Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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Oração a São Tomás Becket

Senhor nosso Deus, que destes ao mártir São Tomás Becket a grandeza de alma que o levou a dar a vida pela justiça, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de saber perder a vida por Cristo neste mundo, para podermos encontrá-la para sempre no Céu. Por Nosso Senhor. Amém

UM DIA


Se há luz em minha vida
É porque Deus a alumia
Com a presença bendita
De almas generosas...
Meus familiares e amigos
Que são a alegria
Deste e de todos os dias
De minha vida.

Em 29 de dezembro de 2012,
dia de São Tomas Becket.

DOIS EXEMPLOS E UMA LIÇÃO


Escrevinhação n. 983, redigida em 25 de dezembro de 2012, dia do Santo Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Muitas são as imagens que carregarei deste ano que está por findar. Destas, duas gostaria de partilhar. Imagens da intimidade do meu lar que, penso, carregam em sua cotidianidade uma valia que eu não tenho o direito de ocultar no recôncavo de minhas lembranças.

Minha pequena filhota Helena, neste ano, começou a falar suas primeiras palavras. Falar naquele linguajar que, num primeiro momento, apresenta-se de forma hermética, mas que, gradativamente, com a atenção necessária, conseguimos reconhecer nos sons confusos as pontes que ligam os significantes aos significados que dão forma aos signos do vernáculo que, gradativamente, está formando o cabedal de instrumentos do universo da pequenina.

A alegria de estar sendo compreendido pelos outros, o júbilo de estar agindo sobre o mundo por intermédio de palavras que ligam os desejos ao mundo e às pessoas que nele se encontram. Este é um dos muitos milagres da existência humana.

A segunda imagem, também é dum infante. De meu filho primogênito. Johann é seu nome e, perseverança, sua profissão. Sua curiosidade é um mapa. Os conselhos meus e de minha amada a bússola. Porém, às vezes, a bússola falha, sobrando-lhe apenas curiosidade perseverante.

Explico-me: ele colocou em sua cabecinha que iria aprender a resolver o tal do cubo lógico. Bem, nunca em minha parva vida resolvi esse enigma tridimensional. Decepcionado, disse-lhe que não poderia ajudá-lo, porém, lembrei-lhe que no youtube ele encontraria a ajuda de que precisava. Depois de algumas semanas de pesquisa, muita atenção e uma admirável dedicação, batata! Ele aprendeu e, em pouquíssimo tempo, já estava resolvendo o dito cubo praticamente de olhos vendados.

Coisas de pai babão! Estou sabendo. Mas não apenas isso. Veja só o quanto que em tenra idade os indivíduos literalmente refletem vividamente o que Aristóteles indica na primeira página da Metafísica ao mesmo em tempo que negamos a mesma sentença com o correr dos anos. É natural ao ser humano o desejo de conhecer. Sim, potencialmente todos têm. Todavia, também somos potencialmente inclinados a fixar nossa vida à segurança das rotinas vazias e alienantes (detesto essa palavra, mas é a única que me parece apropriada).

Esquecemos, com o tempo, esse regozijo do espanto jubiloso advindo do aprender. Preferimos a monotonia da repetição, das rotinas delirantes que apenas reafirmam nossa nulidade. Confesso que chega ser pavoroso ver a diferença que há entre a capacidade pujante de aprender duma criança comparada com a de um indivíduo crescido. Do colo da mãe até, mais ou menos, sete anos, é simplesmente incrível o quanto se aprende. Dos sete em diante, é terrificante o declínio, chegando, em muitos casos, numa nulidade bestial.

É por essas e outras que o reino dos Céus pertence aos pequeninos. Apenas neles, e raramente noutros, o desejo pela Verdade é sincero, ardente e, acima de tudo, presente. Bem diferente de nós, não é mesmo?

Annum Faustum
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Conferencia del Dr.Castañon - Científico Ex-ateo

NOVENA DE SANTO AFONSO DE LIGÓRIO


Rezar por nove dias ou nove horas seguidas
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Glorioso Santo Afonso, Bispo, confessor e doutor da Igreja, dedicado servo de Deus, de Cristo e de Maria, eu invoco-te como um santo no céu.
Peço que sejas meu pai, meu protetor, e meu guia no caminho da santidade e da salvação.
Ajuda-me na observação das funções do meu estado de vida.
Obtenha para mim uma grande pureza de coração e um fervoroso amor da vida interior seguindo o seu próprio exemplo.
Grande amante do Santíssimo Sacramento e da Paixão de Jesus Cristo, me ensinai a amar a Santa Missa e a Sagrada Comunhão como a fonte de toda graça e de santidade, e para receber este Sacramento tão freqüentemente quanto eu possa. Dá-me uma grande devoção à Paixão de meu Crucificado Redentor.
Promotor da verdade de Cristo na sua pregação e por escrito, dá-me um maior conhecimento e apreciação das verdades divinas.
Gentil pai dos pobres e pecadores ajudai-me a imitar a sua caridade para com meus semelhantes, em palavras e ações.
Consolador do sofrimento, me ajude a suportar a minha cruz diária pacientemente na imitação de sua própria paciência na sua longa doença, e eu próprio possa aceitar a vontade de Deus Bom Pastor do rebanho de Cristo, para obter-me a graça de ser uma verdadeira criança da Santa Mãe Igreja.
Santo Afonso, eu humildemente imploro sua poderosa intercessão para a obter do Divino Coração de Jesus todas as graças necessárias para o meu bem-estar espiritual e temporal.
Recomendo-lhe, em particular, o favor. . . (indicar o seu pedido específico ou intenção aqui!)
Tenho grande confiança nas suas orações. Sinceramente eu confio que, é da santa vontade de Deus, o meu pedido será concedido através de sua intercessão ante o trono de Deus.
Santo Afonso, rezai por mim e por aqueles que eu amo, eu imploro, por seu amor por Jesus e Maria, não nos abandone nas nossas necessidades.
Para que um dia possamos experimentar a paz e a alegria de uma santa morte. Amém.
Em agradecimento a Deus pelas graças oferecidas por intercessão de Santo Afonso:

Rezar três vezes Pai-Nosso, Ave-Maria e o Glória.

Comentário Radiofônico de 21 de dezembro de 2012.

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI À CÚRIA ROMANA NA APRESENTAÇÃO DE VOTOS NATALÍCIOS


Sala Clementina
Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2012.

Com grande alegria, me encontro hoje convosco, amados membros do Colégio Cardinalício, representantes da Cúria Romana e do Governatorado, para este momento tradicional antes do Natal. A cada um de vós dirijo uma cordial saudação, começando pelo Cardeal Angelo Sodano, a quem agradeço as amáveis palavras e os ardentes votos que me exprimiu em nome dele e vosso. O Cardeal Decano recordou-nos uma frase que se repete muitas vezes na liturgia latina destes dias: «Prope este iam Dominus, venite, adoremus! – O Senhor está perto; vinde, adoremos!». Também nós, como uma única família, nos preparamos para adorar, na gruta de Belém, aquele Menino que é Deus em pessoa e tão próximo que Se fez homem como nós. De bom grado retribuo os votos formulados e agradeço de coração a todos, incluindo os Representantes Pontifícios espalhados pelo mundo, pela generosa e qualificada colaboração que cada um presta ao meu ministério.

Encontramo-nos no fim de mais um ano, também este caracterizado – na Igreja e no mundo – por muitas situações atribuladas, por grandes problemas e desafios, mas também por sinais de esperança. Limito-me a mencionar alguns momentos salientes no âmbito da vida da Igreja e do meu ministério petrino. Tivemos – como referiu o Cardeal Decano – em primeiro lugar as viagens realizadas ao México e a Cuba: encontros inesquecíveis com a força da fé, profundamente enraizada nos corações dos homens, e com a alegria pela vida que brota da fé. Recordo que, depois da chegada ao México, na borda do longo troço de estrada que tivemos de percorrer, havia fileiras infindáveis de pessoas que saudavam, acenando com lenços e bandeiras. Recordo que, durante o trajecto para Guanajuato – pitoresca capital do Estado do mesmo nome –, havia jovens devotamente ajoelhados na margem da estrada para receber a bênção do Sucessor de Pedro; recordo como a grande liturgia, nas proximidades da estátua de Cristo-Rei, constituiu um acto que tornou presente a realeza de Cristo: a sua paz, a sua justiça, a sua verdade. E tudo isto, tendo como pano de fundo os problemas dum país que sofre devido a múltiplas formas de violência e a dificuldades resultantes de dependências económicas. Sem dúvida, são problemas que não se podem resolver simplesmente com a religiosidade, mas sê-lo-ão ainda menos sem aquela purificação interior dos corações que provém da força da fé, do encontro com Jesus Cristo. Seguiu-se a experiência de Cuba; também lá nas grandes liturgias, com seus cânticos, orações e silêncios, se tornou perceptível a presença d’Aquele a quem, por muito tempo, se quisera recusar um lugar no país. A busca, naquele país, de uma justa configuração da relação entre vínculos e liberdade, seguramente, não poderá ter êxito sem uma referência àqueles critérios fundamentais que se manifestaram à humanidade no encontro com o Deus de Jesus Cristo. [continue lendo]

Comentário Radiofônico de 20 de dezembro de 2012.

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

Comentário Radiofônico de 19 de dezembro de 2012.

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

OS SINOS DOBRAM POR VOCÊ


Escrevinhação n. 982, redigida em 18 de dezembro de 2012, dia de São Graciano e de São Vunibaldo.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Parece um tanto que estranho, na falta de palavra melhor, falar sobre o Santo Natal nos dias atuais. Dias estes onde as almas vêem-se embebidas num hedonismo egocêntrico forjado nas labaredas cálidas dum materialismo sustentado por um ateísmo prático que alivia as consciências dos fiéis amornados.

Para aumentar mais ainda o clima de contradição o cenário de fim de ano parece corroborar. Nesta época, como todos sabem, tudo está a venda, inclusive a dignidade. Mas não se engane! É postiça. Aliás, toda ordem de quinquilharias encontra-se a disposição das mãos humanas ávidas por migalhas de felicidade de lagartixa.

Junte a isso, ainda, as reuniões familiares. Papai, mamãe, titia, papagaio, cachorro e tutti quanti. Reunimo-nos com os nossos para falar mal dos que estão ausentes e, em muitos dos casos, para parlar dos que estão presentes. Brigas, desentendimentos, lavação de roupa suja e, é claro, para aliviar a pressão da ocasião, muita bebedeira, que fica registrada nas fotos mal batidas que são estampadas nas redes sociais que, também, nestes dias, ficam mais etílicas.

E se tudo isso já não bastasse temos as contas! Além das ordinárias temos as extraordinárias que são exigidas pelas festas de fim de ano. O Natal, em muitíssimos lares destas plagas, parece mais um banquete romano que outra coisa. Aí o número do saldo mensal não mais bate com o dos débitos! Os olhos esbugalham, a cabeça dói e, para aliviar a consciência, toma-se um ou mais porretassos sempre acompanhados da atávica frase: “Que se dane tudo! Ano que vem eu resolvo!”

De fato, parece estranho, mas não é. Porque Cristo é o sol radiante que vem ao mundo para rasgar esse sombrio véu noturno que encobre a alma humana nos dias atuais, como nos dias de todas as épocas. É em meio a um cenário como esse, de falsas esperanças e pseudo-alegrias que um vívido sinal de luz rasga os céus de nosso coração para nos apontar a estrada que nos levará para Aquele que nos revelou a face da Verdade e da Vida.

Da mesma forma que hoje, a dois mil e doze anos atrás, o Messias era desejado, mas não esperado. Esperava-se um rei todo poderoso que escorraçasse com os inimigos do “povo” e hoje, espera-se que ele faça o mesmo, porém, que seja multifuncional, biodegradável, com responsabilidade social e que tenha, pelo menos, dois anos de garantia. Dum jeito ou doutro, Nosso Senhor Jesus Cristo, é o Messias inesperado tanto pelas almas de antanho, como por nós.

É em meio a todas essas contingências que parecem nos reduzir e nos degradar que Deus nos sorri, junto ao coração, convidando-nos a transcender as muralhas do caos presente. É neste cenário catastrófico que o Verbo Divino Encarnado bate às portas de nossa alma para que aprendamos com Ele, que é manso e humilde, a sermos filhos de Deus e não mais do mundo.

Por isso, nesta data, sejamos como a um pinheiro, adorado de virtudes, para resistirmos aos gélidos ares do mundo. Alegremente, prostremo-nos diante do presépio para contemplarmos as portas do Céu na face dum menino e que este Santo Natal inunde nosso ser com as alegrias que não são deste mesquinho mundinho.

Natale hilare 
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O latim e o baile funk


Por Leonardo Bruno

Confesso nada entender a respeito de lingüística. Pergunto-me se há alguma utilidade efetiva para essa "ciência" esquisita (talvez a finalidade maior seja a de empregar lingüistas). Quando eu ouço o lingüista falar, lembro imediatamente da bizarra figura do antropólogo, cujo ganha-pão, segundo o jornalista Janer Cristaldo, é o índio. Ambos são profissionais que falam jargões quase incompreensíveis e, por vezes, absurdos. Se o lingüista, muitas vezes, pode ser o relativista da língua, o antropólogo é o relativista da cultura. O primeiro parece negar qualquer padrão aceitável do idioma. Já o segundo afirma que nenhuma cultura é superior a outra: todas se equivalem.

Desse modo, para o antropólogo, os nossos juízos, valores e idéias são apenas reflexos de uma cultura em particular. É necessário indagar como alguns lingüistas estudam e identificam o idioma, se não aceitam padrões claros que definam a sua existência. Ou mesmo o antropólogo, que deve se achar acima de todas as culturas, para afirmar que a sua antropologia sirva para analisar todas elas. Não falo sobre todos os lingüistas e todos os antropólogos, mas tão somente sobre os lingüistas e antropólogos mais comuns. Há exceções notáveis. Contudo, a regra é de assustar.

O famigerado "preconceito lingüístico" de Marcos Bagno é a moda acadêmica da atualidade incultural brasileira. Para ensinar o português, não é preciso mais ensinar a gramática. Qualquer fala ou qualquer escrita, por mais insuficiente, confusa ou ininteligível que possa ser, deve ser aceita como forma válida de comunicação. (Mesmo que ninguém mais entenda a norma culta ou consiga ler, entender e falar em vernáculo correto.) A gramática, a literatura e a história da língua são apenas meios opressivos de classe, de ideologia e de condição social, prontos a discriminar os pobres burrinhos. Corrigi-los é um crime de lesa-pátria e despotismo abomináveis! O objetivo maior é fomentar a rebelião da classe iletrada contra o homem instruído e suas engrenagens de exploração (a literatura e a gramática), tal como o proletariado deve combater o burguês e a sociedade capitalista! Em suma, Camões e Machado de Assis deveriam ser fuzilados em nome da revolução! Ou no mínimo, queimados na fogueira. É a luta de classes no universo da língua, dos oprimidos analfabetos contra os opressores alfabetizados. Analfabetos de todo o mundo, uni-vos! [continue lendo]

Comentário Radiofônico de 18 de dezembro de 2012.


Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

 

Comentário Radiofônico de 17 de dezembro de 2012.

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

Papa João Paulo II - Angelus de 14/12/2003 (fragmento)


«Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo:
alegrai-vos! [...] O Senhor está próximo»

«Alegrai-vos sempre no Senhor. [...] O Senhor está próximo!» (Fl 4,4-5). Com estas palavras do apóstolo Paulo a Liturgia convida-nos à alegria. É o terceiro domingo do Advento, chamado precisamente por isto domingo «Gaudete». [...]

O Advento é tempo de alegria, porque faz reviver a expectativa do acontecimento mais jubiloso na história: o nascimento do Filho de Deus da Virgem Maria. Saber que Deus não está longe, mas perto, que não é indiferente, mas compassivo, que não é alheio, mas Pai misericordioso que nos segue amorosamente no respeito da nossa liberdade: tudo isto é motivo de uma alegria profunda que as vicissitudes alternas do dia-a-dia não podem cancelar.

Uma característica inconfundível da alegria cristã é que ela pode conviver com o sofrimento, porque se baseia totalmente no amor. De facto, o Senhor que está tão próximo de nós, a ponto de Se fazer homem, vem infundir-nos a Sua alegria, a alegria de amar. Só assim se compreende a alegria serena dos mártires também no meio das provas, o sorriso dos santos da caridade diante de quem se encontra no sofrimento: um sorriso que não ofende, mas conforta. «Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo» (Lc 1,28). O anúncio do anjo a Maria é um convite à alegria. Peçamos à Virgem Santa o dom da alegria cristã.

Comentário Radiofônico de 13 de dezembro de 2012.

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

Arquitetura e humanidade


Por Carlos Ramalhete

Os comentários nas redes sociais sobre o falecimento de Oscar Niemeyer mostraram que ainda hoje a arquitetura moderna é polêmica. Seu mestre Le Corbusier dizia que seus prédios eram “máquinas de morar”; quem se viu obrigado a morar neles completa: “máquina de morar mal”. O arquiteto indignava-se ao perceber que os moradores tentavam logo tornar o espaço adequado ao uso humano, com cortininhas e vasos de plantas.

É inegável a completa inadequação ao uso humano dos espaços planejados pela arquitetura moderna: praças sem árvores e sem sombras, edifícios quentíssimos, de péssima acústica e com escadas sem corrimões; ambientes em que apenas robôs se sentiriam à vontade – ainda que, no caso de Niemeyer, dessem maquetes belíssimas.

Seu talento plástico superou o de Le Corbusier; comparar as obras de um e de outro é como comparar um pássaro em voo a um caixote. Infelizmente, contudo, a visão desumana que orienta a arquitetura moderna também orientou a obra do brasileiro.

As arquiteturas tradicionais têm elementos em várias escalas, dos pequenos arabescos do tamanho de uma mão a almofadas de porta de menos de um metro, a portas emolduradas com dois metros, abrindo caminho para pés-direitos de altura adequada ao clima. Estas escalas, presentes igualmente na natureza – em que uma árvore pode ter um tronco de 30 metros de diâmetro, mas tem também galhos progressivamente mais finos, folhas, flores, nervuras... – fazem com que as pessoas se sintam confortáveis.

Na arquitetura moderna, o efeito buscado é o oposto; os detalhes inexistem, as escalas dão saltos, passando imediatamente do minúsculo ao monumental. O ser humano é um intruso, uma formiga na mesa de jantar. Os nichos que nos dão conforto – um espaço aconchegante junto à janela, a transição da rua à sala que uma varanda proporciona – não existem; é o homem que deve se adaptar à arquitetura, não o contrário. É a negação do humano, nas dimensões, no conforto, em tudo que não a beleza dos edifícios vistos de longe ou em maquete.

Trata-se, na verdade, de uma expressão mais refinada duma visão arquitetônica orientada pelos totalitarismos do século passado – a um dos quais, aliás, Niemeyer permaneceu sempre fiel. Stálin e Hitler mandaram construir edifícios gigantescos, em que o homem desaparecia como uma formiga numa mesa. Niemeyer fez edifícios em que o homem desaparecia como uma formiga numa bela escultura; a visão é a mesma, o erro é o mesmo. Difere apenas o talento de quem rascunha as leves linhas com que o humano é negado.

Comentário Radiofônico de 12 de dezembro de 2012.


Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

 

Documentário - Guadalupe - Uma Imagem Viva

DA IGNORÂNCIA PRESUNÇOSA

Escrevinhação n. 981, redigida em 10 de dezembro de 2012, dia de São João Roberts.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Quando o assunto é religião, em especial, o Cristianismo Católico, todo mundo dá seu palpite sapiencial. Todos têm uma dita opinião sobre o tema. Opiniões que desrespeitam tanto a Santa Madre Igreja quanto a inteligência humana. Seja da parte dos fiéis ou dos infiéis. Dum lado ou doutro da fronteira temos a manifestação do mesmo problema com intensidades e formas diversas.

Geralmente, as pessoas recebem em tenra idade os rudimentos duma instrução religiosa. Uma hora por semana. Não em todas. Passada algumas primaveras, tcha! Tcha! Já sabem tudo sobre a via salvífica aberta pelo Logos divino encarnado.

Com uma formação frágil e preguiçosa dessa é praticamente impossível não perder a fé ou vê-la tornar-se morna. No segundo caso, qualquer livreto de auto-ajuda água com açúcar “resolve”. No primeiro, um videozinho ateísta da lavra de um Richard Dawkins ou, dum Daniel Dennett, tem efeito similar de alívio para a consciência e de sedimentação da ignorância.

Tanto num quanto noutro, há-se um desprezo olimpiano às questões de ordem religiosa ao mesmo tempo em que os indivíduos afirmam, de modo soberbo, serem grandes sabedores da matéria. Nunca a estudaram com a seriedade e a maturidade devida. Agrilhoados aos seus rompantes juvenis, fecham-se em copas, tolhendo, deste modo, a inteligência e bem como a percepção do real.

Aquela visão esquemática, estereotipada, adquirida na mocidade, sobre tudo e sobre todos, nunca é revisada. Tal visão, com o tempo, passa a integrar a personalidade do indivíduo. Aliás, não temos como nos tornar maduros se não procuramos examinar nossa vida. Quem nunca teve a impressão de ser um farsante nunca fez um exame de consciência. Porca miséria! E como somos farsantes!

Por isso, são muitas as manifestações dessa ignorância inconfessa em matéria religiosa. Porém, levantemos apenas uma lasca desta pedreira para que nos sirva de critério para realizar um razoável exame de consciência, se assim desejarmos. Pergunte-se: o que é fé? Bem, fé não é crer em algo que não se vê como também não é algo que nos faz sentir bem. Muito menos um tapa-buracos frente ao desconhecido. Então, o que é?

Viu só como a sua fé, ou a ausência desta, é desprovida de substância?

Fé meu caro, em princípio, é um ato da inteligência e da vontade. É uma manifestação de confiança e fidelidade diante de evidências constatadas, ponderadas e aceitas pela inteligência em uma tomada de decisão perante a vida. Enquanto um ato de vontade, a fé não pode ser vista dissociada de certas atitudes, pois, a adesão (ou negação) à Verdade inevitavelmente nos transforma. A obediência a Ela, necessariamente, nos eleva. Por isso, fé sem adesão não é fé, mas apenas um furibundo boneco de palha.

Seja como for, a ignorância é imensa. A presunção, maior ainda. Quanto à sincera e abnegada vontade de conhecer acha-se minguada tanto quanto a Fé nestas terras onde a ignorância voluntária é uma insígnia de excelsa distinção.

Pax et bonum
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NÃO ADIANTA NEGAR


Escrevinhação n. 979, redigida em 22 de novembro de 2012, dia de São Clemente I, de Santa Felicidade e sete irmãos e de São Columbano.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Por favor, não faça beicinho. É perda de tempo. Meu coração não mais se deixa comover com esse tipo de teatrinho. Mas, afinal, do que estamos falando? Ah! Sim, desculpe-me por ter colocado a carroça à diante dos bois. É difícil não nos confundir tendo de testemunhar a loucura presente.

Bem, vamos ao ponto. A maresia “informativa”, meu caro, em seu estado bruto, apresenta-se, a qualquer um, sem fazer a menor cerimônia. Arromba nossa alma e, nosso universo pessoal, de tanto ser invadido com uma gama tão ampla quanto disforme de informações que nos acostumamos a ficar em um constante estado de dissimulação, com aqueles toscos ares de quem está à par de tudo para melhor encobrir nossa confusão interior.

Graças aos canais de televisão, as redes sociais e a antiguíssima roda de escarnecedores - círculo de colegas - edificamos em nosso íntimo não apenas uma falsa impressão da realidade, mas sim e principalmente, de nós mesmo. Na verdade, no fundo, o indivíduo moderno pouco se importa com o que está ocorrendo a sua volta ou no mundo. Quando demonstra preocupações desta monta, é por pura afetação, porque o que realmente lhe interessa é ele mesmo e a imagem que irá apresentar diante de seus iguais.

Imagem é tudo. Conteúdo e substância em um mundo partilhado por pessoas que apenas curtem seus umbigos, um luxo dispensável.

É o reino de Narciso. Estamos todos nele, principalmente, aqueles que se consideram maduros, demasiadamente preocupados com o seu mundinho pessoal que, naturalmente, tem essas preocupações miúdas transmutadas em questões de ordem pública em suas conversas estereotipadas e cansativas. Conversas essas sempre tecidas com aquela pose doutoral, naquela entonação de voz de quem (ui!) sabe do que está falando, parlando sempre para um grupo de pessoas que, por coincidência, vive na mesma atmosfera de fingimento.

Bem, é por isso que não adianta fazer beicinho. Se a mensuração do amor que devotamos ao conhecimento e aos bens culturais superiores reflete a envergadura de nossa alma, não há exagero algum em concluir que a brasílica alma diplomada vive minguadamente de subnitrato do pó de dejetos culturais.

Se prestássemos mais atenção ao conteúdo de nossas conversas, se atinássemos mais nossa percepção para as palavras que saem de nossa boca e bem como para aquelas que gentilmente permitimos adentrar em nossos ouvidos, pensaríamos duas vezes, no mínimo, para chamar alguém de estulto, ou coisa do gênero.

Somos uma sociedade que não gosta de ler, mas que idolatra as confabulações fiadas. Somos pessoas que imaginam saber muito sobre qualquer coisa sem nunca ter amado o conhecimento d’alguma coisa. Por isso a seriedade fingida é geral. Não adianta negar.

Pax et bonum
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Comentário Radiofônico de 11 de dezembro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

Comentário Radiofônico de 10 de dezembro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

O ÓPIO DOS INTELECTUAIS


Escrevinhação n. 980, redigida em 30 de novembro de 2012, dia de Santo André.

Por Dartagnan da Silva Zanela


O marxismo é o ópio dos intelectuais. Este livro, de Raymond Aron, é leitura obrigatória, praticamente um dever cívico, a todo brasileiro que queira compreender as razões da enfermidade que afeta a classe falante de nosso país e que, de um modo geral, fez adoecer a cultura brasileira.

Tanto ontem, como hoje, uma multidão de intelectuais sucumbiu diante da confusão advinda da secularização da cultura. Neste vazio criado pela “ausência” de Deus foi-se instalando mitologias mundanas e religiões civis que tinham por intento suprir, com arremedos pseudo-metafísicos chinfrins, essa necessidade estrutural da alma humana.

Como nos lembra Aron, no século das luzes (XVIII), havia uma tríade mitológica que encantava as classes letradas e que substituiria, em seu imaginário, a Santíssima Trindade. Esta versão trinitária secular era composta pelas seguintes “entidades”: o progresso, a razão e o povo. A partir do século XIX, essa trinca profana metamorfoseou-se em algo mais vil: a esquerda, a revolução e o proletariado.

Substituíram-se fatos dramáticos e estruturantes da vida humana por dogmas cientificistas devido a uma mistificação da ideia de ciência, onde se confunde a prática desta com o apego a crenças materialistas, dando a sensação de superioridade moral e intelectual a seus postulantes, mesmo que, em regra, estes não sejam superiores nem moral, nem intelectualmente. E assim são os marxistas, pseudo-marxistas, cripto-marxistas, marxianos e tutti quanti.

Eles falam uma mesma linguagem, comungam duma mesma mitologia, dos mesmos símbolos e, principalmente, dos mesmos “propósitos”, apesar de discordarem dos métodos para atingi-los. Trocando por miúdos: eles tem um instrumento cultural que lhes faculta sentirem-se integrantes de algo (supostamente) maior que dá sentido as suas vidas sorumbáticas.

Para eles, Marx é o novo Moisés e a luta de classes o seu Armagedom. Ditadores, juntamente com toda lavra de ideólogos rubros, integram a “hagiografia” de sua pseudo-religião pretensamente científica.

Em resumidas contas, o marxismo é uma doença do espírito, cujos principais sintomas são a crença de que só a esquerda pode anunciar o futuro, só a revolução pode eliminar o mal, somente o proletariado é capaz de salvar a humanidade e que só a história é o motor e síntese de tudo. Enfim, eles condenam a realidade e proclamam-se os demiurgos da nova humanidade, os arautos dum evangelho de ídolos ocos.

No fundo, não passam de almas infantilizadas, psicologicamente frágeis com suas frustrações políticas e pessoais lavadas num balsamo de fugas ideológicas chulas. Por isso, e muito mais, o marxismo é um íncubo ideológico que parasita a alma. Uma doença espiritual e, como tantas outras, têm cura. Porém, como toda enfermidade, depende da boa vontade da alma adoecida para enxergar seu ridículo original.

Pax et bonum
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MAIS UM COLÓQUIO FLÁCIDO


Escrevinhação n. 978, redigida em 26 de novembro de 2012, dia de Bem-aventurado Tiago Alberione, de São Leonardo de Porto Maurício, de Santo Humilde de Bisignano, do Bem-aventurado Charles-Martial Allemand Lavigerie e de São Silveste.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Não há educação sem disciplina. A clareza das normas nos revela limites. Com essa medida que nos é apresentada por elas vislumbra-se as possibilidades humanas. Os limites fortalecem o sujeito por exigir que ele seja exigente consigo, robustecendo o seu caráter e lapidando a sua personalidade. O aprendizado de qualquer coisa é assim.

Para que as normas cumpram seu desígnio, é de fundamental importância que elas sejam claras em seu enunciado, atribuam de maneira equilibrada o que é devido e o dever de cada um, apontando firmemente as sanções previstas no caso do cumprimento ou não do que fora estabelecido pela letra ordenadora. Sem isso, a disciplina é morta.

Por essa razão, entre outras tantas, que uma normatização truncada que exacerbe os direitos e minimize os deveres anula-se em o seu efeito educativo, pois, a banalização de uma sanção possível cria um curto-circuito em todo sistema, invertendo o sentido do mesmo.

Todo aquele que tem dois olhos e tem o hábito de usá-los, sabe que tais considerações ilustram o que vem acontecendo com a educação brasileira nas últimas décadas. Problema esse que, penso, cá com meus botões, é o ponto nevrálgico desta situação lastimável em que ela se encontra.

Por isso, francamente, não vejo no efeito sanfona que é imposto à carga horária das disciplinas escolares, um caminho sereno para melhorar a educação. Muito menos a introdução ou a retirada duma e doutra disciplina, mesmo que essas tenham validade duvidosa na formação dos mancebos.

Pra falar a verdade, no fundo de toda essa celeuma que hoje se orquestra em torno da carga horária das matérias, temos da parte dos professores, uma querela fortuita em nome dum corporativismo tacanho e uma gambiarra de gabinete da parte das autoridades responsáveis que se recusam, por pusilanimidade, ou por qualquer outra razão, a enxergar o óbvio ululante.

Falta coragem moral, aos professores e as autoridades, para admitir que o grande fiasco em que se encontra nossa educação deve-se justamente as concepções marxistas (e ópios similares) que são defendidas por ambos.

Não? Então me diga donde veio todo esse trololó que vitimiza o educando e criminaliza o professor como uma espécie de agente malicioso e excludente? E as hostes politicamente-corretas? E toda essa patacoada que sobrepõem o contexto social ao objetivo que deveria ser atingido pelo ato de educar? E a conversa fiada que reza que boa parte dos gestos dos educadores são atos potenciais de violência simbólica? Donde veio tudo isso?

Pois é, no frigir dos ovos, o que temos é uma imensa assembleia de inconscientes, com sua frívola criticidade inovadora, ditando o que deve ou não ser a (des)educação. Sem rever isso, sinceramente, não há solução. Trocando por miúdos, é o fim da rosca.

Pax et bonum
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Com a palavra... São Gregório de Narek (Monge armênio)


Jesus, Filho único do Pai, 668-673; SC 203
«Desce depressa»

Não me ergui desta terra miserável,
Como Zaqueu, o publicano,
Montado em alta árvore de sabedoria
Para Te contemplar na Tua divindade.

A pequena estatura do homem espiritual que há em mim
Não cresceu por boas obras:
Ao contrário, foi sempre diminuindo
Até me fazer voltar a beber leite, como criança (cf 1Co 3,2).

Pegando às avessas na parábola,
Direi que subi à árvore da sensualidade
Por amor às coisas de agradável gosto deste mundo,
Tal outro Zaqueu montado em diversa figueira.

Com Tuas poderosas palavras,
Faz-me daí descer depressa, como fizeste a ele;
Vem-Te abrigar na casa da minha alma,
E, conTigo, o Pai e o Santo Espírito.

Faz que este corpo que tanto mal causou à minh'alma
Lhe dê o quádruplo em serviço
E metade de seus bens
A este meu empobrecido livre arbítrio.

A fim de que, segundo as palavras de salvação que dirigiste a Zaqueu,
Também eu seja digno de ouvir a Tua voz,
Pois também eu sou filho de Abraão,
E sigo a fé do nosso patriarca.

TODOS PELA DESONRA AO MÉRITO

Por Dartagnan da Silva Zanela

                Um dos mantras que os sabichões da educação, com ou sem pose de guru, adoram repetir é a tal da educação democrática. Se gasta laudas e laudas para versar sobre essa nulidade que tanto ocupa o vácuo dessas alminhas. Laudas essas floreadas com aquele palavrório “cientificamente” empavonado que, no fundo, diz nada com coisa nenhuma.

                Mas, vamos ao ponto: não existe democracia sem elite. Sim, sei que para as igrejinhas do Butantã essa afirmação soa sacrílega, fazer o que? Uma elite é apenas um grupo de pessoas que se destaca em algo e isso é um dos elementos estruturantes da realidade, gostemos ou não.

                Sim, devemos questionar os critérios que são utilizados para formar uma elite, mas não a existência duma. Uma elite formada por critério familiar, censitário, corporativista, ideológico ou racial é reprovável, mesmo que seja a regra duma sociedade. Doravante, temos outros, como o mérito e o talento que deveriam ser a base para formar uma elite.

                Os mais talentosos deveriam formar um verdadeiro corpo aristocrático e a eles ser entregue os mais elevados postos, comendas e responsabilidades, pois, como nos lembra o saudoso Wilson Martins, a democracia funda-se ao mesmo tempo no princípio da igualdade de oportunidade e no estímulo das diferenças por mérito, únicas legitimas do ponto de vista individual e bem como social.

                Todavia, o que temos em nosso sistema educacional com seu pedagogesco democratismo é o contrário disso. Temos um simulacro de igualdade de oportunidade através dum Ensino (Fundamental e Médio) capenga com atestado de inépcia assinado pelo MEC por meio de sua política de cotas (um arremedo de [in]justiça social) num misto com o desestímulo a meritocracia através da nada velada política de não reprovação, digo, de reconhecimento do esforço (inexistente) de muitos alunos.

                Desde os idos de Anísio Teixeira, nossa educação, toda ela, é uma ficção feita por meio de decretos e portarias. Ainda hoje, para ser boa, no entendimento dos sabichões, ela deve ser cheia de formulários a serem preenchidos e que isso, em seu imaginário doentio, garantiria que todos teriam acesso a uma educação formal de qualidade. Tudo muito bonitinho, no papel, mas ordinário, em sua execução.

                Por isso, penso que devemos, urgentemente, lembrar, e não esquecer, três dados ululantes da natureza humana: (i) todos os seres humanos são diferentes quanto as suas potencialidades e talentos, (ii) a maioria absoluta dos indivíduos tende sempre a seguir a lei do menor esforço e (iii) sempre os medíocres irão invejar (por isso desdenham) os talentosos.

                Imaginar que se pode educar alguém ignorando esses dados, ou é um claro sinal de demência, ou uma evidência inconteste de que os medíocres estão ditando as regras para a derrocada da democracia e da educação.

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Guarani Kaiowá de boutique


Por Luiz Felipe Pondé

As redes sociais são mesmo a maior vitrine da humanidade, nelas vemos sua rara inteligência e sua quase hegemônica banalidade. A moda agora é "assinar" sobrenomes indígenas no Facebook. Qualquer defesa de um modo de vida neolítico no Face é atestado de indigência mental.

As redes sociais são um dos maiores frutos da civilização ocidental. Não se "extrai" Macintosh dos povos da floresta; ao contrário, os povos da floresta querem desconto estatal para comprar Macintosh. E quem paga esses descontos somos nós.

Pintar-se como índios e postar no Face devia ser incluído no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

Desejo tudo de bom para nossos compatriotas indígenas. Não acho que devemos nada a eles. A humanidade sempre operou por contágio, contaminação e assimilação entre as culturas. Apenas hoje em dia equivocados de todos os tipos afirmam o contrário como modo de afetação ética. [continue lendo]

Regra geral


Por Olavo de Carvalho

Se vocês ainda não notaram, aproveitem o festival de homicídios em São Paulo como ocasião perfeita para notar esta regra geral nunca desmentida: com a mesma constância com que em qualquer nação agrária e atrasada as revoluções socialistas resultam imediatamente na instauração de ditaduras genocidas, em todo país mais ou menos próspero e democrático onde a esquerda se torne hegemônica as taxas de criminalidade sobem e não param mais de subir. O primeiro desses fenômenos observou-se na Rússia, na China, na Coréia do Norte, no Camboja, em Cuba etc. O segundo, na França, na Inglaterra, na Argentina, na Venezuela, nos EUA, no Brasil e um pouco por toda parte no Ocidente.

Por que? E há alguma relação entre essas duas séries de fatos?

Todo o esquema socialista baseia-se na idéia de Karl Marx de que o proletariado industrial é a classe revolucionária por excelência, separada da burguesia por uma contradição inconciliável entre seus interesses respectivos.

Quando um partido revolucionário toma o poder numa nação atrasada, predominantemente agrária, como a Rússia de 1917 e a China de 1949, não encontra ali uma classe proletária suficientemente numerosa para poder servir de base à transformação da sociedade. O remédio é apelar à industrialização forçada, para criar um proletariado da noite para o dia e “desenvolver as forças produtivas” até o ponto de ruptura em que a burguesia se torne desnecessária e possa ser substituída por administradores proletários. Para isso é preciso instaurar uma ditadura totalitária que possa controlar e remanejar a força de trabalho a seu belprazer (Trotski chamava isso de “militarização do trabalho”). Daí a semelhança de métodos entre os regimes revolucionários socialistas e fascistas: ambos têm como prioridade a industrialização forçada, com a única diferença de que os fascistas a desejam por motivos nacionalistas e os socialistas pelo anseio da revolução mundial. [continue lendo]

Com a palavra a Beata Teresa de Calcutá


Somente através da meditação e da leitura espiritual podemos cultivar o dom da oração. A oração mental cresce simultaneamente com a simplicidade, ou seja, o esquecimento de si próprio, a superação do corpo e dos sentidos, e a renovação das aspirações que alimentam a nossa oração. É, como diz São João Maria Vianney, «fechar os olhos, fechar a boca e abrir o coração». Na oração vocal somos nós que falamos com Deus; na oração mental, é Ele que nos fala. É neste momento que Ele se derrama em nós.

A nossa oração deve ser feita de palavras quentes, nascidas da fornalha do nosso coração cheio de amor. Nas tuas orações, dirige-te a Deus com grande reverência e confiança. Não te atrases nem te precipites, não grites, nem te entregues ao mutismo, mas com devoção, com grande delicadeza, com toda a simplicidade, sem qualquer afectação, oferece o teu louvor a Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma.

Finalmente, deixa que o amor de Deus possua inteira e absolutamente o teu coração e deixa esse amor tornar-se no teu coração uma segunda natureza; não permitas que o teu coração seja penetrado do que lhe é contrário; deixa-o aplicar-se continuamente ao crescimento deste amor, procurando agradar a Deus em todas as coisas, não Lhe recusando nada; deixa-o aceitar tudo o que lhe acontece como vindo das mãos de Deus; faz com que esteja firmemente determinado a jamais cometer qualquer ofensa deliberada ou conscientemente - ou, se não, deixa-o humilhar-se e aprender a erguer-se logo a seguir. Então, esse coração estará continuamente em oração.

INDO E VINDO DE ARRASTO


Escrevinhação n. 976, redigida em 08 de novembro de 2012, dia de São Godofredo e do Bem-aventurado Dun Scoto.

Por Dartagnan da Silva Zanela


As palavras movem, os exemplos arrastam. Esse é um brocardo que todos conhecem. Os exemplos, ninguém ignora, podem ser apresentados intencionalmente ou de modo velado através de nossos gestos e ações. Em muitas ocasiões, o primeiro é contradito quando defrontado com o segundo, noutras, complementam-se. Bem, dum jeito ou doutro, sempre estamos tendo diante de nossas vistas modelos de conduta que guiam nossas escolhas.

Doravante, René Girard demonstra, com elegância e argúcia, através de sua teoria do “desejo mimético” o quão presente os exemplos se fazem na formação de uma pessoa e, bem como, na estruturação da vida em sociedade. Segundo o referido antropólogo, somos seres ciosos por ser, em nos realizar como indivíduo, por não sabermos exatamente quem e o que somos. Frente a essa angústia substancial, somos movidos a preenchê-la com algo que dê sentido a nossa vida. Sentido que, por sua deixa, é colhido no pomar de modelos que tornam latentes todas as possibilidades humanas almejáveis e indesejáveis.

Levantamos essa pedra tendo em vista a grande confusão mimética reinante. Os noticiários apresentam-nos a vilania moral como padrão de comportamento por meio de pessoas públicas, celebridades, de suas novelas e tutti quanti. Temos de modo onipresente a baixeza como padrão. Sim, há exceções, porém essas são minguadas, caricatas, e apenas auxiliam na reafirmação da torpeza reinante.

Na seara educacional, o cenário não é diverso. Aliás, nesta temos um agravante maior. Devido ao pensar, e ao educar, dito crítico, cultiva-se um grande desdém pelo que seja realmente representativo do potencial humano ao mesmo tempo em que se estimula um largo sentimento de rancor no coração dos infantes. Sentimento esse que é devidamente sevado pelas posturas e imposturas que são apresentadas a estes em sala e fora dela que coloca os púberes no patamar de juízes universais do que realmente pode ser tido como respeitável e louvável. Francamente, somente tolos são capazes de idolatrar o mimado discernimento juvenil. 

Destruindo-se a imagem dos modelos de conduta humana que refletem os valores perenes não se está libertando os infantes, não mesmo. O que se está fazendo, cônscio ou não disso, é substituir um exemplo de elevado valor por um de pérfida mediocridade que, em regra, é a cara de seus proponentes.

Com a ausência de modelos que realmente figurem as reais potencialidades da alma humana, perde-se o sentido da admiração e bem como o senso de grandeza que são substituídos por sentimentos e desejos fúteis guiados pelas referências torpes apontadas pelas almas embebidas num rancor advindo do fato de serem elas, simplesmente, pessoas desprovidas de qualquer qualidade. Não é por menos que estamos a viver sob as rédeas de uma mediocracia. Não é de espantar que nada mais escandalize a alma brasileira.

Por essas e outras que a futilidade nos subiu a cabeça e tornou-se marca distintiva de cívica brasilidade.

Pax et bonum
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Quem manda no mundo?

Por Olavo de Carvalho

Nas minhas leituras de juventude, mais de quatro décadas atrás, poucas  perguntas me impressionaram como aquela que dá título à segunda parte de La Rebelión de las Masas, de José Ortega y Gasset: “Quién manda en el mundo?”

O filósofo não a formulava em sentido metafísico, onde poderia ser respondida por algo como “Deus”, “o acaso”, “a fatalidade”, mas em sentido geopolítico, e chegava à conclusão de que era uma lástima a Europa ter perdido seu posto de liderança, cedendo a vaga para a Rússia e os Estados Unidos.

A resposta parecia deslocada da pergunta. Estados, nações, governos e continentes não mandam. Quem manda são os indivíduos e grupos que os controlam. Antes da geo-política vem a política tout court.  E aí tudo se complica formidavelmente. É fácil perceber quais Estados ou países predominam sobre os outros. Mas descobrir quem realmente manda num Estado ou país – e através dele manda nos outros -- é um desafio intelectual mais atemorizante do que o pode imaginar o analista político usual.

O verbo “mandar” vem do latim manus dare: quem manda empresta os seus meios de ação (sua “mão”) para que outros realizem algo que ele pensou. Um governante dá ordens a seus subordinados, mas, examinando bem, você verá que só raríssimos governantes, na História – um Napoleão, um Stálin, um Reagan –, foram eles próprios os criadores das idéias que realizaram. Os primeiros teóricos do Estado moderno acertaram na mosca quando inventaram a expressão “poder executivo”: em geral o homem de governo é o executor de idéias que ele não concebeu nem teria a capacidade – ou o tempo -- de conceber. E os que conceberam essas idéias foram os mesmos que deram a ele os meios de chegar ao governo para realizá-las. Quem são eles? [continue lendo]

¿Piensan los jóvenes?


Por Jaime Nubiola

La impresión prácticamente unánime de quienes convivimos a diario con jóvenes es que, en su mayor parte, han renunciado a pensar por su cuenta y riesgo. Por este motivo aspiro a que mis clases sean una invitación a pensar, aunque no siempre lo consiga. En este sentido, adopté hace algunos años como lema de mis cursos unas palabras de Ludwig Wittgenstein en el prólogo de sus Philosophical Investigations en las que afirmaba que "no querría con mi libro ahorrarles a otros el pensar, sino, si fuera posible, estimularles a tener pensamientos propios".

Con toda seguridad este es el permanente ideal de todos los que nos dedicamos a la enseñanza, al menos en los niveles superiores. Sin embargo, la experiencia habitual nos muestra que la mayor parte de los jóvenes no desea tener pensamientos propios, porque están persuadidos de que eso genera problemas. "Quien piensa se raya" —dicen en su jerga—, o al menos corre el peligro de rayarse y, por consiguiente, de distanciarse de los demás. Muchos recuerdan incluso que en las ocasiones en que se propusieron pensar experimentaron el sufrimiento o la soledad y están ahora escarmentados. No merece la pena pensar —vienen a decir— si requiere tanto esfuerzo, causa angustia y, a fin de cuentas, separa de los demás. Más vale vivir al día, divertirse lo que uno pueda y ya está. [continue lendo]

A História do Mensalão em Quadrinhos

O Círculo Vicioso Brasileiro



Por Mario Guerreiro

Há uma coisa que acontece frequentemente comigo, mas estou certo de que acontece também com muita gente. Como não uso óculos para ler, quando começo a ler um livro ou um jornal tiro imediatamente os óculos e os ponho em algum lugar.

Terminada a leitura e quando tenho que sair à rua, procuro então meus óculos. Mas, para encontrá-los onde os pus, preciso de óculos. E como enxergar os óculos sem óculos?

Esse é um dos muitos círculos viciosos com os quais costumamos deparar na vida cotidiana, mas o que pretendo formular aqui é muito mais grave e angustiante.

A educação no Brasil vem sofrendo há muitos anos uma deterioração crescente. Isto é algo facilmente reconhecível por qualquer pessoa com um mínimo de percepção das coisas.

Desde o ensino básico até o superior, a educação tem piorado exponencialmente. As conseqüências mais palpáveis talvez possam ser detectadas no vocabulário pobre e no linguajar tosco da maioria da população em todas as classes sociais.

Não só as pessoas em geral falam mal como também debocham dos que falam bem e, além disso, carecem de algumas noções elementares de geografia, história, matemática, etc. – nada que não faça parte dos currículos do primeiro e do segundo grau e que era de se esperar que as pessoas tivessem aprendido ao concluir essas duas etapas do ensino.

As pessoas que chegam à universidade - e que são um pequeno número em relação à grande população do Brasil - carregam todas as deficiências herdadas de uma péssima formação básica – coisa que dificilmente pode ser suprida no terceiro grau.

Mas até aqui estivemos nos restringindo à educação formal, quer dizer: a que é fornecida pelas escolas, colégios, universidades, etc.. Esta forma de educação complementa-se com a educação informal, quer dizer: a que começa em casa. E esta é tão ruim quanto aquela. [continue lendo]

AS BOTAS FURADAS DO CORONEL


Escrevinhação n. 975, redigida em 30 de outubro de 2012, dia da Bem-aventurada Retistuta Kafka.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Duas pústulas infectam os ares de nossa sociedade quando esta se vê arrebatada por rompantes democráticos de ocasião. A primeira são as cloacas de utopias. A outra, o repicar do taco partido das botas dos arcaicos coronéis (ou mandatários se preferirem). De tão fétidas que são suas manifestações que o mau cheiro destas ilações, na verdade, fazem-me rir. Mas fedem.

De um lado temos os barbudinhos enfezados, similares a Eduardo Cambará e Adão Stein, personagens de “O tempo e o Vento” de Érico Veríssimo. Fanáticos que tratam o marxismo como algo superior as religiões. Creem-se sacerdotes de uma nova era de (in)justiça social e, não sei porque cargas d’água, são sujeitos desprovidos de senso de humor e com um senso crítico praticamente anulado ao mesmo tempo que julgam-se acima da, como eles diriam, patuléia alienada e aburguesada.

Chega cansar termos de ouvir esses tipos furibundos, que tanto abundam nestas plagas, com as suas efusivas intervenções todas enfeitadas com palavras de ordem decoradas que eles ouviram aqui e outras tantas frases dogmáticas que eles colheram acolá. Almas rasas que, em regra, acreditam ter chegado à profundidade das verdades incontestes simplesmente porque papagaiam um amontoado de cacoetes e estereótipos que lhes permitem sentir-se um pouco acima de sua nulidade bestial.

Do outro lado temos a coronezada fisiológica. Isso mesmo! Esses tipinhos, também, acotovelam-se em nossa sociedade e que, inclusive, finjo não saber qual a razão deles imaginarem que o patrimônio público seja um brinquedinho que seus paizinhos lhes deram quando infantes para brincar de Coronel Amaral. Sim, a personagem que quase pelejou de verdade (faltou-lhe bagualidade) com o Capitão Rodrigo Cambará, no primeiro volume da trilogia citada.

Adoram mandar e desmandar, gostam de ser reverenciados pelas virtudes que não possuem. Aliás, a bajulação é indispensável para que sua nulidade não venha à tona. Todos veem e reconhecem a sua falta de qualidades dignificantes, mas ninguém deixa de entrar neste jogo de cartas viciadas e adulam o chefinho do feudozinho pós-colonial.

O pior de tudo é que esses sujeitos por terem como “ideologia” apenas a defesa dos seus interesses e dos integrantes de sua trupe, acabam imitando o palavrório dos barbudinhos e, fazendo isso, pensam que estão fazendo um grande negócio, sem dar-se conta de que ao imitarem o discurso de seus adversários eles passam, sem perceber, a jogar o jogo deles e, não mais o seu. Eles enfraqueceram, estão sendo usados para fins que não compreendem e, ainda, contam vantagem.

Ora, quem diria que um dia José Sarney seria o office boy do Partido dos Trabalhadores no Senado. Sim, quem diria que, um dia, Paulo Malluf seria o garoto de recados de um candidato petista em São Paulo. Bem, é isso o que ocorre quando se parasita o discurso político do adversário imaginando que ainda poderá continuar agindo com um coronel de antanho.

Tem louco pra tudo neste mundo.

Pax et bonum
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Dos Estados Unidos à Europa


Por João Pereira Coutinho

1. Os americanos vão hoje às urnas. Não sou vidente. Não vou cansar o leitor com análises detalhadas sobre os "swing states", os votos colegiais, as últimas pesquisas. Tudo é possível.
Mas, dentro do possível, confesso que gostaria muito que Mitt Romney ganhasse. Eu sei, heresia: lemos a imprensa "liberal" (no sentido americano da palavra, ou seja, esquerdista) e Romney é apresentado como um fanático que acredita em extraterrestres. Pior: um fanático que pretende entregar os Estados Unidos à plutocracia doméstica, de que ele faz parte.

Barack Obama, pelo contrário, é a personificação da bondade e do realismo. Mesmo Guantánamo, que continua a funcionar, tem outro sabor com Obama: no tempo de Bush, a prisão era o inferno terreno e a prova da malignidade republicana. Com Obama, Guantánamo é um jardim de infância.

Sejamos sérios: o julgamento sobre Obama, quatro anos depois, não pode ser brando ou entusiasmante. Fato: em 2008, Obama recebeu de herança uma nação quebrada. Novo fato: em 2008, Obama dispunha de condições incomparáveis --aprovação popular em níveis estratosféricos, Congresso favorável etc.-- para fazer mais e melhor. [continue lendo]

O novo imbecil coletivo

Por Olavo de Carvalho

Quando entre os anos 80 e 90 comecei a redigir as notas que viriam a compor O Imbecil Coletivo, os personagens a que ali eu me referia eram indivíduos inteligentes, razoavelmente cultos, apenas corrompidos pela auto-intoxicação ideológica e por um corporativismo de partido que, alçando-os a posições muito superiores aos seus méritos, deformavam completamente sua visão do universo e de si mesmos. Foi por isso que os defini como “um grupo de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem com a finalidade de imbecilizar-se umas às outras”.

          Essa definição já não se aplica aos novos tagarelas e opinadores, que atuam sobretudo através da internete que hoje estão entre os vinte e os quarenta anos de idade. Tal como seus antecessores, são pessoas de inteligência normal ou superior separadas do pleno uso de seus dons pela intervenção de forças sociais e culturais. A diferença é que essas forças os atacaram numa idade mais tenra e já não são bem as mesmas que lesaram os seus antecessores.

          Até os anos 70, os brasileiros recebiam no primário e no ginásio uma educação normal, deficiente o quanto fosse. Só vinham a corromper-se quando chegavam à universidade e, em vez de uma abertura efetiva para o mundo da alta cultura, recebiam doses maciças de doutrinação comunista, oferecida sob o pretexto, àquela altura bastante verossímil, da luta pela restauração das liberdades democráticas. A pressão do ambiente, a imposição do vocabulário e o controle altamente seletivo dos temas e da bibliografia faziam com que a aquisição do status de brasileiro culto se identificasse, na mente de cada estudante, com a absorção do estilo esquerdista de pensar, de sentir e de ser – na verdade, nada mais que um conjunto de cacoetes mentais. [continue lendo]

Qué es el Concilio Vaticano II Alejandro Bermúdez con Enrique Elías (14/04/2011)

A realidade como nós a conhecemos


Por Umberto Eco

Eu certamente já disse antes, mas direi de novo: um dos meus desejos é colocar um fim a esta coluna, ao menos em sua encarnação atual. Em intervalos de poucas semanas, eu tenho de conjurar um tema que seja atual, mesmo que meu desejo seja realmente reler a obra de Pinder e escrever uma crítica (um tanto tardia) de seus poemas. Em outras palavras, eu gostaria de falar sobre livros que talvez tenham sido esquecidos, mas que sinto serem “atuais” para serem lidos de novo. Poderiam ser livros de séculos atrás, apesar de que também gostaria de discutir obras contemporâneas que demorei a ler. Afinal, nem sempre é possível se manter atualizado.

Recentemente eu li “O Imaginário”, de Jean-Jacques Wunenburger, que saiu na França em 2003 e explora a ideia do imaginário individual e coletivo. É difícil dizer o que é o imaginário coletivo, mas com base neste livro, nós podemos ao menos tentar esboçar uma teoria possível. O imaginário coletivo não pertence às construções da razão, como a lógica, matemática ou ciências naturais, mas sim a uma série de representações “imaginárias” que podem variar de mitos antigos até ideias contemporâneas que circulam em cada cultura e às quais todos nós nos adaptamos –mesmo que sejam fantásticas, errôneas ou cientificamente não provadas.

Se formos falar de um imaginário coletivo para mitos, certamente “Ulisses” de James Joyce é um exemplo que domina nosso modo de pensar. E há as visões sagradas, as narrativas que se infiltram em nossas experiências individuais: é por essa lógica que Pinóquio se torna mais real para nós do que, digamos, o príncipe Klemens von Metternich da Áustria, ou outros titãs da história. E em nossa existência cotidiana, pode ser mais fácil seguirmos as lições da vida fictícia de Pinóquio do que as da vida real de Charles Darwin. [continue lendo]

De como Dostoiévski foi o primeiro olavete; e o desaparecimento iminente dos moderninhos com cara de nojo


Por Lorena Miranda

Escrevi recentemente um artigo sobre Dostoiévski onde avalio a relação deste com a noção de Ocidente e a cultura ocidental. O artigo foi lido por Joel Pinheiro e Julio Lemos e desagradou a ambos pelo que seria um excessivo tom “olavista-voegelinista”. (Nota: Não conversei com Julio Lemos sobre o assunto; sua apreciação me foi brevemente transmitida por Joel Pinheiro. Já com este último venho discutindo abundantemente todas as questões em torno do malfadado artigo, de modo que boa parte do que direi nesse texto não lhe será novidade. No entanto, creio que a grande maioria das pessoas tem sobre Dostoiévski a mesma impressão truncada que verifiquei ser a do Joel. Este texto é uma tentativa de desfazer parte desses nós e de quebra pegar o gancho da discussão mais interessante que a internet viu nos últimos tempos: aquela em que Olavo de Carvalho respondeu às indiretas de Julio Lemos.)

No que pese a crítica razoável de que meu artigo deveria citar menos comentadores (notadamente, Ellis Sandoz, discípulo de Eric Voegelin) e mais o próprio Dostoiévski, é notório que o problema de Joel Pinheiro é principalmente com a linha interpretativa que eu sigo no artigo, tomada, sim, a Sandoz-Voegelin, uma vez que desconheço fonte teórica mais acertada para interpretar o Dostoiévski político (e acrescento que Dostoiévski é o objeto da minha pesquisa de mestrado; há pelo menos três anos não faço outra coisa senão ler interpretações de sua obra). Mas faço o mea culpa que me cabe: o leitor não-especializado, que não leu as mil e quinhentas páginas de textos jornalísticos de Dostoiévski, tampouco suas cartas e cadernos de notas, além, evidentemente, de sua obra literária, não tem obrigação de saber que o ideólogo por trás de obras enigmáticas como Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo identificou pioneiramente o fenômeno a que Eric Voegelin chamou “gnose moderna”. Eu deveria, portanto, ter escrito algo como um preâmbulo justificando a pertinência de minhas fontes teóricas. Concedido isto, sigamos adiante. [continue lendo]