Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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LIBERDADE OFFLINE



Apure! Apure logo! Essa, talvez, seja a expressão mais presente na boca de muitos. Queremos que tudo chegue até nós rapidinho, na velocidade dum clique, tal qual os brinquedinhos eletrônicos que, hoje, fazem parte da paisagem contemporânea. Inclusive o entendimento e a compreensão de tudo o que nos cerca.

Seja na cidade ou no campo; nas ruas, restaurantes ou lanchonetes; mesmo numa modesta casinha, coberta ou não com sapé, lá encontraremos uma ou mais pessoas virtual e supostamente acompanhadas e, ao mesmo tempo, substantivamente sós. Bem solitas com a mesmice de suas vidas.

Pois é, pois é, pois é. Poderíamos, nessas breves linhas, listar todos os potenciais benefícios e os possíveis malefícios que as mídias eletrônicas podem nos oferecer. Poderíamos, mas não o faremos. Não, porque isso seria um desperdício de tempo e ele, o tal do tempo, é um ativo muito precioso para desperdiça-lo com assuntos que serão sumamente desprezados por aqueles que, de fato, deveriam por eles interessar-se e, não o fazem, por preferirem desperdiçar o referido ativo que, pessoalmente, procuro tanto valorizar.

Se assim o querem, que o façam; mas não com o meu. Não mesmo. E lhes digo o porquê. Na medida de minhas limitações procuro valorizar o meu minguado tempo. Desde menino, lembro-me do dito de Abraham Lincoln, ensinado a mim por meu pai, onde esse aconselha-nos dizendo que apenas os desocupados não tem tempo pra nada. Por isso, com a medida que me foi dada, procuro achar tempo pra tudo. Pra tudo mesmo.

Hoje, com as madeixas e barba um tanto esbranquiçadas, mantenho estampada na parede de minha biblioteca uma máxima de Goethe, que diz: “quando você não sabe o que fazer, faça o que é do seu dever”. Simples assim. E mantenho-a bem diante dos meus olhos para não esquecer o ensinamento a tanto tempo dado a mim por meu pai e que hoje repasso aos meus pequenos.

E, como todos nós bem sabemos, dum modo geral, celulares e redes sócias normalmente não casam muito bem com a ideia de senso de dever, apesar da possibilidade existir.

Geralmente, nossas quinquilharias eletrônicas de cada dia nos convidam, hoje e sempre, para a excitação efêmera de nossos sentidos, tornando-nos incapazes de compreender qualquer coisa em profundidade, de pararmos para ouvir devidamente uns aos outros. Não por culpa delas em si, não mesmo, mas sim e principalmente, por causa de nossa leviandade nada original.

Aquela doçura, que nos verdes anos de minha vida, acompanhava sempre o vagaroso e atento aprendizado das coisas, que andava de mãos dadas com o vagar das conversas despretensiosas, mesmo que acaloradas, ao que tudo indica, não mais faz parte dos verdejantes anos da atual mocidade e, muito menos, daqueles que, pelo avançar da idade, maduraram sem ter, com o devido uso do tempo, amadurecido.

Prefere-se, hoje, que a vida seja composta apenas por um punhado de cliques fugazes, sem sentido, arrolados de modo efêmero para que o eu não seja nada além de um ego inchado de si para si, todo empavonado com clichês politicamente corretos pra melhor encobrir a falsa existencial.

E antes que, através da lonjura das letras, ecoe aquele mimimi na forma dum “apure”, dum “termine logo essa choça”, lembremos e, se possível, não esqueçamos, que tudo aquilo que imploramos pra findar logo, acaba, muito mais rapidamente, terminando com o pouco que resta de nós em nós mesmos.

Pronto. Acabei. Já estou offline. Agora, se quiser, pode voltar para a monotonia ansiosa duma vida embalada pelas ondas dum wifi que não procura, não encontra e não quer ter tempo pra nada.


(*) Professor, caipira, escrevinhador e bebedor inveterado de café.

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