Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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NO CALDEIRÃO DAS BRUXAS


Escrevinhação n. 952, redigido em 18 de junho de 2012, São Gregório João Barbarigo.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Afirmar que a condenação da bruxaria é algo razoável, atualmente, soa indelicado. Não é por menos. Hoje, tal prática é pintada pela grande mídia e pelo ensino oficial como um reles produto da diversidade cultural. Os praticantes desta aparecem como heróis outsiders ou apenas como inocentes senhoras que faziam chazinhos com ervas e que injustamente eram condenadas pelos padres malvados. Mas será que é isso mesmo?

Bem, em termos antropológicos, Claude Levi-Strauss nos lembra que as práticas mágicas firmam-se em três colunas: (i) a vítima do encanto deve crer na existência e eficácia dos poderes do feiticeiro, (ii) o feiticeiro deve crer que ele controla forças sobrenaturais e (iii) deve haver em torno de ambos um círculo de pessoas que reafirme essa convicção criando uma atmosfera de credulidade.

Ora raios! Se formos avaliar as inocentes práticas de bruxaria apenas por esse viés, torna-se claro que ela pode ser qualquer coisa, menos uma prática inofensiva, sem razão alguma para ser temida. Ela é, neste caso, no mínimo, picaretagem, porém, não é apenas isso que há neste angu.

A Santa Madre Igreja e o bom-senso, ao condenar a bruxaria, vêem nesta um instrumento das trevas para atormentar e perder as almas. O curioso nisso tudo, no que se refere aos que discordam deste veredicto, é que nenhum deles jamais leu um tratado de demonologia ou a obra de um padre exorcista que seja. Ué! Cabe lembrar que era e é contra as forças infernais que a Igreja luta. Se os apologistas das bruxas realmente desejassem compreender a história teriam tomado conhecimento destas obras que descrevem este combate. As obras do padre Gabriele Amorth e José Fortea seriam um bom começo.

Além disso, os estudos parapsicológicos nos descrevem com fartura fenômenos que escapam a alienante rotina cotidiana, que fogem à incapacidade mesquinha de explicar tudo com meia dúzia de esqueminhas de palavras vazias, enfeitadas com toda aquela pompa de pseudociência materialista.

Enfim, os fenômenos descritos pela parapsicologia existem, o simulacro descrito por Levi-Strauss é presente e a ação das forças infernais tão constantes quanto sutis e, penso que, as três situações merecem a nossa atenção, precaução e imprescindível advertência, aja vista que nenhuma das possibilidades apontadas pode ser vista como algo inofensivo.

Ah! Mas é claro! Havia me esquecido que somos modernos e, neste caso, a ignorância desdenhosa é maior que o desejo sincero de conhecer. Desdém este que nos basta para fecharmos os olhos aos fatos e continuemos tolamente acreditando naquilo que nos é mais confortável, tapando o sol com nossa voluntária cegueira.

Pax et bonum
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A LETRA MAIS DO QUE MORTA


Escrevinhação n. 951, redigido em 18 de junho de 2012, São Gregório João Barbarigo.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Já faz algumas luas que tive a grata alegria de ter lido um auspicioso artigo da lavra de Umberto Eco sobre a arte da caligrafia. Sim, uma arte tão simples quanto elegante que por gerações foi cultivada com grande esmero para que, com as palavras escritas de punho, uma pessoa torna-se clara suas ideias e percepções, desejos e inquietações. É, bons tempos.

Bons tempos em que a palavra escrita servia para que as pessoas se comunicassem, tornando comum a todos algo pessoal. Belos dias em que a beleza das curvas e retas traçadas por uma mão firme e guiada por olhos atentos tinha valor. Admiradas por uns, invejadas por outros e, por todos, reconhecida como um bem.

Todavia, como todos sabem, a turba medíocre há muito impera sobre essas plagas. A beleza não mais tem lugar ao sol. A clareza também foi excluída de seu assento nesta obscura república de letras inelegíveis e de ignorância diplomada. E tudo isso, não nos esqueçamos, pedagogescamente justificado.

Esse trololó tosco, dentre tantos, de que o zelo caligráfico seria uma imposição injusta e excludente é doído de ouvir. Veja só, onde já se viu uma pessoa ser obriga a ter que se esforçar em primar pela clareza no uso das letras. Que autoritarismo! Sim, sei que é ridículo, mas no Brasil de hoje o ridículo fantasia-se de glória e a corte mediocrática deleita-se em aplausos frente à feiura. 

Provavelmente, nunca passou (e creio que nem passará) pela cabeça dos bem pensantes que a caligrafia além de ser um exercício estético também é um instrumento singular para o desenvolvimento da atenção e da precisão. Aliás, quem cultiva essa esquecida arte compreende muito bem do que eu estou falando.

Precisão no traço, atenção nas curvas que vem e vão e, principalmente, um aguçado senso estético no guiamento da caneta para que ela não apenas corra pela folha, mas dance singelamente como uma esguia bailarina em um tablado branco que clama pela marca de seus passos azuis.

Sim, sei que caligrafia bela não corresponde, necessariamente, a inteligência elevada. Sei também que o contrário não é verdade. Aliás, farto é o número daqueles que emburreceram (e mesmo se acanalharam) por cultivarem desleixadamente a feiura disforme e a imprecisão para com as letras que, em muitíssimos casos, são inelegíveis até mesmo para os seus autores.  Porém, não conheço ninguém que tenha tido sua inteligência degradada por ter cultivado atentamente a beleza e a precisão na feitura desta arte.

Resumindo, isso tudo não passa de um sinal que denuncia o terrível império de egos pacóvios extremamente sensíveis que não querem ser contrariados e muito menos corrigidos por imaginarem que eles são em sua nulidade o centro irradiante da realidade.

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Santo Antônio de Pádua, rogai por nós


PEDAGOGIA MEFISTOFÉLICA


Escrevinhação n. 950, redigido em 10 de junho de 2012, dia dos Bem-aventurados Eduardo Pope e João Dominici.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Nos lembra Otto Maria Carpeaux que as vozes do passado, as vozes proféticas do passado, quando evocadas nos ensinam a interpretar a nossa vida, nos julgam e em muito nos auxiliam na feitura de um bom exame de consciência. Mas, e quem está interessado nisso, não é mesmo? Que se dane o preço da banha.

Ora, e é por isso mesmo que a questão urge. Para tanto, recorro a uma voz não tão distante de nossa época para que nos auxilie neste momento tão breve quanto inútil, recorro às luzes de C. S. Lewis, homem que com suas palavras alumia os dias plúmbeos em que vivemos.

Em sua obra “A abolição do homem”, o referido autor nos admoesta para o fato de que na modernidade a educação não mais inicia as tenras almas no conhecimento da verdade e no cultivo do bom discernimento entre o bem e o mal. O que se têm é apenas um condicionamento do aluno a propósitos que seriam ilustres desconhecidos tanto do aluno como do professor, diga-se de passagem. A antiga educação, conforme nos lembra o criador de Nárnia, era uma espécie de propagação onde homens transmitiam a Humanidade para outros homens. Já a atual, é apenas propaganda.

Já faz muito que essa obra foi escrita e, como todos os escritos proféticos, suas palavras continuam atualíssimas. Elas têm muito a nos ensinar se desejarmos realmente aprender algo. Se tomarmos em mãos o que se ensina atualmente, se prestarmos a devida atenção aos valores que perpassam a maioria acachapante dos temas pedagogescamente selecionados, veremos o quanto que este livreto tem a nos ensinar.

De mais a mais, o que assusta no cenário que vivemos na atualidade é que literalmente não escandalize a praticamente ninguém o fato de a educação estar reduzida ao reles exercício imitativo de vocábulos e trejeitos politicamente corretos e à repetição de cacoetes ideologicamente viciados, como se essa massaroca pseudo-epistêmica toda fosse o suprassumo da compreensão do real.

Aliás, a maioria acha tudo isso lindo ao mesmo tempo em que são incapazes de avaliar as consequências mais patentes advindas da propaganda dos valores por eles defendidos. Entre todas as absurdidades hoje “ensinadas” uma que perpassa praticamente todas é o relativismo moral que advoga o falso princípio de que não há valores morais universais inerentes e presentes na pessoa humana.

Não é por menos que hoje em dia as pessoas, jovens e “maduras”, não mais avaliam a realidade, e bem como as suas vidas, a partir de critérios morais razoáveis. Tudo, literalmente tudo, avalia-se pelo que aparente ser “legal” ou “bobo”. Lembrando que, por esses critérios, não devemos julgar ninguém moralmente, porque todos têm direito a opiniões pessoais. Que medo! Mas, com base em que se afirma um descalabro deste, relativizado tudo e virando as costas para a dimensão eterna da alma humana? É isso que, de fato, ensina-se hoje. Não? Então preste mais atenção naquilo que você diz e pensa meu caro Watson.

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ME ENGANA QUE EU GOSTO


Escrevinhação n. 949, redigido em 03 de junho de 2012, dia de Santa Clotilde e de São Carlos Lwanga e companheiros.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Sempre desconfio daqueles que se autoproclamam portadores monopolistas das virtudes humanas. Em regra, quando mais esses tipos enaltecem as suas ditas qualidades morais, mais eles se tornam cegos frente aos seus vícios mais patentes. E, no Brasil, em um ano eleitoral, isso chega a um nível de absurdidade sem precedentes, diga-se de passagem.

De alto a baixo aparece, nos círculos de conversa miúda, que abundam nestas plagas, toda ordem de trololós moralistas tão chatos quanto fingidos. Todo mundo diz estar de saco cheio da corrupção reinante, da perversão do serviço ao bem comum, dos escândalos que não mais escandalizam ninguém, de tudo, menos de si mesmos.

Sem ofensas, mas, certo estava Capistrano de Abreu que há muito afirmou que o problema de nossa pátria é a falta de vergonha na cara. Bem, esse era o problema, visto que, a pouca vergonha que nos restava foi perdida. Agora não mais temos o problema da falta, mas sim, da inexistência de tal vergonha.

Ora, uma sociedade que realmente possa dignar-se de ser democrática tem que ter suas colunas firmadas na alma de um povo, não de uma massa amorfa e chula como a brasileira. Vivemos, inegavelmente, em uma oclocracia, onde as massas veem-se manipuladas ciclicamente pelas oligarquias existentes que tudo fazem em nome da tirânica estupidificação geral e irrestrita da nação.

Quando afirmamos isso, não estamos nos referindo aos trabalhadores sofridos. De jeito nenhum! Estes, de modo geral, cumprem com os seus deveres e literalmente carregam a nação em suas costas, bem diferente daquela faixa da população que se vê investida de cargos e diplomas, que muito mais ostentam esses papeis tingidos do que cumprem com os deveres que lhe são inerentes. É nesta faixa da sociedade que reside à grande porção de desavergonhamento e é justamente entre estes que ouvimos os mais elevados gritos de indignação fingida.

Não estamos dizendo que não podemos ficar indignado. Claro que podemos! Quem sou eu para dizer o contrário? Apenas digo que isso é ridículo, principalmente quando o indignado é tão indigno quando o objeto indignante.

Não está claro? Então recorramos a um exemplo. É comum vermos pessoas diplomadas rindo garbosamente da ignorância e inépcia de nossos parlamentares quando são interpelados por comediantes que lhes fazem perguntas de conhecimento geral. Bem, o cômico nisso tudo não são os parlamentares, mas sim, vermos aqueles que riem da ignorância destes não enxergarem a própria estultice.

Pois é, os primeiros têm os seus cargos e mentem frequentemente com vistas a obter vantagens. Já os segundos têm seus diplomas e fingem constantemente para não cair no ridículo de sua parva existência.

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