Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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DA VERGONHA AO TERROR



Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

O ESCRITOR ISRAELENSE Amos Oz, certa feita, quando fora perguntado sobre os procedimentos que adota para escrever, disse que mantém em sua mesa duas canetas. Uma azul e outra preta. A azul ele utiliza quando quer escrever algo agradável e a preta pra xingar o governo. Ou seria o contrário? Bem, imagino que a ordem das canetas, nesse caso, não altera a lambança. De mais a mais, não é disso, exatamente, que pretendo escrevinhar. Ou seria? Vamos ver.

O “X” da questão, no ato de escrevinhar qualquer coisinha para que outras pessoas deitem suas vistas, não é, em meu ver, o impulso pra bajular ou a inclinação para insultar. Pode parecer estranho o que afirmo, mas, como reza o dito popular, a malícia não está tanto na boca – ou na pena – mas sim e principalmente no ouvido – e, nesse caso, no zóio de quem lê.

Em se falando nisso, ocorre-me o que fora declarado pelo escritor goiano José J. Veiga, sobre seus livros. Segundo ele, suas obras eram escritas com o intento de desassossegar. Incomodar ao ponto de retirar o leitor de sua zona (zona?) de conforto.

Batata! Esse é o ponto. Desassossegar é preciso. Autoajuda não é preciso. Auto justificação ideológica - que não passa dum tipo vulgar de autoajuda – também é dispensável.

Se pensarmos o ato de ler através da linha de raciocínio indicada pelo autor do “Os Cavalinhos de Platiplanto”, uma escrevinhada deveria então servir para abalar os alicerces de nosso comodismo cognitivo e, consequentemente, existencial.

Todos nós, cada um ao seu modo, tem lá os seus cômodos alicerces, suas referências, comodamente acolhidas numa certa época da vida, que nos permitem interpretar toda e qualquer coisa com meia dúzia de cacoetes mentais que, por sua vez, acabam nos dando aquela sensação única de que estamos montados na tal da razão, apesar de não termos colocado as suas luzes em movimento. E, tais luzes, encontram-se, muitas vezes, imóveis. Para agitá-las seria necessário um ato de vontade para banir o sossego e, para tanto, na maioria dos casos, seria preciso uma provocação externa à nossa alma.

Vichi! Agora complicou o meio de campo.

Calma! Calma! Não criemos pânico! Pra melhor ilustrar o que estou tentando chamar a atenção, permitam-me fazer uma confissão. Uma confissão um tanto vergonhosa, mas, creio eu, esclarecedora.

Em meados da década de noventa do milénio passado, iniciei minha segunda graduação – a primeira não vingou. Bicho vadio.

Bem, na primeira semana de aula teve toda aquela apresentação do curso, do corpo docente e blábláblá. Aquela motivação de praxe de toda graduação. Fiquei fascinado, encantado, como todo calouro e - como era uma formação em humanas - é claro que já na primeira semana, disse pra mim mesmo: “sou marxista”.

Veja só: o tongo não disse para si que seria um marxista, que se tornaria um, mas que já era um, porque a primeira referência, para os tontos, é a que fica.

Naquela ocasião não havia lido uma linha sequer do barbudo colecionador de furúnculos e já me considerava um comuninha. E por quê? Porque queria estar com toda aquela galera, ser como eles, ser aprovado e aceito por imaginar que isso tornar-me-ia mais sabido. Pelos menos, no meu imaginário juvenil, tinha a impressão de que pareceria mais sabido que os demais mortais.

Pois é. Após isso fui pegar meu ônibus para retornar pro meu rancho e, logo que entrei no dito cujo é claro que o moleque barbudinho disse faceiro da vida: “eu sou marxista” (como se alguém estivesse interessado em saber).

Sim, disse isso e, como Deus é bom, havia uma senhora no primeiro acento que, ao ouvir essa bobagem de minha parte, disse-me a sentença que jamais esqueci.

Disse ela: “Que marxista o que piá? Ocê nem sabe quem é Marx”.

Eu, bravinho, retruquei: e você sabe?

Ela sabia. Mais ou menos. Mas sabia. Ela me deu uma lição brutal. Tão brutal que fiquei bem quietinho e fui pro meu canto pra matutar com o desassossego que me atropelou e que, cuja pancada, humildemente acolhi. Quer dizer, nem tão humilde assim. Mas acolhi. Graças a Deus.

Depois desse carão, obviamente, passei a estudar zelosamente o dito cujo evangelho segundo Marx e seus sequazes e, acredito que, com o tempo, acabei aprendendo algumas coisinhas sobre o assunto.

Dois anos depois, encontrei-me com a referida senhora e, perguntei se ela se lembrava de sua fala. Claro que não. Lembrei-a do fato e lhe agradeci. Disse-lhe o quanto aquilo foi importante pra mim. Agradeci pela intranquilidade gerada em minha alma que, de certa forma, até os dias atuais, me acompanha em tudo o que faço.

Tal inquietude lembra-me o que fora dito pelo filósofo polonês Leszek Kolakowski, em seu livro “Horror Metafísico”. Esse nos parla que todos nós deveríamos, de vez em quando, abrir a nossa alma para a real possibilidade de sermos uma grande farsa. Uma farsa existencial, gestada numa vida que jamais foi devidamente examinada.

É muito comum vermos pessoas que constroem suas carreiras (como se isso fosse todo o sentido de uma vida) sobre bases que nunca receberam o necessário e indispensável exame e, passado alguns anos, vê-se que parte de nós encontra-se umbilicalmente atrelada a um amontoado de tranqueiras ocas mimosamente chamadas de “ideias críticas” ou qualquer epíteto ideológico do gênero.

Talvez, o que muitas vezes nos falte, seja aquilo que de certa maneira foi sugerido a mim por essa senhora no século passado que, ao seu modo, lembra-nos as palavras de José J. Veiga, indicadas no início dessa carta, que, do seu modo, resume-se na pergunta: onde pretendemos chegar com tudo isso? Aliás, que realmente seria esse trem que recebe tanto afeto de nossa parte? É. Verdade seja dita: nem todos tiveram a sorte que eu tive.

Sorte ou sei lá o que. Quem sabe? Não sei.

Sei apenas que no seu livro “Prefácios e entrevistas”, Monteiro Lobato havia dito do seu jeitão duas coisinhas que, imagino, vão de encontro com o que procuramos apresentar até aqui. Nesse livro ele nos conta um causo mais ou menos assim: certa feita numa tribo de aborígenes, após a partida duma missão europeia, ficaram esparramadas pelas redondezas inúmeras latinhas de comida vazias. Latinhas essas que a galera começou a utilizar para se enfeitar. Ostentar. E, é claro, que umas davam mais status que outras perante a patota. Ocorreram inclusive algumas pelejas pra disputar certas latas que eram consideradas mais imponentes que outras, mesmo que fossem apenas latinhas vazias. 

Bem, após contar esse causo, o taturana conclui: esse é o problema do Brasil. Latinhas. Sim, mas nossas latinhas seriam, segundo ele, os diplomas que, já na década de quarenta (ou trinta?) em grande parte não passavam de papéis pintados de valor substancial duvidoso, ostentados por todos como um tolo símbolo de distinção, de modo similar às personagens de seu causo com suas latinhas toscas.

E, de modo análogo ao que anteriormente indicamos, muitíssimas vezes criamos uma relação afetiva com ideias que absorvemos em tenra idade; noutras tantas, ocultamo-nos de nossa mediocridade fundamental com um ou mais títulos ou diplomas porque simplesmente nos aterrorizamos com a possibilidade de não sermos as pessoas lindas e fofas que imaginamos ser.

Nos apavoramos com a ideia de sermos uma grande farsa feita por nós para nós mesmos.

“Ah! Esse papo bravo não é comigo não veio. Tenho ojeriza desse blábláblá filosófico”. 

Tudo bem. Tudo certo. Mas lembre-se que a diferença do sábio para o tonto, segundo o filósofo colombiano Nicolás Gómez Dávila, é que o primeiro luta para não ser um idiota e, o segundo, contenta-se em apenas não parecer um e, se esse for o caso, a cor da caneta não infroi nem contriboi para o desfecho que pode ser dado, por nós mesmos, a nossa porca vida.

Fim. Hora do café.

(*) Apenas um bebedor de café.

A SOMBRA DO REI BARBUDO


“Não é a religião, mas sim a revolução o ópio do povo”. 
(Simone Weil)

CERTA FEITA, O ESCRITOR José J. Veiga, autor do livro “A hora dos ruminantes”, havia dito, numa entrevista, que o escritor não deve escrever os livros que quer, mas sim, aqueles que precisam ser escritos.

Uma sentença simples que, penso eu, nos leva a considerações bem interessantes. Não apenas sobre o ofício de escrevinhar, mas também sobre todas as atividades humanas. Essas palavras nos convidam a volver as vistas e mover nossas energias para aquilo que, de fato, precisa ser realizado; não apenas e unicamente para as coisas que desejamos ver feitas.

Por isso, deixo de lado aquilo que gostaria de assuntar, para voltar minha lapiseira na direção doutros traços que me parecem mais urgentes.

Em dezembro de 2015, o senador petista Paulo Paim - por quem tenho um grande respeito apesar das inumeráveis discordâncias que possuo com relação às suas posições políticas – havia declarado numa entrevista para as páginas amarelas da revista “Oia” (como chamamos a Veja aqui no Paraná) que “é triste ver que o sonho acabou. Ver aonde chegamos. Infelizmente, o PT hoje é um partido como todos os outros que sempre criticamos”.

Pois é. E aí está uma de minhas discordâncias com o nobre parlamentar. Discordância essa que, no contexto atual, seria interessante elucidar para aqueles que, como eu, não se sentem confortáveis com o uso de viseiras ideológicas, pouco importando se essas estejam voltadas para a destra ou à sinistra.

Dito isso, vamos ao ponto do conto. O partido dos trabalhadores continua sendo um partido de natureza diversa dos demais e, por isso, ele consegue ser muito mais danoso. Explico-me.

Diferente dos demais, porque ele, junto com seus partidos acessórios, é o único que nutre um culto à personalidade duma liderança política, similar ao que tivemos e temos nas organizações e estados de índole totalitária.

Não apenas isso. Lembremos que em sua fundação, a referida agremiação partidária adotava uma estratégia leninista e, no correr da década de 80 para a década de 90, gradualmente, passou a adotar uma estratégia gramsciana.

Duma ou doutra forma, esse partido tinha e tem um projeto de tomada do poder. Um projeto de inspiração e orientação marxista. Isso, em grosseiros traços, significa que o objetivo maior presente nesse programa político que, por ora, está se esfacelando, seria a tomada total do Estado e da sociedade, por meios lentos e mais ou menos sutis. Sutis, ao menos, perante os olhares distraídos do grande público.

E é aí que a porca torce o rabo. Perante o grande público eles vendiam a imagem do impoluto partido da ética. Lembram-se? Pois é. Mas, ao mesmo tempo em que se vendia essa imagem na década de 90, que atraía a simpatia de muitos, já se iniciava os primeiros experimentos – na prefeitura de Santo André, por exemplo - de governança do atraso rumo à tomada total do poder. Aliás, pouco antes de Lula tomar posse do seu primeiro mandato, FHC havia lhe dito que seria ele, Luiz Inácio, que agora teria de comandar o atraso.

Nesse sentido, vale a máxima de Mao Tsé Tung, que reza que pouco importa que o gato seja branco ou preto, o que interessa é que o bichano coma o rato.

Parêntese. Fernando Henrique - conforme as palavras do próprio Lula - foi um dos articuladores da criação do partido que hoje praticamente tornou-se uma capelinha do ídolo de barro. Não precisaria nem dizer, mas direi: o presidente sociólogo era e é um profundo conhecedor da estratégia gramsciana. Mas isso é prosa pra outro causo. Fecha parêntese.

E ao assumirem o comando do atraso, esses não tinham por intento, tão só e simplesmente, de realizar por meios escusos algo que valha, como as reformas que são adiadas ad infinitum em nosso triste país, mas sim, comandou-se o atraso - as velhas raposas fisiológicas e felpudas - para se perpetuarem na maquinaria estatal ou, se preferirem, para instrumentalizar definitivamente os clãs políticos para a realização dos seus objetivos totalitários. Para dominar de vez o dito cujo do “mecanismo”.

Sobre isso, certa feita Rui Barbosa havia dito que, tipos assim, como o luliano e seus sequazes, seriam tão somente “déspotas de curta vista”. Gente que ignora a incapacidade profissional dos parasitas que fazem da incompetência a mais preciosa qualidade, que se associam à baixeza, ao fanatismo e à brutalidade. Nesse cenário, os melhores seriam aqueles perdulários de sinecuras, conscientes da injustiça que os mantém facilmente nas entranhas estatais reduzindo-os à condição de irresponsáveis instrumentos da tirania que os alicia.

Pois é, pois é, pois é. Poderia ele, no comando do atraso, ter promovido algo significativo e que realmente fosse do interesse da sociedade. Poderia; porém, preferiu antes realizar algo que fosse imprescindível para a efetivação da agenda do seu partido e, consequentemente, do Foro de São Paulo.

Ou seja: o partido dos trabalhadores, hoje, é o mesmo de ontem. A diferença é que no momento as suas vestes discursivas estão rotas, num estado que não mais são capazes de encobrir as suas vergonhas. E que vergonhas. O partido está nu e o pior de tudo que não foi a inocência duma criança que constatou e denunciou isso.

Por essas e outras, que no imaginário dos grandes mandatários dessa agremiação política, todos os seus atos estavam acima de qualquer suspeita. Vejam só: eles não eram, e não são, reles políticos fisiológicos que apenas almejam parasitar as úberes estatais para simplesmente satisfazer sua sanha pecuniária. Não. Eles creem, candidamente, que tudo o que foi feito era justificável frente aos objetivos que eles diziam para si mesmos querer alcançar. Só que não.

Resumindo o entrevero: no seu entendimento, os fins justificavam os meios, desde que sejam os seus fins; e que isso fique bem claro. Aliás, diga-se de passagem, um dos melhores intérpretes de Maquiavel foi o caipora do Antonio Gramsci.

Não apenas os barões esquerdistas pensavam assim. A militância miúda também pensa de modo similar. Um bom exemplo disso, que agora me vem a memória, é uma declaração, tão infeliz quanto sincera, que fora feita por um professor militante que afirmava enfaticamente que o grande erro de Lula e do PT foi não ter doutrinado o povo para que esse aprendesse a ser grato por tudo o que foi feito pelo Sinhô Dotô de São Bernardo. É mole ou quer mais? Tem mais sim senhor!

A raia miúda fala em doutrinação em massa e o grande timoneiro barbudo arrepende-se de não ter realizado o tal do “controle social da mídia”. E, no frigir dos ovos, o que isso significa? Significa que se perdermos a liberdade de expressão nós não iremos ficar sabendo como e de que modo perderemos as nossas outras liberdades. Só isso.

Outro parêntese. Quando a militância fica repetindo aquele discurso de auto justificação - propagandístico, chato e oco - que afirma que a grande parte da sociedade brasileira, que repudia Lula e as ideias que ele encarna, rejeita-o porquê não gosta de ver pobre andar de avião, de ver pobre na faculdade e blábláblá, fico cá com meus botões a matutar: será que os abençoadinhos imaginam mesmo que essas pessoas, como eu, seriam encarnações do deputado Justo Veríssimo, a personagem de Chico Anísio, que odiava pobres? Ao que tudo indica é o que parece. Sim, sei que isso é patético. Sei disso. Mas não sou eu que fico repetindo isso aos quatro ventos não. Fecha-se esse outro parêntese.

Sim, o leitor tem todo o direito de bufar, se desejar, com essas linhas mal escritas. Tem mesmo. E respeito isso. É seu direito.

Aliás, tanto respeito que sugiro que o mesmo, se assim o quiser, siga as orientações do cientista político Angelo Panebianco e, por conta própria, rastreie a gênese de um partido político. No caso, do partido da estrelinha cadente. Diz-nos ele que, para tanto, devemos: (i) identificar o ponto de partida e o estímulo fundamental de sua organização; (ii) qual é o peso dos elementos externos, como outras organizações e o carisma de certos indivíduos, sobre ela; (iii) como essa organização procura se consolidar; (iv) quais são as lealdades existentes (interna e externamente), quais os conflitos internos ao partido e (v) como é feita a incorporação de militantes, quadros e lideranças.

Tais critérios, penso eu, já dão um bom pano pra manga.

Se desejar, pode ainda complementar os critérios acima indicados com esses que nos são recomendados pelo cientista político Giovanni Sartori, que para identificar a natureza de um partido devemos procurar saber: (i) qual é a imagem pública apresentada por ele; (ii) quais são as deliberações internas do mesmo; (iii) quais são suas conexões externas - dentro e fora do país; (iv) qual a orientação ideológica do partido.

Enfim, junte as dicas do Panebianco com os macetes do Sartori e, com um pouco de boa vontade e sinceridade intelectual, identificará o DNA totalitário do petismo. Sim, dá algum trabalho, mas, ao final, pode crer que será algo muito gratificante.

Enfim, por essas e outras que sou franco em dizer que as realizações socialistas - trágicas em seus resultados e, ao mesmo tempo, cômicas em suas tentativas de justificação – não são o que mais me assusta não. O que realmente me causa calafrios – hum... calafrios – são os sonhos socialistas e, por isso, ao contrário do nobre senador Paulo Paim, não lamento não o fato de suas aspirações políticas terem naufragado por hora. Nem um pouco.

E digo mais: decaídos por hora. É, meu caro. Não sou tolo ao ponto de subestimar a capacidade comunista de se reinventar para retornar, a todo vapor, para sua peleja totalitária pelo poder.

Nunca duvide, como dizia o saudoso escritor Janer Cristaldo, do que os órfãos de Deus encharcados de ideologia são capazes de fazer. Nunca duvide da capacidade que a intelectuária militante tem pra defender uma tremenda cagada histórica. E põe histórica nisso.

E paremos já com esse papo bravo porque já está na hora de tomarmos um café. Fim de causo.

(*) Apenas um bebedor de café.

O CAMINHO...

A experiência concreta da fé
Alumia o candeeiro da razão
Orienta o prumo da vontade
À morada Daquele que é.

SALVEM A SANTA MISSA


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

Penso eu que seria mui interessante se os “padres de passeata”, como os chamava Nelson Rodrigues, ao invés de ficarem se implicando com a venda de bebidas alcoólicas em quermesses paroquiais, com cigarros sendo fumados pelos transeuntes, arrancando os cabelos por causa da prisão de vosso senhor Luiz Inácio Lula da Silva, enfim, seria muitíssimo interessante se eles abandonassem toda essa “criatividade selvagem”, conforme nos admoesta Dom Armando Bucciol, e começassem, religiosamente, a zelar pela Liturgia, a ensinar o Catecismo da Igreja Católica Apostólica Romana e a pregar Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo divino encarnado e, definitivamente, largassem mão dessas pregações politicamente corretas, que apenas enfatizam credos ideológicos mundanos em prejuízo dos tesouros da Fé.

(*) Apenas um bebedor de café.

DIPLOMA

Por Dartagnan da Silva Zanela

Diploma, por definição, atesta
Que um punhado de diplomados
Acolhem com pompa e festa
Mais um reles mortal, apartado
Dos demais membros do humano ramo
Que algo sabem sem precisar do indulto
Dum reles papel colorido e assinado
Por um maço de diplomados.

O LIVRO DA PROFESSORA


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

GOSTO DE LER. MAIS QUE ISSO. Gosto muito de conhecer.

Toda vez que visito um lugar, uma cidade, a primeira coisa que procuro é a biblioteca pública para aprecia-la e dar uma olhadela nos títulos que ela guarda.

Em segundo lugar, naturalmente, procuro ver se há uma livraria na mesma, de preferência de livros usados.

É mais do que óbvio que, com uma frequência indesejável, na maioria das cidades que visito, acabo não encontrando biblioteca alguma e, muito menos, um sebo ou livraria. Fazer o quê? Faz parte da vida.

Mas, graças a Deus, toda vez que vou pra Guarapuava me deleito nos dois sebos da cidade. Ambos muito bons. Detalhe: que eles ficam bem próximos um do outro.

Nesse semana que passou, na sexta-feira (13) - com o horário apertado, como sempre - consegui dar uma passada apenas num deles, o que já foi suficiente para que eu tivesse uma grada surpresa. Três, na verdade.

Dentre os títulos que adquiri - bons livros, diga-se de passagem - haviam três que pertenceram a uma professora que me deu aula na década de noventa na minha segunda graduação (a primeira não terminei).

Lá estavam eles, com a assinatura dela, datadas de 1986, 1991 e 1993. Um da autoria Arnald Toynbee, outro de John Lukacs e o terceiro de Georges Lefevre.

Ao descobrir isso, quando cheguei em casa e, intimamente, revivi algumas de suas aulas que a tanto tempo me foram ministradas e, pensei, cá com os meus botões: Como o tempo passou e, cá estou, com os livros que um dia pertenceram a ela que tanto me ensinou. E ela, onde estará? O que estará fazendo? Não sei. Mas, onde e como estiver, que Deus esteja com ela.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.

O PERIGOSO TERRENO DA GALHOFA


DE FATO E DE VEZ o Brasil descambou para o perigoso terreno da galhofa. Não são poucos os que estão mudando de nome, motivados pelos últimos acontecimentos que divertiram a nossa triste república. Uns, de agora em diante, querem ser chamados de Fulano Lula das Quantas. Outros dizem que, de hoje em diante, respondem pelo nome de Beltrano Moro das Tantas. Bem, se é pra avacalhar de vez - e eu não me privo de uma boa gozação - daqui pra frente, respondo apenas pela alcunha de DARTAGNAN CHUCK NORRIS DA SILVA ZANELA. É isso. E tenho dito.

DISNEY LULA TERMINOU



Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

TODO MUNDO VIU A OPERETA bufa que foi encenada no sindicato dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo. Opereta apresentada com o inapropriado nome de Missa em memória da finada senhora do estulto astuto. Até meus cães – os fiéis amigos do Darta - acompanharam comigo, bem de perto, o espetáculo decadente do companheiro supremo do partido da estrela cadente e, tal qual esse que agora escreve, não entenderam nada do que estava acontecendo.

Deixando a minha amada cachorrada de lado, porque os coitados não têm culpa de nada, como todos viram – e viram, imagino, o mesmo que eu vi – creio que não há muito que dizer sobre o assunto. Por isso, nessa escrevinhada restrinjo-me a expor, brevemente, através dessas minguadas linhas, somente algumas impressões que o showzinho/missa/cerimônia/comício, que lançou oficialmente a pedra angular da seita do Lulismo decadente dos aloprados dos últimos dias, causou em mim.

Primeiro: a imagem da galerinha toda reunida, ensandecida, lá, por horas, plantada naquele solão da moléstia, gritando em uma só e potente voz: “Eu sou Lula! Eu sou Lula! Eu sou Lula!” Carambolas! Quando ouvi isso, enquanto lavava a louça do almoço, no mesmo instante rememorei algumas cenas da série The walking dead. Não da zumbizada, mas sim, das cenas onde os correligionários da gangue dos “Salvadores” eram interpelados pelo grupo dos sobreviventes liderados por Rick Grimes. Cenas onde os “Salvadores” diziam, laconicamente: “Eu sou Negan”. Semelhança tamanha só pode ser mera coincidência, não é mesmo?

Enfim, essa foi apenas uma impressão da parte duma pessoa desalmada como esse que agora vos escrevinha. Só isso e nada mais.

Na verdade não. Tem mais. A segunda refere-se ao discurso do messias de São Bernardo. Ah! Foi um negócio muito, mas muito caricato mesmo. Uma tosca colcha de retalhos, muito da sem vergonha, feita com pedacinhos retirados de alguns discursos célebres que, ditas no tom megalomaníaco de Lula, ganharam um ar deprimente.

Parêntese. Não sei se era a intenção dos organizares fazer com que tais alusões fossem percebidas. Não sei. Sei apenas que eu e meus cães percebemos. Fecha Parêntese.

Havia uma alusão ao discurso “I Have a Dream” - Eu Tenho um Sonho – do reverendo Martin Luther King Jr., onde Lula, do seu jeito, dizia que sonhou, sonhou e sonhou e que agora não sonha mais por causa da “zelite” que não gosta do povo e, por isso, não gosta dele.

Havia também alguns retalhos que faziam menção à Carta Testamento de Getúlio Vargas, onde o padrasto dos pobres dizia que ele estaria sempre com o povo, junto ao povo, entre o povo, no coração do povo e blábláblá.

Ah! E também, tínhamos uns caquinhos que faziam menção à história em quadrinhos “V de Vingança”, um clássico, da autoria de Alan Moore e David Lloyd que virou filme. Um belo filme, diga-se de passagem. Quando o Supremo dos supremos dizia que não era mais um homem, mas sim uma ideia, ele, penso eu, imaginava ser o “V”. É. Olha só as ideia dele.

Sim, já sei. Ficou muito feio mesmo. Muito tosco. Um ridículo quase original. Quase. Mas, como dizem os tongos, há quem curta essas coisas e as ache lindas. Não há? Sempre há.

Uma terceira impressão que tive do discurso oficial de fundação da nova seita foi a grande semelhança dum momento da cerimônia de unção do Lula – o salvador do povo perseguido pelo diabedo dos coxinhas - com a cena final do documentário nazista “O triunfo da Vontade” (1934) de Leni Riefenstahl.

Quando a galera rubra, enlouquecida, gritava “Lula é a gente! Lula Presidente! Lula é a gente! Lula Presidente!” Lembrei-me da declaração feita por Rudolf Hess, em Nuremberg, ao final sexto Congresso do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores da Alemanha, documentado na referida película, onde o mesmo dizia: “Hitler é a Alemanha e a Alemanha é Hitler”. E aí, após isso, a galera nazi foi ao delírio, de modo similar ao séquito da seita supracitada.

Impressões à parte, uma coisa é certa: o partido e, em especial, seu grande timoneiro, revelaram sua verdadeira face para todos aqueles que desejarem ver e, naturalmente, forem dotados dum bom estômago pra tanto (de minha parte não tenho problema com isso não).

E vejam que não precisava ter sido desse jeito não. Não mesmo. Sempre disse aos meus amigos, quando tocávamos no assunto fecal do quadro político da última década e meia, algo que agora lhes conto: se desde o princípio o ex-presidente tivesse, humildemente, colaborado com a justiça, se apresentado voluntariamente para Política Federal, agido de modo altivo, reconhecido os malfeitos e colocando-se apenas como um cidadão que, como todo cidadão, deve estar abaixo da lei e que acataria a decisão do judiciário, dando uma de João sem braço, afirmando que ele não imaginava que tudo isso estivesse acontecendo tão próximo dele, mas que, como havia sido o supremo mandatário do país, ele assumiria plenamente a responsabilidade pelo ocorrido.

Se ele tivesse procedido mais ou menos assim, com toda certeza a narrativa da história seria bem diferente. Mesmo que ele fosse condenado, a sua história seria de arrependimento e redenção, um exemplo edificante para toda a nação e, sejamos francos, todos gostam de uma história assim.

Detalhe: se assim tivesse ocorrido, bem provavelmente ele teria salvo sua biografia e, de quebra, refundado o seu partido.

Porém, ele não agiu assim. Quando o cabra é soberbo é phoda. Não tem jeito nem cura.

O poder o cegou e revelou toda a insanidade do projeto totalitário de poder que ele representa. Insanidade essa que me levou a pensar noutra analogia cinematográfica. Agora com o filme “A Queda” (2004). Filme esse que narrou os últimos momentos de Hitler. 

Lá estava ele, o carinha do penteadinho e bigode ridículos, comandando tropas que não mais existiam, manobrando batalhões que foram dizimados, traçando planos num cenário inexistente, dando ordens para oficiais que não mais acatavam suas ordens, enfim, o cabra fazia tudo isso sem se flagrar que estava apenas cercado por meia dúzia de fanáticos e por um tanto de bajuladores.

Bem, saindo do filme para a tragicômica missa/comício/Show, lá estava ele, Luiz Inácio - o Barba, imaginando ser o filho do Brasil, o pai de todos, o fura bolo e o mata piolhos, cercado por um punhado de militantes aluados, crendo que eles seriam a expressão máxima e total da sociedade brasileira, traçando planos em um cenário que apenas existe na sua cabeça e na imaginação dos fiéis devotos de sua capelinha do Butantã.

Nos dois casos, cada um ao seu modo, vemos figuras mitificadas por intelectuais, militantes e pela mídia em um processo degradante de desmitificação. Processo esse que, por sua deixa, nos leva a ver com clareza a insanidade desnuda presente nos dois momentos. A loucura das duas personagens reveladas de vereda em seus melancólicos finais.

Enfim, analogias e impressões a parte, esse foi um espetáculo grotesco e deprimente do princípio ao fim que ele, Lula, e seus asseclas não precisavam ter feito e que a história brasileira poderia ter sido poupada. Pois é, mas não foi.

Disney Lula acabou? Não sei. Nunca duvido da capacidade nacional de adorar ideologias furadas e de cultuar farsas retumbantes, mesmo depois que elas foram desmascaradas. Aqui, nessa terra de botocudos, tudo é possível, principalmente o pior.

Fazer o quê? O jeito é tomar um café.

(*) Apenas um caipira bebedor de café. 

OUTRAS NOTAS VADIAS


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

BEM LEMBRADO, POR YURI VIEIRA, a velha lição de Napoleão Bonaparte que nos aconselha a jamais interrompermos os nossos inimigos quando eles estão cometendo um erro. Principalmente se for um baita dum erro.

(ii)
“LULA É A GENTE! LULA Presidente”. Caramba. Ouvindo isso lembrei-me da cena final do filme/documentário nazista “O triunfo da Vontade” (1934) de Leni Riefenstahl, onde Rudolf Hess dizia: “Hitler é a Alemanha e a Alemanha é Hitler”.

(iii)
E EIS QUE NOSSAS INSTITUIÇÕES mostram para toda a nação o quão flácida é a sua substância, ao mesmo tempo em que Lula apresenta, em meio a histeria coletiva, prontamente orquestrada, a sua verdadeira face.

(iv)
O QUE FALTOU, EM MATÉRIA de determinação, da parte das autoridades, sobrou em ousadia da parte dos fiéis da seita da estrela cadente.

(v)
SÃO BERNARDO, 07 DE DEZEMBRO DE 2019. Lula disse, via twitter, que irá se entregar somente depois que assistir o último episódio da segunda temporada da série “O Mecanismo”. Não adianta insistir não companheiro. Por favor, sejam democráticos e respeitem a sua soberana decisão do Companheiro Supremo.

(vi)
NO BRASIL, FALAR DE POLÍTICA, é uma melancólica e enfadonha diversão onde a gente ri e faz chacota pra não chorar.

(vii)
ZOEIRAS A PARTE, DE NOVO, mais uma vez, voltaram a pipocar os pedidos mimosos para exclusão de amizades virtuais nas redes sociais por causa dum sentimento idolátrico tosco nutrido por algumas pessoas por um ídolo de barro duma seita ideológica totalitária. De boas, vamos parar com isso e nos emendar. Primeiro, uma amizade que seja menor que isso, não é e nunca foi uma amizade. Segundo, chantagem emocional é um trem muito feio, feio por demais, principalmente entre pessoas adultas. Ponto. E tenho dito.

(*) Apenas um bebedor de café.

NOTINHAS E TWITTERS VADIOS


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

NÃO NOS ESQUEÇAMOS QUE O projeto totalitário de poder do PT está desmoronando por acaso. Por pura sorte. Essa é a triste verdade. Mesmo assim, ainda bem que estamos afortunados. E tem outra. É importantíssimo que não mais abusemos da tal da sorte não.

(ii)
LULA ARMOU UM CIRCO PARA, mais uma vez, nos fazer de palhaço e acumular mais um fiasco em sua história.

(iii)
LÍDERES DE VALOR jamais se escondem atrás de seus correligionários, jamais sacrificariam os seus pra livrar o seu.

(iv)
A DIGNIDADE DE DETERMINADOS cargos públicos investe qualquer um com certa aura de excelência, inclusive as excrecências elegíveis.

(v)
PALAVRAS OCAS e vazias/ Ditas por almas vadias/ Ontem, hoje, todo dia.

(vi)
LEMBREI-ME, AGORA, DUMA passagem de Nelson Rodrigues - salve engano da peça “O Beijo no asfalto” – onde o mesmo lembra-nos da obviedade das obviedades. No Brasil, quem investiga e resolve os crimes é a impressa. Bem ou mal é a impressa. Por isso a liberdade de expressão assusta tanto a cambada totalitária. E como assusta.

(vii)
PRA COMPLETAR O ESPETÁCULO, Lula e seus sequazes montam uma missa/comício/comédia profana para, definitivamente, fundar a seita do Lulismo dos dementes dos últimos dias.

(viii)
“EU SOU LULA”. EIS A FRASE QUE passou a ser bradada pelos devotos da seita Lulista dos dementes dos últimos dias após o término da cerimônia/missa/comício/comédia. Ao ouvir e ver isso, confesso: tive a clara impressão de que estava assistindo um episódio da série “The walking dead” onde os membros da gangue dos “Salvadores” repetem, pateticamente, “eu sou Negan”.

(ix)
A REGRA É CLARA: QUANDO você faz uma gentileza para um cafajeste de carteirinha ele irá, sem pestanejar, retribuir com uma baita safadeza, sem sentir remorso ou vergonha.

(x)
OBVIEDADE DAS OBVIEDADES: qualquer figurão que diz que irá “controlar a mídia” para poder fazer o bem, a justiça e blábláblá, está mostrando, sem querer querendo, e a quem quiser ver, a sua torpe face totalitária babando de vontade de censurar, censurar e censurar todos aqueles que não rezam de acordo com a sua aloprada cartilha ideológica.

(xi)
OS CAIPORAS PINTAM E BORDAM perante todos, tripudiam e escarnecem diante das mais patentes e ululantes obviedades e, se qualquer um ousar expressar a mais mínima estranheza, ou indignação, diante de tamanho e grotesco espetáculo de insanidade ideológica, mais do que depressa aparece um e outro aloprado politicamente correto dizendo: “Discurso de ódio! Discurso de ódio”! Discurso de ódio é o caramba. É apenas nojo. Só isso. Nojo.

(xii)
“POR BAIXO DESSA CARNE existe um ideal. E as ideias nunca morrem”. Essa é uma passagem da história em quadrinhos, clássica, da autoria de Alan Moore e David Lloyd. “V de vingança”. Agora, ao que tudo indica, teremos uma versão brazuca, toda nossa. “L de lambança”.

(xiii)
SIM, TODO HOMEM, CADA um ao seu modo, representam uma ideia. Isso não é um privilégio de poucos não. A encrenca, o dito cujo do problema, são as ideias que cada um de nós representa.

(xiv)
TRISTE É A TURBA que adora, de corpo e alma, um ídolo de barro que encarna uma ideologia política decadente.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.

DE CORAÇÃO É QUE SE APRENDE



Por Dartagnan da Silva Zanela (*)


NÃO DIGO QUE AS IDEIAS MOVEM o mundo. Não. Mas creio que não exista dúvida alguma quanto ao fato de que as caiporentas das ideias justificam - cada uma ao seu modo - as nossas ações. Todas elas. Cônscios ou não disso, lá estão elas, as abençoadinhas, com suas sedutoras silhuetas eidéticas. Sempre.

Sejam ideias lindas ou feinhas, perfumadas ou fétidas, boas ou diabolicamente boazinhas, lá estão elas de mãos dadas com nossas escolhas para lhes dar aquela forcinha indispensável para podermos nos olhar no espelho e não nos envergonharmos, tanto, de nossos feitos e malfeitos.

Sim, muitas das vezes não compreendemos claramente o que aquela frase de efeito, grudada em nossos lábios, e disparada nas ocasiões que julgamos convenientes, querem dizer, mas elas nos são úteis para nos convencermos de que supostamente temos razão.

Resumindo: o que nos interessa, em nosso cinismo fundamental, é que as ideias apenas cumpram razoavelmente bem a função de comprovante esfarrapado da suposta legitimidade de nossa atuação nesse vão teatro de sombras que é a sociedade contemporânea. Só isso. E o resto é resto.

Um exemplo ilustrativo e providencial desse tipo de oportunismo oco, em meu ver, é aquela frase maledicente, repetida tantas vezes, aqui, ali e acolá, por todos, numa e noutra ocasião, que diz: “a gente não têm que decorar as coisas. Não. Nada de decoreba. Isso é bobagem. O importante mesmo é a gente entender. Isso é o que vale. Isso é o que realmente interessa”. Eita frasezinha maldita.

Quando ouço isso, pouco importando de qual direção o trambolho venha, fico pra lá de ressabiado. E te digo a razão da minha precavida maldade. Para tanto, vamos por partes.

Primeiro: o que significa, exatamente, decorar? Eis questão lazaretica que esse capiau ousa levantar nesses modernosos tempos digitais que preferem o brilho tosco duma tela de celular, cutucada por dedos desavisados, do que a luz vivificante da memória. Pois te digo: é saber de coração. Cordis. Ou, como se diz, saber de memória e, quando assimilamos algo a ela, estamos integrando esse novo saber em nossa personalidade. Por isso os escolásticos diziam que quanto mais eu sei, mais eu sou.

Sim, sei que essa observação é lacônica, mas, a partir dela, pensemos algumas coisinhas. Se, em um dado momento de nossa vida, não tivéssemos aprendido de cor o tal do alfabeto e decorado um punhado de palavras - vocábulos com seus respectivos significados que integram o vernáculo da nossa maltratada língua – e um maço de regras, como poderíamos estar, agora, lendo essa birosca? Será que bastaria entender o alfabeto para sabermos ler e escrever razoavelmente? Não seria engraçado, esquisito mesmo, termos que pesquisar no google cada letra, cada palavra para sabermos como se escreve qualquer coisinha? Aliás, como faríamos isso, uma pesquisa no google, sem um coeficiente mínimo de decoreba?

Vejam só como são as coisas. Pare e pense em tudo aquilo que sabemos fazer - desde falar, andar de bicicleta e, inclusive e por que não, montar uma reflexão e participar de uma discussão – e verá que sabemos fazer isso e aquilo porque incorporamos em nossa personalidade uma gama significativa de saberes que, espontaneamente, utilizamos quando os mesmos tornam-se necessários.

E, quando não estão sendo utilizados, ficam silentes e latentes em nós.

Qualquer um que tenha praticado uma arte marcial, ou saiba tocar um instrumento musical, ou que seja um enxadrista inveterado, sabe muito bem do que estamos falando. Aprender qualquer uma dessas artes é, em princípio, assimilar mecanicamente uma série infindável de movimentos e conceitos que, pela repetição, acabam tornando-se parte de nós, ao ponto de combinarmos eles com tal espontaneidade que, sem querer querendo, acabamos por criar algo que poderíamos chamar de estilo pessoal.

Detalhe: não existe esse trem de entender uma arte marcial, o xadrez ou um instrumento musical. Ou você os conhece, confundindo-se e fundindo-se com eles, ou você não sabe nada dos Paranauê. E não adianta fazer beicinho que, na real, é assim mesmo que a banda da vida toca.

Parêntese. Lembremos que aprender algo não é sinônimo de sabermos repetir o que os nossos iguais repetem e que, de certa forma, acaba pegando bem e parecendo legal, mas sim e fundamentalmente, aprender qualquer coisa que valha é conhecer algo que, muitas das vezes, não irá interessar aos que estão em nosso em torno. Aliás, repetir o que todos dizem, até onde sei, seria tão somente o tal do chavão, do senso comum, da doxa e tutti quanti. Fecha o parêntese. 

Se esses exemplos acima expostos não lhe convenceram, me permitam mais um. Obrigado.

Vamos supor que pretendemos aprender uma língua estrangeira. Imaginemos que nesse aprendizado não teremos que aprender de cordis, mas somente entender a língua do nosso jeitão crítico. Já pensou que curioso seria? Imagine se, por exemplo, apenas entendêssemos o idioma alemão. Isso iria nos habilitar para termos uma conversa com nativos da Alemanha? Será que o jeito que entendemos a língua deles corresponderá necessariamente a realidade da mesma? Pois é.

Quando começamos a matutar sobre essa ideia permissiva que tomou conta da educação brasileira acabamos por compreender porque há décadas estamos amargando resultados, no mínimo, aterradores nos testes internacionais. aterradoras para qualquer pessoa com um mínimo de bom senso. É claro.

Não que não possamos construir um entendimento diverso sobre isso ou aquilo. Não é nada disso. Podemos construir o entendimento que quisermos sobre o que bem entendermos desde que, primeiro, tenhamos absorvido e integrado esse algo ao nosso horizonte de consciência. Podemos ter a opinião que quisermos sobre qualquer coisa desde que saibamos o que seja essa tal coisa. Se não tomamos essa premissa como base, o que acabamos tendo em nosso horizonte, no frigir dos ovos, é apenas a assimilação do nosso supervalorizado entendimento sobre algo que, necessariamente, ignoramos; que simplesmente não conhecemos.
E tem outra coisa que, agora, me ocorre e, em tempo, registro aqui nessas turvas linhas. Além de promovermos um desperdício descomunal de energias e esforços humanos em ações fadadas a um retumbante fracasso, por estarem fundadas nesse tipo de ideia tosca, nós também acabamos por introjetar outro baita autoengano na gurizada.

Nesse sentido, a educação ao invés de tornar-se uma ferramenta para nos arrancar da miudeza de nossa subjetividade, acaba se tornando um instrumento para nos agrilhoar de maneira insana a pequenez a nossa ignorância autocomplacente.

Como diria Chesterton, o que diferencia um louco de um sábio é que o segundo amplia sua cabeça para abarcar o mundo; já o primeiro lavora pra reduzir o mundo para que esse caiba em sua caichola.

Resumindo: é essa insanidade que está subjacente a essa ideia simplória de que o que importa é entender, e que decorar, que a decoreba, seria uma coisa retrógrada e blábláblá. Ideia essa que, acima de tudo, faz chacota e pouco caso do esforço individual para melhor elogiar a desídia cognitiva daqueles que sorriem por ver que muitos estão ficando encalhados no mesmo nível de mendacidade que eles.

Fim de causo. Não preciso nem dizer, não é mesmo? Hora de voltar para o meu café.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.

COM QUANTAS CHORUMELAS SE FAZ UMA GAMELA?


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)


O MUNDO ANDA MUITO CHATO. Chato e sem galochas. Tão chato que uma piada é tida na conta dum discurso de ódio. Não que não existam piadas de mau gosto contadas por cafajestes de quinta. Não. Mas isso, para meus padrões caipirescos, está muito longe de ser um discurso de ódio.

Bem, não é à toa que ultimamente tudo anda tão sem vida e sem graça nessas terras cabralinas onde toda palavra dita - e bem como cada flatulência solta - acaba sendo (in)devidamente patrulhada pelos indiscretos e totalitários olhares politicamente correto.

De mais a mais, se formos utilizar os devidos pesos, junto com as apropriadas medidas, do velho bom senso, poderemos constatar que, o tal discurso de ódio, no frigir dos ovos, nada mais seria do que qualquer coisa que as alminhas do bem considerem odioso pelo simples fato de ser dito e lhes causado, como direi, desgosto.

Mas isso não me impede de rir. Gosto de rir. Rir de tudo. Inclusive e principalmente de mim. Carrego comigo, em meu bolso furado, o conselho luminoso que nos vem do tinteiro de Ariano Suassuna que, dizia-nos, que quem gosta de tristeza é o diabo. Por isso rio, sempre, sem medo de escandalizar os pobres diabos com seu bom-mocismo engajado. Opa. Perdoem-me. Dei uma divagada.

Bem, apesar da chatura reinante, a gente se diverte as pampas, com essa criticidade elevada à enésima potência que toma conta das mentes mui bem pensantes e esclarecidas. Não tem como não rir quando o ridículo é elevado a categoria de bandeira ética e causa política. E, como nos dita o brocardo popular, é sempre melhor rir que chorar.

Mas não é de choro, nem de riso que desejo escrevinhar. O ponto dessa causo é a língua de pau e seus serviçais. Isso mesmo. Ocorreu-me algo que, sinceramente, até o momento não havia pensado. Quem nos chamou a atenção para isso foi o escritor português João Pereira Coutinho que, certa feita, numa de suas escrevinhadas, havia afirmado o mesmo que, nesse momento, estou a escrevinhar, porém e obviamente, com uma elegância, e com um estilo, que nunca irei alcançar. Sim, me bobeei e divaguei de novo.

Carambolas! Não seria possível pensar, imagino eu, a atuação de escritores irônicos, satíricos e sulfurosos como Ramalho Ortigão, Eça de Queiroz, Machado de Assis, Agripino Grieco e tutti quanti nas páginas impressas e digitais dos dias atuais. Páginas essas formatadas de fio a pavio com aquela afetação de bom-mocismo de ocasião que é exigida pelas áureas alminhas que habitam olimpo diplomado e politicamente correto.

Creio, francamente e com certa tristeza, que a existência de figuras assim seria algo pouquíssimo provável. E se habitassem entre nós, bem provavelmente, eles seriam um escândalo só.

Já pararam pra imaginar o que esses homens, de pena e tinteiro cáusticos, escreveriam sobre a sociedade brasileira atual? Como suas letras cítricas e cínicas seriam recebidas e lidas pelos olhos da galerinha do bem? É. Dá até medo de imaginar. Dá nada.

Eu, pessoalmente, às vezes fico a matutar o que Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz, se brasileiros e vivos fossem, escreveriam a respeito de nós, e sobre o momento atual, em suas FARPAS mensais. Mas divago. Divaguei mais uma vez, mas agora parei.

A questão que chama minha atenção é o quanto que o policiamento fomentado pelo politicamente correto asfixia a espontaneidade humana. Tudo, para ser dito, deve ser devidamente medido pelo artificialismo desse vocabulário oco de ocasião que arroga tomar o lugar do bom senso e da educação. Bem, e se não podemos dizer isso ou aquilo, consequentemente, acabamos deixando de indagar, de imaginar, de pensar algo sobre aquilo ou isso, degradando a nossa percepção da realidade e a nós mesmos.

Chegamos a tal ponto que, como nos diz o escritor Yuri Vieira (autor dos livros A TRAGICOMÉDIA ACADÊMICA – CONTOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU e A SÁBIA INGENUIDADE DO DR. JOÃO PINTO GRANDE), que hoje, para uma ironia não ser mal entendida, você tem que colocar um emoji ao final da frase.

Ocorre-me agora, sobre isso, uma observação a muito feita pelo escritor mexicano Octavio Paz, onde o mesmo afirmava que a maior de todas as corrupções que existe é a corrupção da linguagem. Se essa, a linguagem, enquanto ferramenta imprescindível para edificarmos pontes entre nós e a realidade é pervertida, acabasse, consequentemente, danando nossa capacidade de ação, de compreensão e de realização.

E é esse papel corruptor que o dito cujo do politicamente correto vem exercendo atualmente, tornando a nossa vida opaca e, nossa percepção dela, não apenas algo sem graça, mas também, sem vida. Principalmente sem a presença da Graça que a tudo alumia.

Chorumelas a parte, é isso que temos para o momento. E fim de causo, porque aquela xícara com café nos aguarda.

(*) Apenas um caipira bebedor de café.