descambar.

Atualmente, para infelicidade geral da nação, fixa-se morbidamente o eixo das atividades educativas, ou àquilo que leva esse nome, no que se convencionou chamar duma “reflexão crítica da realidade” que, no frigir dos ovos, não passa de uma obra de engenharia social que tem por intento martelar uma meia dúzia de cacoetes mentais e mais um punhado de reflexos condicionados por um enjoativo vocabulário politicamente-correto, estimulando os mancebos a opinarem levianamente sobre tudo e, desde modo, levando-os a fixar sua percepção numa ideação subjetiva dos fatos, distanciando sua inteligência da realidade que eles imaginam estar tão próximos.

Aliás, continentes inteiros de experiências humanas são desdenhados em nome duma doutrinação vazia, de clichês que apenas entorpecem ao mesmo tempo em que torna os indivíduos mesquinhos e tacanhos. Por Deus! As mesmas sandices que são encenadas nas telenovelas, expostas em programas televisivos, repetidas histrionicamente nos cinemas são reapresentadas nas salas de aula num processo contínuo de destruição dos valores fundamentais presentes no patrimônio cultural universal em nome dum macabro mundo melhor possível.

Pior! Ninguém sente falta desse patrimônio. Até achamos estranho que certas encenações sejam apresentadas, porém, com duas ou três exposições ao absurdo, tende-se a achar tudo normal, como se a bestialização voluntária fosse uma força constante que determina a substância da alma humana.

Ao contrário das personagens do livro de Pearl Buck, a sociedade brasileira não vê a vida cultural como a coluna fundamental para a formação dum indivíduo. Vê apenas, como nos lembra Mario Vargas Llosa, como uma evanescente forma de ocuparmos o tempo ocioso, reduzindo-a a categoria dum pífio entretenimento que eleva a ignorância à categoria de princípio de autoridade que, exitosamente, vem banindo o discernimento e os valores universais para o abismo do esquecimento.

Pax et bonum
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