Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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Comentário Radiofônico de 28 de fevereiro de 2012


Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

PARA NÃO DIZER QUE EU NÃO FALEI DAS CINZAS

Escrevinhação n. 935, redigido em 26 de fevereiro de 2012, dia de Santa Paula M. Fornés de São José de Calazans, de São Porfírio de Gaza e de Santo Alexandre do Egito.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Convertamo-nos e creiamos no Evangelho. Com um amém dito à essas palavras muitos Cristãos iniciam o tempo Quaresmal. Significativas palavras que apenas ganham plenitude na alma quando elas nos transfiguram.

Conversão, meu caro, não é transformação. Muito menos evolução, progresso ou revolução. É renovação. Renovar nosso viver para podermos ser laureados com a vida eterna. Para que isso ocorra é fundamental que atendamos as palavras de Nosso Senhor que nos diz (João XVII; 03) que devemos conhecer ao Pai, verdadeiro e único Deus, e a Jesus Cristo seu enviado.

Muito bem, mas como podemos conhecer ao Pai e bem como aceitar o Caminho que nos é apresentado pela Verdade que vivifica, se desdenhamos o que há em nosso coração? Pois é, mas este algo que desdenhamos move-nos a agir. E essas ações tornam-se nossos hábitos e, consequentemente, amoldam nosso caráter (Matheus VI; 21).

Por isso, creio que seja razoável perguntar como seria possível desejar conhecer a face de Deus sendo que esse querer não é o centro de nossa vida? Como seria possível afirmar que se ama a Deus se não desejamos conhecê-Lo? E, como conhecê-Lo se nem mesmo somos capazes de dizer perante o Seu olhar onisciente quem somos?

De mais a mais, como podemos realmente renovar a nossa vida se ignoramos o que deve ser extirpado e renovado em nossa pessoa? Perguntas simples que exigem uma resposta simples a ser proferida por almas confusas e complicadas como eu e você. Entretanto, se nos esquivamos deste soturno exercício de autoconhecimento, a palavra converter-se revela-se vazia como a nossa vida. Como o nosso coração.

Conhecer-se e lutar contra as sombras que habitam nosso íntimo é uma contínua peleja que deve ser travada no centro pulsante de nossa existência (Matheus X; 38-39). Isso é que afirmamos na quarta-feira de cinzas. Reconhecermos a nossa nulidade, encararmos nossa insignificância e renovarmos nossos votos de luta contra ela para nos libertar dela e assim, e somente assim, podermos realmente beber da fonte de Água Viva.

E assim, aceitando a realidade desta dura batalha interior, desta tensão, lutamos a boa pugna que dá vida as palavras “creio no Evangelho”. A boa nova celestial é loucura para o mundo e crê-la é reconhecer claramente essas mundanas sombras em nosso ser que gritam em nosso íntimo para negarmos o Verbo divino fracionando-o em partes de acordo com o nosso gosto. Negando, sorrateiramente, que seja feita a Vontade do Pai.

Por fim, meu caro, não há conversão vocal. Conversão é de coração. Negar essa realidade patente é idolatrar a imagem que fazemos de Deus em nosso âmago sem nunca ter desejado amar Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Pax et bonum
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Comentário Radiofônico de 27 de fevereiro de 2012


Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

Os Dez Mandamentos do Mundo

Segundo S. Luís Maria Grignion de Montfort

Estes são os Mandamentos do Mundo e seu Verdadeiro Significado

1º. Conhecer o mundo, isto é, estar a par das finezas amaneiradas do século e demonstrar esse conhecimento.

2º. Viver honestamente, isto é, contentar-se com aparências de honestidade.

3º. Realizar seus negócios, isto é, tomar o dinheiro por fim último da vida, sem o deixar transparecer.

4º. Conservar o que é seu, isto é, ignorar a caridade, sob pretexto de direito de propriedade, interesses de família, negócios, etc.

5º. Adiantar na vida, isto é, ter ambições, ousadias, conseguir sem mérito pessoal nenhum.

6º. Fazer amigos, isto é, não desdenhar relações de nenhuma espécie, ainda à custa da consciência, para obter os desejosos fins.

7º. Frequentar altas rodas, andar atrás das pessoas eminentes ou em evidência, a fim de brilhar ao menos com a auréola dos outros.

8º. Viver confortavelmente, isto é, ter boa mesa, com pretexto de conservar a saúde, manter as relações sociais, tratar de negócios, ou saborear coisas boas para glorificar o Criador.

9º. Não ser desmancha-prazeres, isto é, cultivar o bom humor mediante toda sorte de prazeres, mesmo culpáveis, embora seja preciso negligenciar os deveres do próprio estado.

10º. Evitar singularidades, isto é, rejeitar a piedade, religião, obras de caridade, todo o “exagero” das pessoas devotas.

Comentário Radiofônico de 24 de fevereiro de 2012


Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

A pedagogia do meretrício

Por José Maria e Silva

Polemista corajoso, dono de uma corrosiva ironia, o jornalista e escritor Benjamin Costallat (1897-1961) foi um dos mais apreciados cronistas de seu tempo, retratando a sociedade carioca com uma visão quase futurista, que, já nos anos 20, o fazia perceber a favela como uma “cidade dentro da cidade”, chamando a atenção para o apartheid carioca que continua a dar trabalho ao país. Em uma de suas crônicas, intitulada “Ins­trução?” e publicada no Jornal do Brasil em 3 de março de 1927, Costallat chama a atenção para o ensino público da então Capital Federal.

Como sugere a interrogação do título, tratava-se de uma crítica à “instrução pública”, como era chamado, na época, o emergente ensino público no país, em luta com a hegemonia católica na educação. Ainda faltavam cinco anos para que sociólogo Fernando Azevedo (1894-1974) liderasse o Manifesto da Escola Nova, que defendia a educação laica, com mais investimento na instrução pública. Em seu artigo, Benjamin Costallat descreve uma escola pública do Rio de Janeiro, em que as crianças conviviam com entulhos, animais, esgoto a céu aberto, “sem as mais elementares regras de higiene, na promiscuidade sórdida”, como afirma o autor.

Diante desse cenário de sordidez, Costallat clama pelo fechamento das escolas, afirmando que “melhor é ver aumentar o número de brasileiros analfabetos” do que ver “aumentar o número dos porcos brasileiros”. Hoje, passados 84 anos, o Brasil vive uma situação ainda mais trágica do que aquela descrita pelo jornalista carioca. As escolas deixaram de ser chiqueiros físicos – viraram pocilgas morais. Se no seu tempo, os alunos refocilavam na lama, hoje a escola lhes enodoa a alma. Já não se trata de escolher entre o analfabeto e o porquinho; se depender da criminosa pedagogia progressista, ou se fecham as escolas ou o país terá de escolher entre o analfabeto e o bandidinho – devidamente acompanhado da prostitutazinha. [continue lendo]

Comentário Radiofônico de 23 de fevereiro de 2012


Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

LENDO JORNAIS SEM AGRILHOAR-SE A ELES

Escrevinhação n. 934, redigido em 08 de fevereiro de 2012, dia de São Jerônimo Emiliano e Santa Josefina Bakhita.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Uma das sensações mais terrificantes que existe na atualidade é a de que estamos, supostamente, informados sobre tudo o que está ocorrendo sem nada entender do que está se passando. Ficamos, diariamente, antenados com os telejornais da manhã, da tarde e, porque não, com os das últimas horas da noite. Isso sem falar na assinatura de revistas semanais e de jornais diários. Tudo isso para nos manter informados sobre tudo e continuarmos sorumbaticamente sem compreender nada. Porém, fingido tudo saber.

Aliás, se nos permitirmos, por um instante que seja, sair deste vicioso círculo noticioso, iremos perceber que todo noticiário que se faz presente estrutura-se de modo similar a uma novela. De uma novela chula. Por isso, se estivermos dispostos, podemos fazer uma experiência. Tome uma folha em mãos e divida ela em colunas (para os telejornais) e linhas (para as manchetes e notícias diárias). Selecione, pelo menos, uns quatro telejornais e os acompanhe por uma semana não se esquecendo de anotar as principais notícias apresentadas diariamente por cada um deles. Chegando ao término da semana veremos que as principais notícias coincidem, nos vários telejornais, sempre nos apresentando mais um pouco do mesmo assunto.

Resumindo o coreto: desperdiçamos, diariamente, preciosas horas de nosso tempo agrilhoando-nos à ficção de estarmos plenamente informados sobre os acontecimentos mais importantes sem ao menos indagar sobre a real relevância destes, sem questionarmos os critérios que levaram essa ou aquela notícia ocupar um lugar de destaque em, praticamente, todos os jornais e, é claro, sem perguntar qual a importância disso tudo para nós.

Agindo assim, literalmente permitimos que estes nos digam o que devemos pensar e, deste modo, ocupem o oco tempo de nossas tolas conversas, independente da pose que cultivemos nestas horas. Conversas essas que, merecidamente, podem ser chamadas pela alcunha de papagaiescas, visto o fato de levianamente repetirmos aquilo que vimos, ouvimos ou lemos nos noticiários.

Talvez, penso eu, seria muito mais proveitoso ocupar parte deste tempo lendo notícias velhas, manchetes de dez ou quinze anos passados para podermos vislumbrar o desencadear dos acontecimentos até os dias hodiernos e vermos o quanto que a obsessão pelo imediato nos tolhe a inteligência.

Com toda certeza, as amareladas folhas de um jornal não nos deixarão “plenamente informados”, porém, poderão dar-nos uma compreensão mais lúcida dos acontecimentos presentes à luz das notícias esquecidas.

Pax et bonum
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Comentário Radiofônico de 22 de fevereiro de 2012


Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

Parresía: Teólogos da corte

Por Padre Paulo Ricardo

Quando foi que a Igreja Católica deixou de ser, no Brasil, a instância profética que questiona? Em que momento ela foi seduzida e tornou-se uma Igreja composta por teólogos da corte — aqueles que compõe o séquito do novo Príncipe, o Partido dos Trabalhadores? Quando foi que ela deixou de ser defender a fé católica e passou a aceitar e a justificar as atitudes do Príncipe? Para onde foi a Igreja Católica do Brasil?

O católico verdadeiro não pode apoiar um governo que não tem ética cristã, que não tem o pudor de promover todo tipo de imoralidade que visa destruir a família, a moral cristã e a herança patrimonial cristã sobre a qual foi construída a nação brasileira. Os teólogos da corte que não temem mais o juízo de Deus, pois deixaram de crer há muito tempo, mas devem temer o julgamento da História, esta sim, irá julgá-las com severidade e, quiçá, condená-los. Afinal, eles buscam retirar do mundo a transcendência.

O único sentimento que o silêncio vil e a covardia produz nos verdadeiros católicos é a vergonha. Vergonha desses teólogos da corte!


Aparelhos do Estado paralelo

por José Maria e Silva

A corrupção tem sido uma constante na história do Brasil. Desde as capitanias here­ditárias que a promiscuidade entre público e privado vem marcando a vida nacional. Entretanto, como não poderia deixar de ser, as formas da corrupção se transformam com o tempo, acompanhando as mudanças dos costumes e a evolução tecnológica. E uma das novas formas de desvio de dinheiro público já não se dá nas frinchas e, sim, nas franjas da máquina estatal. Ou seja, naquela nebulosa social a que se dá o nome de “organizações não governamentais”.

Prova disso é o verdadeiro caso de polícia em que se tornou o Ministério do Esporte. Cerca de três anos antes das atuais denúncias da “Veja” (que devem custar o cargo do ministro Orlando Silva), a própria revista já havia levantado suspeitas de desvio de recursos no Ministério dos Esportes. E, há oito meses, o jornal “O Estado de S. Paulo” fez uma reportagem investigativa sobre irregularidades na pasta de Orlando Silva, apresentando fortes indícios de corrupção que já deveriam ter custado a cabeça do ex-dirigente da UNE, caso a faxina da presidente Dilma Rousseff fosse mesmo para valer.

Publicada em 19 de fevereiro deste ano, a reportagem, assinada pelo jornalista Leandro Colon, mostrou que o programa Segundo Tempo, menina dos olhos do Ministério do Esporte, estava marcado por entidades de fachada e núcleos esportivos fantasmas. As entidades encarregadas de desenvolver o programa, em sua maioria, eram organizações não governamentais ligadas ao PC do B. E, somente no ano de 2010, elas foram beneficiadas com cerca de R$ 30 milhões.

A reportagem do “Estadão” percorreu os Estados de Goiás, Piauí, São Paulo e Santa Catarina, além do Distrito Federal, e desmontou os pilares do programa Segundo Tempo, que era apresentado pelo Ministério do Esporte como um programa de “inclusão social” — como se esporte para pobre não fosse quase sempre uma imersão na vadiagem. Mas isso é assunto para outro artigo. Agora, quero apenas chamar a atenção para a matéria-prima da corrupção no Ministério do Esporte — as organizações não governamentais. [continue lendo]

A POLÍCIA INDEFESA

Por Luiz Felipe Pondé para Folha de São Paulo

A POLÍCIA é uma das classes que sofrem maior injustiça por parte da sociedade. Lançamos sobre ela a suspeita de ser um parente próximo dos bandidos. Isso é tão errado quanto julgar negros inferiores pela cor ou gays doentes pela sua orientação sexual.

Não, não estou negando todo tipo de mazela que afeta a polícia nem fazendo apologia da repressão como pensará o caro inteligentinho de plantão. Aliás, proponho que hoje ele vá brincar no parque, leve preferivelmente um livro do fanático Foucault para a caixa de areia.

Partilho do mal-estar típico quando na presença de policiais devido ao monopólio legítimo da violência que eles possuem. Um sentimento de opressão marca nossa relação com a polícia. Mas aqui devemos ir além do senso comum.

Acompanhamos a agonia da Bahia e sua greve da Polícia Militar, que corre o risco de se alastrar por outros Estados. Sem dúvida, o governador da Bahia tem razão ao dizer que a liderança do movimento se excedeu. A polícia não pode agir dessa forma (fazer reféns, fechar o centro administrativo). [continue lendo]

Comentário Radiofônico de 17 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.


Entrevista - Otto Maria Carpeaux (junho de 1976)

Entrevista conduzida por Sebastião Uchoa Leite (SUL) e Luiz Costa Lima (LCL), publicada no revista “José” (RJ), nº 1, junho de 1976, de onde foi extraída.

* * *

Veio da Áustria em 1939, fugido da bota nazista que invadia a terra de Mozart. Seus conhecimentos enciclopédicos sobre literatura, artes, filosofia, política abriram-lhe as portas das letras e do jornalismo brasileiro, destacando-se neste pela sua atuação vigorosa como cronista político. Hoje, 37 anos depois da sua chegada, só não dizemos que é um monumento porque ele os detesta. Acompanhado por D. Helena, Carpeaux nos faz entrar, a seus dois ex-companheiros de jornadas enciclopédicas, no apartamento simples e despojado como os seus habitantes. Vamos tentar arrancar um pouco do que ele pensa da literatura e outras coisas. [continue lendo]

Entrevista - Otto Maria Carpeaux (28/05/1949)

Entrevista conduzida por Homero Senna e publicada na Revista do Globo, nº 483, de 28/05/1949 e republicada em seu livro Republica das letras. 3ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

Apresentação:

O aparecimento, há alguns anos, de Otto Maria Carpeaux no jornalismo carioca despertou viva curiosidade. Apresentado em grande estilo, por Álvaro Lins, num rodapé do Correio da Manhã, como um scholar que muita coisa nos poderia ensinar e que, apesar de sua recente mudança para o Brasil, já estava quase em condições de escrever seus artigos diretamente em português, todo mundo quis ler e conhecer o ensaísta austríaco que escolhera o Brasil para exilar-se, depois dos tristes acontecimentos que se desenrolam em sua pátria.

E - como quase sempre acontece - não demorou que, a propósito do novo crítico, que a anexação da Áustria à Alemanha fez emigrar para o Brasil, se formassem correntes distintas. Seus artigos passaram a ser lidos então com maior interesse ainda, tanto pelos fãs como pelos que estavam ansiosos de jogar alguma água naquela fervura de citações, de idéias e nomes novos.

Depois vieram os livros, veio o processo de naturalização, e Carpeaux - que conhece hoje, melhor do que muitos, a literatura brasileira - passou a ser um elemento dessa literatura, encontradiço nas rodas literárias do Rio e – com impressionante assiduidade - nas páginas dos Suplementos.

Seus artigos, escritos de início em francês, logo passaram a ser redigidos diretamente em português, língua conforme nos confessou - já consegue pensar. E é inegável que, do ponto de vista da correção da linguagem, escreve melhor do que muita gente nossa. Nisso teve grande seu amigo Aurélio Buarque de Holanda, que o tirou de várias entaladelas e aos poucos lhe foi apontando os escolhos que era preciso evitar, nas águas nem sempre límpidas desta chamada "última flor do Lácio". [continue lendo]

Comentário Radiofônico de 16 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.


Comentário Radiofônico de 15 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM.

FORJADOS PELAS MÃOS DE CRONOS

Escrevinhação n. 933, redigido em 06 de fevereiro de 2012, dia de São Paulo Miki e companheiros, de São Gastão, de Santa Dorotéia e dos Bem-aventurados Afonso Maria Fusco e Francisco Spinelli.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Somos o uso que fazemos do tempo. Ponto. Discursos pomposos entoados para disfarçar o seu mau uso, não passam de autopiedade disfarçada e todas essas plumas e paetês retóricos, quando confrontados com os usos e abusos feitos revelam toda a sordidez hipócrita que há em nós.

De longa data, Gabriel Tarde, grande sociólogo contemporâneo de Durkheim, nos chama a atenção para a tônica das conversas cotidianas que, em regra, são permeadas por assuntos presentes nos ofícios dos interlocutores e, quando esses referiam-se a outros temas, sempre o fazem analogamente às lides de seu trabalho, reduzindo a complexidade da realidade a pequenez de suas vidas cotidianas como se o mundo devesse ser tão pacóvio quanto a sua estulta compreensão.

Esse fenômeno, de reduzir a complexidade do real à escala do cotidiano, na sociedade hodierna agrava-se de maneira significativa frente a presença atávica da programação televisiva na vida dos indivíduos que tem o seu horizonte de consciência puerizado com os simulacros da realidade que hoje incrementam formidavelmente as vazias conversas cotidianas com o que há de mais banal e fútil que possa ser expresso e comunicado pela degradada alma humana.

Deste modo, em um misto de colóquios sobre os plúmbeos ares de nosso labor com comentários apatetados a respeito dos mais variados espetáculos que nos são exibidos pela telinha encantada, temos o nosso tempo ocupado com as imagens que alentam a nossa alma e que muito bem refletem aquilo que somos em nossa íntima solidão. Por mais que disfarcemos, por mais que procuremos macaquear ares de uma superioridade inexistente, essa baixeza faz-se revelar nas entrelinhas da máscara discursiva que utilizamos para nos esconder de nós mesmos.

Ocultação não de nossos pares que, diga-se de passagem, são tão ocos quanto o reflexo que nos assombra no espelho todas as manhã, mas sim, para nos esconder de nós mesmos, acreditando na mentira que contamos para todos.

Cá entre nós, todos estamos cônscios deste quadro, porém, não queremos reconhecer a presença disso em nós. É muitíssimo mais cômodo projetarmos esse mal em outrem, em entidades abstratas, e continuarmos em nossa cotidiana mediocridade do que realmente ocuparmos nosso tempo de maneira condizente com a dignidade que é inerente à pessoa humana e que tão vivamente insistimos em desprezar com o mau uso que fazemos do nosso tão precioso tempo.

Pax et bonum
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Comentário Radiofônico de 14 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM.


A civilização do prazer

Por Gustavo Corção

Qualquer pessoa medianamente dotada e ainda não dopada pelo imperativo de um otimismo que é julgado hoje virtude máxima, e máxima lucidez, qualquer pessoa, em suma, que ainda não esteja possessa pelo Sistema, já percebeu que vive dentro de uma decomposição civilizacional cuja característica principal é a de um furioso hedonismo. Todos querem sentir, o minuto que passa, a golfada de ar que respira, a curva que faz a sessenta ou oitenta quilômetros numa rua movimentada. A fisionomia da juventude em tal clima é curiosamente apática, em contradição com o frenesi das reações, e quase se pode garantir que nunca houve em toda a história do mundo uma humanidade tão destituída de gosto e de prazer. Este paradoxo é aliás a bem conhecida contradição moral do prazer: o primeiro de seus malogros é a perda do prazer. Seria, porém, um engano tirar daí uma conclusão tranqüilizadora firmada na suposição de que tal malogro corrigirá o extraviado. Ao contrário, exaspera-o.

De onde vem esse extravio moral. Em cada indivíduo a moléstia procede de pequenas e primárias opções subversivas em que, por uma antiga dolência, essa alma volta sua preferência para as coisas exteriores e inferiores; e, deixando-se dominar, torna-se depressa escravo delas. A conquista das coisas inferiores nos afaga ao mesmo tempo o orgulho e a concupiscência, ao contrário do alcance das coisas do alto que nos aprimoram a humanidade e o gosto da sabedoria. O praticante da moral do prazer se torna grosseiro, embotado, às vezes enganosamente aprimorado na conquista de tais bens, e inevitavelmente, como já vimos, se torna exigente de doses maiores, de prazeres mais violentos. [continue lendo]

Comentário Radiofônico de 13 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.


Liberdade e Responsabilidade

(Conferência proferida em Madrid, em 22-4-98, como parte do curso, no qual o conhecido filósofo analisou a perspectiva cristã, isto é, o modo como, independentemente da fé, o cristianismo informou a visão de mundo característica do Ocidente. Trad. e edição: L. Jean Lauand)

Julián Marías

Hoje vamos falar de uma questão, ou melhor, de duas questões interligadas importantes: liberdade e responsabilidade.

Há, no caso, um fato interessante: no cristianismo, a palavra liberdade aparece muitas vezes. E, em muitas ocasiões, aparece unida a outra, que é mais freqüente ainda: a palavra verdade. Aletheia, verdade, no texto grego do Novo Testamento, aparece muitas vezes ligada a eleutheria ou a seus derivados. Há, portanto, uma conexão sumamente importante: recordemos aquele texto capital do Evangelho de São João - "a verdade vos fará livres" - em que "verdade" e "liberdade" aparecem juntas de um modo central.

Penso que o problema da liberdade é absolutamente decisivo: não somente para a filosofia cristã, mas para o cristianismo e em geral. Dentro do cristianismo, é uma clave para muitas questões que, de outro modo, não se tornam claras. Não se esqueçam de que - neste curso - estamos tentando ver até que ponto a chave para a interpretação do cristianismo é a interpretação pessoal: o homem é pessoa!. Esta é a grande descoberta, para a qual tenho empregado uma fórmula: "uma descoberta que não tem sido amplamente pensada, mas que tem sido vivida". Pois é certo que no pensamento cristão, nem sempre tem aparecido a idéia de pessoa e nem sempre tem recebido o devido relevo, mas o cristão, sim, se entende, plenamente, como pessoa. E é justamente na medida em que se vive como pessoa que se pode entender a visão cristã. Não esqueçamos que o conceito de Trindade, que é essencial no cristianismo, consiste precisamente em uma interpretação pessoal de Deus, tão pessoal que é tri-pessoal; isto é: há relações pessoais até dentro da divindade, há uma vida divina que tem uma característica intrinsecamente pessoal. E isto é de capital importância. [continue lendo]

Comentário Radiofônico de 10 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

A Crise do Simbolismo Religioso

Por Jean Borella

Há mais de trezentos anos, certo pensamento filosófico, no afã de realizar a missão de que, no seu próprio entender, foi investido pela ciência, guerreia contra a alma religiosa da humanidade. O lugar próprio e objeto desse combate é o campo do simbolismo sagrado, pois a religião só pode ser compreendida através das formas (sensíveis e intelectuais) que a exprimem e fazem existir culturalmente. Desencadeando esse conflito, a filosofia queria única e simplesmente purificar a razão humana, quer dizer, restituí-la em seu estado natural despojando-a de todas as impurezas acumuladas pela ignorância e pela superstição. Todavia, à medida que se desenvolvia essa vasta crítica da razão religiosa, impunha-se a obrigação, não somente de combatê-la, mas também de explicar seu surgimento na história humana. Erguendo-se contra a religião, a razão não tardaria a perceber que seu inimigo residia em si mesma, no segredo da consciência humana. Ela tentou extirpá-lo, tentativa que, em trezentos anos, conduziu a crítica filosófica à rejeição até da razão pura, destituída de sua pretensão hegemônica, e portanto a uma espécie de suicídio especulativo de que o pós-estruturalismo dá hoje espetáculo: a alma religiosa morrendo arrasta consigo a alma racional. [continue lendo]

Comentário Radiofônico de 09 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

Comentário Radiofônico de 08 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

ENQUADRAR-SE À REGRA PARA FUGIR À REGRA

Escrevinhação n. 932, redigido em 06 de fevereiro de 2012, dia de São Paulo Miki e companheiros, de São Gastão, de Santa Dorotéia e dos Bem-aventurados Afonso Maria Fusco e Francisco Spinelli.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Mas que barbaridade! Outro ano letivo teve início. Fazer o que? Motivo de júbilo para uns, conformidade para outros tantos e, para um montão, um flagelo tartáreo teve início. Mas, é claro que iremos fingir, na medida do possível, que todos estão sedentos por aprender. E fingir, meu caro Watson, na sociedade brasileira, como todos sabemos, é fundamental. Conhecer, nem sempre. Amar o conhecimento, literalmente, dispensável.

Não defendo essa moralidade calhorda. Creio que tal constatação seja um óbvio ululante. Todavia, não podemos fechar os olhos para essa atávica realidade. Não tão só para a sua presença daninha em nossa sociedade, mas também, e principalmente, reconhecermos o quão profundas são suas raízes em nossa alma, que nos corroem entranhas à dentro, tolhendo nossa vontade e minando nosso caráter.

Por essa razão simples, venho por meio deste modesto libelo de minha cáustica lavra apontar alguns elementos que julgo fundamentais para o desenvolvimento de um satisfatório desempenho nos estudos que, se for de seu agrado, podem ser chamados de conselhos.

Primeiro de tudo, você é o responsável pelo seu aprendizado e ninguém mais, porque ele é fruto da atenção que você dedica aos ensinadores, sejam eles livros, vídeos ou professores. Todo ensinador pode apenas lhe informar sobre isso ou aquilo, porém, no que tange ao aprendizado, isso dependerá de onde o seu coração estará centrado.

Sim, um ensinador pode lhe motivar a querer conhecer mais sobre algo, entretanto, procurar atrelar a força impulsionadora do conhecer a um impulso externo, não deixa de ser uma atitude deveras estulta. Falando o português bem claro: ficar sempre esperando que alguém lhe dê um tapinha nas costas e lhe diga o quanto que você é legal é coisa de criancinha. E, em todas as faixas etárias, infelizmente, tais criancinhas, abundam em nossa sociedade.

Segundo ponto: nunca espere que os outros façam algo por sua pessoa que nem mesmo você está disposto a fazer por você. Aliás, é ridículo! É uma demonstração atroz de covardia moral responsabilizar os outros pela não obtenção de um bem (conhecimento) que você mesmo rejeitou. Tal covardia é similar ao enfermo que deseja culpar um médico pela ineficácia do tratamento que ele não seguiu. Aliás, é de arrepiar o quanto que essa moral de covardes infecta os ares destas paragens brasílicas.

Outros pontos poderiam ser destacados por nossa pena, porém, julgamos que esses são o arquimédico ponto para firmarmos nosso passo se, naturalmente, tivermos uma boa dose de vergonha na cara e, sinceramente, desejarmos aprender e, com isso, crescer em espírito e verdade.

Todo o resto, meu caro, não passa de colóquio flácido.

Pax et bonum
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Comentário Radiofônico de 07 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

A Tensão entre Ordem e Liberdade na Universidade

Por Russel Kirk

As universidades foram fundadas para sustentar a fé pela razão – e para manter a ordem na alma e na sociedade. Minha própria universidade, St. Andrews, foi fundada no século XV pelo Inquisidor Escocês de Corrupção Herética para resistir aos erros dos lollardos [1], os igualitários daquela época. O ensino das primeiras universidades tanto ordem quanto liberdade ao intelecto; e não havia paradoxo algum, pois ordem e liberdade existem necessariamente em uma tensão saudável.

Mas em nossos dias, como em vários tempos passados, muitas universidades perderam qualquer entendimento claro tanto de liberdade, quanto de ordem, intelectualmente falando. Assim sendo, parece justo revisar aqui o relacionamento entre ordem e liberdade, e o papel de uma universidade em manter a tensão entre os dois.

Primeiro, permitam-me algumas observações acerca da conexão entre fé, ordem e liberdade, todas as quais estão entremeadas nos estudos universitários. Em gerações recentes, muitos professores falharam e apreender essa conexão. Comecemos com o popular, porém vago termo “liberdade”. [leia mais]

Comentário Radiofônico de 06 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

REGRAS DA VIDA CRISTÃ - Sto. Afonso de Ligório

Regras de Vida Cristã - Sto. Afonso de Ligório

Comentário Radiofônico de 02 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.

O PAÍS DAS LATINHAS

Escrevinhação n. 931, redigido em 31 de janeiro de 2012, dia de São João Bosco, São Pedro Nolasco e de São Francisco Saveiro Maria Bianchi.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Monteiro Lobato, esse aquilatado homem que dedicou sua vida às letras e ao Brasil, disse certa feita em entrevista concedida a Celestino Silveira, que nosso país em muito lembra a estorinha da tribo africana que cultuava latinhas. Diz-nos ele que nesta tribo, após a partida de um grupelho de ingleses, ficaram espalhadas pela tribo latas de toda ordem, desde latas de sardinha até algumas de caviar.

Porém, os nativos achavam aquelas latinhas a coisa mais linda do mundo e passara a se ornar com elas. O Chefe usava a maior. Os seus “chagados” meia-dúzia, os guerreiros umas três, o xamã e seus familiares quatro e o restante da tribo nenhuma.

Bem, tais latinhas esvaziadas de conteúdo e de beleza duvidosa seriam equivalentes análogos aos nossos títulos e diplomas. Existem inúmeras latinhas que são cobiçadas em nossa sociedade. Naturalmente, umas são mais vistosas que outras, porém, o conteúdo é sempre o mesmo: o vazio macambúzio da alma brasileira que visceralmente é avessa ao estudo, irascivelmente arredia ao devotado amor à procura pelo conhecimento.

O desprezo que o brasileiro têm pelo saber é tamanho que, nestas paragens, o ato de ler é visto apenas como uma obrigação que deverá ser cumprida sob risco de punição. Fora deste contexto, dizer a alguém (mancebo, adulto ou geronte) que ele poderia ler esse ou aquele livro soa aos ouvidos da turba brasilis como um insulto imperdoável. No entendimento médio dos diplomados desta pátria afirmar que a leitura é um elemento inerente a permanente formação do caráter de um sujeito não passa de um exibicionismo e que não há nem a mais mórbida necessidade de se debruçar sobre laudas e laudas escritas.

Não precisam, imaginam, por crerem que, como vou dizer, eles são seres dionisicamente iluminados e que tudo compreendem sem nada saber. Basta que afirmem, e que um punhado de doutos estultos como eles confirmem, suas levianas palavras para que se sintam acima da razão ao mesmo tempo em que abdicam do exercício dela.

Por isso, se me perguntassem qual seria a grande chaga de nossa sociedade, sem pestanejar, responderia que seriam duas as bestas que devoram nosso país. A primeira é essa ignorância presunçosa que se esconde por meio de títulos e diplomas que lhe permitem uma relativa ascensão social ao mesmo tempo em que estabiliza uma vertiginosa depreciação do caráter de seu portador. Em decorrência disso, temos a inveja, que destrói tudo aquilo que estes sintam que os humilhe com sua presença, por revelar-lhes o quão pífia é essa existência rodeada de distintas latinhas.

Enfim, faz-me rir quando ouço essas almas sebosas falarem de suas excelsas futilidades como se elas fossem medalhas de elevada distinção. Eis aí, por fim, a vergonha que ninguém quer assumir.

Pax et bonum
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Comentário Radiofônico de 01 de fevereiro de 2012

Comentário realizado por Dartagnan da Silva Zanela para o programa CONVERSA AO PÉ DO RÁDIO, transmitido pela rádio Cultura AM/FM de Guarapuava.