Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
(1)
Bajulação não é uma demonstração
de afeição. Pelo contrário! Adulação é um cínico escarnecimento do amor. Só
isso e nada mais.
(2)
Todos nós somos ridículos; cada
um ao seu modo carrega uma porção dessa pestilência originária. Quando
porventura recebemos em nossas mãos algum tipo de poder acabamos, sem querer
querendo, revelando o quão bufos ainda podemos ser. Quanto maior for o poder,
maior a potencialização do grotesco original que nos habita e que faz de nós
aquilo que somos: indivíduos ridiculamente vaidosos.
(3)
A verve que tanto se faz presente
nos carnavalescos dias nada mais é que uma máscara burlesca coletiva que
encobre a tristeza latente na sociedade brasileira. Sociedade que, ainda nos
dias de hoje, não conseguiu deixar de ser é uma nação de personalidade manca e
de caráter duvidoso.
(4)
Refletir sobre nossos atos antes
de repousar a carcaça, meditar sobre o que aprendemos no correr do dia era uma
instrução dada pelo filósofo grego Platão aos seus alunos e uma orientação
ministrada pelos pais aos seus filhos como um elementar ensinamento catequético
da Igreja Católica. Ensinamento esse que, nos modernosos dias atuais, tornou-se
motivo de chacota, tamanha a bestialidade que governa as mentes e os corações
incautos que se vangloriam de sua presunçosa criticidade que amam apontar para
todas as contradições do mundo – que lhes desagradam – mas são incapazes de
perceber as contradições aberrantes presentes em sua mísera pessoinha.
(5)
Errar é humano, como é humano
errar! Porém, cá entre nós: há certas almas que capricham na sua humanização e
erram até azedar tudo, sem o menor desejo de querer em algum momento acertar,
principalmente se os fatos estiverem gritando em seus ouvidos, advertindo-a
sobre qual seria a vereda correta que deveria ser seguida por ela, contrariando
sua soberba e estulta teimosia. Todavia, tais almas seguem, sem o menor pudor,
fazendo do erro vaidoso seu projeto de vida, e fazem isso sem, obviamente,
dispensar todo aquele manto choroso e superficial de autopiedade. Enfim, não
tem como não ficar com nojo desses humanos que abusam de sua humanidade.
(6)
Quem acredita em utopias, quem
recorre a ideologias políticas para imprimir algum sentido em sua vida, enfim,
todo aquele que acredita, mesmo que de maneira mitigada, que a humanidade será
redimida pelas forças telúricas de uma revolução socialista, não sabe o que é o
amor. Esse tipo de infeliz não sabe o que é amar não por uma insuficiência
inata, mas sim, por encontrar-se incapacitado por seus devaneios ideológicos e disparates
totalitários que, sem cessar, pervertem o seu coração e mutilam a sua alma.
(7)
Uma das principais armas
políticas utilizadas pelas almas possuídas pelo íncubo da mentalidade
revolucionária é a transformação de sua frustração existencial em um objeto de
orgulho demencial. Basta ouvi-las falar por um minutinho que seja pra constatar
esse óbvio ululante. E põe ululante nisso.
(8)
Quando, em uma sociedade, a
incapacidade torna-se motivo de orgulho e a lascívia uma fonte de direitos, é
porque o uso do bom-senso tornou-se obsoleto. Quando, em uma sociedade, essa
perversão torna-se a regra, a educação ganha outra significação que nada tem
haver com a sua nominação.
(9)
Quando uma criança está vestida
com uma farda, brincando de polícia ou de soldado, ela está aprendendo a
importância do senso de dever e do auto-sacrifício realizados de maneira
despretensiosa e anônima.
É belo, digno e bom vermos um
indivíduo inominado defender um inocente desconhecido. É sublime e, por isso
não há nada na face da terra que mais enerve a canalhada politicamente-correta,
com duas mãos canhotas, do que isso.
Causa-lhes urticária imaginar que
um anônimo realize algo heroico sem desejar a glória dos holofotes ideológicos
ou a realização de um mundo melhor possível.
Enfim, toda criança que brinca
imaginando ser um policial ou um soldado, aprende ludicamente o que é uma
vocação; aprende que vivê-la não é fácil, porque quem procura o que é justo não
tem tempo para direitos egolátricos ou para dissolutas utópicas.
(*) professor e
cronista
e-mail: dartagnanzanela@gmail.com
fanpage: http://facebook.com/dartagnanzanela
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