Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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Olavo de Carvalho - Palestra "O Totalitarismo Islâmico"

O PIOR CEGO É AQUELE MESMO


Escrevinhação n. 974, Redigida em 25 de outubro de 2012, dia de Santo Antônio de Sant'Anna Galvão, de São Crispim e de São Crispiniano São Gaudêncio.

Por Dartagnan da Silva Zanela


A grande ameaça que paira sobre os valores que alicerçam a civilização ocidental é o sistema educacional. Isso mesmo! O maior inimigo da Educação é a educação vigente. Quando afirmo isso, não estou me referindo a questões concernentes a disponibilidade de recursos materiais e financeiros, a quantidade de salas e coisas do gênero. Refiro-me sim aos valores que abertamente estão sendo ensinados e cultivados pelas potestades educacionais.

Ora, quais são as preocupações que norteiam os responsáveis pela ex ducere brasileira? Ah! São muitas. Listemos as principais: no entender dos sabichões do educar, é de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo e cívico dos mancebos que eles acreditem candidamente que o socialismo é uma doutrina humanista, que o marxismo é uma panacéia apolínea, que todas as religiões são igualmente constructos humanos, que as fantasias sexuais (esdrúxula ou não) devem ser aceitas como uma manifestação cultural pia, fonte de direitos humanos inconteste, digna de um respeito sacrossanto.

Não apenas isso! Para esses entendidos no assunto, uma norma culta a ser utilizada por todos os brasileiros é uma imposição autoritária da “zelite”. Para eles, o mérito é uma coisa muito feia, por isso, todos devem ter o seu talento nivelado abaixo da mediocridade em nome de uma inclusão sem substância alguma.

Tem mais! Afirmam que a verdade não existe. O que existe, segundo eles, são apenas opiniões. Pontos de vista que devem sempre ser respeitados desde que não contrariem as opiniões majoritárias defendidas pelos democráticos doutos no ato de educar e por seus prosélitos.

Doravante, essas ideias turvas não estão sendo aplicadas há pouco. Elas estão escancaradamente presentes, num crescente, em nosso sistema educacional desde a década de 90. Para atestar esse fato, leia a documentação oficial do MEC e da SEED dos últimos vinte anos e perceberá a continuidade destas políticas (des)educacionais. Verifique os bancos de teses e dissertações e verá que as mesmas ideias estão sendo propagandeadas desde a década de 80. Trocando por miúdos: o caos de hoje deve-se não a um acaso do destino, mas sim, a um esforço contínuo e calculado no intento de gerar o cenário absurdo que hoje impera.

Toda essa agenda politicamente-correta esquerdizante, hoje, encontra-se presente no currículo (visível e oculto) das instituições de ensino de nosso país desvirtuando as tenras almas, incapacitando-as ao exercício da vida humana responsável, infantilizando-as, numa dependência eviterna da tutela Estatal. Só não vê quem não quer.

Tudo isso seria quase risível se fossem dados extraídos de uma obra de ficção. Infelizmente, não o são. Não é à toa que o analfabetismo funcional seja a regra e, a educação, em sua plenitude, uma exceção. E o pior de tudo é que chamam esse angu de educação para a cidadania ou, pela alcunha de pensamento crítico.

De fato, é crítico mesmo.

Pax et bonum
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True Outspeak (Olavo de Carvalho), 24 de outubro de 2012

Uma entrevista com Albert Camus


Entrevista publicada originalmente em "Le Progrès de Lyon", no natal de 1951 e republicada na Obras Completas. Editora Aguilar, 1959.

“La justicia no consiste en abrir unas prisiones para cerrar otras. Consiste, en primer lugar, en no llamar “mínimo vital” a lo que apenas si basta para hacer que viva una familia de perros, ni emancipación del proletariado a la supresión radical de todas las ventajas conquistadas por la clase obrera desde hace cien años. La libertad no consiste en decir cualquier cosa y en multiplicar los periódicos escandalosos, ni en instaurar la dictadura en nombre de una libertad futura. La libertad consiste, en primer lugar, en no mentir. Allí donde prolifere la mentira, la tiranía se anuncia o se perpetúa. Está por construirse la verdad, como el amor, como la inteligencia. Nada es dado ni prometido, pero todo es posible para quien acepta empresa y riesgo. Es esta apuesta la que hay que mantener en esta hora en que nos ahogamos bajo la mentira, en que estamos arrinconados contra la pared. Hay que mantenerla con tranquilidad, pero irreductiblemente, y las puertas se abrirán. ¿Y por qué esperar a Navidad? La muerte y la resurrección son de todos los días. De todos los días son también la injusticia y la verdadera rebelión.” 

* * * * * *

- ¿Cree usted lógico relacionar las dos palabras “odio” y “mentira”?

El odio es en sí mismo una mentira. Se calla instintivamente con relación a toda una parte del hombre. Niega lo que “en cualquier hombre” merece compasión. Miente, pues, esencialmente, sobre el orden de las cosas. La mentira es más sutil. Sucede incluso que se miente sin odio, por simple amor a uno mismo. Todo hombre que odia, por el contrario, se detesta a sí mismo, en cierto modo. No hay, pues, un lazo lógico entre la mentira y el odio, pero existe una filiación casi biológica entre el odio y la mentira. [continue lendo]

Depois do Mensalão

Por Olavo de Carvalho

Agora que os mensaleiros estão no fundo do poço, não cessam de erguer-se vozes indignadas de petistas, comunistas e socialistas fiéis que os condenam como oportunistas e traidores. Mas por que deveria algum líder ou militante ser atirado à execração pública pela simples razão de ter cumprido à risca a sua obrigação de revolucionário? Não é certo que a estratégia marxista-leninista ordena e determina não só atacar o Estado burguês desde fora, mas corrompê-lo desde dentro sempre que possível para em seguida acusá-lo de depravado e ladrão e substituí-lo pelo Partido-Estado? Não é notório que, na concepção mais ampla e sutil de Antonio Gramsci, inspirador e guia da nossa esquerda há meio século, a corrupção do Estado não basta, sendo preciso estendê-la a toda a sociedade, quebrantar e embaralhar todos os critérios morais e jurídicos para que, na confusão geral, só reste como último símbolo de autoridade a vontade de ferro da vanguarda partidária? Não é óbvio e patente que, se na perspectiva gramsciana o Partido é “o novo Príncipe”, ele tem a obrigação estrita de seguir os ensinamentos de Maquiavel, usando da mentira, da trapaça, da extorsão, do roubo e do homicídio na medida necessária para concentrar em si todo o poder, derrubando pelo caminho leis, instituições e valores?  

Na perspectiva marxista, nenhum dos artífices do Mensalão fez nada de errado, exceto o crime hediondo de deixar-se descobrir no final, pondo em risco o que há de mais intocável e sagrado: a boa imagem do Partido e da esquerda em geral. [continue lendo]

Ciência moderna e ateísmo militante - IOC

 
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PARA APRUMAR O RUMO


Escrevinhação n. 973, redigida em 22 de outubro de 2012, dia de São Donato, do Bem-aventurado Contardo Ferrini e do Beato João Paulo II.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Gente entusiasmada, boazinha, confesso, deixa-me entediado. Na verdade, desconfio argutamente de todos aqueles rostinhos que tanto se esforçam em mostrar o quando que eles são legais. Gente muito bacana me dá medo. Pra falar a verdade, sete tipos.

Por favor, não me entendam como um sujeito azedo, de mal com a vida. Imagino que não o seja. O que professo nestas linhas é que o sinal mais claro da crueldade demasiadamente humana são rostinhos que procuram a todo o momento dissimular aquele sorrisinho de paisagem.

Hoje, mais do que nunca, esquecemo-nos que o mal não se apresenta de maneira abrupta, confessando diretamente as suas turvas intenções. Este, por definição, caminha de mãos dadas com a boniteza forçada. O bicho é safado, sedutor, atrai-nos sempre através de nossas fraquezas que não são poucas, diga-se de passagem.

Aliás, nisto a sabedoria popular é pontual quando declara que quem vê cara não vê coração e como, atualmente, desaprendemos essa técnica, se assim podemos chamar, de enxergar para além das aparências. Para ser franco, tanto desaprendemos como desdenhamos esse refinado discernimento.

Muito disto deve-se aos alicerces relativistas da cultura contemporânea. Se tudo é relativo o único ponto absoluto que passa a ser reconhecido é a nossa relativa e parca percepção da realidade. A presença total da realidade dá lugar à superficialidade do olhar que facilmente encanta-se com as lindezas aparentes. Deste modo, abandonamos o senso do real, viramos as costas para a presença da Verdade e apegamo-nos a qualquer sensação ilusória e prófuga, como nos lembra o Beato Papa João Paulo II.

Não existe nada mais superficial e ilusório do que pessoas esforçadas em parecerem boazinhas e progressistas. Para elas, a verdade não é a realidade. No entender delas, a verdade é o seu olhar minguado sobre a realidade.

No fundo, toda essa casquinha de verniz relativista (politicamente-correto) é indispensável a essas pessoas para ocultar a sua face ressentida, para camuflar o seu rancor original. Casquinha que facilmente trás á luz a leviandade que habita o fundo destas carcomidas almas que vêem a presença do mal em todos, menos nelas, que percebem a corrupção em todos, menos em seus corações e que, com seus dedos, apontam as contradições das instituições sem atinar para o próprio reflexo presente na superfície do objeto de sua repulsa. Essas almas sebosas são extremamente hábeis em criticar tudo, menos a si mesmas e, quando o fazem, assim procedem para melhor justificar a sua pseudo-superioridade.

Sim, há um pouco da presença desta súcuba em cada um de nós. Aceitar essa realidade é o primeiro passo para deixarmos de ser uma ninharia (des)humana travestida de bom-moço para sermos simplesmente alguém que aceita o desafio de viver a realidade em suas agruras no sentido pleno da palavra.

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Dívida histórica


Por Percival Puggina

Tem sido dito que a política de cotas, raciais ou sociais, resgata uma dívida histórica. Dívida de quem? Dos brancos para com os negros e os índios, afirmará alguém com furor justiceiro. Pergunto: dos brancos assim, tipo todo mundo? Milhões de brasileiros descendem de europeus emigrantes de seus países de origem por injustiças que contra eles se praticavam. Nada tinham com a encrenca da escravidão aqui. Também são devedores? Muitos brancos portugueses foram enviados a contragosto para o desterro no Brasil, onde arribaram tão "pelados" quanto os índios. Seus descendentes também têm dívida a pagar? Segundo essa linha de raciocínio, sou conduzido a crer que eu teria uma dívida histórica a cobrar da Itália e que os descendentes dos desterrados portugueses teriam outra na velha terrinha, ora pois. Absurdo.

Tudo que é dado tem um preço. Vejamos como se aplica essa constatação a uma política de cotas. Quando uma universidade pública as estabelece, ela está dando a determinado grupo social a possibilidade de acessar seus cursos mediante notas inferiores às dos candidatos que não pertencem a tal grupo. Trata-se de uma regalia custeada por concorrentes que não integram o grupo privilegiado. A fatura da vantagem concedida vai para aqueles que poderiam ter ingressado e não ingressaram. Isso é inquestionável.

Quem concorda com a lei de cotas, embora motivado por nobres intenções, olha para um prato da balança da justiça e fecha os olhos para o outro. Vê o beneficiado e desconsidera o prejudicado. Por quê? Não sei. Jamais topei com um vestibulando do grupo fraudado que considere justa a adoção das cotas. O apoio a tais políticas, concedido por quem nada tem a perder com elas, é generosa barretada com o chapéu alheio. É dar presente com o cartão de crédito dos outros. Não é justo. Nem honesto.[continue lendo]

Um patrono à altura


Por Carlos Ramalhete

Vivemos atualmente a dissolução de uma sociedade edificada ao longo de milênios. É uma longa e bela construção, fundada na filosofia grega e no personalismo judaico-cristão, e burilada ao longo dos séculos. Essa sociedade nos deu a noção de que todos têm direitos inalienáveis; que a natureza pode e deve ser estudada e, ao mesmo tempo, preservada; que o Belo e o Bom têm valor. Deu-nos as universidades, a democracia representativa, o reconhecimento da dignidade dos mais fracos.

Este imenso patrimônio cultural é a herança a que cada brasileiro tem – ou teria – direito. O que vemos, contudo, é o oposto. Mais de um terço dos universitários são analfabetos funcionais. As escolas servem à doutrinação política e à “desmitificação” dos valores da nossa sociedade, deixando de lado o ensino e a preservação da cultura.

Paulo Freire, um dos maiores culpados deste estado de coisas no Brasil, recebeu, com razão, o título de “Patrono da Educação Brasileira”. É justo que ele seja o patrono de uma “educação” que não é capaz de ensinar a ler e escrever, mas que martela nos alunos uma visão tão deturpada do mundo que é mais fácil encontrar dez estudantes que creiam que a luta de classes é uma lei da natureza que achar um que saiba enunciar a Segunda Lei da Termodinâmica. [continue lendo]

O DIREITO DE QUEBRAR OS GRILHÕES


Escrevinhação n. 972, redigida em 14 de outubro de 2012, dia de São Calisto e de São Burchardo.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Novalis dizia que a democracia nada mais é que um rito para reorganizar a posição ocupada pelas oligarquias. Com ele, concordam Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca. Eu, de minha parte, confesso que não tenho como discordar, visto que, meus olhos veem justamente isso, por mais que tal fato deixem-me desgostoso.

Diante disso, podemos indagar: qual a razão de ser do jogo eleitoral, qual a razão de ser do sistema democrático? Garantir que uma elite(zinha) não se perpetue no poder indefinidamente. Derrubar um governo, quando este se mostra inepto é um direito fundamental, mesmo que alguns discordem.

De mais a mais, lembramos também que a sociedade política brasileira não se vê organizada, de fato, em torno de partidos políticos, mas sim, por meio de clãs políticos. Grupos organizados em torno de interesses afins e não de uma plataforma política clara, como nos ensina Oliveira Vianna. Bem, seja desta forma ou doutra, o essencial em um regime democrático é que a sociedade permanece. Seus governantes, nem sempre.

Essa alternância de clãs políticos junto ao poder, naturalmente, não evita os abusos deste, porém, os refreia e é isso o que importa. A limitação do poder dos mandatários é fundamental devido à grande fraqueza da alma humana frente à sedução que ele exerce sobre nós. A queda de um mandatário é uma grande benção tanto para a sociedade como para o cacique (e seus sequazes) derrotado. Um bem para a população, porque esta tem a oportunidade de dar um basta ao que, no seu entender, está lhe aviltando. Para o soberano caído porque lhe foi facultado uma oportunidade de não mais continuar pela via que estava caminhando e, principalmente, para aprender com sua queda e refletir sobre seus erros.

Neste processo, muitas das vezes, os cidadãos libertam um grito que a muito estava sufocado e, ao fazerem isso, estão exercendo o seu direito. Aliás, como diz Thomas Jefferson, toda vez que um governo se torna destrutivo dos fins para os quais ele foi constituído, “[...] o povo tem o direito de alterá-lo ou de aboli-lo e de instituir um novo governo”.

Sim, é claro que todos aqueles que estão no poder não desejam tê-lo retirado de suas mãos. Isso é totalmente compreensível, mas não aceitável. Doravante, essa mentalidade predatória de tratar as Potestades, municipais e estaduais, como bens de uso fruto pessoal e/ou familiar, devidamente camuflada com um discurso demagógico, é a grande chaga pustulenta que tanto vexa a todos aqueles que ganham sua vida com o seu trabalho, como nos ensinam Raymundo Faoro, J. O. de Meira Penna, Emil Farhat, Simon Schwartzman e tutti quanti.

A bibliografia sobre o assunto é farta e a realidade descrita por ela, presente entre nós, escandalosa. Só não a vê quem está mancomunado com ela, direta ou indiretamente. Muitos não levantam sua voz por medo e, confesso, eles tem suas razões para temer. Para ser franco, cada um de nós.

Por fim, os tiranos aplaudem a democracia, quando lhes convêm. Elogiam as vozes implacáveis e destemidas, quando lhes favorecem. E todos eles, esperneiam, quando o povo exerce o seu direito de destroná-los. Sim, jus sperniandi é direito de todos, inclusive deles, é verdade. Por isso, usem-no da mesma forma que o povo neste ano de 2012 da Graça de Nosso Senhor exerceu o de destituí-los ou de negar-lhes o acesso ao trono.

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UMA CICUTA CONTRA ATENA


Escrevinhação n. 971, redigida em 12 de outubro de 2012, dia de Nossa Senhora Aparecida e de São Serafim de Montegranaro.

Por Dartagnan da Silva Zanela

O medo é uma praga que degrada a inteligência humana. Aliás, é um veneno! Porque a verdade não é uma dama que geralmente se apresenta de maneira gentil. Na maioria das vezes ela é agressiva e desnuda-nos de nossas vestes cotidianas, de nossos andrajos rotos de mentiras e dissimulações que utilizamos diuturnamente para posar aos outros, e a nós mesmos, com uma dignidade que nunca tivemos e que, de fato, nunca desejamos.

A verdade caminha sempre imponente, desnuda, por entre a multidão que dissimula superioridade com palavras ocas. Caminha por entre as almas que exigem respeito de tudo e de todos para melhor esconder a sua mesquinha existência. A nudez da verdade enfurece os hipócritas que se negam a enxergar a dureza dos fatos.

Ela não faz cerimônia. É direta e sagaz com suas pedradas que machucam nosso ego inflado. Derruba-nos de nossa orgulhosa montaria e atira-nos junto ao pó do duro chão da realidade, fazendo-nos sentir só e abandonados.

Por isso temos, muitas vezes, medo de ouvir e falar a verdade e, por essa mesma razão, que ele, o medo, é emburrecedor. Se tememos o conhecimento da Verdade, dia após dia, tornamos mais e mais nossa vida uma grande farsa que nos impossibilita de agir dignamente por amarmos muito mais a imagem que os outros fazem de nossa pessoa que aquela que devemos ser.

Em ambos os casos, por medo, destruímos nossa personalidade e aviltamos nossa dignidade simplesmente porque fechamos os olhos negando-nos a ver o óbvio ululante. Retraímo-nos, negando-nos a agir. Ver e saber o que é certo e não fazê-lo por medo, enfraquece nossa inteligência, porque esse sentimento materializa-se em hábito. O hábito molda nossa maneira de ser, perceber, compreender e avaliar a realidade e, deste modo, facilmente, nos bestializamos.

Da mesma forma que uma atividade física exige de nós certos sacrifícios para atingir a finalidade a qual esta se destina, toda atividade intelectual exige também certos holocaustos. Resumindo: o cultivo da inteligência exige, inevitavelmente, que o amor à verdade seja maior que nosso apreso pelas companhias ordinárias, pela nossa imagem pública, pelos cargos, títulos e distinções sociais.

Por isso, meu caro, se seu coração está voltado muito mais a estas do que a procura abnegada e solitária pela verdade, fuja louco! Porque quem ama a superficialidade das aparências jamais poderá contemplar as essências.

Sinto muito.

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O palhaço malvado se despede...

Palhaço malvado

A DEMOCRACIA DOS OFENDIDOS


Por Luis Felipe Pondé

"Vou me pintar de afrodescendente", gritou irritado um amigo meu carcamano, um apelido carinhoso que espero nunca ser considerado assédio cultural.

Às vezes, à noite, sou atormentado pelo que dizia Paulo Francis: os "frouxos venceram", não vamos poder pensar, dizer, criar, intuir mais nada que não esteja na cartilha dos autoritários. Sob o signo dos ofendidos, cala-se a alma, o humor e a inteligência. Antes era em nome do racismo nazista, do novo homem comunista, das heresias, agora é em nome dos "ofendidos".

Este meu amigo, normalmente, é uma pessoa doce, mas às vezes perde as estribeiras. Outro dia, acabou indo com a esposa e as duas filhas, num domingão quente pra burro, ver a Bienal no Ibirapuera.

Parou o carro longe (claro, trânsito infernal, sem lugar para parar o carro, e chamam isso de lazer...) e teve que fazer as três meninas andarem até o pavilhão sob o Sol, obviamente o culpando por tudo. [continue lendo]

O Peregrino Cinzento - n. 02

Zine - O Peregrino Cinzento - n. 02

Entrevista concedida por Rodrigo Gurgel ao “A Tribuna”


A Tribuna: Entre os autores analisados em seu livro encontram-se nomes clássicos (José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida, Raul Pompeia, Machado de Assis, Graça Aranha etc.). Além destes ficcionistas, há também prosadores como João Francisco Lisboa, Joaquim Felício dos Santos, Eduardo Prado, Nabuco e Taunay. Por que a escolha dos escritores acima? Qual foi o critério? Tem alguma admiração por eles?

Rodrigo Gurgel: O livro é uma compilação da série de ensaios que iniciei, em 2010, no jornal Rascunho, de Curitiba. Sou crítico literário do jornal desde 2006, mas em 2010 iniciei essa série, cujo objetivo é reler os principais prosadores da literatura brasileira, sejam ficcionistas ou não. A escolha desses autores nasce, portanto, não de uma admiração pessoal, mas da necessidade de empreender esse trabalho de releitura da prosa nacional. Trabalho, aliás, que continua e chegará aos prosadores contemporâneos. Nesse primeiro volume, agora publicado, tratamos dos prosadores do século XIX. [continue lendo]

Padre Cícero e a República Velha, por José Nivaldo Cordeiro

A Preguiça segundo La Rochefoucault

A preguiça, ignoramo-la como a nenhuma outra paixão; é a mais ardente e maligna dentre todas, não obstante sua violência nos seja insensível e os danos causados nos passem incógnitos. Meditando acerca de seu poder, descobrimo-la em todas as ocasiões mestra dos nossos sentimentos, interesses e prazeres: ela é a rêmora cuja força detém as grandes embarcações; é a calmaria mais daninha aos grandes empreendimentos que os mais contundentes abrolhos e as mais violentas procelas. A preguiça nos contenta a alma por um encanto secreto, arrefecendo de súbito as mais ardentes diligências e resolutas paixões; a fim de darmos o real escopo dessa paixão, basta dizer que a preguiça é uma como beatitude d'alma: consola-a das perdas e substitui-se a todos os bens.

RAZÕES DO TINTEIRO BRAVO


Escrevinhação n. 970, redigida em 09 de outubro de 2012, dia de São Dionísio e companheiros mártires, de São João Leonardi e de São Luís Beltran.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Um dado que a mim, ao menos, parece evidente é a grande fragmentação cultural e moral que todos temos de enfrentar interiormente. Tomar ciência deste fato é o primeiro passo para podermos ordenar a confusão existencial em que encontramo-nos imersos. Negá-lo é uma estultice psicótica da brava. 

Quando afirmo isso, não pense que comungo com aqueles que afirmam que devemos agir como bons-moços para, supostamente, ordenar esse caos íntimo. Fazer isso significa que estamos adotando como juiz de nossa alma a ordem externa da sociedade. Ordem essa que, em regra, é superficial, mesquinha e leviana. Eleger as aparências e o bom-mocismo fingido é a negação da própria personalidade e negá-la é fugir da vida intelectual.

Tornar-se uma pessoa de cultura, dedica-se a vida intelectual é literalmente o contrário disso. A pessoa culta despreza as aparências, repudia as afetações de superioridade e, principalmente, sabe quando o decoro no uso das letras deve ser quebrado. Há momentos em que um forte e furioso brado deve ser entoado.

É incrível como as pessoas supostamente ilustradas da sociedade contemporânea confundem afetação de superioridade moral com dignidade. Impressiona como pessoas diplomadas, ou detentoras cargos e poses, confundem o decoro no uso das letras com a Verdade que pode e deve ser revelada através delas. Não é por menos que a superficialidade impera em seus olhares trêmulos.

Por essas e outras que Frithjof Schuon, grande sábio muçulmano, ensinava que mesmo que um homem calmamente diga que dois mais dois sejam cinco e outro grite, furiosamente, que dois e dois são quatro, o segundo estará com a verdade, porque a verdade não é elegante, ela simplesmente é o que é. De mais a mais, como nos lembra Confúcio, nos seus Analectos, as palavras sinceras não são elegantes da mesma forma que as palavras elegantes não são sinceras e, sem sinceridade não é possível o conhecimento da verdade. Sem a busca pela verdade, o caráter, inevitavelmente, avilta-se.

De um modo geral, essas almas vivem em um simulacro de realidade, tendo o seu umbigo como centro cósmico, imaginando que essa miserável conjectura seja a totalidade do real. Elas sacrificam a procura pela verdade em nome de suas parvas opiniões e, por isso, torna-se mais do que compreensível que esse tipo humano imagine sempre uma pessoa culta como um indivíduo afetado, cheio de não me toque, incapaz de levantar a sua voz, agressivamente, para lembrar aos tolos que por mais que eles teimem dois mais dois sempre será quatro.

Pessoas que fiam sua caminhada por essa vereda, em regra, jamais compreenderão as razões de um homem de cultura com seu tinteiro cáustico, porque elas desistiram de procurar a verdade por fechar-se em seu mundinho delirante.

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Sem tesão, a vastidão


Por João Pereira Coutinho

Anos atrás, tive o meu primeiro contato com a mortalidade. E a mortalidade, para um homem, começa sempre pelo telhado: durante semanas, o meu cabelo caía sem razão aparente.

Acordava e ele jazia no travesseiro. Tomava ducha e ele escapava pelo ralo. Usava o pente e o pente ficava parecido com a escova do gato. Consultei um médico.

Primeiro choque: o médico, um respeitável sábio em matéria dermatológica, era mais calvo do que uma bola de bilhar. O pensamento é fatal: se esse desgraçado não conseguiu salvar as suas posses, por que motivo irá salvar as minhas?

O choque deu lugar à compaixão --e à boa educação: não será ofensivo pedir ajuda a alguém que já cruzou definitivamente o capilar Rubicão?

Timidamente, explanei o problema que me trouxera ao consultório. O homem escutou-me, analisou as clareiras como um estratego militar e depois aconselhou ataque farmacológico imediato. Com um aviso: o tratamento acarretava uma certa frouxidão nas partes íntimas.

Eis o dilema que a medicina, em pleno século 21, tem para oferecer a um homem assombrado pela calvície: sexo ou cabelo?

Um cínico diria: sem cabelo, não há sexo. Mas confesso que preferi não arriscar: recusei o tratamento, comprei todos os filmes com o Yul Brynner (para me inspirar, para me consolar) e preparei-me para essa longa viagem sem retorno.

Foi então que o milagre aconteceu: o cabelo, da mesma forma que começara os seus comportamentos suicidas, terminou com eles. Às vezes, penso que foi tudo um teste do Altíssimo, uma espécie de provação de Jó (versão Vidal Sassoon), só para ver se a vaidade era mais importante do que o mandamento "crescei e multiplicai-vos!". [continue lendo]

COLUNAS EM RUÍNAS

Escrevinhação n. 969, redigida em 30 de setembro de 2012, dia de São Jerônimo e de São Gregório, o Iluminador.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Certa feita Graciliano Ramos havia declarado que é bom que a população tenha a ilusão de estar participando das decisões políticas. É bom que, de tempos em tempos, nos pleitos eleitorais, alimente-se a ilusão de que a decisão tomada através do sufrágio das urnas seja fruto do endosso feito por cada um de nós.

Não me entendam mal, mas voto por si só não faz democracia. Sim, eleições legitimam o exercício do poder, porém, tão somente isso não faz uma república democrática.

De tempos em tempos, os munícipes vestem a camisa de um clã político, defendem-no, brigam por ele e, passado o pleito, tudo volta a encaixar-se devidamente para a monotonia diária de nossas vidas rotineiras. Todavia, esse cíclico eleitoral, de modo algum pode ser visto como a base sólida. Sim, faz parte, mas não é o elemento basilar e muito menos a argamassa que dá forma ao corpo duma república.

Antes de qualquer coisa, principalmente do voto, a sociedade deveria ter um corpo de cidadãos com uma sólida formação moral que sirva de base para os indivíduos julgarem os fatos políticos. Sem isto, fica-se literalmente à deriva como folhas secas jogadas ao vento facilmente levadas para qualquer direção, conforme o sopro do momento, como nos ensina Shakespeare.

A moral não é determinada pelo Estado, por partidos, por instituições ou entidades. A moral emana da experiência acumulada por um grupo humano através dos tempos e transmitida às gerações mais tenras. Novas experiências são vividas que, por sua deixa, possam a integrar o patrimônio partilhado por todos. Já as modificações constantemente realizadas através de novas legislações, atos administrativos, campanhas publicitárias e do ativismo de grupos de pressão apenas servem cinicamente para desnortear o indivíduo deixando-o sem uma referência sólida. 

Bem, é aí que a porca torce rabo. A moralidade do brasileiro, de um modo geral, é superficial, limitando-se as suas preocupações imediatas e a picuinhas vergonhosas. Resumindo a opereta, tornamo-nos uma sociedade onde os adultos portam-se como crianças mimadas que se magoam facilmente com qualquer olhar que lhes pareça hostil. Impressionamo-nos facilmente para não termos de compreender nada.

Sim, sei que isso faz parte da vida, mas jamais deve ser sua totalidade.

Outra coluna é a liberdade de expressão e o livre acesso à informação. Liberdade para dizer o que os seus olhos estão vendo e não apenas o que alguns querem que seja visto. Liberdade de informar e de informar-se sobre as questões que estão sendo debatidas para que possamos, de maneira razoável, tomar uma decisão.

Quanto à liberdade expressão e o livre acesso à informação, sejamos francos, são piadas de mau gosto. De um lado temos a obstrução ao acesso a informações fundamentais seja através da atividade cínica da grande mídia ou do patrulhamento ideológico descarado que é realizado pelos sequazes das igrejinhas rubras (e doutras cores) do Butantã. Do outro temos a desídia canhestra que infecta e deforma a alma.

Por fim, pergunto: o que é a soma de muitos votos emitidos por almas desprovidas de boa-vontade e banhadas num simulacro de liberdade? É bem isso que você está vendo. É bem isso que eu e você fizemos.

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A família em busca da extinção


Por Olavo de Carvalho

A “família tradicional” que os cristãos e conservadores defendem ardorosamente contra o assédio feminista, gayzista, pansexualista etc., bem como contra a usurpação do pátrio poder pelo Estado, é essencialmente a família nuclear constituída de pai, mãe e filhos (poucos). O cinema consagrou essa imagem como símbolo vivente dos valores fundamentais da cultura americana, e a transmitiu a todos os países da órbita cultural dos EUA.

Mas esse modelo de família nada tem de tradicional. É um subproduto da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. A primeira desmantelou as culturas regionais e as unidades de trabalho familiar em que habilidades agrícolas ou artesanais se transmitiam de pai a filho ao longo das gerações; as famílias tradicionais desmembraram-se em pequenas unidades desarraigadas, que vieram para as cidades em busca de emprego. A Revolução Francesa completou o serviço, abolindo os laços tradicionais de lealdade territorial, familiar, pessoal e grupal e instaurando em lugar deles um novo sistema de liames legais e burocráticos em que a obrigação de cada indivíduo vai para o Estado em primeiro lugar e só secundariamente – por permissão do Estado – a seus familiares e amigos. A sociedade “natural”, formada ao longo dos séculos sem nenhum planejamento, por experiência e erro, foi enfim substituída pela sociedade planejada, racional-burocrática, em que os átomos humanos, amputados de qualquer ligação profunda de ordem pessoal e orgânica, só têm uns com os outros relações mecânicas fundadas nos regulamentos do Estado ou afinidades de superfície nascidas de encontros casuais nos ambientes de trabalho e lazer. Tal é a base e origem da moderna família nuclear.

Max Weber descreve esse processo como um capítulo essencial do “desencantamento do mundo”, em que a perda de um sentido maior da existência é mal compensada por sucedâneos ideológicos, pela indústria das diversões públicas e por uma “religião” cada vez mais despojada da sua função essencial de moldar a cultura como um todo. Nessas condições, assinala Weber, é natural que a busca de uma ligação com o sentido profundo da existência reflua para a intimidade de ambientes cada vez mais restritos, entre os quais, evidentemente, a família nuclear. Mas, na medida mesma em que esta é uma entidade jurídica altamente regulamentada e cada vez mais exposta às intrusões da autoridade estatal, ela deixa de ser aos poucos o abrigo ideal da intimidade e é substituída, nessa função, pelas relações extramatrimoniais.

Separada da proteção patriarcal, solta no espaço, dependente inteiramente da burocracia estatal que a esmaga, a família nuclear moderna é por sua estrutura mesma  uma entidade muito frágil, incapaz de resistir ao impacto das mudanças sociais aceleradas e a cada “crise de gerações” que as acompanha necessariamente. Longe de ser a morada dos valores tradicionais, ela é uma etapa de um processo histórico-social abrangente que vai em direção à total erradicação da autoridade familiar e à sua substituição pelo poder impessoal da burocracia. [continue lendo]

TERNEIRO

por Dartagnan da Silva Zanela

Ah! Meu terneiro, meu terneirinho,
Lembro-me de tua chegada,
De tão longe você veio
Tropicando nas patas,
Todo lambido e manhosinho.

Meu terneiro, meu terneirinho,
O tempo passou,
E algo, de fato, mudou.
Você foi crescendo,
Foi ficando folgado,
Espichadinho,
Eita bicho danado.

Ah! Meu terneiro, meu terneirinho,
Suas medidas aumentaram,
Você ficou gordinho,
Teu corpo, todo roliço
De tanto mamar deitado.
Por isso, bonitinho,
Desculpe a mão que te trata
Que agora diz: basta!

Meu terneiro, meu terneirinho,
Peço-te que não fique magoado,
Mas acho que oito anos de teta
Dezesseis de fino trato
Já está de bom grado.

Meu terneiro, meu terneirinho,
Não sei se você sabe,
Mas sua gula deixou o pasto ralo,
O ubre da vaca ficou fraco,
E o tratador, cansado.
Por isso, não reine,
Porque, neste ano novo,
A canga, boizinho, está no aguardo.

É meu terneiro, meu terneirinho,
Não berre, nem fique bravinho,
O desmame é à vontade do povo
Que se cansou de você
Com seus marotos pinotes,
Bicho folgadinho.

A canga é pesada terneiro, meu terneirinho,
Mas não mata nem apimenta as vistas.
Agora, você com essa sua fome canina,
Que até parece um chupa-cabra,
Pode acabar com a alegria de nossa cidade.
Por isso, o desmame é agora.
Basta!

Vai, vai-te embora
Meu terneiro, meu terneirinho,
Não olhe para traz...
Segue o teu caminho.

Reserva do Iguaçu, V/X/MMXII.


SABER (DES)RESPEITAR DEMOCRATICAMENTE


Escrevinhação n. 968, redigida em 02 de outubro de 2012, dia do Santo Anjo da Guarda.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Já ouviram falar da síndrome da Barbie perturbada? E a do Ken neurótico? Também não? Esse, meu caro, é um dos grandes males hodiernos. A tipologia é simples: o sujeito acredita piamente que pode fazer e dizer o que lhe der na telha, espalhar picuinhas, insultar pessoas com suas eructações verbais e ninguém pode, de jeito algum, cogitar algo em contrário.

Quando isso ocorre o bicho pega. Ficam bravinhos! Revoltados! Resmungam indignados que querem ser respeitados porque respeitam todo mundo. Bem, eis aí um claro sinal de psicose, não de senso de civilidade democrática. Quem nunca se deparou com tipos deste naipe? Confesse: quantas vezes você se portou deste modo?

A questão é que as vozes que muito reivindicam uma reparação para o tal do respeito ferido não sabem o significado deste devido a sua mórbida leviandade existencial. Veja bem, aquele que não sabe desprezar não sabe honrar. Não sabe honrar nem aos outros, nem a si próprio, muito menos a Deus, como nos ensina Johann Goethe. Ou, como diria Nietzsche, quem não sabe desprezar, não sabe respeitar.

Traduzindo: esse colóquio flácido de que tudo deve ser respeitado é de uma indignidade descomunal. Nivelar tudo num mesmo patamar demonstra uma incompreensão colossal de quais são os elementos estruturantes da realidade.

Eu, pessoalmente, tenho uma lista de coisas, atitudes e pessoas que desprezo com todas as forças de meu ser, porque tratar o indigno com reverência indevida é o caminho para corromper tudo que seja digno e bom. A compreensão disso, meu caro Watson, é algo fundamental para que não nos reduzamos a um nível bestial.

Da mesma forma que estes desprezam o tal do respeito, apesar de chorarem lágrimas retilíneas com essa palavra em seus lábios, também, em geral, ignoram o que seja uma democracia, palavra essa que eles evocam frequentemente para defender os seus hipotéticos brios afrontados. Tal fato seria cômico se não fosse trágico.

Pior! Tente explicar qualquer coisa que seja para esses indivíduos massificados e, curiosamente, mais uma vez, aparecerá o rosto de uma alma tão sensível quanto fútil que despreza as realidades mais elementares, as evidências mais gritantes, em nome de seu mundinho disforme que tem como centro uma vida turva e ignóbil dissimulada sob grossas camadas dum moralismo superficial maquiado com soluços forçados duma cidadanite histérica embebida num democratismo histriônico.

Por fim, enquanto não aprendermos a desprezar o que é desprezível, tanto na sociedade como em nós, nenhuma valia haverá em enchermos nossa boca para falar de respeito e democracia.

É por essas e outras tantas que a corrupção tornou-se tão banal em nossa sociedade que tem em seu corpo uma volumosa massa de pessoas extremamente sensíveis e reativas que nada refletem sobre seus valores, sobre as ações e, obviamente, pouco se importam com as consequências advindas destes. Por isso, elas “respeitam” tudo, menos o que  de fato deve ser respeitado.

Pax et bonum
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As democracias midiáticas

Por João Pereira Coutinho

O Brasil não existe para o jornalismo português. Exceto quando nasce um fenômeno midiático.

Se perguntarem a um português anônimo quem foi Fernando Henrique Cardoso (que passou recentemente por Lisboa, com pompa e circunstância) ou o que significa o julgamento do mensalão, o lusitano terá dificuldades sérias em juntar duas ideias sérias a respeito. "Lula", sim, acende umas luzes, e não apenas gastronômicas. "Dilma", coitada, volta a apagá-las.

Mas se falarem do palhaço Tiririca, o português anônimo rasga um sorriso de orelha a orelha e completa: "Pior do que está, não fica". Tiririca foi o último grande estadista brasileiro a cruzar o Atlântico.

Celso Russomanno pode ser o próximo. Leio jornais lusos. Assisto a reportagens da TV nativa. Russomanno está em todo lado, distribuindo beijos e abraços na corrida para a prefeitura de São Paulo. Há um padrão aqui: Tiririca e Russomanno são produtos de fácil exportação porque ambos são produtos da televisão.

Uma virtude? Longe disso. E os lusitanos deveriam saber, até por experiência própria, que a crise de Portugal também se explica por esse padrão: durante anos, os portugueses não votaram necessariamente nos melhores candidatos. Apenas nos candidatos que tinham maior sucesso midiático. Deu no que deu. [continue lendo]

Manifesto de repúdio a truculência política

Manifesto de repúdio a truculência política