Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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QUASE UM SONETO n. 07

Por Dartagnan da Silva Zanela,
em 29 de dezembro de 2013.

O silêncio da noite toca
O coração que envelhece
No raiar do dia que amanhece
Não importando as cores da aurora.

E o silêncio que invade o anoitecer
Adentra o coração não mais menino
Para que ouça bem direitinho
O sussurrar de Deus no seu viver

Para que no silêncio inaudito
Leve o envelhecido coração reencontrar
O olhar que ficou a muito esquecido

Naqueles velhos tempos de menino
Quando a inocência ainda alumiava
Os passos acertados e os desatinos.

SOBRE A TURMINHA DO CAPITÃO PLANETA

Apenas um comentário radiofônico. 

APONTAMENTOS NATALINOS

Escrevinhação n. 1081, redigida no dia 24 de dezembro de 2013, dia de Santa Paula Isabel Cerioli, véspera de Natal.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Um bom ungüento para as feridas advindas da corrupção política em nosso país é uma dose cavalar de caridade. Caridade essa que deve ser bebida por cada um de nós, não pelos políticos. Esses não têm cura. Por isso, apenas rezemos por suas almas.

Agora, eu e você, podemos e devemos tomar uma boa dose desse santo remédio. Sim! E tal atitude poderá ter um efeito terapêutico sobre os biltres que se lambuzam nas úberes estatais.

Ora, ao invés de, soberbamente, mandarmos os mais humildes baterem a porta dos donos do poder para pedir auxílio (como ocorre muitas vezes), estendamos, generosamente, a nossa mão a eles.

Isso! Dê esmolas, entregue um rancho mensalmente para uma família, doe suas roupas sem uso, preste algum serviço comunitário, ensine algo a alguém, enfim, inunde seu coração com o amor que nos foi ensinado pelo Verbo divino, estenda sua mão para aqueles que tanto precisam de auxílio, do seu auxílio.

Não se preocupe com a reação, com a gratidão ou com qualquer forma de compensação. Isso é mesquinharia. Seja apenas gentil, fraterno e nada mais. Agindo assim, sobrará menos espaço para as maledicências de nossa classe dirigente.

Sem mais delongas, vale lembrar, e não esquecer, duas verdades: (i) O que fortalece os mandos e desmandos dos donos do poder é a nossa soberba perante os mais fragilizados.  (ii) Sejamos magnânimos perante os que padecem para que os políticos empalideçam diante da generosidade sem segundas intenções.

Resumindo o entrevero: imitemos a Cristo e sejamos mansos e humildes de coração e não mais orgulhosos e soberbos descuidados das obras e de desdenhosas orações. Tais gestos não mudarão o mundo, não mesmo. Mas nós seremos mudados por tais ações.

Pax et bonum
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Feliz Natal, queiram ou não


Por mais que me esforce, não consigo imaginar como se faz para desejar “Feliz Natal” contra alguém. Mesmo que estejamos nos dirigindo a um cidadão que rejeita o nosso Cristo com todas as suas forças, o que lhe ensejamos com essas palavras, já que ele não quer os benefícios da vida futura, é que pelo menos desfrute de alguma paz e bem-estar na sua casa enquanto, na nossa, celebramos o Advento do Salvador sem incomodá-lo no mais mínimo que seja e até pensando alguma coisa em seu favor durante as nossas orações. No entanto, de uns tempos para cá um vasto grupo de ateístas militantes, escorado em organizações bilionárias e no apoio da grande mídia, decidiu fingir que se sente mortalmente ofendido quando assim o cumprimentamos. Quando em vez disso um deles nos diz “Boas Festas”, o sentido da sua mensagem é claro: “Vá para o diabo com o seu Natal, o seu Cristo e toda a sua maldita religião. Esconda-a, pratique-a nas catacumbas mas tire essa coisa hedionda da minha frente.” Subentende-se que, saudados com tamanha gentileza, devemos retribuir desejando para o nosso interlocutor uma pletora de bens deste mundo e total despreocupação quanto à existência do outro. Se em vez disso você insiste em responder com “Feliz Natal”, terá de fazê-lo com plena consciência de que essas duas palavrinhas fatídicas serão ouvidas como uma declaração de guerra. É assim que, neste como em outros casos, o sentido do que dizemos já não depende da intenção com que o fazemos, mas do propósito imaginário que um fingidor histérico nos atribui. Como ele nos odeia, tem de fazer de conta que a nossa gentileza é uma ofensa intolerável.

Essa inversão projetiva – talvez o mais clássico sintoma da histeria -- é minha velha conhecida. Uns dez anos atrás, um grupo de moleques enfezados criou no Orkut uma comunidade de nome “Nós odiamos o Olavo de Carvalho”, onde espalhavam a meu respeito as histórias mais medonhas, me atribuíam toda sorte de crimes e baixezas e vasculhavam a vida da minha família em busca de pecados escabrosos. Tudo, é claro, sob o pretexto de “debate democrático”, com o direito suplementar de queixar-se de “ataques ad hominem” quando, uma ou duas vezes numa década, eu lhes dava um minuto de atenção e os mandava pastar. Quando a virulência da coisa chegou ao nível da loucura pura e simples, trocaram o nome da página para “O Olavo de Carvalho nos odeia”, para dar a impressão de que era eu, de algum modo misterioso, o autor das suas ações, a fonte misteriosa do ódio que despejavam sobre mim.

O caso, em si, não tem a mais mínima importância, mas, se isso não tivesse me acontecido, talvez eu não compreendesse tão claramente quanto compreendo hoje o mecanismo psicopatológico que inverte o sentido do cumprimento natalino e lhe atribui uma intenção odienta no ato mesmo de cobri-lo de ódio.

O mesmo mecanismo está em ação, é óbvio, quando alguém ateia fogo numa igreja, urina no altar, bolina uma criatura do seu mesmo sexo durante a missa ou enfia um crucifixo no ânus para provar, com lógica insuperável, que o cristianismo é uma “religião de ódio”. 

Como o raciocínio histérico se disseminou na nossa sociedade ao ponto de servir de modus argumentandi exemplar e obrigatório em teses universitárias, debates parlamentares e opiniões eruditíssimas expressas em artigos de jornal, é previsível que em breve o sentido insultuoso da expressão “Feliz Natal” será consagrado em lei e essas duas palavras só poderão ser ditas em recinto fechado, entre pessoas que tenham previamente assinado um disclaimer isentando de qualquer responsabilidade penal o desalmado que ouse pronunciá-las.

Por enquanto isso é só uma tendência, uma possibilidade que talvez possa ser afastada. Mas certamente não o será se os cristãos, antecipando-se servilmente aos planos do opressor, consentirem em limitar-se ao genérico e vazio “Boas Festas” para não ferir suscetibilidades fingidas.

Portanto, aqui vão os meus votos: Feliz Natal para todos, aí incluídos os que não o desejam.


Publicado no Diário do Comércio.

SANTA EDITH STEIN. O MISTÉRIO DO NATAL.

ACOMPANHADO PELA SOMBRA DE DEUS

Comentário proferido na rádio Cultura AM no dia 23 de dezembro de 2013.

O SOMA E O OLHAR DO GRANDE IRMÃO

Escrevinhação n. 1080, redigida no dia 24 de dezembro de 2013, dia de Santa Paula Isabel Cerioli, véspera do Santo Natal.

Por Dartagnan da Silva Zanela


É muito mais fácil dominar um homem pelos seus vícios do que pelas suas virtudes. Esse ensino é de Napoleão Bonaparte e, diga-se de passagem, ele sabia muito bem do que estava falando. E é por isso que hoje tanto se estimula o cultivo e a busca dum bem secundário como o prazer carnal.

Se a afirmação atávica da saúde, como bem primeiro na escala de valores, deixa os indivíduos desfibrados, a afirmação da busca do prazer como razão primeira da existência, os reduz a condição de meros escravos crendo candidamente que uma vida hedonista seria a forma mais virtuosa de se caminhar por esse vale de lágrimas.

Quando um indivíduo declara: “o que eu quero mesmo é aproveitar a vida”, ele está dizendo, com todas as letras, que o centro de sua vida é seu gozo carnal e que o resto ficará em segunda ordem. E lhe lá! Tal frase, dita tantas vezes pelas estradas da vida, bem retrata a mentalidade decadente da sociedade contemporânea.

Doravante, a vida política num tal estado de coisas torna-se um reles joguete utilitarista/hedonista que reduz o bem-público a uma mera fatia de satisfação momentânea. Trocando por miúdos: quando hoje se fala em bem comum, está-se falando apenas de qual parte cabe a cada um desse latifúndio para que possamos tornar mais “legal” a mesquinha vida [depre]cívica brasileira.

Não é por menos que o desejo, no mundo atual, tornou-se uma fonte de direitos. Mais que isso! Foi elevado à categoria de eixo axiológico na edificação duma identidade grupal. Desejos, hoje, são bandeiras políticas que são histericamente tremuladas nas ruas e praças e que, aos olhos dos manifestantes, seria apenas uma forma estética de manifestação democrática.

De mais a mais, Alexis de Tocqueville nos diz que uma democracia, para ser vivida, deve cultivar a crença em idéias comuns. Idéias que permitam a edificação duma ação comum que tenham em vista o dito bem comum. Pois é, mas desejos miúdos não são idéias comuns, mesmo que esses sejam partilhados por muitos. Todos os tempos que nos antecederam sabiam disso, mesmo não conhecendo a tal da democracia. Mas o nosso, ao que tudo indica, faz questão de esquecer, de modo similar as personagens de Aldous Huxley e George Orwell.

E, tal esquecimento, tem um preço: o despotismo duma minoria que crê representar uma maioria na defesa de delírios como se esses fossem direitos humanos universais legitimando, assim, as intenções totalitárias doutro grupo que muito bem sabe dominar as almas enfraquecidas pelo cultivo e elogio dos mais rasteiros vícios presentes no coração humano. Ponto.

Pax et bonum
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APONTAMENTOS E ANOTAÇÕES

Escrevinhação n. 1079, redigida entre os dias 18 de dezembro de 2013, dia de São Graciano, e 24 de dezembro de 2013, dia de Santa Paula Isabel Cerioli.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. 
Estive numa repartição pública para solicitar um serviço. Elas estavam relativamente vazias tendo em vista a época do ano. Fim de ano. Mesmo assim, fui gentilmente atendido por um bom homem.

Paguei-lhe a taxa devida enquanto ele devidamente preenchia a guia. Neste ínterim, banhado por um amistoso silêncio, chamou-me a atenção a presença dum delicado Rosário a coroar a lateral direita do monitor de seu computador.

Também, junto a este, havia uma imagem de Nossa Senhora. Vi ainda, numa discreta mesinha também ao lado direito, uma Bíblia ladeada por uma imagem de São José. Um pequeno altar, segundo o funcionário da repartição.

O silêncio é quebrado com a entrega da guia em minhas mãos juntamente com um gentil sorriso. Satisfeito, retiro-me. E satisfeito estava não apenas pela presteza, mas por ter sido atendido por tão aquilatada e nobre alma.

Quanto ao nome dessa alma, não adianta perguntar. Não escreverei. Digo apenas que o conheço de longa data. É um homem devoto, um devotado pai de família e um fervoroso filho da Igreja. Um tipo cada vez mais raro na sociedade atual, infelizmente.

2. 
O que mais falta em nosso país não são pessoas diplomadas, virtualmente habilitadas, para assumirem um cargo ou função. Não é disso que o Brasil carece.

Carecemos sim, e muito, de pessoas capacitadas, devidamente aprimoradas, que tenham apreço pelo seu trabalho e saibam, razoavelmente, o que estão fazendo. Que saibam como devem proceder para realizar não apenas o melhor possível, mas o que é minimamente necessário.

O que faz dum cozinheiro um mestre na arte culinária não é um diploma em gastronomia. Cozinheiro é simplesmente aquele que sabe cozinhar. Do mesmo modo que pedreiro é aquele que sabe construir, professor é o sujeito que sabe ensinar, administrador é o caboclo que sabe maximizar os recursos duma empresa, estadista o indivíduo que sabe zelar do bem público que lhe é confiado e assim por diante.

Enfim, em nosso país, sobram diplomas, títulos e honrarias. O que falta aqui, nessas terras de Pindorama, são pessoas diplomadas por suas obras, tituladas por seus trabalhos e honradas por seus feitos. O resto é gambiarra.

Pax et bonum
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CONFÚCIO. OS ANALECTOS (incompleto).

Oração de São Domingos Gusmão

Arauto do Evangelho, sublime pregador, Domingos traz no nome o Dia do Senhor. Qual lírio de pureza, só teve uma paixão: levar, aos que se perdem, a luz da salvação. Seus filhos nos envia, por eles nos conduz; as chamas da verdade espalham sua luz. Maria ele coroa com rosas de oração; por toda a terra ecoa, do anjo, a saudação. Com lágrimas e preces pediu por todos nós. Que Deus, que é uno e trino, atenda à sua voz. Amém.

PARA FAZER UM BALANÇO GERAL

Comentário proferido na rádio Cultura AM no dia 20 de dezembro de 2013.

Homilia do Papa Francisco: O mistério alardeado não é cristão


ROMA, 20 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) - Só o silêncio guarda o mistério do caminho que o homem trilha com Deus, disse o papa Francisco na homilia desta sexta-feira, durante a missa celebrada na Casa Santa Marta. Que Deus nos dê “a graça de amar o silêncio”, que precisa ser “guardado” longe de toda “publicidade”, pediu ele. 

Na história da salvação, nem o clamor nem a teatralidade, mas a sombra e o silêncio são os "lugares" que Deus escolheu para se manifestar ao homem. Fronteiras evanescentes, nas quais o seu mistério já assumiu forma visível, fazendo-se carne. A reflexão do pontífice baseou-se na anunciação, proposta pelo evangelho de hoje, em especial a passagem em que o anjo diz a Maria que o poder do Altíssimo a "cobrirá com a sua sombra", o que lembra também “a nuvem com que Deus tinha protegido os judeus no deserto”.

“Deus sempre cuidou do mistério. Um mistério alardeado não é cristão, não é o mistério de Deus: é um mistério falso! E o mistério de Deus é aquele que envolve Maria, quando ela recebe o seu Filho: a maternidade virginal é envolta em mistério. Fica envolta a vida toda! E ela sabia. Essa sombra de Deus, em nossa vida, nos ajuda a descobrir o nosso mistério: o mistério do nosso encontro com Deus, o mistério do caminho da nossa vida com nosso Senhor (...) Cada um de nós sabe como Deus age misteriosamente em nosso coração, em nossa alma”.

E qual é “a nuvem, a potência, o estilo do Espírito Santo para envolver o nosso mistério? Essa nuvem, em nós, na nossa vida, se chama silêncio: o silêncio é precisamente uma nuvem que envolve o mistério da nossa relação com Deus, da nossa santidade e dos nossos pecados. Aquele mistério que não podemos explicar. Guardar o mistério com o silêncio! Essa é a nuvem, essa é a potência de Deus para nós, essa é a força do Espírito Santo".

A Mãe de Jesus foi o ícone perfeito do silêncio, desde o anúncio da sua excepcional maternidade até o Calvário. “Eu penso”, disse o papa, “em quantas vezes ela se calou e em quantas vezes ela não disse o que sentia, para preservar o mistério da relação com o seu Filho", até o silêncio mais duro, "aos pés da Cruz".

“O Evangelho não nos diz nada: se ela falou alguma palavra ou não... Era silenciosa, mas, dentro do coração, quantas coisas ela devia falar com Deus! 'Tu me disseste que ele ia ser grande; tu me disseste que darias a ele o Trono de Davi, seu pai, que ele reinaria para sempre, e agora ele está aqui [na cruz]!'. Maria era humana! E talvez ela sentisse o desejo de dizer: ‘Era mentira! Eu fui enganada!’. João Paulo II meditava nisso ao falar de Maria naquele momento. Mas ela, com o silêncio, envolveu o mistério que não entendia, e, com aquele silêncio, deixou que o mistério crescesse e florescesse na esperança”.

"É o silêncio o que guarda o mistério". O mistério "da nossa relação com Deus, do nosso caminho, da nossa salvação, não pode ser alardeado, publicitado". Que nosso Senhor "nos dê a graça de amar o silêncio, de buscá-lo e de ter um coração guardado pela nuvem do silêncio".

FREYRE, Gilberto. ASSOMBRAÇÕES DO RECIFE VELHO.

A ADMIRÁVEL FAZENDA ANIMAL

Escrevinhação n. 1078, redigida no dia 17 de dezembro de 2013, dia de São Lázaro e de Santa Olímpia.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Existem quatro bens fundamentais. Quatro esferas de realização humana. Cada um desses bens representa o centro, o coração pulsante duma vida, servindo de pedra angular da personalidade.

Estes bens seriam, em ordem crescente, a saciedade e a integridade física, o prazer, a liberdade e o conhecimento da Verdade. São bens fundamentais, não porque o escrevinhador destas linhas assim o quer. O são porque todo ser humano se pudesse tê-los numa porção imensurável não faria nenhuma objeção. Saúde plena e corpo sarado, gozo indescritível, liberdade sem tramelas e compreensão fácil e rápida de todo e qualquer assunto são bens que, todo ser humano, em sã consciência, considera desejáveis.

Entretanto, não podemos ter todos esses bens ao mesmo tempo e o tempo todo por razões óbvias. Aliás, tendemos a centrar nosso coração num destes bens tornando-o, inevitavelmente, o centro ordenador de nossa pessoa. Por isso, em nome dum bem, sacrificamos os outros.

Ao realizarmos essa escolha limitamos, queiramos ou não, o campo de nossa ação. E isso ocorre porque o objeto de nosso desejo torna-se o limite da realização de nossa humanidade. E é aí que a porca torce o rabo.

Quanto mais ascendemos nesta escala, mais amplo é o nosso círculo de possibilidades. Quanto mais restringimos nossa existência a primeira e a segunda esfera, mais nos tornamos fragilizados.

Resumindo: um indivíduo que tem como centro de sua personalidade o terceiro e quarto bem, não é objeto passivo das forças externas que o circundam. Já um indivíduo que tem como pedra angular de sua vida o primeiro e o segundo, inevitavelmente, torna-se um sujeito de fácil manipulação e controle.

A razão disso é muito simples. Uma pessoa que faz de sua integridade física o centro pulsante de sua personalidade é uma criatura que vive, em maior ou menor medida, assustada com a possibilidade de perder o seu tesouro, dispondo-se, tranquilamente, a sacrificar o seu prazer, liberdade e o conhecimento da verdade para preservá-lo. Exemplo: as loucuras que certas pessoas fazem para manter seu corpinho, as sandices que realizam para ter uma imagem jovial prolongada. Tudo, tudinho, em nome do primeiro bem. Quanto à segunda esfera, deixemos para outra ocasião.

Por fim, não há dúvidas que uma vida imersa numa esfera como essa é duma compreensão ínfima e, por isso, de fácil manipulação. Não é por acaso que a sociedade contemporânea cultua tanto esse bem. Não é por menos que temos tantas publicações e programas televisivos que exaltam o bem-estar físico e a boniteza superficial. Não é à toa que a sociedade brasileira está cada vez mais assemelhada a uma mistura híbrida, e patética, das ovelhinhas da fazenda animal da fábula de George Orwell com os pacatos cidadãos da distopia de Aldous Huxley.

Pax et bonum
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SCHWARTZMAN, Simon. BASES DO AUTORITARISMO BRASILEIRO.

O NOVO ADÃO

Comentário proferido na rádio Cultura AM no dia 17 de dezembro de 2013.

Cresce e desaparece


1. Com a morte de Mandela, confesso que passei horas e horas a ler sobre o senhor. Mas nenhum texto me impressionou tanto --na sua imbecilidade e ignorância-- como o elogio cético que Slavoj Zizek dedicou a Madiba no "Guardian".

Verdade que Zizek nunca desilude. Mas o texto atinge novos patamares de mendacidade intelectual quando informa o auditório de que Mandela morreu um homem amargo.

Uma afirmação dessas, vinda de um enfermeiro, teria o seu valor. Mas o objetivo de Zizek é político, não clínico: Mandela morreu amargo porque a promessa de uma África do Sul resplandecente não se cumpriu.

Até aqui, nada a dizer: a pobreza, a violência e o crime continuam a fazer parte do cotidiano do país. Mas para Zizek essas falhas devem-se à "traição" que Mandela cometeu sobre os seus ideais "socialistas", sucumbindo às sereias do capitalismo.

Nesse sentido, Mandela representa bem o destino da esquerda contemporânea, diz Zizek: na oposição a um regime iníquo, a esquerda promete maravilhas sem fim; quando chega ao poder, abre a porta ao compromisso "burguês".

A ignorância de Zizek começa logo aqui: ao não entender que o derrube do apartheid começou por um ato de compromisso. Que o mesmo é dizer: Mandela pousaria as armas e o regime começaria a tratá-lo com outra brandura.

Isso pode soar ofensivo para quem vive no jardim infantil da política e divide o mundo entre índios e cowboys. Não soou ofensivo para Mandela nem para a ala mais moderada do ANC.

Mas há mais: acusar Mandela de atraiçoar os seus ideais "socialistas" é ignorar a importância que o fim desses ideais teve para derrubar o próprio regime.

A queda do apartheid, ao contrário do que imagina Zizek, não começou com a saída de Mandela da prisão em 1990. Começou um ano antes, quando um certo Muro de Berlim foi reduzido a escombros. Com o desaparecimento da ameaça ideológica de Moscou, a elite branca não apenas deixou de temer a transição para um regime democrático pleno --como, no limite, o permitiu.

Finalmente, Zizek pergunta: não será possível ir além do legado tímido de Mandela sem cair no extremismo totalitário de Robert Mugabe, o vizinho do Zimbábue que arruinou o seu país?

Curiosamente, Zizek nem se apercebe da contradição da pergunta: Mugabe destruiu o país porque seguiu a cartilha "socialista" que Zizek acusa Mandela de ter renegado.

O resultado desse programa de "coletivização dos meios de produção" determinou que um dos mais prósperos países africanos seja hoje um caso internacional de fome, miséria e, claro, guerra civil larvar de negros contra brancos. Ou, pelo menos, contra os brancos que ainda restam por lá.

Quando será que Zizek cresce e desaparece?

2. A culpa é de John Lennon: quando o ex-Beatle começou a dissertar sobre os grandes temas do mundo, o mundo prestou atenção e a moda estava lançada.

Bizarro: eu gosto da minha empregada doméstica. Mas não presto atenção ao que ela diz sobre, por exemplo, o aquecimento global ou a crise das dívidas soberanas na Europa. Por que motivo devemos prestar atenção ao que dizem os músicos sobre assuntos que eles grotescamente desconhecem?

Roger Waters é um caso recente: o líder do Pink Floyd considerou Israel um Estado perfeitamente comparável à Alemanha nazista. Motivo? A forma como trata os palestinos de Gaza e da Cisjordânia. Roger Waters só não explicou direito se também falava dos campos de extermínio e dos fornos crematórios que existem em Tel Aviv.

Ponto prévio: você, leitor, pode não concordar com a política de Israel; pode condenar vivamente a construção de assentamentos na Cisjordânia; e pode até atribuir todas as culpas do mundo aos judeus pelo fracasso das sucessivas negociações entre Israel e a autoridade palestina. Está no seu direito e na posse razoável das suas faculdades mentais.

Mas quando alguém compara Israel com a Alemanha de Hitler --o mais infame regime da história, que fabricou a morte sistemática de milhões de judeus e outras minorias e foi responsável pela maior catástrofe militar do século 20 --essa comparação não é apenas ofensiva para a "memória das vítimas", como dizem os poetas.

A comparação é ofensiva para você, leitor, tratado como um idiota ignorante por outro idiota ignorante.

CAMINHANDO COM ABRAÃO

Comentário proferido na rádio Cultura AM no dia 16 de dezembro de 2013.

VILLA, Marco Antonio. A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS.

APENAS VELHAS LEMBRANÇAS

Escrevinhação n. 1077, redigida entre os dias 14 de dezembro de 2013, dia de São João da Cruz, e 16 de dezembro de 2013, dia de Santo Eusébio e Santa Adelaide.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. 
Sou um homem imerso em reminiscências. Minhas lembras, sejam elas de infância, ou recentes, sempre estão, todas, lado a lado diante de meus olhos a dialogarem entre si e comigo.

Sou um homem de muitas reminiscências. Por ter este feitio, convivo com minhas memórias, sempre presentes, a acotovelarem-se umas às outras, disputando minha atenção e, todas elas, cada uma a seu modo, querendo ensinar-me uma e outra lição. Algumas tardias, outras tantas mais do que pontuais para o momento de então.

Sou apenas um homem imerso em reminiscências. Não sei se isso é vício; tenho minhas dúvidas quanto a virtude disso. Apenas sei que vivo entre lembranças que, conforme seus humores, adocicam a sombra do dia, ou amargam o luar da noite.

Enfim, é isso o que sou. Uma criatura forjada por lembranças sempre presentes que com seu sabor agridoce fazem de mim o que sou: apenas um homem de reminiscências que não pode dar-se ao luxo do rancor.

2. 
Quando moleque, lembro-me que não era, como direi, um leitor voraz. Lembro-me sim, que já em tenra idade, era um grande amante dos livros. A presença deles me fascinava. Lembro-me bem disso. Ah! Como me lembro.

Era freguês assíduo da biblioteca da cidade que me acolheu na infância por mim a muito vivida. Passava, às vezes, a tarde toda por entre as estantes tomando os tomos em mãos para admirá-los e, em alguns casos, folheava um e outro, demoradamente, sentado, sem demora. Fazia o mesmo em casa, com a Enciclopédia Barsa de meus pais, nos dias chuvosos.

As letras não me prendiam junto às páginas. As letras dificilmente encantam moleques vadios. Mas as imagens toscamente desenhadas e os mapas parcamente coloridos cativavam-me. Imaginava-me vivenciando as cenas mostradas pelas primeiras. Via-me explorando as terras apontadas pelas segundas. E como minha imaginação peregrinava por essas terras reais e pelos mundos ficcionais de mim nascidos! Quantos! Quantas terras conheci pelos mares nunca dantes navegados de minha imaginação.

Hoje, envelhecido pelos anos e envelhecendo com eles, vejo o quanto tal experiência dos idos infantis contribuíram para que eu me tornasse quem sou: um homem cheio de reminiscências (doces e amargas), com a alma aberta para os cenários possíveis onde apresenta-se o homem virtuoso que não sou, que desejo ser e que, provavelmente, nunca terei força suficiente para sê-lo.

Pax et bonum
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Guerra às mães


Semana passada mostrei que uma mãe zangada com um chinelo na mão manda mais que qualquer político. Mencionei também a sede de poder dos políticos, que procuram negar o naturalíssimo e saudável poder das mães. Dois tristes casos na mídia exemplificam melhor que o que se poderia esperar esse triste fenômeno.

A menina paulista Sofia, de 3 anos de idade, e sua mãe Vitória estão abrigadas na embaixada brasileira na Noruega, tentando escapar de um governo enlouquecido. Quando os pais de Sofia decidiram separar-se, algum burocrata escandinavo resolveu arrancá-la dos braços da mãe e dá-la para adoção ou mantê-la em alguma instituição. Para evitar que sua filha lhe fosse tomada, a mãe refugiou-se na nossa embaixada. O pai, que não vê problema algum na volta da menina ao Brasil, está levando comida e brinquedos para a pequena.

Já na Inglaterra ocorreu algo ainda mais apavorante: uma senhora italiana, grávida, foi para lá fazer um curso pago pelo seu empregador. Ainda no aeroporto, ela se deu conta de haver perdido os passaportes das filhas, que haviam permanecido na Itália. Teve uma crise nervosa e, quando socorrida, informou aos atendentes que sofria de transtorno bipolar. Ela foi, então, internada e fortemente dopada, sendo então submetida a uma cesariana, evidentemente não autorizada por ela. Seu bebê, arrancado do seu ventre, está sob a custódia do Serviço Social inglês.

São histórias de pesadelo, que mostram os perigos do excesso de poder do Estado e de sua luta contra a família. A Inglaterra e a Noruega, países teoricamente civilizados, parecem firmemente decididas a seguir os passos da medonha ditadura argentina, tristemente famosa por dar em adoção a militares os filhos de seus opositores. Na Argentina, as Mães da Praça de Maio até hoje procuram identificar as crianças desviadas. Na Inglaterra e na Noruega, todavia, tudo parece normal. Um Estado todo-poderoso, negando o Direito natural, considera-se juiz da capacidade maternal das mulheres, como se o Estado fosse divino e perfeito.

Ora, nenhuma mãe é perfeita. Nenhum ser humano é perfeito. É a mãe, contudo, que gera a criança, e é a mãe que a deve educar. Ainda que haja casos em que mães tenham problemas que as impeçam de desempenhar seu papel natural, a abertura para que seja a máquina burocrática impessoal de um Estado – não a família estendida, ou mesmo a vizinhança – a definir quem é capaz de maternidade só pode levar a abusos como esses. Como lembrou Lorde Acton, o poder absoluto corrompe absolutamente.

A LUZ DA FÉ E A CIÊNCIA

Comentário proferido no dia 12 de dezembro de 2013. 
 

Blood Money - Aborto Legalizado Dublado e Completo

Triênio para esquecer


É muito difícil encontrar na história brasileira um triênio presidencial com resultados tão pífios como o da presidente Dilma Rousseff. Desde a redemocratização de 1985, o único paralelo possível é com o triênio de Fernando Collor, que conseguiu ser pior que o da presidente. Em dois dos três anos houve recessão (1990 e 1992).

Mas Collor encontrou um país destroçado. Recebeu o governo com uma inflação anual de 1.782%, as contas públicas em situação caótica e uma absoluta desorganização econômica.

Dilma assumiu a presidência com um crescimento do PIB de 7,5%. Claro que o dado puro é enganoso. Em 2009 o país viveu uma recessão. Mas o poder de comunicação de Lula foi tão eficaz que a taxa negativa de 0,2%, deu a impressão de crescimento ao ritmo chinês — naquele ano, a China cresceu 8,7%.

No campo da ética, o triênio foi decepcionante. Nos dois primeiros anos, a presidente bem que tentou assumir um discurso moralizador. Seus epígonos até cunharam a expressão “faxineira”. Ela iria, sem desagradar a seu criador, limpar o governo de auxiliares corruptos, supostamente herdados de Lula.

Fez algumas demissões. Chegou até a entusiasmar alguns ingênuos. Logo interrompeu as ações de limpeza e, mais importante, não apurou nenhuma das denúncias que levaram às demissões dos seus auxiliares. Todos — sem exceção — continuaram livres, leves e soltos. E mais: alguns passaram a ser consultores de fornecedores do Estado. Afinal, como conheciam tão bem o caminho das pedras….

Sem carisma e liderança, restou a Dilma um instrumento poderoso: o de abrir as burras do Tesouro para seus aliados. E o fez sem qualquer constrangimento. As contas públicas foram dilaceradas e haja contabilidade criativa para dar algum ar de normalidade.

Todos os programas do seu triênio fracassaram. Nenhum deles conseguiu atingir as metas. Passou três anos e não inaugurou nenhuma obra importante como um aeroporto, um porto, uma estrada, uma usina hidrelétrica. Nada, absolutamente nada.

O método petista de justificar a incompetência sempre foi de atribuir ao antecessor a culpa pelos problemas. É construído um discurso que sataniza o passado. Mas, no caso da presidente, como atribuir ao antecessor os problemas? A saída foi identificar os velhos espectros que rondam a história brasileira: os Estados Unidos, o capitalismo internacional, o livre mercado.

A política externa diminuiu o tom panfletário, que caracterizou a gestão Celso Amorim. Mas a essência permaneceu a mesma. O sentido antiamericano — cheirando a naftalina — esteve presente em diversas ocasiões. Em termos comerciais continuamos amarrados ao Mercosul, caudatários da Argentina e, quando Chávez vivia, da Venezuela (basta recordar a suspensão do Paraguai). Insistimos numa diplomacia Sul-Sul fadada ao fracasso. No triênio não foi assinado sequer um acordo bilateral de comércio.

A política de formar grandes grupos econômicos — as empresas “campeãs nacionais” — teve um fabuloso custo para o país: 20 bilhões de reais. E o BNDES patrocinou esta farra, associado aos fundos de pensão das empresas e bancos públicos. Frente à burguesia petista, J.J. Abdalla, o famoso mau patrão, seria considerado um exemplo de honorabilidade e eficiência.

A política de energia ficou restrita à manipulação dos preços dos combustíveis fornecidos pela Petrobras. Enquanto diversos países estão alterando a matriz energética, o Brasil ficou restrito ao petróleo e apostando na exploração do pré-sal, que poderá se transformar em uma grande armadilha econômica para o futuro do país.

A desindustrialização foi evidente. Nos últimos três anos o país continuou sem uma eficaz política industrial. Permaneceu dependente da matriz exportadora neocolonial, que gerou bons saldos na balança comercial, porém desperdiçando bilhões de reais que poderiam ser agregados ao valor das mercadorias exportadas.

O Ministério da Defesa sumiu do noticiário. Celso Amorim, tão falante quando estava à frente do ministério das Relações Exteriores, é uma espécie de titular fantasma. Pior, continuamos sem política de defesa, e as Forças Armadas estão muito distante do cumprimento das suas atribuições constitucionais. Sem recursos, sem treinamento, sem equipamento — sempre aguardando o recebimento da última sucata descartada pelos europeus e americanos.

A equipe ministerial ajuda a explicar a mediocridade do governo. Quem se arriscaria citar o nome de cinco ministros? Quem é o ministro dos Portos? E o da Integração Nacional? Alguém sabe quem é o ministro da Agricultura?

A presidente recebeu o governo com 38 ministérios. Não satisfeita com o inchaço administrativo, criou mais: o da micro e pequena empresa, tão inexpressivo que sequer possui um site.

Se as realizações do triênio são pífias, é inegável a eficiência da máquina de propaganda. O DIP petista deixou seu homônimo varguista no chinelo. De uma hora para outra, segundo o governo, o Brasil passou a ter mais 20 milhões de pessoas na classe média. Como? Tal movimento é impossível de ter ocorrido em tão curto espaço de tempo e, mais importante, com uma taxa de crescimento medíocre. Mas a repetição do “feito” transformou a fantasia estatística em realidade econômica.

Dilma Rousseff encerra seu triênio governamental melancolicamente. Em 2012, o crescimento médio mundial foi de 3,2% e o dos países emergentes de 5,1%. E o Brasil? A taxa de crescimento não estava correta. A “gerentona” exigiu a revisão dos cálculos. O PIB não cresceu 0,9%. O número correto é 1%! Fantástico.

O BAÚ DO TESOURO HUMANO

Escrevinhação n. 1076, redigida no dia 10 de dezembro de 2013, dia de Nossa Senhora de Loreto e de Santa Eulália.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Cada um tem a sua cachaça. Cada um serve-se dela como melhor lhe aprouver. Neste, e noutros quesitos, estou com o poeta Carlos Drumond de Andrade e não abro. O problema, penso eu, cá com meus botões, está no tipo etílico que irá nos ocupar em nossos momentos de ócio, seja eles criativos ou imprestáveis.

Tendo em vista o ensinamento que colhemos das páginas da Sagrada Escritura, que nos lembra que o tesouro de um homem está onde se encontra o seu coração (Matheus VI; 21), tal questão torna-se mais que relevante, pois nosso ser tende a inclinar-se para os objetos que melhor espelham o que há em nossa alma. Resumindo: as criaturas que nos fazem sorrir com aquela sinceridade pueril expõem a face que tão simiescamente esforçamo-nos em ocultar.

Ora, indo direto ao ponto: fora das 44 horas semanais de trabalho, com o tempo todinho para dedicar, na medida do possível, àquilo que julgamos merecedor de toda nossa atenção, o que fazemos? O que consideramos digno de nossa atenção? Sim, dormir, comer, beber, fazer sexo, passear, vadiar, tudo isso, não necessariamente nesta ordem, são coisas desejáveis. Não nego. Porém, é nisso que nosso coração encontra-se centrado? E aí que encontramos nosso tesouro?

Seja no fim de ano, ou mesmo num fim de semana ou num feriado prolongado, dum modo geral nossa alegria manifesta-se através de entretenimentos superficiais, para dizer o mínimo. Isso, por si só, seria apenas ridículo se não fosse trágico. E a tragédia está no fato de que a nossa entrega graciosa a esses momentos toscos é tão [des]educativo quanto toda a parafernália doutrinária que temos aparelhada em nosso sistema educacional. E assim o é porque somos seres que tendem a mimetizar o que nos é apresentado como sendo algo desejável. O regozijo estampado no rosto daquele que desfruta deste algo diz isso sem necessidade de palavras.

Toda fala sobre a importância da educação torna-se pífia se não apresentamo-nos como pessoas que realmente demonstrem essa importância com a vida, com nossa vida. Se não o fazemos, tudo é reduzido a um trololó hipócrita e sem sentido. Reduz-se a essa choldra ignóbil em que estamos, que despreza vilmente o conhecimento ao mesmo tempo em que se critica todo aquele que sinceramente o despreza, mesmo que tenham aprendido isso com o nosso ordinário e desprezível exemplo de desamor ao saber. Exemplo: o pai, o professor e tutti quanti que cobram dos infantes o amor a leitura que eles nunca tiveram. E coitado do moleque se ele ousar ser sincero!

Já sei que quanto mais se despreza o conhecimento, menos falta se sente dele. Também sei que sujeitos deste naipe sentem-se plenamente felizes por fazer isso. Aliás, não duvido disso. Estou cônscio de que apenas os idiotas são capazes de tal plenitude.

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SER HOMEM, SEGUNDO SEU ARTÊMIO

Comentário proferido na rádio Cultura AM no dia 10 de novembro de 2013.

UM PONTO NO MEIO DO CONTO

Escrevinhação n. 1075, redigida entre os dias 09 de dezembro de 2013, dia de São Juan Diego, e 10 de dezembro de 2013, dia de Nossa Senhora de Loreto e de Santa Eulália.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. Todos merecem o benefício da dúvida. Todos. Entretanto, isso não significa que qualquer um mereça o honra da confiança. Infelizmente, quando o assunto é nossa classe dirigente, não temos muito que dizer. Sim, todos eles, merecem o tal benefício, como qualquer ser humano, apesar da forma desumana que eles se portam muitíssimas vezes. Agora, quanto a honra citada, é abuso. E do brabo. O que o povo brasileiro pode, no máximo, fazer num pleito eleitoral, é dar o benefício da dúvida para um ou outro candidato através do seu voto. Todavia, fazer desse sufrágio um voto de confiança não dá não. Resumindo: aqui, quando o assunto é classe dirigente, o benefício da dúvida é sinônimo de falta de opção e a confiança desmedida uma insanidade ao ponto de imediata internação. Ponto.

2. Muitas vezes sinto-me reduzido a condição dum verme insignificante. Ou não estaria eu, nestes momentos, tendo uma clara visão de minha real condição de vil pecador? Não sei. Apenas sei que quando tal aflição recai sobre mim, sinto que meus átrios e ventrículos vão rebentar meu peito como se uma granada de mão tivesse sido plantada junto dele, ao mesmo tempo em que minha cabeça pesa e agita-se com a fúria da tempestade de pensamentos que rasga minhas vistas a golpes de navalha. Pensamentos sombrios e iníquos que levam-me a perguntar: donde vieram essas lúgubres e sanguinárias imagens? Que fazem elas em meu íntimo a me torturar? Mais uma vez, não sei. Apenas digo que me sinto liberto quando essas tormentas passam, levando-me a agradecer a Deus por ser apenas um reles e mísero mortal, impotente, parcamente ciente e apenas presente.

3. A musicalidade das palavras me encanta. Sua melodia me fascina. Por isso amo poesia. A vida, sem ela, seria menos, como, aliás, a vida moderna o é. Menos digna, menos humana, menos verdadeira e, consequentemente, mais superficial. Mais bestial com a soma de suas conquistas técnicas apresentadas na forma de brinquedinhos eletrônicos que subtraem a beleza fundamental dos momentos que nos revelam o sentido perene de nossa jornada por esse deserto aberto com nossas instantâneas escolhas. E assim ficamos por não mais bebermos da ambrosia dos versos, que vivificam a linguagem e, consequentemente, a vida, que passa a ser vivida num oceano de novas possibilidades que, na verdade, não são novas. Apenas esquecidas, subtraídas, por nós, de nossa vida através dum clique ou duma novidade estúpida qualquer.

4. A galerinha acima do bem e do mal, sempre tem uma solução radicalmente equilibrada rumo à revolução canhota que liquidará todos os males. Um bom exemplo é-nos apresentado através da questão do tráfico de drogas. Sobre isso, as palavras do jornalista Reinaldo Azevedo são certeiras, mesmo que a turminha não goste. Diz-nos ele: “[...] Um país pode decidir acabar com o crime tirando de circulação os criminosos. E o que chamo de boa solução conservadora. E outros podem decidir acabar com os criminosos tirando de circulação o crime. É o que chamo de estúpida solução progressista. Muita gente rejeita a responsabilidade dos consumidores de droga na tragédia social brasileira. São os 'playboy' do relativismo”. É isso aí moleque! A ideia de crime não mata, não fumam e nem cheiram. Por sua deixa, criminosos matam, da mesma forma que ideias criminosas que justificam e relativizam irresponsabilidades morais também matam. Matam para que gente bonita e inteligente possam fumar e cheirar sem o menor peso em sua consciência crítica.

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Entrevista com Pe. Paulo Ricardo

REFLEXÕES, TOLAS REFLEXÕES...

Escrevinhação n. 1074, redigida entre os dias 06 de dezembro de 2013, dia de São Nicolau, e 07 de dezembro de 2013, dia de Santo Ambrósio.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. O Papa Francisco. Sim! O Papa Francisco, em sua Carta Encíclica LUMEN FIDEI, a respeito da fé diz-nos que ela, enquanto um dom sobrenatural que nos é presenteado por Deus, “[...] aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo. Por um lado, provém do passado: é a luz duma memória basilar — a memória da vida de Jesus –, onde o seu amor se manifestou plenamente fiável, capaz de vencer a morte. Mas, por outro lado e ao mesmo tempo, dado que Cristo ressuscitou e nos atrai de além da morte, a fé é luz que vem do futuro, que descerra diante de nós horizontes grandes e nos leva a ultrapassar o nosso ‘eu’ isolado, abrindo-o à amplitude da comunhão. Deste modo, compreendemos que a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as nossas trevas”.

2. Ficamos, em nossa cidade, dois dias e uma noite sem água. A energia elétrica também resolveu não dar as caras por algum tempo. Tal percalço ocorreu devido a um forte vendaval que assolou nosso pago por apenas vinte e cinco segundos. Isso mesmo! Apenas vinte e cinco segundos. O ocorrido não sai de minha mente e fica a sussurrar muitos pontos que julgo relevante a partilha. Primeiro, e o mais óbvio: como somos impotentes diante das forças da criação. Apenas ¼ de minuto foi o suficiente pra fazer um belo dum estrado em nossa cidade. Segundo: o quanto somos dependentes dos confortos que nos são regalados pela sociedade moderna que, neste caso, refere-se simplesmente a água encanada e energia elétrica. Terceiro: não deixava de pensar na vida de inúmeros brasileiros que dependem da “generosidade” de carros pipas para poderem ter um pouco de água para beber. Não tinha como não pensar nas inúmeras pessoas que nem isso tem. Sim, foi desconfortável, mas este incômodo nada é diante da dor que muitos sofrem diuturnamente. Enfim, não tinha como não pensar no quanto que nossas reclamações, na maioria das vezes, são mesquinhas e patéticas. E como o são.

3. Mas um fim de ano se aproxima e, novamente, cá estamos nós voltando nossas vistas para os rastros deixados, refletindo sobre a forma como vivemos esse ano que está prestes a encerrar seu expediente. Ao mesmo tempo, estamos com um olho para o ano que está por vir e, inevitavelmente, lá estamos a estabelecer metas que pretendemos cumprir. Mas, espere aí! Nós realizamos as metas que havíamos estabelecido para o ano que está por fechar as portas? Aliás, estamos saindo deste ciclo da mesma forma que entramos? Se não, saímos dele melhor em que? Ou estamos terminando essa etapa piorados em que? Independente das respostas que encontremos para essas perguntas, uma coisa é certa: provavelmente nos faltou, em maior ou menor medida, uma boa dose de perseverança e decisão, outro tanto de dedicação e ousadia e uma boa pitada de fé e convicção, não é mesmo?

4. Pra todos os lados que acertamos nosso passo lá encontramos uma caridosa alma preocupada com as baleias, com a água, com cães, enfim, sempre nos deparamos com alguém da turminha do Capitão Planeta com suas profundas preocupações para com a mãe terra. Sim! É claro que eles amam dar com os dedos em nossas fuças para nos chamar de monstros despreocupados com o futuro. Tudo bem! Tudo bem! Acato esse sermãozinho, mas antes, pensemos no seguinte: imaginemos que somos uma dessas alminhas e respondamos as questões que seguem: você gasta, no máximo, cinco litros de água fria em seus banhos? Usa uma sacola de algodão cru pra transportar suas comprinhas? Não é consumista de modas, modinhas e modões? Vai trabalhar de bicicleta? Cultiva e zela dum pomar e duma horta no quintal de sua casa? Tem uma cisterna para aproveitar a água das chuvas? Que coisa em cara pálida! Por isso, quer saber duma coisa: volte para o seu desenho animado, mas, acima de tudo, pare de fingir uma preocupação que, na real, não passa de posse.

5. Sobre a Virgem Santíssima, nos ensina Santo André de Creta que: “[...] o desígnio do Redentor da nossa raça era produzir um nascimento e como que uma nova criação para substituir o passado. Foi por isso que, tal como no Paraíso havia extraído da terra virgem e sem mácula um pouco de pó para moldar o primeiro Adão (Gn 2,7), no momento de realizar a sua própria encarnação Se serviu, por assim dizer, de outro solo, ou seja, desta Virgem pura e imaculada, escolhida de entre todos os seres que criara. Foi nela que Ele nos renovou a partir da nossa própria substância e Se tornou um novo Adão (1Cor 15,45), Ele que era o Criador de Adão, para que o antigo fosse salvo pelo novo e o eterno”.

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Cotas raciais no comércio exterior

Por Percival Puggina

Se existe uma parte do planeta onde bate com mais vigor o generoso coração de Lula e Dilma, esse lugar é a África Negra. Imagino ser por isso que existam cotas raciais para o comércio exterior brasileiro. Volta e meia - às vezes nem meia volta se completa - e lá estão nossos presidentes petistas na África Subsaariana, cada um a seu turno, perdoando dívidas milionárias que aqueles países têm para com o Brasil. A conta já passa de US$ 2 bilhões. Não por acaso são, em parte, débitos de governos ditatoriais, sanguinários, genocidas, que lidam com as finanças locais em regime de partilha. Vai um pouco para o interesse público e o restante para contas familiares em bancos estrangeiros.

Um deles, o senhor Omar al-Bashir, já leva 24 anos no cargo de presidente do Sudão. Tem dois mandados internacionais de prisão e, segundo um promotor do Tribunal Penal Internacional, acumula US$ 9 bilhões de recursos próprios em paraísos fiscais. Outro, o senhor Teodoro Obiang, que comanda a Guiné-Equatorial, adquiriu em 2010 um apartamento na Av. Vieira Souto, no Rio de Janeiro, naquela que foi até então a maior transação da história da cidade envolvendo um imóvel residencial. O pequeno refúgio carioca do ditador é um tríplex com 2 mil metros quadrados. O patrimônio pessoal do bilionário ditador do Congo-Brazaville, Denis Sassou Nguesco, proprietário de algumas dezenas de imóveis na França é superior à dívida do país perdoada pelo Brasil (US$ 352 milhões). E por aí vai. Em maio deste ano, numa única tacada, a presidente Dilma anunciou perdões, abatimentos e novos parcelamentos para dívidas de uma dúzia redonda de nações africanas.

Alega o governo que esse procedimento está alinhado com as orientações do Clube de Paris, que o recomendam como forma de estimular a contratação de novos financiamentos e promover o desenvolvimento daqueles povos. Faria sentido se não estivéssemos tratando, em alguns casos, de povos cuja miséria aumenta na proporção direta em que a elite governante amplia sua riqueza pessoal. Faria sentido se não houvesse, na lista de beneficiados, governos ditatoriais que só perdem em longevidade e truculência para a dinastia cubana dos Castro Ruíz.

É uma pena que a benevolência dos governos petistas em relação aos aos seus cotistas raciais no comércio exterior não encontre simetria de tratamento com as dívidas dos produtores rurais brasileiros quando suas lavouras são assoladas por estiagens e secas. É uma pena que essa mesma prontidão não apareça na hora de atender os brasileiros vítimas de cheias, cujos bens são arrastados pelas águas.

É uma pena, também, que não se respeite o preceito bíblico de que a mão esquerda não saiba o que a direita faz em favor do próximo. De fato, enquanto a generosidade nacional é proporcionada pela dadivosa mão direita, a esquerda encaminha novos recursos para obras de empreiteiras brasileiras nesses países. Quem garante que a virtude da probidade e a adimplência tenham desabrochado em meio aos maus pagadores e prevaricadores de ontem? Continuaremos financiando empreiteiras e cancelando os débitos? E é uma pena, por fim, que, junto com a bonomia das cotas raciais de nosso comércio exterior, não venha junto uma transparência maior sobre as comissões pagas pelos novos negócios que estão sendo contratados lá com as empreiteiras daqui. Tenho um palpite, mero palpite, de que iríamos encontrar, beneficiado por tais valores, um conhecido lobista que mantém relação de intimidade paternal com as decisões de governo.

57º debate: Os desejos de José Dirceu

VANEGAS, Ana Maria Araujo de. LA ANTROPOLOGIA FILOSOFICA DE JULIAN MARIAS.

FOMOS CRIADOS PARA ETERNIDADE

Comentário proferido na rádio Cultura AM no dia 06 de dezembro de 2013.

PALAVRAS BORRADAS NUM PAPEL VELHO

Escrevinhação n. 1073, redigida entre os dias 04 de dezembro de 2013, dia de São João Damasceno, e 05 de dezembro de 2013, dia de São Geraldo, de São Martinho de Dume e de São Frutuoso.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. O conhecimento não é algo que simplesmente adentra a alma e se instala em qualquer cantinho que se ajeitar. Não mesmo. Ele é muito educado. Refinado. Apenas achega-se nos ranchos em que é convidado afetuosamente, porém, sem fricotes. O conhecimento percebe de longe os olhares fingidos e maliciosos que apenas acenam para ele com segundas intenções sem desejar, de fato, acolhe-lo. E, por essas e outras que, ultimamente, este gentil senhor anda sem garrida pelo ermo, pois, para toda direção que volve suas vistas, apenas encontra vileza e superficialidade. E não há nada neste mundo que esse distinto senhor, o conhecimento, mais repugne do que isso.

2. Meu nono Artêmio certa feita havia me dito, da maneira lacônica que lhe é característico, que um homem deve ser honesto, trabalhador e honrar a sua palavra. Ponto. O resto é canalhice. Lição simples que todo homem deve esforçar-se em cumprir virilmente e que os canalhas, de todos os naipes, desprezam sem a menor cerimônia. Um bom exemplo para reconhecer-se a têmpera do caráter dum homem é ver como ele honra seus débitos. Deve? Paga. Se não tem com que pagar, renegocia e paga. Porém, se ele enrolar, inventar mil e uma histórias pra protelar e não pagar o que deve, abandone! Ele não é um homem no sentido artêmico da palavra. É um piá  que não teve tempo, nem interesse, de aprender o que é o tal do respeito que caracteriza um homem. E é mais do que provável que ele não irá aprender.

3. Ensina-nos o Papa Francisco, sua Carta Encíclica LUMEN FIDEI, que: “A luz do amor, própria da fé, pode iluminar as perguntas do nosso tempo acerca da verdade. Muitas vezes, hoje, a verdade é reduzida a autenticidade subjetiva do indivíduo, válida apenas para a vida individual. Uma verdade comum mete-nos medo, porque a identificamos […] com a imposição intransigente dos totalitarismos; mas, se ela é a verdade do amor, se é a verdade que se mostra no encontro pessoal com Outro e com os outros, então fica livre da reclusão no indivíduo e pode fazer parte do bem comum. Sendo a verdade de um amor, não é verdade que se impõe pela violência, não é verdade que esmaga o indivíduo; nascendo do amor pode chegar ao coração, ao centro pessoal de cada homem; daqui resulta claramente que a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro. O crente não é arrogante; pelo contrário, a verdade torna-o humilde, sabendo que, mais do que possuirmo-la nós, é ela que nos abraça e possui. Longe de nos endurecer, a segurança da fé põe-nos a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos”. Pois é, o grande problema é que o mundo não quer diálogo com nada que ouse convidá-lo a sair de sua verdadezinha mundana e subjetiva. O mundo é cego e surdo para a Verdade e, por isso, vê-se incapacitado para o diálogo.

4. Noutra passagem da Carta Encíclica LUMEN FIDEI, o Papa Francisco afirma que: “[...] enquanto unida à verdade do amor, a luz da fé não é alheia ao mundo material, porque o amor vive-se sempre com corpo e alma; a luz da fé é luz encarnada, que dimana da vida luminosa de Jesus. A fé ilumina também a matéria, confia na sua ordem, sabe que nela se abre um caminho cada vez mais amplo de harmonia e compreensão. Deste modo, o olhar da ciência tira benefício da fé: esta convida o cientista a permanecer aberto à realidade, em toda a sua riqueza inesgotável. A fé desperta o sentido crítico, enquanto impede a pesquisa de se deter, satisfeita, nas suas fórmulas, e ajuda-a a compreender que a natureza sempre as ultrapassa. Convidando a maravilhar-se diante do mistério da criação, a fé alarga os horizontes da razão para iluminar melhor o mundo que se abre aos estudos da ciência”. Ora, sem uma boa dose de espanto, de deslumbre diante do mistério da criação e de sua imensidão frente a nossa pequenez e diante do mistério de nossa existência, é tolice, palavrório oco ficar repetindo aquela frasezinha manjada de que isso ou aquilo é comprovado cientificamente. A sabedoria começa com o espanto. A estultice com a repetição de esquemas e fórmulas prontas.

5. Certa feita um amigo (tradutor por ofício, muçulmano por confissão) contou-me que havia morado numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul. Era período eleitoral e o que havia chamado sua atenção era o fato de que os comícios eram comedidos. E mais! Os candidatos apresentavam promessas razoáveis. Ele foi comentar isso com o dono da uma mercearia de sua rua e este lhe explicou donde vinha toda aquela civilidade. Segundo o comerciante, houve um pleito onde um candidato prometeu mundos e fundos e, após ter sido consagrado nas urnas, sua gestão revelou-se uma legítima casa da mãe Joana. Resultado: o povo saiu às ruas, foi até a Prefeitura, tomou o bonitão e seu secretariado e levou-os para a praça; em seguida foram à Câmara, trouxeram os vereadores para o mesmo local e lhes deram uma bela duma sova. Meu amigo então perguntou: “e a polícia, o que fez?” Encontrava-se no local para garantir que seria apenas uma sova bem dada. Pronto. Depois disso, segundo o dono da venda, o povo passou a ser respeitado.

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República Socialista do Brasil

Por Paulo Briguet

Goebbels disse: “Aqui eu decido quem é e quem não é judeu”.

Beria disse: “Aqui eu decido quem é e quem não é inimigo do povo”.

As frases de líderes socialistas históricos estão sendo aplicadas em larga escala no Brasil. Aqui o governo e os movimentos sociais de esquerda decidem quem é negro, quem é racista, quem é gay, quem é pobre, quem é honesto, quem pode ser criticado e quem está acima de qualquer crítica.

Após a prisão dos mensaleiros, foi aberta a temporada de vingança na República Socialista do Brasil. As ações do ministro da Justiça estão aí e não me deixam mentir. Mas isso é apenas o começo, meus sete amigos leitores. Em breve, os dossiês contra os supostos inimigos do povo tendem a se multiplicar. No passado tivemos a ditadura militar; agora temos a ditadura militante.

A maior vítima de ataques racistas hoje no Brasil atende pelo nome de Joaquim Barbosa. Onde estão os militantes que não saem em defesa do ministro chamado de “capitão do mato” e “negro traidor”? Ora, a resposta é muito simples: Joaquim não fez o que a esquerda esperava dele. Quer ser ministro do Supremo, tudo bem. Mas condenar petistas já é demais!

Muito se falou nos últimos dias sobre a escravidão no Brasil. As melhores reflexões sobre essa vergonha nacional foram feitas pelo grande líder abolicionista Joaquim Nabuco. Que tal se no próximo Dia da Consciência Negra discutíssemos a obra de Nabuco nas escolas, nos jornais, nas empresas, nas redes sociais? Se o fizessem, as pessoas descobririam que o movimento abolicionista nasceu na Inglaterra, primeira pátria do capitalismo. Existe uma conexão direta entre a liberdade pessoal e a liberdade de empreender. Comparar o comércio de produtos com o comércio de pessoas, como fazem os militantes contemporâneos, é uma falácia típica de diretório acadêmico.

Nos debates sobre o assunto, o que mais me espanta é o silêncio em torno daquele que foi o maior regime de escravidão em todos os tempos: o comunismo. Nabuco, que morreu em 1910, jamais poderia imaginar que a escravidão voltaria com toda a força nos regimes totalitários criados a partir de 1917. O melhor produto criado pelo socialismo foi o tenebroso automóvel Lada; o pior produto foram 100 milhões de cadáveres.

Para compreender a íntima conexão entre socialismo e escravismo, basta ler Animal Farm, de George Orwell (traduzido no Brasil como A Revolução dos Bichos). É espantosa a similaridade com o que está acontecendo em nosso país. Encerro com uma frase do livro que serve para definir a mentalidade governante: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.

Publicado no jornal Gazeta do Povo.

O QUE HÁ NO HORIZONTE

Comentário proferido na rádio Cultura AM no dia 05 de dezembro de 2013.

ENTRE O ORÁCULO E O SERMÃO

Escrevinhação n. 1072, redigida no dia 03 de dezembro de 2013, dia de São Francisco Xavier.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Deus nos convida, a todo o momento, a refletirmos sobre a nossa jornada por esse vale de lágrimas. Aliás, como nos lembra São Clemente de Alexandria, a filosofia é o pedagogo que nos leva ao Cristo. Tal observação pode parecer estranha para muitos, porém, esquisito mesmo é nosso estranhamento diante dessa observação.

Sócrates era um homem devoto, e filósofo pela mesma razão. Quando lemos os diálogos platônicos não são poucas as passagens em que se evidencia a piedade religiosa de Sócrates. Por exemplo: na “República”, a narrativa inicia com a ida de Sócrates ao Pireu onde ele ofereceu suas preces a Deusa Ártemis.

Mas o ponto central de sua vida, como todos sabem, é quando lhe foi comunicado que o Oráculo de Delfos declarou que o homem mais sábio da Grécia era ele. Essa declaração gerou em sua alma uma tensão singular que definiu sua jornada. Na ocasião, ele já era um homem feito e, tal anúncio, levou-o a realizar um exame de sua vida para ver se reconhecia em sua pessoa alguma forma manifesta de sabedoria. Nada encontrou. Estava cônscio de que ele era uma pessoa como outra qualquer, sem nada de especial.

Todavia, Deus não mente. O anúncio do oráculo de Apolo é divino, logo, deveria haver alguma sabedoria nele que lhe era desconhecida e que, agora, ele tinha o dever de encontrar. É essa tensão que gera a jornada filosófica trilhada por esse distinto homem: o reconhecimento da nulidade de sua pessoa e a confiança na palavra celestial que lhe foi revelada como sendo uma missão existencial, um dever que apenas ele pode cumprir.

Essa tensão é análoga a primeira bem-aventurança apresentada no Sermão da montanha (Matheus V; 3), onde a Sabedoria encarnada nos diz: “bem-aventurados os pobres de espírito porque a eles pertence o reino dos céus”. Ora, para que o Espírito Santo possa infundir em nossa alma a Sabedoria (o reino dos céus) é necessário que nos empobreçamos do espírito mundano, das opiniões, dos sentimentos desordenados, enfim, que abandonemos tudo aquilo que imaginamos saber sem nunca termos aprendido.

Tudo isso, junto e misturado, tolhe nossa percepção da realidade por permitirmos ser habitados por palavras demasiadamente vazias que utilizamos levianamente para ostentar uma sabedoria de papelão.

Por essa razão que Sócrates, aquele que procurava a Verdade, foi condenado pelos “sábios” de sua cidade. Pelo mesmo motivo Cristo, a Verdade que se fez carne e veio ao nosso encontro, foi sacrificado pelos “doutos”. E é por essas e outras que não há filosofia quando não somos capazes de sacrificar nosso orgulho que, o tempo todo, nos instiga a nos colocarmos acima de Sócrates e no lugar de Cristo sem ao menos sabermos quem realmente somos.

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PALAVRAS DO PAPA FRANCISCO

Comentário proferido na rádio Cultura AM no dia 04 de dezembro de 2013.

Roda Viva | Lobão | 02/12/2013

TUDO CONTINUA COMO ANTES...

Escrevinhação n. 1071, redigida entre os dias 25 de novembro de 2013, dia de Santa Catarina de Alexandria, e 03 de dezembro de 2013, dia de São Francisco Xavier.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. Todos nós temos lá nossa cota de mediocridade, porém, o medíocre, de corpo e alma, distingui-se dos demais seres humanos pela capacidade de conseguir vangloriar-se de suas incapacidades. Quando ele não sabe uma língua estrangeira (e não faz questão de aprender) declara, olimpicamente, que ele nunca irá precisar disso. Se ele não se dedica a leitura de obras da grande literatura universal, afirma, com pose doutoral, que tal prática não passa dum reles pedantismo sem utilidade alguma para vida. Ou então se sua caligrafia for disforme, declara que uma letra legível não é sinônimo de sapiência. Ora, o inverso também não corresponde aos fatos. Garrancho não é sinal de inteligência. Ignorância literária não equivalente à erudição. Desconhecimento duma língua diversa da língua materna, não nos torna mais comunicativos. Enfim, somente para os medíocres a incapacidade de realizar algo pode vir a ser objeto de orgulho. Para os seres humanos, dum modo geral, apenas uma vergonha entre tantas outras.

2. É muito importante sabermos por que uma coisa é o que é, ou porque uma pessoa é como ela é. Quando atiramos uma semente no solo esperemos que nasça uma árvore de boa cepa e que ela dê suculentos frutos. Para que nossas expectativas não sejam frustradas, precisamos, necessariamente, saber de quê são as sementes, como nos lembra Mário Ferreira dos Santos. Conselho facilmente acatado e praticado nas lides da agricultura, mas que, quando apresentado na seara da vida política, torna-se muito confuso. Neste caso, as sementes não são separadas em pacotes e, pra piorar, todas elas são muito semelhantes. Quanto aos frutos, invariavelmente, caducam no próprio pé. Algumas variedades de maneira precoce, outras em determinada estação, mas todas, invariavelmente, nestas plagas, brindam-nos com frutos tão amargos quanto putrefazes. Infelizmente, nesta roça, não há transgênicos ou híbridos que nos socorram, visto que, estas sementes são o que são e nada diverso delas podemos esperar.

3. Diz-nos o Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica EVANGELII GAUDIUM: “O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado”. Ao ler essas palavras, cada uma delas, via com cristalina clareza o retrato de nossa época. Palavras que refletem o estado de espírito do homem contemporâneo não frente ao mundo moderno, mas sim, frente ao seu coração alinhado diretamente com seu umbigo espiritual, moral, ideológica e economicamente desorientado e, por isso, nega-se a reconhecer que o centro de toda a criação é Cristo e não isso ou aquilo.

4. Se Rui Barbosa desanimou diante da patifaria que imperava em seu tempo, porque eu, reles caipira, desprovido de meios e parvo no compreender, não posso desanimar diante da bandalheira que impera nesta banânica república de despudorados aduladores do povo que se lambuzam nas úberes estatais, por quê? Porque não me dou a esse desfrute. Recuso-me a dar esse gosto para as almas sebosas que tão facilmente se ensoberbecem com o cálice do poder. Nego-me, terminantemente, a tal cobardia.

Pax et bonum
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BOBINHA


Na Carta Maior desta semana, uma professora de ciências políticas da Universidade Federal de Pelotas, Luciana Ballestrin, adverte que enxergar alguma hegemonia comunista nas instituições superiores de ensino é “paranóia” e insinua que, ao contrário, o verdadeiro perigo que se esboça no horizonte nacional é o do fascismo.

A prova que ela oferece desse deslumbrante diagnóstico é que três pessoas reclamaram contra o comunismo universitário. Firmemente disposta a dizer qualquer coisa contra essas três minguadas vozes, ela as acusa, ao mesmo tempo, de provir de “um gueto” e de obter “grande repercussão na mídia”.

É notório que, entre os estudantes universitários brasileiros, quatro em cada dez são analfabetos funcionais. Temo que entre os professores da área de humanas essa proporção seja de nove para dez. A profa. Ballestrin é mais um exemplo para a minha coleção. Ela fracassa tão miseravelmente em compreender o significado das palavras que emprega, que no seu caso o adjetivo “funcional” é quase um eufemismo.

Desde logo, se os direitistas vivem num “gueto”, quem os colocou lá? Enclausuraram-se por vontade própria ou foram expelidos da mídia, das cátedras e de todos os ambientes de cultura superior pela política avassaladora de “ocupação de espaços” que a esquerda aí pratica desde há mais de meio século? Um gueto, por definição, não é um hotel onde a minoria se hospede voluntariamente para desfrutar os prazeres de uma vida sombria, fechada e opressiva, sem perspectivas de participação na sociedade maior. É uma criação da maioria dominante, um instrumento de exclusão usado para neutralizar ou eliminar as presenças inconvenientes. A maior prova de que o esquerdismo domina o espaço é que a direita vive num gueto. Ao acusá-la precisamente disso, essa porta-voz do esquerdismo oficial só dá testemunho contra si própria.

Com igual destreza ela maneja a segunda acusação: a de que as três vozes obtiveram “grande repercussão na mídia”. Que grande repercussão? Alguma delas foi manchete de um jornal, foi alardeada no horário nobre da Globo, deu ocasião a uma série infindável de reportagens, congressos de intelectuais e debates no Parlamento como acontece com qualquer denúncia de “crimes da ditadura” ocorridos cinqüenta anos atrás? Nada disso. Foram apenas noticiadas aqui e ali, discretamente, num tom de desprezo e chacota. Mas, para a profa. Ballestrin, mesmo isso já é excessivo. Ela nem percebe que, ao protestar que três direitistas saíram do gueto, ela os está mandando de volta para lá.

Mas onde ela capricha ao máximo em não entender nada é ao enxergar uma “paranóia” em três denúncias isoladas, só notáveis pela raridade, e nenhuma nos gritos de alarma contra a “ameaça fascista” que pululam aos milhares, com estridência obscena, em publicações e salas de aula por todo o país. Na própria Carta Maior o toque de alerta antifascista ressoa diariamente. Qualquer observador isento nota a desproporção entre a iminência objetiva desses dois perigos e a intensidade do temor real ou fingido que despertam. Apontar o avanço comunista é apenas registrar as vitórias que centenas de organizações comunistas alardeiam e celebram nas assembléias do Foro de São Paulo (prontas, decerto, a negá-las em público quando lhes convém). Mas e o fascismo? Onde estão as organizações que o representam, os partidos que buscam elevá-lo ao poder, as verbas bilionárias que o sustentam, a militância adestrada para impô-lo a um povo inerme, os milhares de livros que infectam com o vírus fascista as prateleiras das livrarias e as bibliotecas das universidades? Nada disso existe. Nada, absolutamente nada. Tanto não existe, que, para fingir que existe, é preciso até mesmo chamar de fascistas as massas de agitadores comunistas pagos pelo governo para espalhar o terror nas ruas e forçar a transição para o socialismo explícito e descarado.

A inversão das proporções é, decerto, um dos traços mais típicos e constantes da mentalidade revolucionária, mas nem todos a ostentam com a cândida desenvoltura dessa mulherzinha boba. 

Saber qual orientação ideológica predomina em determinado ambiente social não deveria ser muito difícil para uma “cientista política”, especialmente quando esse ambiente é o dela própria – o seu departamento universitário. Ela poderia perguntar, por exemplo, quantos de seus colegas votam na esquerda, quantos na direita. Ou poderia, com um pouco mais de esforço, averiguar a linha ideológica majoritária dos autores cuja leitura eles recomendam a seus alunos. Poderia até, se quisesse, fazer inspeção semelhante em outros departamentos de ciências humanas pelo Brasil a fora, para verificar se as várias correntes de pensamento estão aí representadas equitativamente ou se uma delas predomina até o ponto do monopolismo absoluto.

Tudo isso, no entanto, para a profa. Ballestrin, é esforço excessivo, cruel e desumano. Tudo o que se pode exigir dela é que raciocine pelo método histérico da auto-impregnação auditiva. Eis como funciona. Nos seus anos de estudante, você faz um esforço danado para macaquear o discurso dos seus professores. Ouve, presta atenção e imita cada de linguagem, cada cacoete, cada chavão. Quando por fim consegue falar como eles, você ouve o que você próprio diz e, orgulhoso de tamanha realização, acredita que é tudo verdade. Então está maduro para lecionar e para escrever artigos na Carta Maior.

Publicado no Diário do Comércio.