UMA COISA É O ISOLAMENTO, OUTRA,
bem diferente, é a solidão. Se chegarmos a entender isso – a diferença que há
entre uma e outra – poderemos, quem sabe, começar a compreender o quão profunda
e irremediável é a condição pateticamente trágica do homem moderno que se
permite entregar ao vil desfrute sadomasoquista de se permitir ser devorado e
dissolvido pelo apetite bestial de toda e qualquer multidão ululante e
ideologicamente desorientada. Multidão essa que insiste, freneticamente, em nos
dizer quem somos e, obviamente, em apontar o que deveríamos fazer para que os
membros da patuleia engajada - que soberba e coletivamente imagina-se ser o
caminho, a verdade e a vida - declare que somos pessoas lindinhas e boazinhas
como eles; estúpidas e toscas como cada um deles. Essa, em resumo, é toda
tragédia do homem contemporâneo. Toda ela. Sem nada pôr, sem nada tirar.
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FIAT LUX
ABAIXO DO ANIMALESCO
NÃO SERIA CORRETO AFIRMAR QUE a grande mídia vem, a passos
largos, erotizando os produtos da indústria cultural para dar a impressão de
que as relações humanas deveriam ser pautadas unicamente pela efemeridade dos
desejos.
Sim, ela promove isso, porém, o nome disso não é erotismo.
Aliás, o nome dessa tranqueira é bem outro.
O erotismo, por sua constituição, carrega um certo ar de
civilidade e beleza que dignifica, ao seu modo, os gestos e desejos humanos. Ela,
de certa forma, ajuda a educar os nossos sentimentos.
O que, na verdade, a grande mídia e seus demais tentáculos do
globalismo estão fazendo de modo desavergonhado, sem o menor pudor moral e com
nenhum pendor ético, é a redução de tudo e de todos à condição de reles
expressões bestialmente pornográficas, com o intento de fazer com que as
relações humanas sejam vistas, imaginas e, consequentemente, vividas num nível
abaixo do animalesca.
E se continuarmos nesse passo, bem provavelmente, em breve
estaremos ultrapassando todos os limites do hedonismo e do egoísmo.
Bem provavelmente estaremos, num curto prazo de tempo,
praticando novas baixezas, novas sandices, caindo audaciosamente num nível tão
vil e baixo que nenhum homem, em sã consciência e de época alguma, jamais
imaginou que poderíamos um dia chegar.
Pois é. Cá estamos.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor inveterado de café.
NADICA DE NADA
LULU SANTOS TWITTOU, NÃO FAZ MUITO, que a música brasileira,
atualmente, estaria regredindo à fase anal.
Isso mesmo! Disse Lulu: “Caramba! É tanta bunda, polpa,
bumbum granada e tabaca que a impressão que dá é que a MPB regrediu pra fase
anal. Eu, hein?”
Pois é. O homem, devido a essa declaração, foi tão azucrinado
que, no frigir dos ovos, retirou o que disse e deixou o dito pelo não dito. Em
resumo, foi mais ou menos assim o entrevero.
Bem, mas Lulu errou. Ele errou.
Primeiro, em ter retirado o dito. Ora, suas lacônicas
palavras literalmente captaram o espírito suíno que se encostou na alma
nacional. Encosto esse que, pelo visto, veio pra ficar.
E ele errou, outra vez, ao dizer que estamos regredindo à uma
fase anal. Não. Não estamos não. Na real, estamos avançando para tal, tamanha a
massa fecal midiática que é despejada sobre todos nós diariamente.
Enfim, se você acha que nós, brasileiros, nos superamos nesse
anus que se finda, aguarde para ver o que teremos para o anal que vem.
Quem viver, verá e, ao ver, ria, porque chorar e ranger os
dentes não resolverá nada. Nadica de nada.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor inveterado de café.
A NÃO TÃO DOCE SINECURA
A GRANDE INFELICIDADE DO TAL DO POVO é que todos aqueles que
falam em seu nome – em nome dos frascos e comprimidos, que juram com os pés
juntos que estão fazendo tudo, tudinho para liquidar com os seus problemas -
dependem, para poder viver razoavelmente bem - muito bem, diga-se de passagem -
da existência desses problemas que estão liquidando com o povo, esse ilustre
desconhecido que é supra citado em todos os rincões de nosso triste país.
Resumindo a encrenca: os porta-vozes do povo continuarão, por
muito tempo, falando em seu nome, sem nada resolver para, desse modo, garantir
a sua doce sinecura.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor inveterado de café.
DO VITIMISMO COMO FORMA DE (DES)EDUCAR
REZA O DITADO POPULAR QUE MARMELADA NA HORA da morte termina
de matar. O dito é verdadeiro. Cristalino como água que verte da bica.
Como todo mundo sabe, toda vez que alguém, após uma longa
série de abusos e desatinos vê, diante de seus olhos, a inevitável consequência
de seus atos, se desespera e, malandramente, tenta contornar a situação para
deixar o dito pelo não dito, fazendo-se de coitado pra remediar o que não tem
remédio.
Resumindo: além desse tipo de artifício artificioso não
engambelar ninguém, além desse tipo de malabarismo não colar e permitir que o
safadinho se safe, ele termina de condená-lo a ter de colher os frutos pútridos
de seus malfadados atos.
Quer dizer, assim o era no tempo do meu pai. No meu tempo
também era assim. Porém, hoje em dia, não mais. Ela não mata mais ninguém não.
Hoje a marmelada é geral e só não vê quem não quer.
O discernimento na sociedade atual, em especial daqueles que
se consideram pessoas ilustradas e, por isso, progressistas, tornou-se obtuso
às obviedades mais gritantes da vida e, assim o é, devido a escrupulosa
seletividade ideológica de sua percepção de toda e qualquer realidade.
Exemplo disso são as infindáveis recuperações que devem ser
ofertadas a um aluno, que supostamente é um estudante, que são justificadas por
um populismo pedagogesco grosseiro, ineficaz e pretensamente justiceiro.
Não que uma pessoa não mereça receber uma segunda chance. Não
é isso não. Deus me livre e guarde.
Aliás, uma coisa é a oferta duma segunda chance, de uma
oportunidade; outra, bem distinta, é o que temos hoje em nosso sistema
educacional estatal.
A forma como isso, a recuperação da recuperação da
recuperação do que é imediatamente irrecuperável, é concebida pelos doutos em
ensinação, e burocratas do ensinar, acaba eximindo totalmente o mancebo da
responsabilidade por seus atos e, de quebra, não reconhece-o como um agente
basilar do processo de aprendizagem, o que, por sua deixa, acaba pervertendo
qualquer tentativa séria de educar alguém.
Só não vê isso, e não se importa com isso, quem não sabe o
que significa educar e aqueles que almejam isso mesmo, que ninguém seja
verdadeiramente educado por alguém.
Esse é ponto do conto. E o conto é todo esse mesmo.
(*) Professor, caipira, escrevinhador
e bebedor inveterado de café.
DIGNO DESSE NOME
EM MUITOS CASOS, EM MUITÍSSIMOS MESMO, o que mais falta
naqueles ditos cujos doutos em educação e, bem como, aos tais burocratas dessa
seara, é um pouquinho, por mínimo que seja, de honestidade intelectual.
Explico-me: não raro, os primeiros obtém seus títulos, que
lhes permite apresentar-se como doutos em matéria de ensinação, sem, de fato,
ter educado alguém, nem mesmo uma única pessoa que ateste a eficácia de suas
ideias.
Mesmo assim, falam, como falam, até pelos cotovelos, sobre o
que não deve ser feito numa sala de aula e, fazem isso, com citações furibundas
mil e, dizem tudo isso, sem ao menos saber como realmente é o dia a dia duma
classe escolar.
Quanto aos segundos, esses ocupam geralmente uma sinecura
qualquer, obtida muitas vezes através das bênçãos dum padrinho político, para
fingir que ali estão para inovar as práticas que dão forma ao dia a dia duma
sala de aula. Sala essa que, nem de longe, esses sujeitos querem enxergar. Quem
o diga nela estar.
Porém, mesmo assim, essas alminhas creem sempre ter uma boa
dica pra dar para aqueles que estão todo o santo dia no lugar que elas querem
tanto manter distância.
Por fim, sim, há muitas coisas que devem ser melhoradas em
nosso sistema educacional. Muitíssimas. Todavia, não sei porquê, algo me diz
que não é essa galera, cheia de "não-me-toque", que irá apresentar
para todos nós a pedra filosofal que irá transubstanciar os pútridos frutos dos
filhos bastardos de Paulo Freire e de Emília Ferreiro em algo que seja digno de
ser chamado pela alcunha de educação.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor inveterado de café.
MIMADOS POLITICAMENTE ENGAJADOS
UMA COISA QUE OS DOUTOS em matéria de educação se esquecem é
que a vida é composta por desafios e obstáculos e que, aprender a lidar com
eles e, principalmente, a lidar com possíveis frustrações, é parte fundamental
do processo de ensinação.
É desse jeito que amadurecemos ou, como dizem os antigos, que
nos tornamos gente.
Mas como eles, os doutos diplomados, ignoram isso, e por
estarem muito mais preocupados em fazer populismo em educação do que educar a
população infante, o resultado continuará, por muito e muito tempo, a ser esse:
a formação de cidadãos criticamente mimados, dependentes dos regalos estatais e
essencialmente egocêntricos.
E é obvio que eles aprenderam também, e muitíssimo bem,
disfarçar todas essas feiuras com uma e outra palavra de ordem politicamente
correta e socialmente engajada.
Dissimulação essa que eles aprenderam na escola através do
currículo não tão oculto que rege ela em seu (des)fazer pedagógico.
Enfim, no fundo, eles foram bons alunos. O problema é que
eles aprenderam bem a lição errada, a lição que as potestades estatais queriam
lhes ensinar.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor inveterado de café.
SINTO MUITO... GAME OVER
Muitas vezes algumas pessoas se perguntam porque os infantes
levam tão a sério um jogo, seja ele o futebol ou um videogame, mas não encaram
com a mesma seriedade os seus estudos. Essa é uma pergunta tão justa quanto
atual e que, por isso mesmo, merece ser meditada, mesmo que de maneira breve e
caipira.
Tomemos, nessa escrevinhada, apenas o caso dos videogames e
sejamos curtos e diretos: o que atrai a gurizada pra mergulhar de cabeça neles
é que os ditos cujos são mortalmente sérios. Isso mesmo. Todo e qualquer jogo é
mortalmente sério.
Explico-me: independente de qual seja o jogo, esses sempre
tem regras muitíssimo claras, regras essas que se não forem devidamente
respeitadas, implicarão em consequências capitais para o competidor.
Fez corpo mole, não prestou a devida atenção, não realizou as
tarefas exigidas, sinto muito, mas não tem lesco-lesco. Vai perder. Vai
reprovar.
Quando isso acontece, o piá fica dando peti, dizendo que foi
injustiçado e blábláblá? Nada disso. Ele compreende, se conforma, reflete,
pesquisa (procura alguns tutoriais sobre o game no youtube) e recomeça tudo de
novo e de novo e de novo até conseguir zerar o jogo e, quem sabe, platinar o
trambolho porque, nesses simulacros, que são os jogos, escreveu, não leu, o pau
comeu. Ponto.
Agora, quando o assunto é o sistema de ensinação desorientado
pelas potestades estatais, a figura é bem outra. Nele, as regras não são
claras, logo, não há a menor relação entre os atos realizados pelo mancebo e as
consequência que, necessariamente, devem advir deles.
Doravante e ao contrário das desorientações dos burocratas
educacionais do Estadossauro, sejamos cristalinamente claros nesse ponto: se o
infante não cumpre com as regras (que são dúbias e levianas); se ele faz corpo
mole aqui, ali, acolá e em todo lugar; se ele não cumpre e mesmo desdenha as tarefas
e atividades que lhe são propostas pelos mestres dessa ou daquela etapa do jogo
da (de)formação escolar, não tem problema não meu filho! Não esquenta porque os
burocratas do sistema educacional do Leviatã - que não sabem o que é educar e
nem mesmo procuraram, com esmero, educar-se - não desejam que a gurizada se
prepare para viver a vida de modo adulto e responsável.
Eles todos, juntos e misturados, querem ensinar-lhe que, para
tudo que não der certo, basta se fazer de vítima, de coitadinho, de excluído e
blábláblá, para poderem passar de fase, obter um diploma sem mérito para, com
isso, tornarem-se mais um número positivo nas estatísticas ocas da deseducação
estatal.
Detalhe importante: se os videogames fossem estruturados de
modo similar ao sistema de (des)educação estatal, com toda certeza a criançada
jamais iria se interessar por eles, por mais firulas que fossem colocadas
neles.
E tem outra! Num cenário como esse, não importa muito se o
professor for excelente, bom, medíocre ou ruim, porque onde a regra não
estimula o aluno a vencer a si mesmo, a romper suas limitações e ampliar sua
capacidade de ação e compreensão, pouco importa, pra não dizer que não é
relevante, quem seja o mestre. Quando as regras não instilam o devido respeito
a esse ele perde totalmente a sua razão de sê-lo. Literalmente ele se
transubstancia dum professor num facilitador.
Enfim, não é à toa que o QI médio da sociedade brasileira é o
único no mundo que, nas últimas décadas, vem caindo de maneira ininterrupta.
Não é por menos que nossos estudantes ficam sempre na rabeira dos testes
promovidos pelo PISA. E não é sem motivo que o futuro do Brasil é uma sombria
incógnita e a esperança, nessas plagas, um redondíssimo zero à esquerda.
Resumindo o entrevero: os burocratas do sistema estatal de
educação são especialistas numa arte que eles ignoram por completo e, não sei
porque cargas d’água, insistem tanto em transformar sua ignorância e inépcia em
tábua de salvação daquilo que eles aparentemente desprezam.
Graças a figurões como esses - não apenas a eles, mas também
e principalmente – que os resultados obtidos em nosso país na seara da
ensinação são ridículos pra lá de metro.
É urgente que entendamos que uma regra, quando clara e
devidamente alinhada com sua finalidade, educa mais que mil palavras. Mas como
elas não o são, o único resultado que continuaremos a ter é esse. Sinto muito.
Game over.
Game over.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor de café.
NÃO É DISSO QUE O BRASIL PRECISA
(i)
O SER HUMANO NÃO É MAU por natureza, nem bom. Nada disso. No
fundo, somos apenas indivíduos com anseios mesquinhos e com sonhos medíocres e,
por isso mesmo, acabamos sendo facilmente influenciados por qualquer sujeito
que esteja minimamente acima da reinante mendacidade das massas.
(ii)
O BRASIL NÃO CARECE de um grande plano de salvação nacional.
O Brasil precisa, urgentemente, de pessoas humanamente qualificadas para fazer
alguma coisa com suas próprias vidas que não seja, com o perdão da palavra, uma
majestosa merda.
Em resumo, o nosso país continuará perdido e atrapalhado
feito cachorro correndo atrás do seu próprio rabo se nós, individualmente,
continuarmos a agir feito um pulguento que caiu do caminhão de mudança.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor inveterado de café.
E NÃO ADIANTA REINAR NÃO
ALGO PODE SER TIDO COMO VERDADEIRO ou falso, bom ou ruim,
justo ou injusto, não por causa da convicção ideológica que tenhamos sobre isso
e aquilo, muito menos pela posição política que defendamos aqui e acolá, mas
sim e fundamentalmente, apesar dessas coisinhas.
Toda vez que emitimos juízos sobre a realidade deste ou
daquele fato, guiando-nos unicamente com esses tipos de tranqueiras, ideologias
e seus carrapatos, invariavelmente acabamos caindo vergonhosamente do cavalo da
razão com as ventas no chão.
Ou simplesmente caímos sem corar de vergonha, pois, como todo
mundo sabe, em regra, a vergonha na cara se esgota e seca bem rapidinho quanto
colocamos uma ideologia no lugar da inteligência e transformamos uma opção
política mequetrefe numa tábua de (des)orientação moral.
Enfim, por definição, a realidade de qualquer coisa sempre
foi, e sempre será, muitíssimo maior e mais complexa que o reducionismo de
qualquer ideologia, inclusive e principalmente, a própria realidade desse tipo
de trem fuçado, que é uma ideologia, que tantas pessoas tratam com afagos e pão
de ló.
Por incrível que pareça, nenhuma ideologia cabe dentro de
seus próprios esquemas reducionistas. Nenhuma. E não adiante reinar.
ABOLINDO O BOM SENSO
UMA INJUSTIÇA COMETIDA NÃO PODE SER reparada com a realização
de outra injustiça. Uma infâmia perpetrada contra um inocente jamais será
reparada com a realização duma outra ignomínia contra uma outra pessoa. Um mal
sofrido amargamente jamais será extirpado praticando-se o mal
indiscriminadamente.
Todavia e, infelizmente, esse nefasto ciclo vicioso impera no
coração e na mente de muitos e é tido, por esses indivíduos, na conta duma
atitude cidadã digna de respeito.
Enfim, não é à toa que estamos, a cada dia que passa, mais e
mais semelhantes a um grande manicômio dirigido por lunáticos democrática e
criticamente constituídos que, numa assembleia de inconscientes e
inconsequentes, resolveram abolir de vez a razão e o bom senso.
(*) Professor, caipira, escrevinhador e bebedor inveterado de café.
COISAS DA NOSSA TRISTE NAÇÃO
TODA VEZ QUE, POR DESCUIDO, presto a indevida atenção aos
produtos da cultura midiática e que me defronto com os assuntos que são
celebrados pelo sistema educacional brasileiro atual, acabo tendo a clara
impressão de que tanto o primeiro quanto o segundo são a expressão cristalina
da lei de Thelema.
A realização do ‘faça tudo o que tu queres, pois essa é toda
a lei’, passou a ser a nova palavra de ordem, onde toda e qualquer rabugice é
entendida como uma espécie de direito pétreo e que, se não for devidamente
atendida, tal desfeita acabará sendo vista como uma afronta contra toda a
humanidade.
E é por isso que toda e qualquer insatisfação caprichosa
passou, atualmente, a ser vista como uma bandeira política criticamente
concebida, tornando o debate político mais cômico do que nunca. Na verdade,
tragicômico.
Ora, uma sociedade que celebra tranqueiras desse naipe como
sendo a pedra fundamental para edificação de sua vida cívica está condenada a
total degradação.
E tem mais uma: afirmar isso não é rogar praga não. É apenas
a constatação duma consequência inevitável, duma obviedade ululante que
insistentemente nos recusamos a ver, como se, tal recusa, fosse melhorar em
alguma coisa a nossa triste nação.
(*) Professor, caipira, escrevinhador e bebedor inveterado de café.
QUANDO A PROSA ACABA
QUANDO A CONFUSÃO É GRANDE DEMAIS, qualquer empreendimento para tentar identificar e responsabilizar o possível, ou suposto, culpado pelo deus-nos-acuda é algo praticamente infrutífero, na maioria dos casos.
Não porque o sistema seja corrupto, ou porque o Estado seja incompetente, ou porque a sociedade seja, em si mesma, má. Não se trata disso.
Em princípio, quem deve tem de pagar. Todavia, o “x” da questão é que todos aqueles que estão envolvidos num determinado furdunço tem lá sua cota de responsabilidade e, muitas vezes, a de um não é menor que a do outro e, por essas e outras que, dum modo geral, as cirandas acusatórias que giram em torno dessa ou daquela pendenga nossa de cada dia, apenas tendem a aumentar cada vez mais, chegando ao ponto do esgotamento de toda e qualquer possibilidade de entendimento e, consequentemente, duma solução minimamente razoável.
Enfim, seja como for, lembremos sempre que quando vizinhos, colegas e amigos não mais são capazes de conversar com franqueza, nós temos uma crise. Agora, quando desafetos, adversários e inimigos não mais são capazes de dialogar, o que temos é uma guerra de todos contra todos prestes a começar.
É isso. Quem viver, verá.
(*) professor, caipira, escrevinhador e bebedor de café.
DUM BAIXÍSSIMO GABARITO
DA MESMA FORMA QUE UMA decisão judicial está longe de ser um mandamento divino, os feitos e desatinos de movimentos supostamente sociais não são, nem aqui, nem acolá, uma espécie de imperativo categórico. E, justamente, por ignoramos isso, que o Brasil, cada vez mais, se parece com uma casa de tolerância de baixíssimo gabarito.
professor, caipira, escrevinhador e bebedor inveterado de café.
OU É ASSIM, OU É ASSADO
(1)
SE NÃO SOMOS CAPAZES DE silenciar para ouvir, não estamos aptos para dizer qualquer coisa que preste.
(2)
CONHECER É SIMILAR A COZINHAR. Se o produto de nosso labor intelectual é puro azedume e azia mental é porque, definitivamente, a matéria de nossas reflexões, e o proceder de nossa investigação, se houverem, será indigesta e não vai nos levar a lugar algum.
(3)
FILOSOFAR NÃO É - DE JEITO MANEIRA - o exercício duma profissão, a ocupação dum cargo público e, muito menos, a prática duma atividade de caráter escolar. Filosofar é o atendimento amoroso e abnegado ao chamado duma vocação superior.
(4)
LEMBRE-SE: UMA ALMA INQUIETA, tomada por paixões desordenadas, poderá apenas reagir aflitivamente diante dos desafios que são apresentados pela vida. Nunca como um adulto.
Dartagnan da Silva Zanela
professor, caipira, escrevinhador e bebedor de café.
NÃO ME VENHA COM LENGA-LENGA
SE NÃO SOMOS CAPAZES DE NOMINAR e descrever uma
coisa simples, como os objetos que estão presentes em nosso quarto, não sejamos
presunçosos ao ponto de imaginarmos que estamos mais que habilitados para
nominar e descrever qualquer coisa que esteja minimamente acima dessa diminuta
escala. Não sejamos presunçosos ao ponto de acreditar que temos algo
minimamente relevante pra dizer sobre qualquer coisa.
Dartagnan da Silva Zanela
professor, caipira, escrevinhador e bebedor de café.
A LIBERDADE COBRA SEU PREÇO
ENTENDAMOS UMA COISA BEM SIMPLES:
somente a verdade nos libertará. A ideologia não liberta ninguém; nem o partido,
nem a política, nem o Estado, nem fulano ou sicrano. Nada disso. É somente ela, a verdade, e
nada mais. Se não somos capazes de entender essa obviedade, com o perdão da
palavra, não somos capazes de entender nada com um mínimo de decência. Nada.
Dartagnan da Silva Zanela
professor, caipira, escrevinhador e bebedor de café.
PARA ALÉM DE NOSSOS TEMORES
NÃO DEVEMOS PROCURAR ALGO QUE
apenas nos dê uma sensação de segurança não. Isso é para almas fracas, para
aqueles que temem a realidade e não suportam encarar a vida face a face.
Infelizmente, quando muitas pessoas dizem estar trilhando o caminho da filosofia, o que elas anseiam
desesperadamente encontrar é algo que tão somente confirme a sua inconformidade
consigo e com o mundo. Só isso. Jamais a sabedoria em seu esplendor porque ela, a sabedoria, não cabe no minimalismo de seu horizonte de consciência.
Enfim, de jeito maneira essas
pobres almas procuram a verdade. Na real, elas fogem dela como o coisa ruim
foge da santa cruz.
Pior! Muitas vezes nós mesmos
acabamos resvalando por esse turvo viés. Basta que sejamos sinceros para
conosco mesmo para constatarmos essa vergonha nada original em nossa caminhada por esse vale de lágrimas.
Agora, se estamos de fato à procura
de algo que fortaleça a nossa personalidade, é a verdade que devemos procurar
e, tal procura, necessariamente, irá nos fortalecer pelo simples fato de
estarmos procurando algo que não seja limitado pelos nossos desejos e temores.
Ponto.
Dartagnan da Silva Zanela,
professor, caipira, escrevinhador e bebedor inveterado de café.
COMO NUNCA SE VIU
A casa não caiu. Foi derrubada pelo mais frio dos monstros frios.
Friamente foi feito, à sombra da suja toga de tretas e malícias mil
Que vive amancebada com a mais suja das castas, ignóbil e vil
Rindo, cinicamente, enquanto o infante e o homem senil
Choram ao ver que o trabalho de suas vidas inteiras caiu
Rente ao chão, junto a esteira do trator que tudo destruiu.
O trator destruiu o que o trabalhador, com seu suor, construiu.
A esperança que luzia no olhar do infante lacrimou e sumiu
Quando a ganância e a vileza contra sua família investiu
Sem clemência, sem justiça, sem dó, como nunca se viu.
por Dartagnan da Silva Zanela,
07 de dezembro de 2017.
UM CADINHO MAIS DE TEMPO
Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
Queria ter mais tempo. Mais tempo para estar com aqueles que
amo, que são a razão de meu existir. Queria tê-lo, fartamente, para poder ler e
escrever mais e, quem sabe, melhor. Queira ter mais tempo para revolver a terra
e cultivá-la, pra ver as sementes lançadas germinar e crescer. Queria. Como
queria. Mas não o tenho. Entretanto, não me lamento por isso. Não mesmo. Faço o
que posso com o cadinho que disponho em minhas mãos, aproveitando todo o tempo
que tenho para fazer valê-lo. Para me fazer valer.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor inveterado de café.
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