Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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Hoje é dia de Santa Joana d'Arc


CARTA ABERTA AOS CORAÇÕES ENDURECIDOS


Escrevinhação n. 948, redigido em 23 de maio de 2012, dia de São João Batista de Rossi.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Quando ainda estava entre nós, Gustavo Corção, com sua refinada percepção da realidade, afirmava que nossa sociedade estava a beira de uma gravíssima crise e que esta seria uma crise de fé advinda do dramático estado espiritual em que se encontra o homem moderno.

Para a mesma senda nos apontavam René Guénon, Fritjof Schuon, o Padre Leonel Franca, entre outros tantos, mas, principalmente, Nossa Senhora em suas Aparições, especialmente em Fátima (Portugal) e Akita (Japão).

Sim, vivemos hoje uma crise de dimensões civilizacionais e o pior de tudo é que a maioria das pessoas, principalmente as que se julgam esclarecidas (eita palavrinha mequetrefe) veem-se indiferentes a gravidade do cenário que está sendo desenhado. Aliás, quanto mais se imaginam ilustrados nos ensinos das academias de ciências ocultas e letras apagadas, mais se fecham para os dados mais patentes que se fazem presentes diante de suas vistas.

Um bom exemplo do que afirmamos são as próprias aparições da Virgem Santíssima. Os ditos esclarecidos as rejeitam em bloco e desdenham as mensagens proclamadas nestes eventos como se a ignorância e o desprezo de um fato fosse um argumento em contrário. Aliás, você, cara pálida, sabe do que eu estou falando? Estudou minimamente as aparições da Virgem Maria, em especial, as de Fátima? Se não, por que está fazendo essa carinha de nojo? Que coisa feia! Deixa disso e vá estudar! Conheça o assunto e suas implicações e só depois permita-se ficar entojado.

Sim, sei que você pensa que tudo isso não passa de um reles trololó de carola porque, provavelmente, o seu olhar encontra-se formatadinho na forma da perspectiva materialista reinante, imaginando que tudo o que existe nesta vida encontra suas causas depositadas em forças políticas, econômicas e sociais e que, tudo mais, não passa de pífias superestruturas.

Sim, se você acha que tudo pode ser explicado por essa chave interpretativa pacóvia, então me explique os Capuchinhos, os Beneditinos ou mesmo a Cartuxa. Tente e veja o quão miserável é seu horizonte de (in)consciência. Aliás, explique as aparições citadas através desse diminuto viés materialista de análise da realidade e veja o quão ridícula é sua presunção.

Já sei! Já sei! Você não vai levar nada disso em consideração porque em seu parvo entender nada disso é cientificamente comprovado, mesmo que você não saiba, de fato, o que seria algo científico e como se deve proceder para comprovar qualquer coisa e, por preguiça cognitiva, exclui o que você não entende com a mistificação advinda da evocação das palavras “isso não é cientificamente comprovado”, mesmo que você não saiba o que isso queira dizer.

Por fim, meu caro, esse estado de irritação em que você se encontra ao término destas broncas linhas apenas evidencia o quão grave é a crise que vivemos. Crise essa que pode ser percebida e curada em seu coração desde que você esteja realmente interessado em compreender o dramático cenário em que vivemos atualmente. 

Pax et bonum
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São João Crisóstomo com a palavra


«Que devo fazer para alcançar a vida eterna?»

Não foi um ardor medíocre que o jovem revelou; estava como que apaixonado. Enquanto outros se aproximavam de Cristo para O pôr à prova ou para Lhe falar das suas doenças, das dos seus pais ou ainda de outras pessoas, ele aproxima-se de Jesus para conversar sobre a vida eterna. O terreno era rico e fértil, mas estava cheio de espinhos prontos para sufocar as sementes (Mt 13,7). Reparai como o jovem estava disposto a obedecer aos mandamentos: «Que devo fazer para alcançar a vida eterna?» [...] Nunca nenhum fariseu manifestou tais sentimentos; pelo contrário estavam furiosos por terem sido reduzidos ao silêncio. O nosso jovem, porém, partiu de olhos baixos de tristeza, sinal inegável de que não tinha vindo com más intenções. Simplesmente, era demasiado fraco; tinha o desejo da Vida, mas deteve-o uma paixão muito difícil de superar. [...]

«'Falta-te apenas uma coisa, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois vem e segue-Me.' [...] Ao ouvir tais palavras, [...] retirou-se pesaroso». O Evangelista mostra qual é a causa desta tristeza: é que «tinha muitos bens». Os que têm pouco e os que vivem mergulhados na abundância não possuem os seus bens da mesma maneira. Nos últimos, a avareza pode ser uma paixão violenta, tirânica; qualquer nova posse acende neles uma chama mais viva, e os que são atingidos por ela ficam mais pobres do que antes. Têm mais desejos e, no entanto, sentem com mais força a sua pretensa indigência. Em todo o caso, reparai como aqui a paixão mostrou a sua força: [...] «Como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.» Cristo não condena as riquezas, mas condena aqueles que as possuem.

AOS VENCEDORES...VOCÊ SABE


Escrevinhação n. 947, redigido em 22 de maio de 2012, dia de Santa Rita de Cássia, Santa Catarina de Gênova e Santa Júlia.

Por Dartagnan da Silva Zanela

A pena em meu punho esmorece. O tinteiro donde vinga o traçar de minhas letras cala-se. Isso se faz quando meus olhos, que dão direção ao curso das palavras ditadas por essa parelha, vislumbram o cenário que se desenha na brasílica paisagem deste ano.

Sim, mais um ano eleitoreiro desenha-se em nosso horizonte e isso não é motivo para regozijo. Isso mesmo! Ouso perguntar: o que, de fato, temos para celebrar? Não pensem que me refiro unilateralmente às nossas “otolidades”, não mesmo. Estes são apenas um turvo reflexo replicante da sociedade brasileira.

Quando vislumbramos o início da efervescência eleitoral tomando conta de todos o que aflora não é uma discussão madura que tenha por centro o bem comum. O que temos, às pampas, são trololós similares a conversas futebolísticas, similares a bate-bocas de torcedores de timinhos e não de cidadãos cônscios da realidade de sua polis. Trololós esses que tem como centro as necessidades umbilicais de cada um, ou de cada grupelho, esquecendo-se por completo do tal bem comum. Aliás, como podemos esquecer algo que sempre ignoramos por completo, não é mesmo?

Diante desse quadro, somente um estulto aplicaria à sociedade brasileira a alcunha de democrática. Não o somos e, para ser franco, creio que, de fato, nunca tentamos e nem mesmo desejamos nos tornar.

Palavras duras. Sei disso. Entretanto, sejamos sinceros: em regra, quando sufragamos nosso dito votinho nas urnas não estamos realizando um gesto que sinalize um claro sentimento de responsabilidade pela cidade onde vivemos. Bem pelo contrário! Sufragamos nosso voto de confiança em alguém que possa nos eximir de nossas responsabilidades cívicas.

Não queremos compromisso com o bem público, não desejamos nos sacrificar, minimamente que seja, pela comunidade, porém, indignamo-nos, gritando aos quatro ventos, que devemos ser tratados a pão de ló pelas “otoridades” e que merecemos receber serviços públicos de boa qualidade porque somos contribuintes, ora raios!

Pois é, mas como ensina o dito popular, o que engorda o boi é o zóio do dono e, nesse quesito, nossos olhos não estão dispostos, por hora, a ultrapassar as muralhas umbilicais que nos cercam, não é mesmo? Por isso, pergunto: como pode não haver corrupção em uma sociedade tomada por tamanha indiferença (depre)cívica? Como?

Por fim, como certa feita meu filho Johann escrevinhou, "mesmo que a mentira bata na verdade, mesmo que a injustiça insulte a verdade, mesmo que a ganância negue a verdade, ali estará ela, a Verdade". E a verdade sobre nossa cidadania é esta, mesmo que continuemos a negá-la descaradamente.

Pax et bonum
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Com a palavra, Johann C. S. Zanela


"Mesmo que a mentira bata na verdade, mesmo que a injustiça insulte a verdade, mesmo que a ganância negue a verdade, ali estará ela, a Verdade".

Com a palavra, São Fulgêncio de Ruspe (467-532)


«Nesse dia, apresentareis em Meu nome os vossos pedidos ao Pai»

Em conclusão das nossas orações, dizemos: «Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho» e não «pelo Espírito Santo». Esta prática da Igreja universal não deixa de ter uma razão. A sua causa é o mistério segundo o qual o homem Jesus Cristo é o mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), Sumo Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec, Ele que pelo Seu próprio sangue entrou no Santo dos santos, não num santuário feito por mão de homem, figura do verdadeiro, mas no próprio Céu, onde está à direita de Deus e intercede por nós (Heb 6,20; 9,24).

É a pensar no sacerdócio de Cristo que o apóstolo diz: «Por meio d'Ele ofereçamos sem cessar a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome» (Heb 13,15). É por Ele que oferecemos o sacrifício de louvor e a oração, porque foi a Sua morte que nos reconciliou quando éramos inimigos (Rm 5,10). Ele quis sacrificar-Se por nós; é por Ele que a nossa oferenda pode ser agradável aos olhos de Deus. Eis por que motivo São Pedro nos adverte nestes termos: «E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção de um edifício espiritual por meio de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo» (1Pe 2,5). É por esta razão que dizemos a Deus Pai: «Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho».

PALAVRÓRIO EM LINHA RETA


Escrevinhação n. 946, redigido em 14 de maio de 2012, dia de São Matias.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Não! Não é isso! Espere aí, mas de que estamos falando? Ops.! Nos adiantamos um pouco com o andor. Então voltemos um pouquinho. Mas, de quanto é esse pouquinho? Depende do quanto estamos atrasados e perdidos em relação ao que está no centro da discussão.

Isso mesmo! Nosso olhar percorre as frenéticas imagens do mundo feito areia que segue seu curso pelo estreito orifício de uma cansada ampulheta. As imagens seguem seu caminho sem fixar-se em nosso ser e não temos esse desejo. Deixamos apenas que elas passem por nós com seu leve toque sem nunca perguntarmos o que, de fato, estava diante de nossas vistas, o que, realmente, testemunhamos.

Talvez, penso eu, seja essa palavra tão ausente do vernáculo pedagogesco hodierno: testemunho. Tudo aquilo que sabemos decorre de nosso testemunho pessoal. Se este for sincero, o conhecimento construído a partir dele será apolíneo. Entretanto, se o testemunho for todo falseado pelas inúmeras camadas de auto-enganos racionalizados, mais do que certeza que o construto será apenas um reflexo de nossas mentiras existenciais, jamais, um reflexo da realidade que foi testemunhada.

Não? Não é isso? Tudo bem, então deixemos de lado as imagens que nos circundam e reflitamos um pouco sobre esse ser esquisito e confuso chamado “eu”. Quem somos? O que somos? Como lembra Fernando Pessoa em seu Poema em linha reta, o mundo está cheio de semideuses, de pessoas perfeitas, que nunca cometeram um vexame e, com ele, confesso, estou farto destes tipinhos.

Se você é (ou não) um destes semideuses, experimente contar, para si mesmo, a sua história de vida pessoal juntando todos os elementos fragmentários que compõem sua parva personalidade. Se firmarmos nosso passo por essa vereda, perceberemos o quanto somos uma pessoa em pedaços, retalhada, incapaz de conseguir contar para si a sua própria história.

Não? Então finja que fará. Sim, um fingimento a mais, outro a menos, que diferença faz em uma sociedade onde a verdade é dispensável e a dissimulação fundamental, não é mesmo? Entretanto, a soma de muitas mentiras não forma uma verdade, do mesmo modo que a de auto-enganos racionalizados não constitui verdadeiramente uma pessoa.

Não? Então voltemos ao começo desta missiva e repensemos do que foi dito até aqui e em que medida essas palavras mal escritas dizem algo sobre nossa miséria pessoal. Ou nós seriamos inatingíveis semideuses vestidos de carne e ossos andando entre míseros mortais?

Pax et Bonum
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DO OLHAR PROFUNDO ÀS PALAVRAS VAZIAS


Escrevinhação n. 945, redigido em 08 de maio de 2012, dia de São Vitor e de Santo Acácio.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Muitas das vezes fico parecendo um disco furando, insistindo sempre na mesma nota de um velho fado. Sei disso. Mas, se assim o faço é por julgar que este ponto continua enroscado e é obvio que não imagino que esta mísera missiva irá por fim ao problema como também não nutro a mais leve esperança nesta direção.

Dito isso, vamos ao ponto: se há um troço que, de fato, estupidifica o indivíduo é o cultivo da tal criticidade. Afirmar isso, atualmente, soa como uma nota em descompasso frente à sinistra orquestra que embala a educação brasileira. Sim, não apenas sei disso como não tenho o menor intendo de fazer parte deste infausto concerto fúnebre.

Mas, porque o estímulo a tal criticidade é tão nefasto? Por que o incentivo a ter, como se diz, suas próprias opiniões, é algo tão malfazejo? Simples: qual o trabalho necessário para se “ter” uma dita cuja dessa? Sejamos francos: nenhum. Basta repetir um monte de frases feitas que você será visto como uma pessoa crítica, sabida, com opinião própria, mesmo que você não saiba o que está dizendo, de fato. Mesmo que suas opiniões sejam apenas um reflexo pálido daquilo que todos repetem simiescamente.

Tal quadro seria cômico se não fosse trágico, visto que, quando cultivamos um grande apreço pelas palavras vãs que tanto insistimos em pronunciar como sendo nossas sem nunca termos parado para dedicar a elas um mínimo de tempo para saber o que realmente elas dizem é porque, simplesmente, desistimos de conhecer qualquer coisa que seja mais importante que o nosso diminuto ego tão inflado pelo nosso patético orgulho.

Trocando por miúdos, não há possibilidade de conhecermos qualquer coisa se nossa atenção está voltada fundamentalmente para as impressões truncadas que temos sobre tudo (inclusive sobre nós mesmos). Impressões essas edificadas com base em nosso desdém pelo esforço que o ato de conhecer exige.

Não é possível enchermos uma xícara de chá se ela está tomada até as beiradas de excremento. E assim somos nós com a alma dominada por esses estranhos sombrios que nos habitam que chamamos amorosamente de nossas opiniões. Estranhos esses que são tão nossos que não sabemos dizer, quando, como e através do que, ou de quem, eles chegaram até nós.

Isso mesmo! Experimente, se você tiver coragem, submeter todas as suas ditas opiniões a esse simplório inquérito. Faça sozinho, pra não passar vergonha, uma lista desses trambolhos (suas opiniões) e pergunte, pra si mesmo: (i) Quando isso passou a integrar minha vida, a ser meu? (ii) Como, de que maneira, em que circunstância isso ocorreu? (iii) Quem, ou o que, me influenciou para que aderisse, ou aceitasse, isso?

É, cara pálida, e você ainda tem a desfaçatez de me dizer que esse opinativo trem fuçado é seu. Como diria o Seu Omar: Hum! Trágico!

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Com a palavra São Gregório Magno (c. 540-604), papa e doutor da Igreja - Homilias sobre os Evangelhos, nº 30


«O Espírito Santo [...] vos ensinará tudo, e há-de
recordar-vos tudo o que Eu vos disse.»

O Senhor promete justamente que o Espírito «há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» Porque, se este Espírito não tocar o coração dos que escutam, vã é a palavra dos que ensinam. Portanto, que ninguém atribua àquele que ensina o que a boca do professor lhe fez compreender: se não houver Alguém que nos ensine por dentro, a língua do que ensina trabalha no vazio.

Vós todos os que aqui estais, escutais a minha voz da mesma maneira; e, no entanto, não entendeis da mesma maneira o que escutais. [...] Quer dizer que a voz não instrui, se a alma não receber a unção do Espírito. A palavra do pregador é vã se não for capaz de acender o fogo do amor nos corações. Os discípulos que diziam: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» (Lc 24,32) tinham recebido esse fogo da própria boca da Verdade. Quando se ouvem tais palavras, o coração abrasa-se, o torpor frio abandona-o, o espírito já não consegue encontrar repouso e dá por si a desejar os bens do Reino dos céus. O amor verdadeiro que o preenche arranca-lhe lágrimas [...] Como fica feliz por escutar esse ensinamento que vem do alto e esses mandamentos que, em nós, se transformam numa tocha que nos inflama [...] de amor interior. A palavra chega ao nosso ouvido e o nosso espírito, transformado, consome-se numa doce chama interior.

UMA QUESTÃO SORUMBÁTICA


Escrevinhação n. 944, redigido em 30 de abril de 2012,
dia de São José Benedito Cotolengo e de São Pio V.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Existem certos insultos que perderam o seu poder. Falar que a mãe está vendendo cerveja a deizão e demais dizeres deste calão não mais afetam, de fato, a brasílica alma. Aliás, quando afetam, pode ter certeza que é pura afetação. Teatrinho barato para impressionar os olhares circundantes para posar de bom-moço ofendidinho.

Todavia, se você quer mesmo ver um brasileiro sinceramente irritado, de preferência os portadores daquele troço chamado diploma, mande-o ler, digo, sugira a leitura de um livro, principalmente se ele está opinando sobre um assunto que ele nunca estudou, mas insiste em palestrar sobre. Dependendo do elemento, este é capaz de entregar-se às lágrimas, porque ler, neste país, de um modo geral, não é um ato integrante da vida humana, não mesmo. É um fardo similar ao de Sísifo.

Aqui, ler é uma esquisitice de gente que, como se diz, quer se aparecer. Não passa pela cabeça dos bem (de)formados, e devidamente diplomados, que mais importante que opinar vagamente sobre todo e qualquer assunto, é conhecer. Para tanto, antes de qualquer coisa, é de fundamental importância calar, silenciar nosso íntimo e ouvir através de nossas vistas o que os livros têm a nos dizer. Entretanto, quem realmente quer aprender? Quem? Não responda.

Agora, se perguntarmos quantos querem apresentar as suas “opiniões” sobre isso ou aquilo, a lista não acaba mais. Somos carentes, ridiculamente mimados, com a alma minguada de substância humana. Somos cópias caricaturais dos personagens da obra “Recordações do escrivão Isaías Caminha” de Lima Barreto. Todos ocos, fingidos e dissimulados, a ostentar uma imagem tão risível quanto nossa real condição.

Por essas e outras que os insultos tradicionais perderam a sua eficácia. A baixeza dificilmente ofende-se com o que se assemelha a ela. Todavia, não há dúvida alguma de que o vulgo há de ofender-se com a virtude e tudo mais que simbolize a grandeza. Por isso, para acabar com uma conversa, basta sugerir ao seu interlocutor a leitura de um livro (ou mais) sobre o assunto em discussão que ele, provavelmente, irá baixar os olhos e entregar os betes.

No entanto, para tal, é imprescindível que tenhamos lido alguns livros. Aliás, é de basilar importância que cultivemos a arte de ler da mesma forma que cultivamos todas as outras futilidades que preenchem os nossos dias. Bem, é justamente aí que a porca torce o rabo. Quem, realmente, nesta terra de tchutchucas e mensalões, quer viver uma vida que seja mais que o simulacro, que a fantasia ególatra onde, civicamente, celebramos o nosso fracasso existencial que tanto subiu à nossa cabeça e inflamou nossa alma? Eis aí uma questão sorumbaticamente deixada em aberto.

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